Citações


Charb : « Je préfère mourir debout que vivre à genoux»

E assim foi.

As arrumações de final de ano fazem aparecer coisas curiosas que nos fazem sentar, abrir e ler umas páginas.

Quem disse/escreveu isto e quando, sendo que eu eliminei apenas alguns termos muito próprios do contexto em causa?

As escolas custam ao povo português enormes meios financeiros. Não é de admitir que muitos milhares de jovens filhos de classes trabalhadoras queiram estudar e não possam por falta de recursos e, ao mesmo tempo, existam numerosos estudantes que não querem trabalhar nem estudar, que querem passar o ano a perturbar, desorganizar e paralisar a vida escolar, que querem passar o ano dando o permanente espectáculo da arruaça, dos golpes, da chantagem, das desordens e ainda com a exigência de, no fim de tudo isso, obterem a passagem administrativa.

(…) não é de admitir que entre na escola quem pensa que na escola não interessa estudar. As escolas devem ser para aqueles que queiram estudar. Quem não quer estudar vá trabalhar para as oficinas, nos campos ou nos escritórios como fazem centenas de milhar de jovens.

Não se pode aceitar que o povo português, de cujo trabalho vêem afinal os recursos para pagar o funcionamento das escolas, esteja a alimentar a ociosidade e o parasitismo [dos que] nem estudam nem deixam estudar os outros.

“Shukov adormeceu completamente satisfeito, feliz. Fora bafejado por vários golpes se sorte durante aquele dia: não o haviam posto no xadrez; não haviam enviado a brigada para o Centro; surripiara uma tigela de kasha ao almoço; o chefe da brigada fixara bem as rações; construíra uma parede e tirara prazer do seu trabalho; arranjara aquele pedaço de metal e conseguira passá-lo; recebera qualquer coisa de Tsezar, à noite; comprara o tabaco. E não caíra doente.

Um dia sem uma nuvem carregada, sombria. Quase um dia feliz.

Contava já no seu activo três mil seiscentos e cinquenta e três dias como este. Desde o primeiro até ao último toque na barra de carril.

Os três suplementares pertenciam a anos bissextos.”

(Alexandre Soljenitsin, Um dia na vida de Ivan Denisovich, 1972, p. 198)

Ó shôr@ deputad@

E para piorar o conteúdo, agora passou a falar sempre com aquele ar de seminarista engonhado e amnésico (será que ele se esquece quando fez de rufia que não aceitava sugestões de ninguém?) que não sei se mete dó, se mete outra coisa.

O primeiro-ministro, que se escusou a comentar o discurso do secretário-geral do PS, António Costa, no congresso socialista do fim-de-semana passado, quis “apenas reafirmar a importância que para o país tem que gente adulta, gente crescida, gente preparada, gente que tem responsabilidades políticas possa olhar para o futuro sem ser com a perspectiva de contar espingardas, que seja com a perspectiva de chegar a respostas que os portugueses entendem como sendo respostas para os seus problemas”.

“Quando as soluções políticas parecem ter outra solidez, as pessoas sentem-se mais à vontade para comprometer a sua palavra, para poder chegar a um entendimento sem que isso pareça uma derrota para ninguém. Essas condições estão reunidas e só não haverá um espírito de compromisso se ele não for desejado”, enfatizou.

Gente crescida, gente preparada?

Mas que raio de intervenções públicas são estas, vindas de quem a cada oportunidade diz coisas do mais bacoco e infantil que se pode arranjar?

Exemplos:

“Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida.”

11-05-2012

“O Governo não está a preparar um aumento de impostos. Não estamos a pôr porcaria na ventoinha e a assustar os portugueses.”

Debate do Estado da Nação, 11-07-2012

“Todas as dificuldades porque passámos não terão servido para nada. Servirão para alguma coisa (…) quando não nos comportarmos como baratas tontas e soubermos bem para onde vamos.”

25-07-2012

“Amigos. Fiz um dos discursos mais ingratos que um primeiro-ministro pode fazer – informar os portugueses, que têm enfrentado com tanta coragem e responsabilidade este período tão difícil da nossa história, que os sacrifícios ainda não terminaram.”

Facebook, 09-09-02012

“O ano que agora está a terminar foi talvez o ano mais difícil de que tenho memória desde 1974, mas foi também o ano em que mais semeámos para futuro.”

21-12-2012

“[O programa de rescisões na Função Pública] deverá ser encarado como uma oportunidade e não como uma ameaça para trabalhadores e serviços.”

18-03-2013

Fonte: Jornal de Negócios.

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… mas a citação é fiel ao pensamento transmitido. Faz parte de uma peça do Jornal de Letras desta semana acerca do arranque do novo ano lectivo e da situação da Educação.

PG JL17Set14

Numa altura em que se volta a reforçar a necessidade de ter os melhores professores nas escolas, para trabalhar com os alunos da melhor maneira possível, é frustrante constatar que temos quase uma década de desinvestimento no capital humano dessas mesmas escolas, quantas vezes manipulando os dados sobre as despesas com pessoal, os rácios e muitas outras coisas.

O engenheiro desinvestiu no humano, justificando-se com o investimento tecnológico.

Este justificou-se com a troika e depois com umas manigâncias estatísticas.

Que tais opções, porque excessivas e mantidas na base de preconceitos e animosidades, já estão a ter consequências graves, é uma evidência pela qual dificilmente pedirá as devidas desculpas.

 

É de espantar tamanha ingenuidade em quem chegou a PM no nosso país, para mais ao colo de um Relvas que, por sua vez, andou ao colo de tanta outra gente que, ao que parece, só agora se percebe que…

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Visão, 21 de Agosto de 2014

Isto não é ser sério, é ser hipócrita e querer fazer-nos passar por parvos.

Ser sério, como em tempos ouvi a alguém, é conhecer o que há de mal e não recear falar, pois isso é essencial para que o país mude a sério.

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Chris Hedges, American Fascists, pp. 16-17.

Lá como cá.

“Liberdade”, “verdade”,  são palavras que eles usam com profusão, mas que esvaziaram do sentido que costumavam ter. É uma das estratégias mais habituais de todos os movimentos que visam manipular as consciências ou cidadãos. Independentemente do credo, político ou religioso.

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 Umberto Eco, “Eternal Fascism: Fourteen Ways of Looking at a Blackshirt” in Chris Hedges, American Fascists. NY: Free Press, 2006.

Porque é preciso ter algum cuidado com aqueles que se aceitam como colegas de caminho nas críticas aos males de uma Europa que, como Weimar, se apresenta como irremediavelmente decadente e corrupt(or)a.

E cuidado com o caminho, como é óbvio.

 

E já agora, só para que conste, ficam aqui as palavrinhas de Carlos Moedas, quando ainda não era secretário de Estado, escritas num blogue em 2010. É longo, mas vale a pena: “No caso da dívida pública […] se Portugal quisesse voltar aos níveis de dívida pública de 2007 […] teria de apresentar um superavit primário das contas públicas (antes de juros) de 6% ao ano durante cinco anos ou de 3% ao ano durante dez anos. Alguém acredita que estes cenários são possíveis a curto ou mesmo a médio prazo? Eu tenho muitas dúvidas, e por isso só nos resta (a nós e a outros) o possível caminho da reestruturação da dívida. Ou seja, ir falar com os nossos credores e dizer-lhes que dos 100 que nos emprestaram já só vão receber 70 ou 80.”

Moedas sabia (e ainda sabe, claro) que “este é um caminho árduo e complicado, a tal parede de que tanto se fala mas que nos permitiria começar de novo. A austeridade é necessária e urgente, mas se mantivermos os níveis actuais de dívida dificilmente conseguiremos crescer a níveis aceitáveis […] e se não crescermos morremos”. Se Moedas sabe isto, os idiotas inúteis talvez não.

… citemo-lo a preceito e com propriedade e não usando citações em defesa de escolas livres operárias para fingir que ele fala de escolas integradas grupos económicos ou confessionais e disfarçando isso com a “liberdade”:

Universale non vuol dire assoluto. Nella storia niente vi è di assoluto e di rigido. Le affermazioni del liberalismo sono delle idee-limiti che, riconosciute razionalmente necessarie, sono diventate idee-forze, si sono realizzate nello Stato borghese, hanno servito a suscitare a questo Stato un’antitesi nel proletariato, e si sono logorate. Universali per la borghesia, non lo sono abbastanza per il proletariato. Per la borghesia erano idee-limiti, per il proletariato sono idee-minimi. E infatti il programma liberale integrale è diventato il programma minimo del Partito socialista. Il programma cioè che ci serve a vivere giorno per giorno, in attesa che si giudichi giunto l’istante piú utile. (Tre principi, trei ordini, 1917, que se pode encontrar nesta versão dos Scritti Politici)

Avançando um pouco nesta divergência. A “liberdade” como ideia-limite esgota-se quase em si mesma e os liberais d’agora acham que o mercado trata do resto. A liberdade como “ideia mínima” parte da liberdade para tentar construir uma sociedade mais justa, em que a “liberdade” não é um cheque em branco para os predadores económicos e sociais.

O desejo de uma sociedade livre e justa não é uma questão de esquerda ou direita, nem sequer algo do Direito Natural, construção teórica divertida e tão conjuntural quanto aquelas que visa criticar.

O desejo de uma sociedade livre e justa não é uma questão de mais ou menos mercado, de mais ou menos Estado. É uma questão de decência humana, que podemos ver defendida de forma exemplar por, penso que estamos de acordo, Jesus Cristo, há quase 2000 anos.

Pessoalmente, tendo a pensar que a nostalgia representativa não passa de uma doença infantil da democracia. Afinal, a presunção de representatividade constitui meramente uma ficção, benéfica porque destinada a viabilizar a coexistência pacífica dos elementos heterogéneos e até antagónicos que formam uma comunidade de cidadãos. Só por milagre nos poderíamos rever na classe política em geral e nos governantes em particular, como se antes do acto eleitoral eles tivessem estabelecido connosco o compromisso formal de adoptarem uma certa orientação política bem definida. Mas não acontece assim; o desapontamento constitui um ingrediente inevitável de todo o envolvimento na coisa pública, que, no entanto, deveria ser vivido com naturalidade e não como uma frustração dolorosa. E um módico conhecimento da história deveria precaver-nos contra ambições de autenticidade que desembocam em regimes tirânicos e assassinos.

Existe, porém, um problema real: um abismo separa as promessas de mundos e fundos, em que poucos verdadeiramente acreditam, e a quebra nítida, descarnada de um positivo, claro e reiterado compromisso eleitoral. Uma tal quebra constitui uma autêntica fraude eleitoral. Que me lembre, esta degenerada tradição foi inaugurada por Durão Barroso, em 2003, quando fez do “choque fiscal” a principal bandeira da sua campanha, para em vez disso aumentar os impostos assim que ascendeu ao Governo. Sócrates seguiu-lhe o exemplo, decretando um agravamento fiscal depois de uma campanha em que prometera explicita e solenemente o contrário. Passos Coelho também prevaricou: ciente de que teria de governar segundo as ordens da troika, falou e prometeu como se o país continuasse livre e soberano. O que Barroso, Sócrates e Passos geraram não foi uma mera nostalgia representativa, que faz sorrir os mais cépticos, mas sim a desconfiança fundada e generalizada de quem se sente, literalmente, defraudado. Isto sim, ainda pode dar cabo da democracia.

FP

Fonte: FunçãoPublica1869.

Claro que os assessores e consultores não se sentem funcionários. São Algo mais.

Liberals

“Stop the Madness,” Interview with Rupert Cornwell, Toronto Globe and Mail (6 July 2002)

(mais informações e continuação da citação aqui)

… mas o nosso grande economista, outrora PM, agora PR, parece que, tal como os seus sucessores, só descobriu(ram) isto na última esquina do tempo.

E até houve tradução portuguesa e tudo.

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Robert Reich, The Work of Nations, 1991, p. 3.

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Dino Buzatti, “A Epidemia” in A Derrocada da Baliverna, p. 190.

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Público, 23 de Novembro de 2013

Debate

Daqui.

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(…)

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Alfredo Marvão Pereira (2013), Os Investimentos Públicos em Portugal, pp. 25 e 100.

Também eu tinha bebido profundamente do elixir que prometia uma solução rápida para problemas intratáveis. Também eu tinha saltado para bordo do comboio, festivo e engalanado, celebrando o poder da responsabilização, dos incentivos, dos mercados. Também eu tinha sido cativada por estas ideias. Que prometiam acabar com a burocracia, assegurar que as crianças pobres não eram negligenciadas, dar poder aos pais pobres, possibilitar que as crianças pobres escapassem às escolas falhadas e acabar com a disparidade de resultados (achievement gap) entre ricos e pobres, pretos e brancos. Testar permitiria fazer brilhar um holofote sobre as escolas com mau desempenho e a escolha criaria oportunidades para os alunos pobres partirem para escolas melhores. Tudo isto parecia fazer sentido, mas havia poucas evidências empíricas, apenas promessas e esperança. Eu queria partilhar a promessa e a esperança. Eu queria acreditar que a escolha e a responsabilização produziriam grandes resultados. Mas ao longo do tempo fui persuadida pelas evidências acumuladas que as últimas reformas não pareciam estar à altura das suas promessas. Quanto mais eu via, mais perdia a fé. (Diana Ravitch, Op. cit, 3-4)

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