Estudos


Eu sei que ando com mau feitio com estas coisas, em especial quando nada tenho contra investigações e investigadores em concreto.

Só que se queremos discutir a Educação de forma séria, mesmo a sério, seria de evitar que grupos de especialistas de várias universidades fizessem estudos em que uma das conclusões seja a seguinte:

Como ponto positivo, este modelo de avaliação externa das escolas melhorou a prestação de contas, é bem aceite pelas escolas e melhora a relação das escolas com a comunidade, indica o coordenador. “O facto de só 30% (481) das escolas avaliadas terem apresentado contraditório, significa que pelo menos os diretores não contestam o modelo e a avaliação”. Por outro lado, como se trata de uma avaliação externa, os resultados da escola “são valorizados pela comunidade”.

Agora vejamos os dados do relatório da própria IGEC:

De acordo com o relatório intercalar da Inspecção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) relativo ao 2.º ciclo de avaliação, que nesta sexta-feira será analisado em Coimbra, mais de 80% das 375 escolas públicas sujeitas a avaliação externa entre Novembro de 2011 e Maio de 2013 obtiveram a classificação de “Bom” e de “Muito Bom” em cada um dos três domínios analisados – Liderança e Gestão, Resultados e Prestação do Serviço Educativo.

O domínio da Liderança e Gestão é aquele em que a classificação de Muito Bom é mais significativa (42,2%); mas é na Prestação do Serviço Educativo que a soma das classificações de Bom (56,3%) e de Muito Bom (31,5%) é mais alta (87,8%). No que respeita aos Resultados (que incluem, entre outros aspectos os resultados académicos e sociais), as classificações distribuem-se pelo Bom (57,9%), Muito Bom (24%), Suficiente (17,6%) e Insuficiente (0,5%). A classificação de excelente só chegou a ser aplicada pelos inspectores no domínio da liderança e em 0,5% das escolas.

Isto é muito interessante porque se há 30% a fazer contraditório é porque uma boa parte daquelas que tiveram pelo menos “Bom” (mais de 80% e perto de 90% na “Prestação do Serviço Educativo) reclamaram de classificação. Se isto é uma aceitação pacífica da avaliação vou ali e já venho…

E é duplamente interessante porque se os resultados são estes não se compreende de nenhuma forma o que tem sido dito publicamente – incluindo num recente seminário do próprio CNE – sobre a profunda necessidade de mudar a forma de funcionamento das escolas, nomeadamente a transferência de competências delas para os municípios.

Por isso, concordo que devemos discutir estas coisas de forma intelectual e politicamente honesta.

 

 

É de 2000 e entra a matar:

O trabalho que aqui se apresenta pretende dar conta da forma como o sistema educativo e, em especial, os professores se desresponsabilizam pelo fracasso escolar dos seus alunos e pretendem legitimar o processo recorrendo à psicologia.

A amostra é restrita em termos geográficos (um concelho do interior norte) e de anos de escolaridade (primeiro ciclo), mas as conclusões são imponentes.

Do ponto de vista quantitativo estamos em presença de valores incompreensíveis e que só uma interpretação mais qualitativa e por conseguinte mais subjectiva nos permitirão (senão entender o fenómeno) fazer algumas considerações: 1. o envio de alunos aos serviços de saúde (pedopsiquiatra e psicólogas) significará que o sistema e os professores atribuem a não aprendizagem a problemas de natureza cognitiva e comportamental logo estamos em presença de uma psicologização do insucesso escolar; 2. a ida do aluno a um pedopsiquiatra e a um psicólogo, por si só, tem capacidade para legitimar a retenção do aluno; 3. como resultante das duas ordens de ideias, antes referidas, a escola como um todo e a organização local e o corpo dos professores, em particular, podem assim desresponsabilizar-se do fenómeno insucesso escolar massivo dos seus alunos.

Poderá existir por aqui alguma razão, mas… eu sublinho aquela parte ali acima…

OECD Foreign BriberyReport

Trends in Income Inequality and its Impact on Economic Growth

A CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO
SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO EM PORTUGAL

… fica aqui em imagem.

PG Pub28Dez14

Público, 28 de Dezembro de 2014

João Amador e Ana Cristina Soares, os autores daquele estudo que diz que o pode negocial dos trabalhadores portugueses é muito elevado e dificulta as margens de lucro.

Concorrência na economia portuguesa: estimativas para as margens de preço-custo em mercados de trabalho imperfeitos

O Umbigo conseguiu uma imagem dos autores no seu processo de produção intelectual:

Casal

Perceções sobre o modelo simplificado da avaliação de desempenho docente : uma análise na blogosfera portuguesa

Com base no Profblog, Terrear e Umbigo nos anos de 2010 e 2011.

É outro estudo que contraria certas narrativas dominantes no nosso debate público sobre Educação. Fica por aqui, embora esteja linkado dois posts abaixo: H_Reis__C_Pereira_CNE_5_dez_2014.

Se é verdade que se considera que a retenção tem efeitos negativos no 1º ciclo (ISCED1), é falso que isso seja verificável para os 2º e 3º ciclos (ISCED 2), verificando-se mesmo um ligeiro efeito positivo a médio prazo.

Como é essa a experiência que tenho, foi bom verificar que essa sensação individual tem fundamentação empírica válida.

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Vamos lá a ver uma coisa… eu não defensor dos chumbos por dá cá aquela palha e os primeiros a sabê-lo são os meus alunos.

O que não gosto é de andarem por aí a venderem banha da cobra sobre o assunto, raramente com algum fundamento para além das “evidências” de esplanada, típicas dos especialistas preguiçosos, embora sempre pejados de boas intenções e prontos a acusar quem deles discorda de coisas horríveis.

Não tenho os meios e as competências para fazer o trabalho que uma equipa da Nova fez e que permite demonstrar (embora isso seja suavizado no texto público) que a amostra dos alunos para os PISA 2009 foi, digamos assim, moldada para dar melhores resultados.

Na altura bem que protestei, mas não fui o único, para se saberem os critérios de selecção de escolas e alunos, pois ouvi informalmente que nem tudo teria sido transparente.

O estudo é este (Balcão_Reis_CNE_5_dez_2014) e permite perceber que os progressos dos alunos portugueses foram praticamente constantes entre 2006 e 2012, se ponderarmos a distorção da amostra de 2009.

PisaEstudosPisaEstudos1PisaEstudos2

Estes dados permitem ainda desmentir a teoria de que o sistema de ensino português esteja em crise de “paradigma” e que precise de uma reforma profunda do seu funcionamento. E é muito grave que isso seja do conhecimento de decisores e consultores que aparecem publicamente a afirmar o seu inverso. Se em 2015 os resultados forem abaixo do esperado, nesse caso sim, perceberemos os erros do presente e do passado mais imediato.

Muitos e bons materiais. tenho pena de não ter assistido à apresentação no CNE, até porque sabia de alguns resultados preliminares de estudos muito, muito interessantes.

Returns to vocational education in Portugal

(…)

Estimates revealed a wage advantage for workers with vocational education vis-à-vis workers with general education, in the beginning of the career. Particularly, accounting for both workers’ and firms’ characteristics, the former group earns on average around 2% more than the latter. However, the earnings of vocationally educated workers grow at a slower rate and are surpassed by the earnings of generally educated workers at around eight years of experience. Such wage-experience profile is more pronounced in the case of vocational courses of level III when compared to other job-oriented tracks.

Estudo: políticos são permeáveis a grupos de interesses

Sobretudo a influências do setor financeiro, da energia e da construção civil. Pesquisa revela, ainda, que antigos ministros e altos funcionários do Estado «procuram influenciar os atuais decisores políticos em nome de interesses privados e estrangeiros». Assembleia da República tida como um «escritório de representação».

Three Essays on Education Reform in the United States

Measuring Hard-to-Measure Student Competencies

Setenta por cento dos docentes do 1.º ciclo dizem que ler livros ou revistas por iniciativa própria tem “muita” ou “bastante” influência na forma de ensinarem. Mais do que a formação inicial.

Acho que esta atitude até é razoavelmente saudável e tenho algumas dificuldades em assumir que os professores são incapazes de uma análise crítica das suas fontes de informação (pronto, pronto, temos o caso do SE Grancho para me desmentir), o que parece ser convicção do autor do estudo. Bem como parece mais interessado numa homogeneização dos métodos pedagógicos do que em abordagens diferentes e abertas a novidades.

O autodidactismo preocupa João Lopes por ser “muito permeável a coisas erradas do ponto de vista científico”. No estudo, pode ler-se que o autodidactismo levanta “algumas interrogações”, porque aumentará “a probabilidade de cada professor ensinar à sua maneira”.

Outro aspecto salientado pelo investigador prende-se com o facto de, num bloco de duas horas de Português, os docentes privilegiarem a leitura, a compreensão e a escrita de texto, mas valorizarem menos a literatura e a ortografia.

Já agora, a Literatura aprende-se lendo e compreendendo. Sem se ler e compreender, papagueia-se Literatura.

E papagaios presumidos já temos muitos.

Não me pediram para divulgar, mas penso que após receber o mail três vezes deve ser esse o objectivo:

Estamos a realizar um estudo ibero-americano com PSICÓLOGOS, PSICOTERAPEUTAS, PSIQUIATRAS, CONSELHEIROS ou outros TÉCNICOS DE SAÚDE MENTAL para avaliar a competência cultural no trabalho com clientes lésbicas, gays e bissexuais (LGB). Solicitamos deste modo a sua participação neste estudo através do preenchimento de um inquérito que demora cerca de 15 minutos. Todas as suas respostas são anónimas e confidenciais e destinam-se exclusivamente a serem analisadas no âmbito deste estudo.

Assim, SE PERTENCE A UMA DESSAS CATEGORIAS PROFISSIONAIS clique AQUI​

Desde já, muito obrigado pela sua colaboração.

Os investigadores:

Henrique Pereira, PhD (hpereira@ubi.pt)

&

Maria João Cunha (m6593@ubi.pt)

 

 

Sugestão da Ana P.

Wisdom from a MacArthur Genius: Psychologist Angela Duckworth on Why Grit, Not IQ, Predicts Success

 

O problema não é propriamente o “centralismo”, mas mais a incompetência, má-fé e desconfiança. Isso também existe a nível local.

Ilídia Cabral, a docente da Faculdade de Educação e Psicologia da Católica Porto que esta sexta-feira lança o livro Gramática Escolar e (In)Sucesso, defende que a autonomia que alegadamente tem sido concedida pelo Ministério da Educação às escolas públicas “é uma falácia”. Isto, justifica, na medida em que aquela “é constantemente colocada em causa pela falta de recursos humanos e pelo centralismo das políticas educativas”, com consequências para a Educação que considera “gravíssimas”.

“No sector da Saúde, na maior parte dos casos, os cortes orçamentais têm efeitos imediatos, perceptíveis. Na Educação, os danos só serão visíveis dentro de alguns anos, o que permite que os problemas se instalem sem causar alarme, prejudicando irremediavelmente as escolas, os alunos, os professores e as comunidades”, alertou aquela especialista, em declarações ao PÚBLICO.

Alunos têm muitas horas de aulas, programas longos e turmas grandes

 

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