Penso Eu De Que…


A angústia do professor que é encarregado de educação

Quando lemos ou ouvimos muitos dos especialistas mais ou menos instantâneos sobre Educação ficamos com a incómoda sensação de que um dos maiores males do nosso sistema educativo passa pelas posições corporativas dos professores, apresentadas com muita frequência como conservadoras, imobilistas e, desde que passou a valer todo o tipo de argumento, egoístas e defensoras apenas dos seus pretensos privilégios.

Esta é uma das facetas mais perversas da “narrativa” que foi sendo construída no presente milénio e que é transversal aos partidos que têm assumido a governação do país e que têm a responsabilidade pela condução das políticas educativas nos últimos 40 anos, com a activa conivência de amplos sectores da opinião publicada.

(continua)

Discordo da teoria da cultura da retenção e da forma como tem sido fundamentada.

Considero-a, em termos pessoais, profissionalmente ofensiva para os professores, em especial quando formulada de modo linear e descontextualizada dos factores de insucesso que desaguam nas escolas.

Mas isso não significa que não reconheça que a retenção existe como problema que deve ser combatido.

Mas… não dou o quantum leap de afirmar ela deve ser exterminada e que os seus efeitos são demolidores para a auto-estima dos retidos.

Depende.

Porque eu não gosto que quem acusa os professores de psicologizarem as razões do insucesso depois venham psicologizar os efeitos desse mesmo insucesso.

Mas isso ainda é o menos.

A ver se me foco no que queria escrever desde o início: eu assumo que considero a retenção como algo que deve existir no sistema de ensino e que é da sua natureza ter, em parte, um carácter punitivo ou sancionatório.

Não me vou agora estar a contradizer só porque pode parecer bem isto ou mal aquilo.

Sem esse carácter, mesmo que reconhecendo a evidente necessidade da componente pedagógica relacionada com o aperfeiçoamento das aprendizagens, é que a retenção não faria sentido.

Vamos lá deixar-nos de paninhos quentes e coisas liofilizadas e assépticas.

Há alunos que devem ser retidos, numa perspectiva positiva, porque é mesmo melhor que repitam o plano de estudos para melhorarem o seu desempenho e há alunos que devem ser retidos porque não fizeram, nem quiseram fazer o mínimo para transitar de ano.

E quantas vezes isso acontece devido a comportamentos e atitudes que, a serem validados perante os pares com a transição,  só servem para retirar sentido ao trabalho e esforço dos outros.

Negar isto pode ser politicamente correcto, mas é fugir à realidade das coisas.

Não é um determinismo fatalista.

Por estranho que pareça a alguns, é uma forma de respeitar a larguíssima maioria.

Calvin-sorry

E vamos lá esclarecer uma coisa: o insucesso dos alunos não é o fracasso dos professores. Pode ser e pode não ser. É tão correcto fazer uma relação directa entre o insucesso dos alunos e a qualidade do desempenho dos professores como culpar a polícia e os juízes pela taxa de assaltos e homicídios ou os enfermeiros e os médicos pela incidência de doenças crónicas na população.

Mesmo não sendo bem o mesmo, acho que dá para perceber.

Calvin-butt

E, já que vamos com a foice a eito… quem quer uma amostra que prove que existe uma evidente cultura de desresponsabilização nos políticos e especialistas acerca disto tudo, pois apenas estão disponíveis para assumir os sucessos, alijando sempre as culpas pelo que corre menos bem?

Calvin-fault

… eu defenderia que ela deveria passar por criar equipas para tratar os problemas do insucesso e abandono que não estivessem dependentes de quem tem reduções ao abrigo do artigo 79º como se passa agora, em que os horários vão sendo medidos ao minuto e não há liberdade – diferente, por definição, de poder arbitrário – quase nenhuma para colocar as pessoas adequadas nas funções necessárias.

David Justino aproxima-se disso quando se afirma:

O presidente do CNE frisou que, com esta recomendação, “não se está a apelar a passagens administrativas ou a facilitismos”, mas sim  a que os alunos com dificuldades “tenham respostas efectivas da escola, o que só se consegue com mais apoio e trabalho”.  Por isso, o CNE recomenda que seja dada mais autonomia às escolas para que estas possam dar “respostas contextualizadas” (constituição de turmas, gestão do currículo, construção de diferentes percursos escolares) à sua situação concreta.

O problema é que a recomendação do CNE – aprovada por unanimidade, não me canso de sublinhar – tem várias lacunas graves e diversos alçapões dissimulados que é necessário identificar.

Não vou deter-me sobre as considerações gerais acerca do que se pode fazer, porque é habitual que nestas recomendações se especifiquem muitas coisas que pouco têm de verdadeiramente concreto.

Apenas assinalo que numa recomendação co-assinada pelo presidente da Confap seja aos alunos e “famílias” que menos se pede (apenas 3 em 26 das recomendações lhes são dirigidas, como se tudo assentasse no “outro lado”), enquanto se regressa a um discurso típico do cruzamento entre o eduquês “de esquerda” no seu pior (por um lado diz-se que os alunos se sentem menorizados emocionalmente pela retenção, mas logo a seguir que eles desenvolvem “lideranças divergentes”) e o discurso “da eficácia financeira” característico da “direita” economicista (reter é mau porque, em especial, custa milhões de euros, o que é uma distorção grosseira da realidade porque a proporção dos encargos de um aluno não é proporcional e directa, pois ele vai integrar-se numa turma já existente).

Tudo misturado com uma retórica que se conhece há décadas e que escapa sempre a exigir responsabilidade à sociedade envolvente na promoção do sucesso, deixando para as escolas todo o ónus, em particular para os professores:

A cultura de avaliação das aprendizagens, mais orientada para a classificação e seriação, praticadas no seio das escolas, aprofundam o carácter sancionatório e penalizador da avaliação, ao invés de centrar o seu foco na deteção de dificuldades, com vista à determinação da intervenção adequada para colmatar as mesmas, reforçando as áreas menos fortes.

(…)

Os professores, como principais atores do sistema educativo, assumem um papel fundamental no quadro de uma desejável alteração da cultura escolar, pelo que será através da sua mobilização e capacitação que se poderá, de uma forma gradual e assertiva, modificar a conceção de sucesso que gravita em torno da “nota” e faz apelo a uma avaliação punitiva e centrada na “classificação”, para uma conceção de avaliação assente na deteção de dificuldades e na exigência do trabalho de recuperação de áreas com insucesso, com vista à promoção de aprendizagens em todos os alunos e ao seu sucesso escolar.

Mas será que os professores não reclamam, há muitos anos, mecanismos e meios específicos para a detecção precoce e enquadramento dos factores de insucesso dos alunos, enquanto a tutela, ministr@ após ministr@ se limitou a mandá-los calar-se e tratar de tudo na sala de aula? É que os quadros interactivos não resolvem este tipo de problemas…

E depois gostaria de destacar aqui um dos “alçapões” desta recomendação e que é a legitimação da retirada de competências às escolas, alegando que se devem focar apenas nas questões pedagógicas e que o resto deve ficar fora delas, leia-se… nos municípios?

No interior das escolas, as lideranças têm, atualmente, um cariz eminentemente burocrático-administrativo, sendo fundamental que se desenvolvam verdadeiras lideranças pedagógicas, orientadas para a potenciação das aprendizagens dos alunos e para a promoção do sucesso educativo. Nesse sentido, deverão, ainda, ser minimizadas as inúmeras tarefas de cariz burocrático que são solicitadas pela administração central às escolas e aos seus órgãos de gestão, permitindo a concentração nas questões de gestão pedagógica das escolas e agrupamentos.

Que eu saiba, a retirada de poderes ao Conselho Pedagógico (que muito tempo representou o espaço colegial de debate e liderança nessas matérias) é consequência do actual modelo único de administração escolar. As “lideranças pedagógicas” foram desprezadas na última década… ou mesmo mais, por serem consideradas de menor interesse para as poupanças.

Em seguida, não deixa de ser curioso que seja o ex-ministro que tanto incentivou os anteriores presidentes dos conselhos executivos a fazer cursos de administração e gestão escolar que agora apareça a recomendar que essas funções lhes sejam retiradas.

Acaso já pensaram os conselheiros que no CNE aprovaram estas recomendações por unanimidade que “minimizar as solicitações de cariz burocrático-administrativo acometidas às escolas” é diverso de modificar os processos que, isso sim, significa uma reforma sempre adiada ou feita para pior.

Uma coisa é mudar os procedimentos burocráticos, aligeirando-os, outra retirar essa competência às escolas e, por tabela, transferir os recursos para outra sede.

Por fim… recomendo agora eu… para quando uma reformulação do modelo de administração escolar que permita lideranças colegiais com diferenciação funcional em vez de retirar competências e autonomia às escolas?

Porque de pouco vale uma excelente liderança pedagógica se tudo emperrar no mau humor d@ senhor@ vereador@ ou presidente da Câmara que bloqueie todo o tipo de medidas, estrangulando-as do ponto de vista financeiro.

E é isso que se anuncia.

 

… falou-se bastante na diferença entre um projecto de alegada descentralização que mais não passa de uma retirada de competências das escolas para os municípios e uma verdadeira descentralização das decisões para as escolas, dando-lhes verdadeira autonomia. Isto foi muito sublinhado pelos directores presentes e por este presidente de CG que aqui escreve.

Na sua intervenção de encerramento, o presidente do CNE desafiou as escolas a definirem, num próximo debate, exactamente quais são as competências que as escolas querem manter, as que não se importam de perder porque só as sobrecarregam e aquelas que gostariam de ter e não têm.

Informalmente, disse-lhe que isso é muito fácil de fazer, porque é só desobrigar as escolas de muita burocracia e dar-lhes a capacidade de decisão em matérias que, no presente, legalmente lhes estão quase proibidas ou em que a margem de gestão é mínima.

Só que pode ser que exista uma diferença semântica quando falamos em “autonomia das escolas” porque eu entendo por isso exactamente “autonomia das escolas” e não “autonomia das direcções executivas” ou “autonomia d@ director@” por muito bem que desempenhem os seus cargos e são muit@s que o fazem e eu nunca tenho problemas em reconhecê-lo.

Só que… como eu vou (re)descobrindo, há pelo país que até já tenha demasiada autonomia unipessoal ou de mini-grupo, muitas vezes com as chamadas costas quentes pelas redes locais e regionais de poder e amiguismo variado, sentindo-se acima de qualquer tipo de legalidade porque consideram que nunca lhes acontecerá nada, pois tudo está controlado.

Atitude que também conheci quando, no âmbito do sector privado, se deu aquele caso mediático do grupo GPS.

A “autonomia das escolas” é para mim a autonomia de uma organização partilhada e cooperativa no bom sentido, algo pouco compatível com o modelo único que temos de administração escolar e que desincentiva a colaboração e o confronto de posições sem receios de ricochetes.

Aliás, acho mesmo que é curioso que depois de se andarem a formar directores escolares em imensas matérias administrativas, financeiras e e etc, se queira agora reduzi-los a líderes pedagógicos das escolas e agrupamentos, que é o que restará aos directores nos concelhos em que ocorra a municipalização.

Por isso, antes de discutirmos a “autonomia das escolas” é importante sabermos se estamos mesmo a falar da de autonomia DAS ESCOLAS.

 

 

Com navegação privada consegui ler. Não é nada de novo. apenas um post aqui do blogue, acrescido de parte da introdução à comunicação que espero ter tempo de fazer em Aveiro.

Municipalização da Educação: uma reforma necessária e coerente?

Confesso que aceitei o convite neste seminário do CNE antes de saber que teria de fazer 300 km para participar e, a certa altura, coloquei a hipótese de não ir, pois estou cansado de andanças e acho, sinceramente, que é praticamente impossível fazer as pessoas pensar sobre questões acerca das quais formaram uma opinião praticamente inamovível.

Digamos que vai ser uma das últimas vezes em que penso ir dar o corpo e a cara ao manifesto por ideias que defendo com base em argumentos e dados concretos e não em formulações teóricas ou interesses particulares, pois onde lecciono duvido muito que isto chegue a curto prazo ou mesmo a médio, pelo que… se há quem aceite com medo de espernear, só levará em cima com o que merece.

Sei também que corro o risco de ser a flor da contestação assumida na lapela do unanimismo mal disfarçado.

Mas… que se lixe… nem que sejam apenas 15 minutos, que sejam de luz e cor. O resumo do que pretendo dizer, em 300 palavras, é o que se segue, não sendo difícil reconhecer a adaptação de um post recente porque tenho o péssimo hábito de não dizer uma coisa por aqui e outra ali como “às vezes” acontece. 

E como se perceberá pelo post mais abaixo, parece-me clara e evidente a minha “desconformidade” em relação aos consensos “de regime” que estão feitos há muito em matéria de educação, visando o estrangulamento da autonomia organizativa das escolas e da autonomia profissional dos professores.

***

É comum a queixa contra as sucessivas reformas, mini-reformas, acrescentos, acertos e enxertos que tornam a Educação um labirinto legislativo, uma manta de retalhos, de leis, decretos, regulamentos e normativos, muitos deles incoerentes entre si. Isso não impede que, identificado o problema, ele seja regularmente agravado com novas “reformas”.

Em termos gerais, qualquer reforma, na área da Educação ou outra, deveria obedecer a alguns princípios que julgo por demais evidentes:

Antes de mais, a reforma pretendida corresponde a algum problema real ou se é apenas um problema artificial? Neste caso, o processo deve acabar na ideia.  Se o problema é real, convém fundamentar o seu grau de urgência e necessidade para melhorar a vida dos principais destinatários.

Em seguida, devem analisar-se as possibilidades de solução e respectivas alternativas. Procurar situações similares e medidas tomadas, no passado ou em outras paragens, assim como os resultados obtidos para perceber se são medidas adaptáveis à nossa realidade e ao momento presente.

Em terceiro lugar, devem consultar-se os interessados, quer os destinatários das medidas, quer os seus implementadores no terreno. É importante a mobilização de uns e outros, embora sem ser para consensos ineficazes.

Estabelecido um quadro global das medidas a implementar, convém analisar se o seu enquadramento é coerente na realidade existente e se a sua concretização não vai contra outras medidas ainda em desenvolvimento no sector.

Decididas as medidas, deve estabelecer-se um cronograma público da reforma e definir um período experimental seguido de uma avaliação, antes da sua expansão ou generalização. Recolher informação e reavaliar o processo, se necessário.

Ponto final ou preliminar: não iniciar um processo de reforma sem a devida avaliação do anterior.

Esta apresentação visa analisar se o actual processo de municipalização da Educação em construção cumpre algum destes pontos ou se é apenas mais um enxerto casuístico e incoerente no labirinto já existente.

 

… e outros danos no mobiliário para afiar as unhas, que eu não gosto muito de manicure aos felinos.

Vem isto a propósito do valor que damos à vida, humana ou não, e da demagogia imensa em seu redor, seja dramatizando as tragédias, seja hiperbolizando os custos da vida dos cidadãos portugueses para o Estado, leia-se, para os senhores dos governos ocasionais, no presente o PM Pedro e o ministro da Saúde Paulo, que se apresentam ambos como pessoas de bem e o segundo, ao que consta, temente a Deus.

De acordo com o que se vai sabendo, a indústria farmacêutica – habituada a fazer cavalgar os lucros na miséria alheia (basta ler O Fiel Jardineiro do Le Carré para a ficção nos dar uma pálida imagem da realidade) – exige pelos tratamentos para a Hepatite C (assim como para outras doenças potencialmente letais) uma porrada de massa, alegando os investimentos na investigação e produção dos fármacos.

Vou passar adiante a evidência de que deveria ser função dos poderes públicos providenciarem muita dessa investigação.

Concentremo-nos no que é colocado cá fora para justificar práticas de avaliação do valor de uma vida:

O Ministério da Saúde já chegou a acordo com o Gilead para o fornecimento de medicamentos para a hepatite C.

O diretor do laboratório veio de Genebra e esteve esta quinta-feira reunido no Infarmed e Ministério da Saúde. 

A última proposta conhecida era de 24 mil euros por três meses de tratamento mais três gratuitos caso fosse necessário prolongar. 

Em espanha, o medicamento é vendido a 25 mil euros. 

A confirmar-se este valor, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, consegue uma redução de quase 50% num medicamento que disse dar 5000% de lucro à farmacêutica.

Há aqui duas questões essenciais, penso eu, a destacar:

  • A pornografia das margens de lucro da indústria farmacêutica e o seu vampirismo, só possível porque não há uma regulação transnacional (gostaram?) do seu mercado, em grande parte porque muita gente importante está no bolso e no rol de pagamentos às escondidas de muitas grandes empresas.
  • A pornografia de se colocar a vida humana numa escala comparativa com o materialismo financeiro, em especial quando isso é feito pelos ocupantes transitórios do poder político como se fossem analistas de risco de uma seguradora a negociar apólices.

Comecemos pelo mais fundamental: a vida. O valor que há quem diga defender, desde que os encargos não atinjam os 5000 euros por mês, ou seja, o que é pago em migalhas a consultores jurídicos externos ou um décimo de um parecer encomendado para lixar os direitos laborais dos funcionários públicos.

Pagar 25.000 euros por seis meses de tratamento é algo incomportável para a larguíssima maioria da população portuguesa, mesmo que isso signifique a diferença entre vida e morte. Pelo que fica nas mãos do Estado para que esses cuidados de saúde lhe sejam prestados e a sua vida seja mantida.

No entanto, o “Estado” (que é uma entidade abstracta, sem actos concretos, pelo que devemos concentrar-nos nas pessoas reais que tomam decisões) considera que isso não é comportável e manipula números sobre pacientes potenciais a precisar de tratamento.

E há quem aplauda, como se fosse um executivo de uma seguradora de modelo americano, do género que mede o risco e decide que acima de 55 ou 60 anos só dá lucro fazer apólices contra o acne juvenil.

E é esta parte que arrepia, porque até se enquadra na lógica explicitada inicialmente pelo Relvas de que os portugueses, caso não se sintam bem, devem emigrar, sair da zona de conforto e ir, metafórica e literalmente, morrer longe.

A lógica que acha que os problemas na Saúde são por causa de enfermeiros e médicos. Na Educação por causa dos professores. Na Justiça por causa dos juízes e na Segurança Pública por causa dos polícias.

O problema de Portugal é ter cá portugueses. Que querem viver e não morrer, havendo hipóteses de sobreviver.

A quem desgosta imenso ter cá portugueses (e há dias que a mim também bate cá uma vontade de ver muitos pelas costas) é que deve ser indicado o voo mais próximo da Lufthansa ou da Air Malasia. E é algo que digo também a quem se queixa sempre de ser culpa dos portugueses votarem nos mesmos, serem burros, etc, etc, até dar a volta quase toda e acabar com esta coisa moralmente repugnante de avaliar a vida de outros, não a considerando o mesmo tipo de “direito adquirido” que o de uma empresa privada que sacou um contrato “blindado” com o Estado.

Voltando ao início, eu estou disposto a gastar 10.000 euros para ter um felino cá por casa a arranhar-me os móveis e a saltar por cima de tudo e mais alguma coisa, a roer-me a papelada e tudo o mais. Não sei se é racional. Mas é uma opção minha, avaliando como positivos os ganhos em relação à despesa.

No caso do actual PM Pedro e do seu ministro da Saúde Paulo não me parece que seja seu direito fazer cálculos desses e optar pela vida ou morte dos cidadãos portugueses, a menos que a dita pena tenha sido reinstituída.

A parte da obscenidade dos preços da indústria farmacêutica seria bem fácil de resolver se em Bruxelas e Estrasburgo não imperassem os eunucos políticos, salivando por uma avença.

 

 

Primeiros: verificar se a reforma pretendida corresponde a algum problema real a resolver ou se é apenas um problema inventado para justificar a dita reforma. Neste caso, o processo termina aqui.  Se o problema é real, convém avaliar o seu grau de urgência e necessidade para melhorar a vida dos principais destinatários.

Segundos: analisar as possibilidades de solução do problema e respectivas alternativas. Procurar situações similares e medidas tomadas, no passado ou em outras paragens, assim como os resultados obtidos. Procurar perceber se são medidas adaptáveis à nossa realidade.

Terceiros: consultar os interessados, seja os destinatários das medidas, seja os seus implementadores no terreno. Procurar estabelecer entendimentos e mobilizar o máximo de uns e outros, embora sem ser para fazer consensos ineficazes.

Quartos: estabelecer um cronograma público da reforma e respectivas medidas. Estabelecer, de preferência, um período experimental seguido de uma avaliação, antes da expansão ou generalização das medidas. Recolher informação e reavaliar o processo, se necessário.

Quintos (ou pré-primeiro): não iniciar um novo processo de reforma sem a devida avaliação do anterior

Penso não cometer nenhuma enormidade ou desvio à verdade (claro que existiram os que “por ser de Direita” acreditaram sempre que só sairia asneira, pelo que são os profetas que profetizaram a profecia cumprida) se escrever que a maioria dos professores teve esperança, em 2011, que Nuno Crato fosse capaz de, em coerência com o muito que disse e escreveu publicamente, romper com a tradição demagógica e facilitista de querer garantir o sucesso a todo o custo e com todos os truques disponíveis na cartilha para cumprir calendários eleitorais.

O retorno (ou avanço) para uma cultura de rigor nas escolas passava por quebrar alguns lugares comuns da governação em Educação, fugindo quer do espartilho conceptual do pedagogês peganhento e circular, herdado de um passado mais ou menos recente, quer das inevitabilidades financeiras à tio patinhas dos borginhos (leia-se pseudo-liberais de aviário, inspirados pela ideologia canhestra dos neocons do tea party) dominantes na entourage do actual PM.

Essa cultura de rigor, certamente impopular em alguns círculos, incluindo entre alguns professores e diversos especialistas, passava por tratar a autonomia das escolas de forma séria, de não entrar em questiúnculas e medidas de pilinhas em público com os sindicatos e de, por uma vez, não apresentar os professores como o eterno problema da Educação que é preciso resolver, através do extermínio, domesticação e/ou humilhação até fazerem o que queremos sem chiarem.

Infelizmente, Nuno Crato optou por fazer quase tudo ao contrário e por ceder cada vez mais, não ao alegado “monstro” da 5 de Outubro que pretendia implodir, mas ao facilitismo demagógico das medidas para distrair a opinião pública, enquanto cedia de forma quase completa aos interesses mal disfarçados em torno da mesa do orçamento do MEC.

Em vez de verdadeiro rigor e de apoio a uma cultura de exigência nas escolas, preferiu fechar o dossier da ADD com uma solução da pior fancaria e alargar os exames no Ensino Básico, sem associar outras medidas a essa ou a enquadrar numa forma de responsabilização séria de todos os actores pelos resultados, enquanto reduzia o currículo apenas com a finalidade de poupar em horários de professores.

Reparemos que, no essencial, o actual MEC manteve a postura de culpar sempre, e em primeiro e quase único lugar, os professores e as escolas pelo mau desempenho dos alunos, nisso pouco se distinguindo de diversos antecessores, sempre disponíveis para colher os louros por bons resultados, mas rápidos a alijar responsabilidades pelos fracassos.

Parece-me mais ou menos óbvio que um esforço por aumentar a exigência do trabalho com os alunos leva, quase inevitavelmente, a um aumento (maior ou menor) do insucesso a curto prazo. Contra os que gritam contra a “exclusão” causada pelo insucesso, seria necessário tomar medidas para minimizar esses efeitos, logo desde o 1º ciclo.

Nada disso foi feito, preferindo-se castigar as escolas com piores resultados e beneficiar apenas uma elite das que conseguissem melhores resultados em exames e nesse caso teriam direito a mais crédito horário e meios. Foram assinados contratos de autonomia, mas as escolas em causa ficaram ainda mais espartilhadas no seu funcionamento, com grelhas de sucesso a cumprir no curto prazo, o que condiciona sempre os órgãos de gestão a pressionar os corpos docentes para produzirem sucesso e aumentarem as taxas de transição, mesmo em piores condições de trabalho.

Para dar uma ainda maior sensação de “sucesso” foi criada em contra-relógio a opção “vocacional”, para a qual se anunciou querer enviar uma proporção assinalável dos alunos do ensino Básico, em especial os já marcados por algumas retenções, dando-lhes o bónus de não fazerem os Exames Nacionais de final de ciclo numa situação de win-win: os alunos a passarem sem grandes problemas (se chumbarem é porque os professores não entenderam o “sistema”) e o MEC limpar as pautas dos exames de muitos milhares de expectáveis classificações baixas.

A boa verdade é que este MEC criou uma bolsa enorme de “sucesso” desta forma, permitindo que, ao mesmo tempo que anunciava mais exames, menos alunos os fizessem a partir do 6º e em especial 9º ano.

Engenhoso, certo?

Digno de um truque processual dos tempos das RGA de Liceu, apostando na alegria do povo ver as criancinhas passarem e o sucesso aumentar, mesmo em vésperas de eleições.

E quem pensa o contrário é retrógrado, defende a exclusão, o despesismo, é mau professor e pai de família, nisso confluindo desde´os pitonisos de alguma esquerda igualitária à força desde que eles encabecem o movimento aos gurus daquela direita óptima a abocanhar os subsídios públicos, enquanto reclama pela eficácia do “sistema”.

Mas o problema é que, pelo caminho, se esconde a forma de funcionamento de muitos desses cursos vocacionais, da intolerável pressão sobre os conselhos de turma para assegurarem níveis de sucesso que não comprometam a avaliação da escola, ao mesmo tempo que se desincentiva de forma bem activa a acção disciplinar sobre os alunos que não cumprem o mínimo das regras de civilidade numa sala de aula.

A verdade, que o MEC oculta ou então apresenta como pura responsabilidade dos professores porque é mais fácil assim do que afrontar com coragem “as famílias”, é que o trabalho nas salas de aula está ainda pior do que em outros tempos, em especial nestas fast lanes criadas para os indesejáveis, aos quais se nega um tipo de apoio individualizado para superarem os seus problemas de aprendizagem ou de comportamento (muito menos dos condicionalismos económicos de cada vez mais alunos do próprio Ensino Secundário) em troca de um sucesso garantido quase à força.

Felizmente, ou não, conheço demasiadas situações, distantes ou próximas, em que o ónus da culpa recai sempre sobre @s professor@s que exigem mais do que a presença física dos alunos na sala de aula (e às vezes nem isso à custa de muita “justificação” abertamente injustificada), seja nestas coisas “vocacionais”, seja em turmas ditas “regulares”.

E como não gosto de deixar as coisas apenas pela enunciação, posso mesmo dar o exemplo de uma turma minha em que, quase à 100ª aula ainda é necessário perder os 15 minutos iniciais a recordar regras básicas de convivência num espaço público entre pessoas, já nem digo entre alunos e professores numa sala de aula. Não se agredirem brutalmente a caminho da sala, não se ofenderem verbalmente e à família de forma profusa, mesmo já dentro da sala, não ficarem a falar como se não existisse um professor a chamar-lhes a atenção, nem sequer retirando o material da mochila, não simularem escarros para cima dos colegas ou para dizerem que precisam ir à casa de banho cuspir e lavar a boca, não comentarem partes da anatomia das colegas a qualquer momento, sabendo que se o professor os mandar sair da aula é porque não sabe dominar a turma, gritando para os colegas que precisam de um lenço porque estão com o nariz cheio de ranho e muitos etc que poderiam ser expostos com base numa única aula de 90 minutos.

Sou um mau professor por descrever isto que observo e vivo? Não sei, mas é verdade que nem quero saber o que muita gente pensa, desde que a minha consciência esteja tranquila com o que faço.

Se isto que apresento menoriza o trabalho dos professores e os torna vulneráveis, se dá uma má imagem das escolas públicas? Muito pelo contrário, pois este é um trabalho profundamente difícil, de um enorme desgaste psicológico e mesmo físico, que quase ninguém parece apreciar especialmente quando opta por ofender os professores como sendo quem não sabe fazer mais nada, dando a entender que é coisa simples e não algo tão ou mais exigente que muitas outras funções profissionais socialmente mais prestigiadas pela opinião publicada. E as escolas fazem cada vez mais um trabalho que transborda de uma forma gritante das suas funções tradicionais e das suas próprias valências.

A verdade é que muitos dos que aproveitam testemunhos destes para ofender uma classe profissional, quando confrontados com o convite para irem uma semana tomar conta das coisas com 6, 8 ou 10 turmas, dizem logo “deus me livre” pois sabem que seriam incapazes de o fazer mas amesquinham quem o faz.

E o que é pior, exigem sempre “mais com menos”, acusam os professores de “corporativos” quando defendem os seus direitos (mas agacham-se quando são outros a exigir os seus direitos) e aparecem publicamente a apontar o dedo acusador, quando não a reclamar o “melhor para os nossos filhos” (mesmo quando são já avós ou os filhos andaram sempre em casulos amigos) ou “os direitos das famílias”, quando não mesmo aquela falácia da defesa da boa aplicação do “dinheiro dos contribuintes”.

Regressemos ao início desta já longa prosa.

Nuno Crato foi um fracasso completo como MEC.

E foi um fracasso completo porque acabou a gerir o status quo que amarra o MEC na sua acção e é falso que esse status quo seja o imposto por sindicatos ou pelo corporativismo dos docentes. É o status quo que leva a que os sucessivos ministros da pasta se tornem uma confraria com mais pontos de encontro do que de divergência, com uma continuidade na prática maior do que parece, pois a opção por um constante jorrar legislativo é uma afinidade como qualquer outra e os chavões vácuos (“autonomia”, “rigor”, “responsabilização”, “descentralização”) rapidamente se tornam comuns nos seus discursos públicos, quantas vezes significando o seu inverso.

Nuno Crato é um digno representante da ideologia do “sucesso” a todo o custo porque, apesar de diferenças em algumas estratégias, não mudou nada nos objectivos da sua acção (“apresentar resultados”, seja a que preço for, nas datas certas) e nos alvos preferenciais e quase exclusivos do seu discurso “responsabilizador” (os professores são sempre apresentados como determinantes para o sucesso dos alunos, excepto quando eles apresentam mesmo bons resultados).

Que depois todos estes erros desaguem, a jusante, nas Universidades, é apenas uma consequência natural, o mesmo se passando com a expansão da “cultura de sucesso” nos cursos superiores à bolonhesa, espécie de patchwork académico massificado, em que o que interessa é, de novo, “apresentar resultados” a qualquer custo e com o menor esforço.

Mais com menos.

.

(Adenda personalizada: há pelo menos 3 alunos meus da tal turma referida mais acima que vão receber o seu teste de Janeiro sem classificação atribuída devido ao seu comportamento durante a sua realização, mesmo se eu vou corrigir todas as questões. Se isso pode trazer reclamações… ? Vamos nessa!)

… ter de aturar tanta bicho careta a falar de Educação e da “qualidade dos professores”. Parece que um tipo dá um pontapé numa pedra e aparecem imensos “especialistas” a dizer que se está mesmo a ver que a prova pacóvia era mesmo necesária, a avaliar pelos erros cometidos.

Ainda há pouco era aquela deputada do PSD que meteram a vice-presidente da Comissão de Educação, que pode ser uma excelente pessoa e amiga dos seus amigos, mas que parece não saber dizer nada de seu, uma palavrinha ou frase que não pareça eco.

Vamos lá a ver umas coisas:

  • As pessoas que foram fazer esta prova nem sequer estão a leccionar ou se estão serão meia dúzia.
  • Mesmo as que passaram têm hipóteses muito remotas de leccionar com regularidade, para além de uns contratos de substituição.
  • Todas têm uma certificação profissional passada por uma instituição reconhecida pelo estado português e em particular pelo MEC.
  • Não faço a ponta de ideia da competência ou certificação especial de quem fez esta prova, de quem elaborou os critérios de correcção e de quem a classificou, porque o Iavé é o reino da opacidade nos seus processos e protagonistas.
  • Esta prova [mas com outro tipo de conteúdos] teria sentido como exame final de um curso de habilitação para a docência ou, em alternativa, para acesso a um concurso para vagas no quadro, nunca como prova desligada de qualquer contexto razoável.
  • Não reconheço a estas criaturas nascidas para a vida pública do carreirismo jotista, que agora aparecem a perorar inanidades, qualquer legitimidade para falarem sobre a qualidade dos professores portugueses.
  • O mesmo se aplica a senadores do jornalismo de sofá e restaurante, que aproveitam toda a oportunidade para debitar preconceitos e exibir uma autoridade nascida do nada ou então de um passado em que contribuíram activamente para o abandalhar do ensino nos seus tempos de revolucionários.
  • E haveria ainda outros etc que não vou desenvolver para não dar demasiada largueza à vontade de desancar o senhor Iavé e a sua arrogâncian inaceitável.

(nada disto serve para justificar a iliteracia, quantas vezes a par da vazia arrogância, de muita gente que gosta de criticar os “velhos”, mas ainda tem muito a aprender com eles…)

… que um dos locais mais perigosos para uma pessoa doente sejam as urgências hospitalares. Chutar para canto não resolve nada.

Qualquer religião, ideologia, deus ou profeta que legitimem a violência e a aniquilação física de alguém só porque não partilham o seu credo ou porque com ele fazem humor, não merecem ter seguidores, a menos que sejam muito idiotas ou apenas estúpidos.

(obviamente que se excluem de tal responsabilidade as crenças que sejam objecto de apropriação instrumental por parte dos idiotas e estúpidos acima mencionados)

Foram as palavras que mais me ocorreram para um pequeno depoimento, gravado no fim da semana passada, que talvez surja no enquadramento do debate de hoje à noite na SICN com o actual MEC e alguns dos seus antecessores, não sei exactamente quais (há sempre a possibilidade do inefável Couto, aquele que tem o maior desfasamento entre o que fez e o que pensa que fez).

A verdade é que o “mais com menos” e o “sangue novo” que estaria para vir para as escolas foram sempre fórmulas bacocas e vazias de substância, excepto no que se refere a esgotar por completo quem ainda tenta ter um mínimo de profissionalismo nas escolas.

Quem tinha idade ou condições para se aguentar com uma aposentação duramente amputada, foi-se embora. Sobre o anedótico processo de rescisões, nem é bom falar. O “sangue novo” das vinculações extraordinárias trouxe umas centenas de colegas praticamente com a mesma idade dos que já estavam nos quadros. Os contratados, em grande número, andam em duas ou três escolas para conseguirem acumular horas e tempo de serviço.

Acredito que nada disto, ou muito pouco, venha a ser aflorado esta noite, pois @s ex-ME(C) formam uma espécie de confraria em que as diferenças são muito menores do que as afinidades e os seus “fantasmas”: a máquina monstruosa da 5 de Outubro, o poder dos sindicatos, o corporativismo dos professores, a centralização do sistema. Tudo tretas, mas que são apresentadas como falhas “sistémicas” que se andam a corrigir há 20 anos.

O problema é que quase tod@s os que passaram pelo cargo acabam por confluir numa série de chavões, sendo que o que está agora em acelerado progresso é o da “descentralização” que se quer fazer passar por sinónimo de “municipalização”.

Articulá-lo com”autonomia das escolas” é um ovo de Colombo, mas um ovo de avestruz obesa ou a quadratura de um triângulo. É simplesmente uma impossibilidade.

E falar de “proximidade”, de “legitimidade democrática” dos autarcas (quando foram eleitos, sabia-se disto? sabia-se quem seria o vereador da Educação?) é a chapa cinco do momento. Invocar “o interesse dos alunos”, o recurso retórico com barbas por fazer que já atinge a obscenidade política e serve para tudo, em especial quando é para dar a entender que os professores estão contra esses interesses.

Que Nuno Crato vai passar por este debate com poucos danos e sem mostrar que ainda está a milhas de perceber o que andou a fazer e a deixar que fizessem, estou mais do que certo. A cortesia, na hora da saída, tem muito encanto e a vidinha é assim, pois todos acabarão por se cruzar aqui ou ali e é feio apontar dedos que podem ricochetear.

Que se lixem os mexilhões.

Porquê? Porque o artigo 16º do decreto-lei 102/2013 de 25 de Julho reserva ao Conselho Científico do IAVE muito mais competências do que apenas assinaturas de cruz.

E a história do dito parecer ainda está a ser escrita… o problema foi que alguns apressados se encavalitaram com tanta pressa que…

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Visão, 8 de Janeiro de 2015

Declarações completas para esta peça do I:

1. O que pensa à partida deste programa governamental do Reino Unido [Prevent]?

Penso que é um programa excessivo, hiper-securitário e que pode provocar reacções mais negativas do que resultados positivos. è daquelas medidas que se aproveitam de um medo irracional para impor medidas que limitam gravemente os direitos civis, um pouco como após o 11 de Setembro nos EUA.

2. Existe alguma forma de traçar o perfil de um terrorista em potência em crianças nos infantários ou na escola primária?

Só se poderá fazer isso com base no seu contexto familiar e sempre com uma enorme dose de incerteza. O próprio processo de identificação e categorização pode ser um factor de aumento de risco e não da sua redução. Para além de que não se percebe exactamente o que se fará em seguida. Ostraciza-se a criança? Integra-se num programa de “reeducação”? Retira-se à família?

3. Os críticos da medida dizem que esta abre a porta para discriminar à partida crianças árabes filhas de imigrantes. Que outros riscos potenciais representa este plano?

Pode representar um perigo de aumento da sensação de exclusão e vitimização, o que levará a uma escalada da sedução pela ideologia do martírio.

4. Não havendo ainda directivas definidas para os pedagogos e educadores sobre que crianças “suspeitas” denunciar, como se aplicaria um programa destes em Portugal? Que tipo de características seriam imputáveis a um “potencial terrorista” em idade escolar?

Não faço a mínima ideia.

O que é possível é identificar atitudes e comportamentos agressivos e de risco, mas num âmbito mais alargado que não se pode associar a “terrorismo”. Mas o profiling é algo passível de conduzir a demasiados alertas falsos e à prévia sinalização injusta de gente inocente.e tenho sérias dúvidas sobre o próprio perfil de quem pudesse ser seleccionado para essa missão de identificação de precoces potenciais terroristas.

5. No geral como avalia esta medida? Pode surtir efeitos positivos a médio, longo prazo ou fará mais mal do que bem?

Julgo que é uma medida demagógica e que exacerbará ainda mais as clivagens e ódios existentes ou apenas potenciais. Muito provavelmente, Como consequência do recente ataque à redacção da Charlie Hebdo até poderá parecer algo apropriado a muitas pessoas que vivem num universo mental que as leva a sentirem-se sob permanente ameaça e cercadas por inimigos disfarçados. Só que uma coisa é um comando treinado para uma missão semelhante a muitas operações secretas de forças paramilitares internacionais e outra uma criança estigmatizada por meros indícios resultantes da sua origem cultural, étnica ou religiosa. Reparemos como nos EUA o “profiling” com base em grupos étnicos ou etários tem conduzido a intervenções policiais despropositadas.

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I, 8 de Janeiro de 2015

Não acredito. Mesmo, mesmo.

Um tipo que se farta do pântano há quase 15 anos quererá a ele voltar, presidenciá-lo, quando está ainda mais fétido?

Nem passa pela ONU, este ou aquele cargo, a teórica hesitação, mas tão só pela necessidade de Costa aquietar as hostes encenando a miragem do candidato desejado e que ninguém contestaria.

Mas terá de ser outro.

(se me enganar, então estou pronto para politólogo comentador, residente e com avença…)

… que chegou ao novo ano em quatro competições e não apenas em uma (e parece que se esqueceram dos jogadores que saíram e que o regresso do Nani não pode ocultar), subscrevo as palavras de Manuel José sobre as atitudes de um ex-responsável pelo catering da FPF:

José Eduardo não presta para nada, nunca prestou para nada na vida. É um anormal. Não tem qualquer moral para falar. Quem tem os interesses é ele e não o Marco Silva”, disparou o experiente treinador – à margem de um jogo solidário em Amarante -, que admitiu ter ficado logo com vontade de telefonar a Marco Silva para que este processasse José Eduardo.

“Tenho a maior simpatia pelo Marco Silva, é um grande treinador. Está a fazer um bom trabalho no Sporting mas infelizmente não se pode ganhar tudo. O Benfica está fora da Champions e da Taça de Portugal e não há contestação a Jorge Jesus. Espero que o entendimento entre ele e o presidente aconteça”, atirou.

*

Pouco mais tenho a dizer em relação a este indivíduo [José Eduardo]. Ele diz este tipo de coisas de um treinador como Marco Silva qye tem um percurso quase imaculado, e tem uma imagem intacta a nível moral e ético. Esse senhor vai ter de provar todas estas coisas que diz. Ele devia era dizer o que sabe porque só falar em projetos sem dizer qual é. Não acredito que o presidente do Sporting o tenha mandatado para seja que for. Não quero comentar porque não quero dar-lhe protagonismo a qualquer preço que é o que ele quer. A este tipo de pessoas, temos de dar-lhes um chuto para o lixo. É o que se deve fazer”, referiu em declarações prestadas à RTP Informação esta sexta-feira.

O Inácio, se não quiser fazer igual figura triste, é bom que continue calado e o presidente que arranje uma qualquer diversão para distrair o pessoal das argioadas sucessivas que tem andado a cometer.

Mais detalhes interessantes aqui.

… tive a sorte de fechar o programa Antena Aberta da Antena 1, logo a seguir à intervenção do tipo Hermínio-no-País-das-Maravilhas do presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis.

Depois, quando acessível, farei a ligação para o podcast.

Adenda: está aqui…

  • Não avaliar os alunos porque é uma coisa discriminatória, elitista e pouco inclusiva. E porque as retenções são caras.
  • Não passar trabalhos de casa porque aumenta as desigualdades, aborrece os pais e cansa a miudagem.

A seguir e porque não, proponho eu:

  • O fim dos currículos e programas porque estão desactualizados e estão eternamente condenados a está-lo, pelo que o melhor é ficarmos por umas conversas acerca disso. Cada um disserta sobre um tema a seu gosto e, desde que cumpra o número de palavras e se sinta feliz com isso, está passado.
  • O fim das aulas formais porque é uma chatice e é mais giro se tudo for por e-learning e com base em jogos no feici. A medida tem o bónus suplementar de acabar com toda a burocracia ligada à assiduidade e de diminuir a indisciplina nas aulas. em vez de avaliação teríamos um concurso de popularidade, baseada nos laikes em vídeos munta giros.
  • O fim dos professores, pois o pós-modernismo e o multiculturalismo boaventuriano nos ensinou que não existem categorias fixas e imutáveis, que o conhecimento é relativo, os paradigmas meras convenções e que as posições de autoridade em matéria de saber ou não, ensinar ou aprender não passam de posições em movimento num cenário em que os actores mudam de papel a cada momento.
  • O fim das escolas, organização típica de um taylorismo capitalista e de uma massificação fordiana, como consequência do novo paradigma educacional acima descrito, muito mais humanista, muito mais focado no indivíduo, na sua liberdade enquanto aprendente num mundo globalizado, sem fronteiras, sem portões, sem toques, sem vedações.

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