Agosto 2007


Primeiro concedem que colocar a fasquia em 14 valores para aceder à docência quando outros chegam a licenciados com trabalhos entregues por fax talvez seja um pouco exagerado.

Depois até admitem que o concurso para professor-titular se baseou numa lógica que conduziu a centenas de situações disparatadas – lá está a teoria dos efeitos perversos em funcionamento, assim como o princípio dos dramatismos individuais a virem à tona – e que é necessário corrigi-las.

Claro que cada uma das concessões à evidência dos factos é um mero acto de hipocrisia pública, tendo sempre o secretário de Estado Pedreira o cuidado de afirmar que estas decisões não resultam de qualquer negociação ou que sequer foram comunicadas às organizações sindicais, mas sim de actos voluntários do ME que, em demonstração de magnanimidade, decidiu corrigir o que antes afirmava ser intocável e infalível.

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Para além de se perceber que Jorge Pedreira se presta ao papel de um simulacro de face humana do ME e o enviado para as missões que implicam o recuo da tutela em questões fulcrais, para isso bastando relembrar o caso da TLEBS. Maria de Lurdes Rodrigues e o seu Sancho Pança mantêm-se na sombra, nunca surgindo a admitir publicamente qualquer disparate, mesmo se parte destes assuntos estão directamente no foro das suas competências (afinal quem é que preparou a legislação sobre o acesso à carreira?).

Que isto aconteça ao mesmo tempo que no site da DGRHE se publicite uma espécie de linha de valor acrescentado (50 cêntimos para receber um SMS) para os candidatos saibam os resultados dos concursos para as necessidades residuais é apenas uma coincidência que realça o ridículo a que tudo isto chegou.

Os Editors estão de volta.
O vídeo é do mais fraquinho, mas por certo foi do mais baratinho.
E se o que interessa é a música…

You came on your own
That’s how you’ll leave
With hope in your hands
And air to breathe

Ainda em férias fui dando uma e outra bicada ao anunciado Plano Tecnológico da Educação, mais uma socretinice tecnológica que assume que a solução dos problemas passa por anunciar o despejo mais gadgets nos sítios e que tudo se resolve por si só, mesmo quando a parafernália demora a chegar e depois não há condições adequadas para a fazer funcionar e manter.

Neste caso, até se contempla mais do que isso e um dos eixos do PTE apresenta-se como sendo de Formação dos recursos humanos disponveís para a correcta e adequada utilização dos quadros interactivos, dos portfólios digitais e mais essas coisas de que eu gosto muito – sem ironia – mas que sei que são as cerejas em cima do bolo e não a sua massa.

Só que este Eixo da Formação me levanta algumas reservas, talvez por causa de uma desconfiança que se tornou um defeito meu quando leio peças propagandísticas mal alinhavadas ou baseadas em tudo o que é chavão vago e dificilmente escrutinável.

Para comodidade de arrumação de ideias, vou separar as reservas de acordo com cada componente do eixo/projecto:

  • Formação e Cerificação de Competências TIC – lá estamos nós de novo no campo da famigerada certificação de competências, a actividade actualmente mais na moda em matéria de extensão do aparelho burocrático do Estado e de aspiração de fundos comunitários. Se é evidente que a formação nesta área nunca é definitiva e a sua renovação deve fazer-se a um ritmo bem mais acelerado do que a formação científica em História, Inglês ou Matemática, também é evidente que este foi um dos eixos com maior peso na Formação de Professores nos últimos 10 anos, graças aos financiamentos do PRODEP. Pelos vistos sem grandes resultados.
    Verdade seja dita que muita dessa formação foi feita de acordo com os interesses dos Centros de Formação e formadores recrutados a dedo, tendo-se constituído como um dos maiores barretes na área da formação contínua dos docentes. Sei isso por experiência directa e indirecta. Directa porque assisti a coisas lastimáveis, incluindo um formador que nem sabia os mais básicos comandos do velho MS-DOS que se propunha ensinar; indirecta porque leio e releio quase sempre o nome dos mesmos formadores, com as mesmas acções de formação, ano sobre ano, com o título mais ou menos retocado mas os mesmos materiais de apoio pelo que depois me contam os formandos, a minha cara-metade incluída. O desplante por vezes é tal que as acções nem sequer correspondem ao anunciado, sem que ninguém se pareça importar com isso ou queixar-se.
    Se é para continuar nessa senda, voltando a cometer os mesmos erros – afinal uma década já deveria ter chegado para nos tornar minimamente competentes a quase todos e não apenas a financiar os carros novos ou as férias tropicais dos formadores – nem vale a pena irmos por aí. Se é para nos ficarmos pelas “certificações”, gostaria de saber quem é que certificou que os certificadores têm competência para fazer o que fazem, pois a criação de estruturas de certificação é apenas mais um esquema para, como já escrevi, sorver fundos comunitários, dando certificados de forma muito longe de ser transparente ou de corresponder a uma real melhoria das competências dos certificados. Ou a formação e certificação abandonam os vícios que anquilosaram a formação contínua dos docentes ou nada feito. 
  • Avaliação Electrónica – sendo esta a novidade, parece-me que é uma novidade que está concebida de uma forma profundamente errada e perigosa, seja para o trabalho dos docentes, seja para o desempenho dos próprios alunos.
    Eu explico: se é claramente vantajoso que se criem ferramentas e redes destinadas à circulação de informação inter e intra-escolas ou para a sistematização da informação, já me parece profundamente duvidoso que seja mesmo útil «uniformizar critérios de avaliação e ritmos de aprendizagem», em particular quando não se definem as unidades de aplicação dessa «uniformização»: são os departamentos? são os ciclos de ensino? são as escolas? são os agrupamentos? é todo o sistema de ensino?
    Mas afinal não vai essa uniformização exactamente no sentido inverso e a contra-corrente de todas as teorias e práticas pedagógicas que nos incentivam a diferenciar estratégias de abordagem dos conteúdos, a diversificar os instrumentos de avaliação e a adaptar os ritmos de ensino-aprendizagem a cada situação concreta, seja ela a unidade-aluno, a unidade-turma ou a unidade-escola?
    Para além disso pressinto nesta forma de abordar a avaliação uma concepção tecnocrática demasiado formatadora e desejosa de uma pretensa quantificação objectiva da avaliação, que elimine toda a margem de subjectividade no processo, ou seja que retire qualquer margem de criatividade e inovação da parte de docentes e alunos.
    Pior, e isso é mais do que previsível com os actores em presença, adivinho que esta não será mais do que uma forma encapotada de tentar monitorizar e controlar ao mínimo detalhe o trabalho dos docentes, retirando-lhes toda e qualquer margem de autonomia ou de evasão às cartilhas ministeriais, segundo as quais o sucesso é para medir e para alcançar nas quantidades desejadas, a ebm (com a anuência acrítica dos docentes) ou a mal (com o castigo de quem prevarique e cometa pecados de lesa-sucesso para as estatísticas).

Lamento se a minha visão de tudo isto é demasiado cínica, se já desacredito com facilidade das boas intenções de muita gente, mas é que a experiência passada e a observação presente de protagonistas e métodos (mais do que métodos são truques) não é de molde a acreditar que, subitamente e sem que saibamos de múltiplas epifanias por São Bento, pela 5 de Outubro e pela 24 de Julho, os velhos hábitos se mudaram e os novos métodos não passaram a ser mais do que recauchutagens modernaças mas duvidosas daquilo a que estes protagonistas nos habituaram.

Fiz uma reclamação de uma decisão da DRELVT no dia 26 de Julho, uma 5ª feira. Com os atrasos dos correios, pronto, acredito que tenha lá chegado dia 30, na 2ª feira seguinte.

São 30 dias para responder que se esgotaram, sem que chegasse resposta. Acho que a pessoa que tomou a decisão de que reclamei – ou pelo menos que mandou fazer o ofício de acordo com o despacho de uma outra senhoria hierarquicamente superior – está de férias e faz bem. Mas isso aqui não me interessa nada.

Para suprir o problema evidente do prazo atropelado, alguém da DRELVT decidiu ligar para a minha escola anteontem – limite do prazo a ficar nenuloso – a comunicar que a reclamação não podia ser satisfeita e pois, a legislação, não sei que mais. Sendo que a minha reclamação foi exactamente acerca da forma como foi seleccionada a legislação que foi aplicada. Mas tudo bem.

Só que eu não sei de nada. Não foi a minha escola que reclamou. Fui eu. E a mim ninguém disse nada, apesar dos contactos variados deixados a acompanhar a reclamação. Tal como já ninguém tinha respondido a um mail de pedido de informações. Tal como a tal decisão que motivou a reclamação, tomada por despacho datado de dia 12 de Julho, redigida em forma de ofício no dia 19 e chegada à minha escola no dia 23, a mim só me chegou dia 7 de Agosto.

São as férias, eu sei. São um período útil para tomar decisões, para as comunicar muito tarde aos interessados e para não responder atempadamente às reclamações. Mas é um bom período para os docentes andarem a concorrer. Não é o meu caso, mas isso também não interessa agora mesmo nada.

Espero que Setembro seja um período mais fresco para os recursos hierárquicos e para as queixas na Provedoria.

Porque eu sou chato, muito chato.

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A Gotinha lançou-me o desafio e é deseducado dizer não a uma senhora ou menina (abro excepção para a pestinha que anda cá por casa a pedir “surpresas” ao almoço, lanche e jantar).

A ideia é escrever sobre os últimos cinco livros lidos. O que no meu caso é um problema porque pratico a leitura múltipla e nem sempre percebo bem até que ponto quais foram exactamente os cinco que acabei de ler, ou que estão ainda a meio, ou que foram abandonados por causa da desilusão, ou porque ficaram soterrados sob uma avalanche de papel. Por isso mesmo esta lista é ligeiramente diferente da que lá deixei nos comentários.

 

Robert Wilson, The Blind Man of Seville.
Classificação: 7/10.
Comentário: História policial sólida, mesmo se não destinada a figurar na minha antologia pessoal das 10+ do género.

Vários: Pão Com Manteiga.
Classificação: 9/10.
Comentário: Um clássico nostálgico e imperdível.

Richard Ford: Mulheres e Homens.
Classificação: 6/10.
Comentário: Razoável desilusão, continuando sem perceber porque há quem tanto goste das histórias do homem. São medianamente interessantes, mas não mais do que isso.

Patricia Highsmith, Small g.
Classificação: 6,5/10
Comentário: Livro de despedida e de revisão apaziguada com velhos demónios, nomeadamente a homossexualidade. Mas muito ligeiro.

Vários; Snoopy’s Guide to the Writing Life.
Classificação: 7,5/10.
Comentário: Leiam as tiras e pranchas dos Peanuts (9/10) e saltitem os depoimentos (6/10) sem grande atenção, porque muitos são mesmo para encher chouriços.

E não, ainda não foi neste Verão que conclui a leitura da Guerra e Paz ou a revisão de todo o Dostoievsky, das obras completas do José Luís Borges ou da poesia críptica de um qualquer críptico autor português amargurado e semi-desconhecido. Afinal ainda é Verão e eu sou humano, demasiado humano.

Não sei porquê, mas começa a notar-se o regresso das setôras e dos setôres às respectivas bases. O rankings é de hoje às 15 horas, mais coisa menos coisa.

(c) Antero Valério

É verdade que se me pedirem mesmo, mesmo, para escolher um escritor favorito de sci-fi acabo no Philip K. Dick, por muita alucinação psicotrópica que o homem tenha passado ou por apressadas que sejam muitas das suas obras. Ou até não deixo de nomear a ursula K. Le Guin, o Clifford Simak ou o Ray Bradbury como uma boa segunda linha.

Mas é certo, certinho que em matéria de obra individual propriamente dita, esta do Robert Heinlein ainda é aquela que me marcou mais no momento da sua leitura. Não só porque Valentine Michael Smith veio de Marte para ensinar os humanos a grocar e a partilhar água (quem quiser saber o que é, leiam as mais de 400 páginas em letra miudinha), antecipando muito do espírito do final da década de 60.

Não é uma escolha obscura e muitíssimo erudita porque o autor foi dos mais premiados e com maior sucesso comercial na área, assim como este livro original de 1961 (edição nacional em 1983)  ganhou o prémio Hugo, uma espécie de Nobel para os maluquinhos de ficção científica.

Mas é a escolha certa.

Manuais do 1.º ciclo estiveram em risco

Governo aceitou aumentos por pressão de editoras
A possibilidade de algumas editoras deixarem de publicar manuais do 1.º ciclo, devido à sua reduzida rentabilidade, chegou a ser equacionada durante as negociações do futuro acordo de preços, apurou o DN. Este terá sido, de resto, o factor decisivo que levou o Ministério da Educação a aceitar rever os valores destes livros acima da inflação em 2008, altura em que poderão subir até 6%.

Assim se vê que o ME quando negoceia só espezinha quem pode ou a quem lhe convém. Perante o lobby das editoras já é possível ceder em toda a linha, como se a potencial existência de menos manuais fosse um ai-jesus que o mundo está a acabar.

Aliás, se o número de manuais a concurso para adopção descesse para metade ficaríamos todos a ganhar, excepto as editoras que obviamente preferem ter dois manuais com 10% de mercado do que um com 15%.

Alguém acha, com sinceridade, que deixariam de existir manuais do 1º ciclo se os preços ficassem indexados à inflacção oficial, aquela inflacção que serve para regular os aumentos salariais? Só alguém muito ingénuo ou que não conheça como funcionam as máquinas editoriais. A principal consequência seria uma salutar auto-regulação das editoras na forma como planeiam a produção de manuais e os respectivos custos.

Mas percebe-se que depois do descalabro em torno da TLEBS, o ME sentiu que não tinha autoridade para impôr o que quer que fosse às editoras que levaram o barrete de fazer manuais e gramátivcas de Língua Portuguesa que agora vão ficar nas prateleiras.

A Confap já apareceu a protestar contra estes aumentos, mas é claro que a sua voz só interessa e é valorizada quando serve para atacar os docentes de forma instrumental.

E assim mais uma vez se desmonta o mito do grande poder dos sindicatos dos docentes junto do ME. Assim como se revela que, afinal, as políticas ministeriais estão longe de obedecer a princípios de interesse público, ou mesmo de rigorosa contenção orçamental, a menos que os alunos beneficiados com os dinheiros dos SASE ainda venham a sofrer maiores restrições.

História e Geografia de Portugal
Língua Portuguesa
Estudo Acompanhado
Formação Cívica
TIC
Sala de Estudo/Substituições

Quem é que diz que já não sou um verdadeiro professor generalista? Só me falta Área de Projecto, porque também não dá para incluir mais horas.
Mas só posso, com sinceridade e nenhuma ironia, agradecer por terem acedido ao meu pedido de horário de funcionário público.

Um beijinho para a Isabel C., ora pois, porque ter de me refazer o horário todo graças à forma como a DREL aplica legislação a gosto não foi coisa fácil. Mas eu continuo a esperar pela resposta à reclamação dentro do prazo legal – telefonemas não contam para efeitos oficiais e se as leis são para aplicar, são mesmo para aplicar – para além de que espero pelo parecer da Provedoria de Justiça.

Isto era uma maravilha mesmo quando os anos 80 estavam a acabar, nos últimos tempos do vinil. Sei que ela fez discos depois disso com espectáculos e tudo, mas não entram na minha contabilidade, que parou na colectânea Collected de 1990 que espera que eu substitua a agulha partida da velha aparelhagem para voltar a rodar.

E nem guardo rancores por ter sido uma desilusão o espectáculo que a rapariga deu na Aula Magna aí por 1990 ou 1991 em versão de trio ou quarteto, incapaz de reproduzir a exuberância destes ritmos.

Nota-se sempre que se fala na eventual necessidade de uma estrutura do tipo “Ordem” para os professores que existem resistências e alguma fricção por parte de quem está mais sintonizado com o movimento sindical.

Mas vamos abstrair-nos do caso concreto do movimento pró-Ordem que temos, de que não sou militante e cujos meandros mais específicos  desconheço.

Fiquemo-nos apenas no plano teórico.

  • Desde quando uma ordem profissional e o sindicalismo são incompatíveis, desde que tenham claramente definidas as respectivas esferas de intervenção?

Lembremo-nos que um sindicato é um sindicato (e podem existir vários. como sabemos por múltipla experiência directa) e a sua acção deve incidir essencialmente sobre questões laborais, enquanto uma Ordem tem outro tipo de intervenção – nomeadamente no plano da definição de um Código de Ética ou Deontologia Profisional ou ao nível da definição dos critérios de acesso à profissão- e deve ser apenas uma para todos. Não sei se será esse aspecto unificador que desagrada ao nosso fragmentado movimento sindical, por sentir que assim a sua representatividade sairia diminuída. Mas essa não é uma razão válida para obstruir a criação de uma Ordem que, à semelhança de outras profissões, possa exercer também um papel de regulação no acesso à profissão, não deixando para o Estado todas as funções nessa área e na acreditação da formação académica para a docência.

  • Uma outra objecção, que o FTrindade inclui num comentário, é que uma Ordem é uma organização para regular profissões de tipo liberal, exercidas por conta própria.

Discordo na teoria e na prática, porque médicos, engenheiros, arquitectos e advogados que trabalhem para o Estado não deixam de pertencer à respectiva ordem profissional, para além de que não podemos esquecer que nem todos os professores estão exclusiva ou sequer parcialmente ao serviço do Estado. Existe um sector privado da Educação, no qual curiosamente são muitas vezes atropeladas algumas elementares regras no exercício da docência, que a existência de uma Ordem poderia ajudar a controlar.

Por isso, acho que Sindicatos e Ordem – veja-se o caso dos médicos – não são incompatíveis, mas complementares. Claro que a convivência, em especial nos primeiros tempos, seria passível de diversos choques e conflitos, mas isso não impede que deixar ao Estado toda a regulação da nossa actividade é uma enorme demissão das suas responsabilidades pela própria classe docente.

Sinceramente não é querer ser apenas desconstrutivo, mas um tipo lê e lê isto (para encontrar o relatório deve seguir-se o link das últimas edições da ANQ que não é directo) e tenta encontrar assim algo de novo, qualquer coisa que justifique, e muito pouco ou nada. E a reacção é quase sempre a mesma: porquê, quanto custou e haveria mesmo necessidade?

Ao longo de uns bons anos em qualquer carreira, em especial quando ela entronca numa determinada área de formação, temos tendência para uma certa endogamia no plano das amizades e relações pessoais.

No caso dos professores existe de igual modo a endogamia propriamente dita, pelo que em férias, feriados e outros dias santos não é raro que se juntem grupos mais ou menos alargados nos quais o(a)s professore(a)s e educadore(a)s são a larga maioria e onde as conversas acabam por varejar em torno do nosso quotidiano, respectivos dilemas, ocasionais satisfações e perspectivas de futuro.

Nestes casos, os grupos minoritários são por via de regra abafados ou até se inibem de participar de forma muito activa em algumas conversas. Pelo que não é raro que fiquemos a discutir em circuito fechado, o que se é bom pela troca de experiências, pode ser menos positivo porque não faz essa troca com o exterior da profissão.

Mas quando os grupos são menores, ou a distribuição profissional diversa, as conversas seguem outros rumos ou então assumem tons diferentes, sendo possível perceber como parte do mundo circundante encara os docentes, a sua situação profissional e a imagem que fazem do seu conjunto.

Pela minha experiência, que nem é extremamente alargada e cada vez o é menos pelos motivos acima descritos, existem duas principais tendências entre os elementos dos grupos profissionais que têm qualificações académicas equiparadas às dos docentes.

Ressalvando sempre que o nosso caso particular – porque eu ou nós, claro, sou(somos) amigo(s) deles e por isso sou (somos) excepção(ões) à regra – os docentes são vistos quase sempre das seguintes formas:

  • Como profissionais abnegados e que fazem o que podem dadas as circunstâncias, pelo que até temos valor, mas que, afinal, acabamos por ser uns coitados nas mãos do sistema, dos alunos e do ministério. Pelo que, embora dignos de respeito e consideração, não deixamos de ser igualmente merecedores de uma atitude de pena generalizada.
  • Ou como uns desajeitados, uma espécie de idiotas úteis que foram para professores por não saberem fazer outra coisa e por terem optado pela solução fácil, ao não enveredarem por outras profissões de maior prestígio e exigência. Esta é normalmente a posição daqueles que acrecentam que dar aulas qualquer um dá, mas que no caso do autor do discurso isso não se aplica porque, embora sendo fácil, ele(a) nunca teria paciência para aturar isso, sendo “isso” as aulas e os alunos.

Não vou dizer que estas imagens são completamente erróneas e que não se aplicam, com maior ou menor fidelidade, a uma parte da classe docente. Parte essa que eu não possuo estudos sociológicos ou outros para quantificar de forma exacta. Resta-me o olhómetro que me indica que são imagens redutoras, simplificadoras e, nem sequer no limite, desprestigiantes para a classe docentes.

Porque ou somos coitadinhos – e nesse aspecto confesso as minhas e nossas culpas – ou somos uma espécie de idiotas comodistas, sem qualquer tipo de competência que não a adesão a rotinas.

Claro que a tutela no último par de anos ainda fez os possíveis por acrescentar a estas imagens mais alguns pózinhos de incompetência, absentismo e anquilosamento.

E isto é injusto porque em quase 150.000 profissionais certamente há um pouco de tudo, mas também existe muito mais. E é esse mais que nunca ninguém parece preocupado em destacar, a começar por aqueles que deveriam ter todo o interesse em reconhecer o que os docentes fazem de bem, na docência e para além dela. Porque há docentes que – apesar de todas as limitações que lhes são impostas – fazem outras coisas e são bons ou mesmo excelentes nisso, desde os que combinam a docência com outras actividades profissionais (músicos, treinadores desportivos, escritores, pintores) aos que apenas a complementam com o desenvolvimento de gostos pessoais mais ou menos relacionados com a sua área de interesses ou formação (investigação, poesia, novamente a pintura, a música), passando pelos que se envolvem em actividades da chamada sociedade civil como o associativismo, a assistência social, etc, etc.

Na comunicação social o professor ou é o desgraçado que levou pancada do encarregado de educação, ou o faltista-mor que deixa os alunos à chuva para ficar em casa sem fazer nenhum. Temos ainda os que surgem no retrato a estender a mão aos governantes em dia de visita oficial ou os que aparecem a gritar pela 5 de Outubro ou pela Rua de São Bento acima e abaixo nas romarias anuais de protesto.

Raramente os professores, em especial os do ensino não-superior, são mais do que estereótipos como a loura americana burra do vídeo de uns posts abaixo.

E com o tempo estas imagens cristalizam-se no imaginário comum e acabam por afastar da docência, logo na escolha que dita o futuro profissional, mesmo os que sentem inclinação, vocação ou gosto por essa actividade, mas cada vez a encontram mais enxovalhada e desprestigiada aos olhos de todos.

E isso é um mal que se faz principalmente a toda a nossa Educação, visto que individualmente já quase todos nós aprendemos a lidar com a situação e a resistir aos olhares e observações zombeteiras com maior ou menor facilidade.

Só que a médio e longo prazo a opção por desqualificar os docentes, cortar-lhes perante todos as aspirações de progressão profissional e desprestigiar simbolicamentea função é apenas avançar para o abismo.

Normalmente estes refúgios nas memórias do passado mais ou menos remoto não são bom sinal. Alzheimer light chamam-lhe alguns(mas) colegas. Ou então estas viagens no tempo não passam apenas e tão só de uma nostalgia algo reconfortante.

Na semana passada lembrei-me de duas séries – uma televisiva, outra literária – que fizeram parte integrante da primeira fase da minha adolescência, aquela que se passou desde meados dos anos 70. Se a banda desenhada ou séries como o Espaço 1999 e O Caminho das Estrelas são mais óbvias de recordar, a verdade é que provavelmente os livros com as aventuras de Horatio Hornblower, simples marinheiro, tenente, capitão e depois almirante e mesmo lorde, publicados pela Portugália desde final dos anos 60 e a série Veterinário de Província (as primeiras três séries são de 1978-80) me proporcionaram tantas ou mais horas de fruição, num caso da pura e despretensiosa aventura de piratas, que começava a ficar fora de moda, e no outro de deslumbramento por uma perdida bucólica ruralidade britânica pré-Segunda Guerra Mundial.

Mesmo se nunca fiquei a querer ser veterinário, por muito que a fleuma do Siegfried e o destranbelhamento do seu irmão júnior Tristan me cativassem, um pouco mais do que o bom-senso militante do herói acidental James Herriot (e já agora, nunca percebi porque só traduziram o livro por cá exactamente 30 anos depois da edição original e apesar do sucesso da série, retomada nos anos 80).

Vai daí, e como não consegui encontrar por perto nenhuma edição nacional disto, nada como recorrer aos bons serviços da Amazon e três dias depois eis a nostalgia em vias de satisfação, sendo que o volume de C. S. Forester é um omnibus com as três primeiras aventuras de Hornblower.

E desculpem-me lá esta divagação memorialística, mas as férias também são para reencontrar velhos amigos de infância e adolescência.

E já só restam cinco dias.

E trouxe os seus apontamentos de férias.

Good Grief, diria o pobre Charlie Brown. Pérola descoberta através do Blasfémias.

Como parece que muita gente já vai regressando de férias, assim como porque a partir de dia 3 vai ser difícil arranjar o tempo e a paciência, vamos lá acabar uma ou duas séries de textos que começaram e não acabaram antes das férias. No caso desta, baseada na obra A avaliação dos professores e os resultados dos alunos de Pamela Tucker e James Stronge, cuja primeira e segunda partes já ficaram para trás, fica agora a terceira e última sobre as estratégias de implementar a instrução e de controlar o progresso e o potencial dos alunos.

Quantio à implementação da instrução, dizem os principais estudos que os professores eficazes:

  • Optimizam a instrução através de métodos directos, utilizando aprendizagens práticas e resolvendo problemas ao longo do currículo com base nas experiências dos alunos.
  • Comunicam os conteúdos e expectativas aos alunos de forma clara, estabelecendo o diálogo com base em questões tanto suas como dos alunos e usando trabalhos de casa classificados como estratégia de, formnecendo um feedback construtico, comunicar aos alunos as intenções do professor.
  • Envolvem os alunos na aprendizagem através da diversificação das estratégias pedagógicas, das actividades desenvolvidas e tarefas atribuídas, sendo maximizado quando as actividades em causa estão autenticamente relacionadas com ois conteúdos estudados; as instruções dadas aos alunos para estas actividades devem ser faseadas e exemplificadas de forma clara, sendo esse o melhor caminho para obter um maior sucesso.

Quanto à forma de controlar o progresso dos alunos devem:

  • Ser utilizadas pré-avaliações para apoiar o ensino orientado das competências de acordo com as finalidades propostas.
  • Sr acompanhado de perto o trabalho dos alunos para detectar sempre que existam concepções erróneas da sua parte quanto ao que é pretendido,
  • Se novamente leccionadas as matérias que os alunos demonstram não dominar e
  • Deve ser fornecido um feedback atempado e individualizado a cada aluno sobre o seu desempenho.

Como se pode ver, nada disto constitui uma redescoberta da pólvora ou da roda, mas apenas uma sistematização de tudo aquilo que já sabemos ser assim, só que nem sempre é possível quando temos 150-200 alunos para aplicar todas estas fases de monitorização do desempenho individual de cada aluno e uma aula de 90 minutos ou 90+45 durante a semana para fazer tudo isto e ainda equilibrar cinco argolas e três bolas em cada orelha.

E não há quadro interactivo que faça este trabalho por nós.

Se é possível fazer isto em condições muito favoráveis no 1º ciclo ou até no 2º ciclo quando os docentes acumulam duas disciplinas e têm turmas com uma dimensão aceitável 15-20 alunos, já é virtualmente impossível, a título de exemplo, no 3º ciclo, quando os docentes lecionam disciplinas com um bloco semanal de aulas de 90 minutos e têm 8 turmas com 25-28 alunos.

Porque se a escola deve ser de massas para poder incluir todos, não deve, contudo, ser massificada ao ponto da indiferenciação e da impossibilidade de, no seu quotidiano, os docentes conseguirem implementar de forma consequente estratégias como as aqui enunciadas que são concebidas como modelos ideais que depois as condições concretas torpedeiam sem dó nem piedade.

Mesmo que sim, não faz mal, porque continuo a degustá-la com o mesmo prazer da primeira vez com toda a sua carga retro.

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