Para o PS o desfecho significou que o partido está completamente desarticulado interiormente e que só a força centrípeta do poder mantém as partes ainda ligadas. É verdade que a estratégia de Alegre buscar o apoio de Sócrates procurou iludir isso, mas a verdade é que o PS de Sócrates e Soares não é o de Alegre e nessa indefinição se ficou. Quem votou em Alegre? Que facção do PS? A que mais quer ver Sócrates fora da liderança do partido ou aqueles que mais lhe são fiéis? Em quem terá votado o engenheiro? A avaliar por declarações de certas personalidades, é bem possível que alguns vultos tenham votado Nobre ou anulado. A vitória de Cavaco foi má, mas nenhum cenário seria grande coisa e a vitória de Alegre seria embaraçosa numa 2ª volta. Sabendo que Cavaco não gosta muito deste PSD e abomina o CDS de Portas, Sócrates sabe que só sairá de PM se se demitir, pois Cavaco não se arriscará em, mesmo a arrancar o mandato, dissolver a AR e convocar umas eleições de resultado incerto, como se viu pela sondagem da Intercampus para a TVI. Ora, Sócrates não se demitirá, por teimosia e não só. Pelo que este foi um desfecho pouco favorável, num panorama em que nenhum desfecho seria bom.
Para o PSD a vitória de Cavaco Silva já na primeira volta é aquilo que seria previsível e em nada muda muito um cenário, em que o PR manifestamente não quererá antecipar eleições, em que uma alternativa de centro-direita não tem quaisquer garantias de ter maioria na Assembleia, mesmo em coligação. E como se sabe a estima que Cavaco tem por Portas. Pelo que o PSD, salvo hecatombe – e Pedro Passos Coelho percebeu-o – está destinado a ficar à espera. O que é chato, obviamente. E nem adiantará ameaçar que se vier aí novo PEC o chumbará no Parlamento, pois duvido muito que a esquerda (Bloco e PC), vá nisso e acabará por arranjar maneira de votar contra qualquer moção de censura se estiver em perigo a queda do Governo. Portanto, estas eleições não significam nenhum novo ciclo político. Cavaco Silva prefere, de longe, um governo enfraquecido do PS do que um governo do PSD/CDS saído de eleições, com uma legitimidade fresquinha.
O PCP foi partido que mais ganhou – ou não perdeu – com estas eleições. O resultado em si (entre 6 e 9% era tudo possível e aceitável) não interessa, mais interessando ter ganho o crédito de «não ter virado a cara à luta» como afirmou Jerónimo de Sousa em certeira ferroada ao Bloco que muito cedo se colocou sob o manto de Alegre e acabou – objectivamente – do mesmo lado que aquele PS que tanto diz combater. Numas futuras eleições, o PCP saberá puxar deste trunfo para entalar o Bloco junto de algum eleitorado à esquerda do PS. Uma estratégia ganhadora com apenas 7% de votos.
O maior derrotado da noite foi o Bloco, por ter visto esfrangalhar-se por completo a tentativa de canibalizar o PS pela esquerda, cometendo o mesmo erro do sapo que achou já ser suficientemente crescido para engolir um boi, por magrinho que pareça estar. O apoio muito precoce a Alegre prejudicou este junto do PS e a aliança informal entre Louçã e Sócrates no apoio ao mesmo candidato é um daqueles erros que só comete quem está com muita pressa de qualquer coisa. É certo que Trotsky teorizou a aceleração da História em certas fases, mas no tempo dele ainda não vivíamos na idade da velocidade mediática. Para além disso, abriu o flanco às críticas do PCP.
Para o CDS, nem aqueceu, nem arrefeceu. Ganhou o candidato que apoiavam, mas com a certeza que é alguém que só em caso extremo gostaria de ver Portas num Governo. pelo que, por enquanto, ficam à espera na fila, um lugar atrás do PSD.
Fora do chamado arco parlamentar, foi ainda um fracasso o apoio muito tardio, e sem grande lógica argumentativa, do MRPP a Alegre, por razões parecidas às do Bloco. Não se pode estar contra as políticas de um partido e um governo e estar ao lado do seu candidato a Presidente, por amigável que este pareça.
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