… que o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida que aconselhou o racionamento de tratamentos mais caros para doentes com cancro, Sida e doenças reumáticas se mantém em funções.
O parecer está aqui e plasma (e que tal, a ironia linguística?) em forma de letra impressa o enredo subjacente a grande parte da série A Firma que passou há uns meses na AXN (num distante follow up da obra homónima do John Grisham) e na qual um grupo de ex-médicos militares, ao serviço de uma seguradora, eliminava doentes crónicos para diminuir os encargos decorrentes dos seus seguros de saúde.
Perseguir obstinadamente os “melhores resultados” — por exemplo, número de anos de vida após tratamento — pode negar a oportunidade de trazer algum benefício para aqueles com resultados piores, ou seja, com uma perspetiva de tempo de vida menor após o tratamento.
(…)
Nesta perspetiva, defender que se deve tratar a saúde como uma “esfera” separada – focando exclusivamente os potenciais benefícios para a saúde, sem pesar os custos inerentes – não é adequado à realidade atual.
Tendo em conta a complexidade das questões acima descritas, a Bioética deve fornecer propostas de orientação para uma política de decisões que envolvam diferentes modalidades de negociação, sempre que a equidade não possa ser entendida nem praticada de uma forma maximalista.
Aparentemente, estes senhores especializados em Ética consideraram que a dita cuja é circunstancial e moldável às condições transitórias.
Estúpido e ignorante eu que pensava que a Ètica era algo que procurava encontrar princípios, não digo universais, mas acima das circunstâncias passageiras e dos interesses orçamentais conjunturais.
Depois da Moral andar pelas ruas da amargura, a Ética segue-lhe o caminho, quando entregue a estes oportunismos.
Eis o testemunho de um ilustre leitor do blogue, que se quer manter anónimo, sobre este tema:
Visitei hoje o seu “blog”, e ocorre transmitir-lhe algumas considerações.
Fui doente de cancro (não sei o motivo de alguns se desviarem desta nomenclatura) e lá me safei. Da minha boca, nada se ouviu durante aquele largo (muito largo, o tempo muda relativisticamente nessas ocasiões) período. A muitas coisas assisti, que mesmo certos fulanos (até médicos) nunca perceberam (aqueles, recém-chegados que eram aos serviços). Estes pareceres (se assim se podem chamar…) são muito lindos, por parte desse “Conselho” de qualquer “coisa”… mas a razão última a ponderar, diria sarcasticamente e de forma filosófica, é que tal parecer enferma e tresanda a razões para a prática da eutanásia. No caso de, por exemplo, uma deflagação de um engenho nuclear, é dos livros, que se marque (na testa) e atente, aos passíveis de sobrevivência e aos não passíveis de sobrevivência. Tecer tais considerações, dentro de situações de vivência “normal”, sem nenhum cataclismo eminente, ressuma a práticas de eutanásia, dignos do Castelo de Hartheim. Nunca pedi para viver, e tudo aceitei. Aceitei e aceito morrer, mas não aceito que se condene à morte, os “colegas” que lutaram e lutam pela vida. Para este assunto, minha muito pobre verborreia em pouco pode contribuir, mas, mais não sendo, sempre tenho a esperança que esses “senhores”, venham igualmente a serem “colegas” de “infortúnio”. (sempre vamos dizendo, enganados, que já ouvimos tudo…afinal, não, ainda temos mais para ouvir). Que a sorte que eu tive, lhes sorria igualmente. Mas podem sempre, segundo a opinião expressa agora, optar por fazerem a “passagem” mais cedo, ou perderem, de forma simples, a esperança. Isto para não comentar que não mencionam a qualidade “da passagem”, isto é, a “passagem” com o menor sofrimento possível. Encontrar-nos-emos no outro lado. Ou não.
L. C.
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