Setembro 2007


Com um respeitoso ósculo público à Amélia Pais que me enviou o naco de prosa de Maria Filomena Mónica que surgiu hoje no Público acerca da eminência parda do ME, de seu nome Valter Lemos. As minhas reservas sobre obras passadas de MFM estão neste momento suspensas. O texto integral porque sim.

Não, sr. secretário de Estado

Maria Filomena Mónica

Valter Lemos nunca participou em debates parlamentares, nunca demonstrou possuir uma ideia sobre Educação. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tem aparecido na televisão e até no Parlamento, o mesmo não sucedendo ao seu secretário de Estado, Valter Lemos. É pena, porque este senhor detém competências que lhe conferem um enorme poder sobre o ensino básico e secundário. Intrigada com a personagem, decidi proceder a uma investigação. Eis os resultados a que cheguei.

Natural de Penamacor, Valter Lemos tem 51 anos, é casado e possui uma licenciatura em Biologia: até aqui nada a apontar. Os problemas surgem com o curriculum vitae subsequente. Suponho que ao abrigo do acordo que levou vários portugueses a especializarem-se em Ciências da Educação nos EUA, obteve o grau de mestre em Educação pela Boston University. A instituição não tem o prestígio da vizinha Harvard, mas adiante. O facto é ter Valter Lemos regressado com um diploma na “ciência” que, por esse mundo fora, tem liquidado as escolas. Foi professor do ensino secundário até se aperceber não ser a sala de aula o seu habitat natural, pelo que passou a formador de formadores, consultor de “projectos e missões do Ministério da Educação” e, entre 1985 e 1990, a professor adjunto da Escola Superior do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

Em meados da década de 1990, a sua carreira disparou: hoje, ostenta o pomposo título de professor-coordenador, o que, não sendo doutorado, faz pensar que a elevação académica foi política ou administrativamente motivada; depois de eleito presidente do conselho científico da escola onde leccionava, em 1996 seria nomeado seu presidente, cargo que exerceu até 2005, data em que entrou para o Governo. Estava eu sossegadamente a ler o Despacho ministerial nº 11 529/2005, no Diário da República, quando notei uma curiosidade. Ao delegar poderes em Valter Lemos, o texto legal trata-o por “doutor”, título que só pode ser atribuído a quem concluiu um doutoramento, coisa que não aparece mencionada no seu curriculum. Estranhei, como estranhei que a presidência de um politécnico pudesse ser ocupada por um não doutorado, mas não reputo estes factos importantes. Aquando da polémica sobre o título de engenheiro atribuído a José Sócrates, defendi que os títulos académicos nada diziam sobre a competência política: o que importa é saber se mentiram ou não.

Deixemos isto de lado, a fim de analisar a carreira política do sr. secretário de Estado. Em 2002 e 2005, foi eleito deputado à Assembleia da República, como independente, nas listas do Partido Socialista. Nunca lá pôs os pés, uma vez que a função de direcção de um politécnico é incompatível com a de representante da nação. A sua vida política limita-se, por conseguinte, à presidência de uma assembleia municipal (a de Castelo Branco) e à passagem, ao que parece tumultuosa, pela Câmara de Penamacor, onde terá sofrido o vexame de quase ter perdido o mandato de vereador por excesso de faltas injustificadas, o que só não aconteceu por o assunto ter sido resolvido pela promulgação de uma nova lei.

Em resumo, Valter Lemos nunca participou em debates parlamentares, nunca demonstrou possuir uma ideia sobre Educação, nunca fez um discurso digno de nota.

Chegada aqui, deparei-me com uma problema: como saber o que pensa do mundo este senhor? Depois de buscas por caves e esconsos, descobri um livro seu, O Critério do Sucesso: Técnicas de Avaliação da Aprendizagem. Publicado em 1986, teve seis edições, o que pressupõe ter sido o mesmo aconselhado como leitura em vários cursos de Ciências da Educação. Logo na primeira página, notei que S. Excia era um lírico. Eis a epígrafe escolhida: “Quem mais conhece melhor ama.” Afirmava seguidamente que, após a sua experiência como formador de professores, descobrira que estes não davam a devida importância ao rigor na “medição” da aprendizagem. Daí que tivesse decidido determinar a forma correcta como o docente deveria julgar os estudantes. Qualquer regra de bom senso é abandonada, a fim de dar lugar a normas pseudocientíficas, expressas num quadrado encimado por termos como “skill cognitivos”.

Navegando na maré pedagógica que tem avassalado as escolas, apresenta depois várias “grelhas de análise”. Entre outras coisas, o docente teria de analisar se o aluno “interrompe o professor”, se “não cumpre as tarefas em grupo” e se “ajuda os colegas”.

Apenas para dar um gostinho da sua linguagem, eis o que diz no subcapítulo “Diferencialidade”: “Após a aplicação do teste e da sua correcção deverá, sempre que possível, ser realizado um trabalho que designamos por análise de itens e que consiste em determinar o índice de discriminação, [sic para a vírgula] e o grau de dificuldade, bem como a análise dos erros e omissões dos alunos. Trata-se portanto, [sic de novo] de determinar as características de diferencialidade do teste.” Na página seguinte, dá-nos a fórmula para o cálculo do tal “índice de dificuldade e o de discriminação de cada item”. É ela a seguinte: Df= (M+P)/N em que Df significa grau de dificuldade, N o número total de alunos de ambos os grupos, M o número de alunos do grupo melhor que responderam erradamente e P o número de alunos do grupo pior que responderam erradamente.

O mais interessante vem no final, quando o actual secretário de Estado lamenta a existência de professores que criticam os programas como sendo grandes demais ou desadequados ao nível etário dos alunos. Na sua opinião, “tais afirmações escondem muitas vezes, [sic mais uma vez] verdades aparentemente óbvias e outras vezes “desculpas de mau pagador”, sendo difícil apoiá-las ou contradizê-las por não existir avaliação de programas em Portugal”. Para ele, a experiência dos milhares de professores que, por esse país fora, têm de aplicar, com esforço sobre-humano, os programas que o ministério inventa não tem importância.

Não contente com a desvalorização do trabalho dos docentes, S. Excia decide bater-lhes: “Em certas escolas, após o fim das actividades lectivas, ouvem-se, por vezes, os professores dizer que lhes foi marcado serviço de estatística. Isto é dito com ar de quem tem, contra a sua vontade, de ir desempenhar mais uma tarefa burocrática que nada lhe diz. Ora, tal trabalho, [sic de novo] não deve ser de modo nenhum somente um trabalho de estatística, mas sim um verdadeiro trabalho de investigação, usando a avaliação institucional e programática do ano findo.” O sábio pedagógico-burocrático dixit.

O que sobressai deste arrazoado é a convicção de que os professores deveriam ser meros autómatos destinados a aplicar regras. Com responsáveis destes à frente do Ministério da Educação, não admira que, em Portugal, a taxa de insucesso escolar seja a mais elevada da Europa. Valter Lemos reúne o pior de três mundos: o universo dos pedagogos que, provindo das chamadas “ciências exactas”, não têm uma ideia do que sejam as humanidades, o mundo totalitário criado pelas Ciências da Educação e a nomenklatura tecnocrática que rodeia o primeiro-ministro.

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Já vi há uns tempos, mas sem grande atenção. Desta vez é para confirmar se a coisa é divertida, palerma ou apenas estranha. O elenco é indiscutivelmente  excelente.

A obtenção da competência exige autonomia; um excessivo controlo exterior sobre o ambiente do indivíduo reduz a novidade inerente que a ânsia de aprender desperta. Um indivíduo expandes-se à custa do seu ambiente. As fronteiras rígidas confinam a expansão do conhecimento e da autogestão e inibem a procura de competência.

Da mesma maneira, a competência alenta a autonomia ao proporcionar o mecanismo para que um indivíduo exerça a autodeterminação. (…) só quando ambas existem, o indivíduo e a empresa podem beneficiar-se mutuamente.

O objectivo é criar um ambiente que simultaneamente sustente a autonomia e construa a competência. Uma autonomia baixa com uma competência alta significa a exploração dos empregados. Uma autonomia alta com uma competência baixa significa que se realizará muito pouco trabalho de valor. (Thomas Davenport, Capital Humano. Criando vantagens competitivas através das pessoas, 2007, pp. 142-143)

Se a ideia é assumir que a Escola é uma organização como outra qualquer, que deve seguir os princípios da gestão empresarial, então que, nem que seja por um momento, aceitemos essa lógica e busquemos literatura actualizada sobre o tema para percebermos se aquilo que dizem sobre o assunto se adequa à realidade e se os modelos propostos de progressão e avaliação, especialmente a forma concreta de os implementar, correspondem ao estado da arte na matéria.

Ora quer-me a mim parecer que não.

Seguindo um desafio deixado pelo J.M.Alves no Terrear, há que pensar em conjunto em alternativas ao modelo de avaliação proposto pelo ME, não ficando apenas pelas críticas ao que nos é servido.

A questão não é fácil e não vai lá apenas com listas de princípios norteadores com que todos podem concordar enquanto não se traduzem num modelo prático concreto. Essas listas existem, com maiores ou menosres variações, em abundante bibliografia sobre o tema. Só que essas listas ou são, como escrevi, demasiado abrangentes ou então fixam-se demasiado a contextos específicos (há sistemas de avaliação extremamente sofisticados em pequenas comunidades educativas americanas que dificilmente são exportáveis para um universo de 140.000 docentes). Portanto, devemos atender à realidade específica com que lidamos, em Portugal, neste momento.

Durante a semana, se o trabalho o permitir, gostaria de abordar ao de leve três aspectos que envolvem a actual regulamentação da avaliação dos docentes no nosso país e que são:

  1. Os seus aspectos paradoxais, porque incoerentes com muito do que envolve actualmente a Educação tanto em matéria da avaliação dos alunos como da própria lógica da gestão dos recursos humanos pelo ME.
  2. Os seus aspectos negativos, nomeadamente explicando como um sistema formalista, burocrático e piramidal, para além de derivar de lógicas que muitos consideram ultrapassadas, é tão pesado que acabará por ser impossível de aplicar com rigor, correndo o risco de cair em fórmulas rotineiras tão más ou piores do que o modelo que pretende substituir.
  3. Que propostas alternativas se poderão apresentar, em especial no sentido de aligeirar e tornar mais justo, exequível e efectivamente rigoroso este modelo. Não tenho ilusões quanto à minha capacidade de erguer uma teorização ou um modelo alternativo eficaz ou vagamente consensual, pois essa nunca foi uma área de estudos que me interessasse particularmente, mas como acabei por ler, quase inadvertidamente, alguma bibliografia sobre Capital Humano nas organizações, como o seleccionar e motivar, talvez possa ter pelo menos uma ideia válida.

Tudo isto com a consciência da quase inutilidade prática do acto, pois o ME acabará por fazer a asneira que tem em mente, por muito que seja avisado do erro que aí vem. Mas os seus objectivos são evidentes – estrangular a progressão e não premiar o mérito – e tudo o que surge pretende justificar isso.

No entanto, e como este espaço até se tornou razoavelmente frequentado (as cerca de 1700-1800 entradas em média nos últimos dias o parecem provar), sempre pode ser um contributo para colocar alguns de nós a questionar o modelo do ME, mas também a interpelar-se sobre o que pensa ser a forma certa de sermos avaliados.

Porque quem lecciona não deve, nem tem, medo de ser avaliado. Afinal, somos dos profissionais que fizeram um trajecto mais longo sob avaliação e estamos habituados a isso. E essa é uma realidade que o ME parece desconhecer. A de que os docentes foram alunos a vários níveis e sempre foram avaliados de acordo com critérios definidos por outrém, desde os bancos da escolaridade obrigatória às pós-graduações de acesso à profissionalização, não esquecendo as acções de formação contínua, cujo modo e critérios de funcionamento sempre dependeram do ME.

Já o mesmo não se passa com as sombras que povoam alguns gabinetes ou responsáveis políticos que foram escolhidos por alguém que, por sua vez, só indirectamente foi eleito, visto que – se é para levar o regime democrático a sério e não engolirmos as suas simplificações – quem votou, teoricamente votou em deputados para o Parlamento.

Mas esta é toda uma outra conversa que agora aqui não interessa (quase) nada.

Miguel Sousa Tavares está esta semana de volta a um dos seus passatempos favoritos: zurzir nos professores e, em especial, na Fenprof. Não sei se o trauma é mesmo com os sindicalistas, se é com algum professor(a) que se lhe atravessou na vida quando foi aluno, ou quando fazia a sua educação sentimental ou mesmo se quando lhe exigiram que cumprisse deveres de encarregado de educação.

Não sei, não percebo. Como é habitual em MST a sua argumentação tem uma base por vezes tão irracional que é quase impossível tentar perceber o que o motiva. Vamos considerar que é um génio oscilante. Quando está em dia bom, acerta em cheio; quando está do avesso, falha por completo. Infelizmente, com o passar do tempo, os dias bons têm vindo a escassear.

Mas concentremo-nos no naquinho de prosa que esta semana dedica ao tema da avaliação dos docentes e à posição da Fenprof, de que todos já sabem que não sou filiado e de que nem sempre partilho os pontos de vista. Então a coisa reza resumidamente assim:

  1. Saiu o regulamento para a classificação dos professores.
  2. O regulamento é bom porque evita a discriminação entre escolas e parece a MST ser «um sistema adequado e justo para premiar o mérito, a assiduidade e o esforço».
  3. A Fenprof está contra e, por isso, quer manter o «subdesenvolvimento cultural do país».
  4. A Fenprof quer um sistema onde todos tenham a nota máxima.
  5. A Fenprof é má, má, má (pronto, aqui sou eu já a exagerar).

Do parágrafo lido a páginas 7 do caderno principal do Expresso, retiro eu as seguintes conclusões:

  1. MST não percebeu que a regulamentação ainda não saiu.
  2. MST não leu a regulamentação, caso contrário não teceria considerações vagas sobre aspectos que não surgem nos documentos (a tal coisa da não discrimnação entre escolas). E quanto a este aspecto aposto simples contra quadriplicado ou mais que nem sequer cheirou as grelhas destinadas á avaliação.
  3. MST escreveu em piloto automático, caso contrário tentaria demonstrar o que afirma, exemplificando, como por vezes faz com outros assuntos.
  4. MST não gosta da Fenprof. Está no seu direito.
  5. MST parece não perceber que não é só a Fenprof que está contra este modelo, ainda não formalmente aprovado, de avaliação. Estão outras organizações sindicais e professores não sindicalizados como eu próprio, fortemente críticos de alguma acção sindical e que não têm receio de ser avaliados de forma rigorosa. Mas não por MST com mau humor em praça pública.
  6. MST parece ter algum pudor em ofender todos os professores, pelo que usa o bode espiatório da Fenprof para os desancar indirectamente. Não é muito correcto, mas parece que os tempos já estão para tudo.
  7. MST é demasiado bem pago por estas prosas para que elas sejam tão confrangedoras em termos de fundamento.

Esta última consideração não resulta, como é óbvio, apenas da leitura das suas crónicas, mas de uma relativa inconfidência de um elemento bem antigo dos quadros do expresso e que conhece bem os termos em que as crónicas de MST são reproduzidas e remuneradas.

E, sim, admito que não gosto de dar a outra face quando – por interposta organização – ofendem as minhas posições.

E sim comprei e li o Equador que acho um livro mediano de ficção histórica, por vezes chato e pobre em matéria de intriga. Mas li todo. A opinião expressa sobre a obra não tem impurezas decorrentes da minha opinião sobre o autor. Também não simpatizo por aí além com o Lobo Antunes, mas gosto das suas crónicas na Visão.

Conhaque é conhaque.

A de Nuno Crato nas páginas da revista Única. Elogiar um professor, coisa cada vez mais rara, a menos que seja um remoto professor primário de há décadas ou uma sumidade académica.

Elogiar um professor que nos tenha marcado como profissional e pessoa, não como mero número ou funcionário do Estado.

Algo que é cada vez mais raro e que, quase certamente, o ME desaconselha.

Eu por mim recordaria dois, entre vários, só com a curiosidade de terem sido homónimos. No 1º ano do preparatório o professor Alberto de Ciências que nos fulminava com o que estivesse à mão para além do olhar se alguém dissesse que os metais derretiam sob a acção do calor e que, em pelo delírio de meados de 70, não cedia a facilidades. Ou no 9º ano já Unificado, o professor Alberto de Português que, perante uma turma absoluta e completamente desvairada (os Conselhos de Turma disciplinares a que assisti como delegado de turma foram muitos), conseguia manter-nos na ordem a ler Gil Vicente, Camões e Carlos de Oliveira e, apesar de manter uma postura do mais impenetrável possível, no final do ano se deu ao trabalho de se dirigir a alguns de nós inquirindo sobre o destino no 10º ano (embora o nível de transição tivesse sido apenas na ordem dos 20%) e dado a sua opinião, fazendo-me perceber que, afinal, apesar da distância mantida, nos tinha observado atentamente todo o ano.

Esta da Fenprof. O caminho para a mudança da imagem (e prática) sindical pode e deve passar por aqui. As “lutas” agora lutam-se com outro tipo de armas. É importante que aqueles que – com maior ou menor implantação na classe docente – se assumem como representantes dos professores saibam que neste momento é mais importante lutar pela positiva do que pela negativa.

É essencial assumir que não se está contra o cumprimento dos nossos deveres, mas sim contra a forma como eles nos são impostos, através da demonstração da sua injustiça e inexequibilidade junto da opinião pública.

É essencial que os professores definam a sua acção pela defesa do verdadeiro rigor e qualidade, não apenas por reacções negativas, mesmo que dotadas de razão.

Este tipo de campanhas, podendo não agradar ao núcleo duro da velha ortodoxia da luta nas ruas, de apito e bombo, mais as palavras de ordem do dia (não me entendam mal, essa táctica é tão estimável como qualquer outra, só que não pode ser a única ou a que surge como primeiro e último recurso), é uma via positiva para modificar a forma como o sindicalismo docente passou a ser olhado, mesmo no seio da própria classe.

Ontem o Henrique Santos manifestava-se contra a apatia da classe em relação ao que se passa com a discussão da regulamentação da avaliação do desempenho. É verdade que a maior parte de nós não leu sequer os documentos, não está a par das negociações e devia estar. Mas quando Maomé não vai à montanha, há que empurrar a montanha até Maomé. Ou vice-versa.

Quem protesta contra a apatia não fazendo nada por alterar essa situação, não estará a ser, mesmo que a outro nível, igualmente apático?

Mas, voltando ao essencial, continuem por esta via, sejam imaginativos, multipliquem as imagens positivas dos docentes e atirem a bola do mau génio, da irritação, da intolerância, da negatividade, para o quintal da 5 de Outubro.

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A crónica de Fernando Venâncio hoje no caderno Actual do Expresso sobre a decadência na forma como a língua portuguesa é falada, em especial nos grandes órgãos de comunicação audiovisual, mas também no quotidiano.

Cliquem para aumentar a imagem e desculpem lá se a coisa foi digitalizada meio à pressa. Mas estão sempre a tempo de comprar o jornal, logo hoje que o filme grátis é também ichalente (21 Gramas de Alejandre González Iñárritu, o mesmo de Babel).

Uma criança que aprende não tira nada a outra. É por isso que o princípio da igualdade nunca deve ser invocado para reduzir os programas e baixar os níveis de exigência. (…) Por fim, o princípio da igualdade não deve impedir a avaliação dos alunos; pelo contrário, pensamos que este princípio seria ainda mais respeitado se os alunos fossem avaliados com critérios claros: boas notas para quem aprende bem e más notas para quem aprende mal. (AA.VV, Eduquês, Um Flagelo sem Fronteiras, pp. 43-44)

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Ao longo dos últimos meses, de quando em vez, surgem-me na caixa de correio mensagens de pessoas que não conheço, com quem penso que nunca me cruzei, mas que por esta ou aquela razão passaram pelo Umbigo e se tornaram frequentadores mais ou menos regulares.

Normalmente são pessoas que me desejam a continuação da vontade de postar, que me dão encorajamento e que, por vezes, lamentam não poder ter o seu próprio espaço de opinião ou, sequer, comentar em blogues.

São sempre mensagens agradáveis de receber, tanto mais quanto não existe outro contacto que não a escrita. Usem um pseudónimo de ocasião ou assinem com o seu próprio nome.

Triste, triste é uma boa quantidade dessas pessoas serem funcionário(a)s do ME, dos seus serviços locais ou centrais. Não por serem leitore(a)s do blogue, mas sim por pedirem que os seus contactos permaneçam fora do espaço público do Umbigo por razões de protecção pessoal no seu emprego. Nesta direcção-geral ou naquele gabinete. Por vezes tão perto de alguns centros nervosos do sistema.

É óbvio que não acho que vivamos numa ditadura ou num regime rpressivo à boa moda antiga. Os tiques autoritaristas e controleiros não chegam para tal, se pensarmos em termos nacionais. Apesar de tudo e de todos os compromissos, existe uma imprensa algo plural e cada vez é mais complicado cercearem a expressão da opinião, graças à net.

Mas as realidades mais localizadas, não só em esferas laborais privadas, mas cada vez mais em serviços públicos, assemelham-se gradualmente a micro-ditaduras, em que o dever da fidelidade ao chefe próximo, da subserviência aos ditames da hierarquia, de anulação da vontade própria, de receio das consequências de qualquer acto pior medido, são sinais iniludíveis de um clima de claustrofobia em muitos desses espaços.

Se a politização da administração pública é um fenómeno secular e uma tentação a que a carne fraca dos políticos cede sem sinais de arrependimento, já me parece menos normal este aparente regresso a um clima de coacção psicológica para manter a arraia-miúda na ordem e sob rédea curta. Que as novas normas de avaliação do desempenho na função pública só agravam, sob o manto da modernização e racionalização dos procedimentos.

Vivemos em democracia a uma escala nacional, certamente. Há autarquias de diferentes cores políticas, existem feudos políticos dos mais diversos tipos, interesses económicos de sinais contrários, algum debate político na comunicação social, as pessoas podem mover-se dentro e para fora do país. Mas se apurarmos o nosso olhar e a nossa unidade de observação e análise, as pequenas tiranias, os pequenos regimes ditatoriais vividos no aparelho de Estado, tomado de assalto por uma segunda linha de prosélitos deste regime, notam-se com alguma nitidez. E, como os reflexo condicionados de quase 50 anos não desaparecem em apenas uma ou duas gerações do imaginário colectivo, o nevoeiro sobre o qual José Gil tão bem escreve adensa-se, aqui, ali, por acolá.

As micro-ditaduras, por o serem, enraizam-se discretamente, insidiosamente, firmemente. E quando começam a funcionar em rede, apodrecem por dentro aquilo que por fora ainda tem uma vaga aparência de solidez.

E é então que o hálito fica fétido.

Novas Oportunidades para pessoas com deficiência

O acesso das pessoas com limitações da actividade e restrições na participação, decorrentes de paralisia cerebral e da existência de barreiras no ambiente, ao processo de Reconhecimento, Validação e certificação de Competências (RVCC) é o objectivo do protocolo de cooperação que vai ser assinado no âmbito dos Centros Novas Oportunidades para a deficiência.

Obviamente que este tipo de iniciativas tem todo o mérito. Só é estranho é que o mesmo ME esteja a tentar afastar dos seus quadros de docentes quem tem problemas de saúde com efeitos incapacitantes para a docência quotidiana, mas que podem ser muito úteis nas escolas em outras funções.

E que tenha vedado o acesso a titular a quem tenha uma redução da componente lectiva por motivos de saúde. O que a mim, leigo na matéria, parece obviamente inconstitucional, mas que aparentemente a ninguém de Direito parece.

Porque é quase impossível deixar de comentar o episódio passado com Santana Lopes na Sic-Notícias a meio desta semana.

Principalmente por uma razão: se nos abstrairmos de que é o mesmo homem que, na fase de presidente do Sporting, andou atrás do treinador de futebol Carlos Queirós e que, quando Primeiro-Ministro, se rodeou de um bom leque de ineptos e ineptas (alguém já se esqueceu das sempre descontraídas declarações da tia Maria do Carmo?), se nos esquecermos de tudo isso – eu sei que é muito, mas com o dinamismo da nossa vida política tendemos a esquecer rapidamente as desgraças logo que surgem outras maiores – acabamos por achar que Santana Lopes dá sinais de se poder vir a tornar uma reserva moral do nosso regime.

O que é um pensamento aterrador.

Quase tão aterrador como o panorama em que vive o PSD, desde os nano-candidatos actuais aos nano-proto-candidatos que se querem perfilar para o pós-2009 (do inenarrável Morais Sarmento ao pretenso génio António Borges).

Mas nos últimos 25 anos foi apenas a segunda vez -a primeira foi em 1985 com o Hermínio Martinho – que vi um político, consciente e voluntariamente, bater com a porta em directo em plena emissão televisiva.

E sabe sempre bem. Mesmo se a probabilidade de voltar a acontecer durante a minha vida é pouco superior à de eu estar por cá quando passar de novo o cometa Halley.

Reencaminha!
Escreve uma carta ou mail!
Coloca no teu Blog!
E diz a todos para fazer o mesmo!!!!

DARFUR AGRADECE-TE!!!

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Na era das novas tecnologias, na era do viver a vida sempre a correr, da falta constante de tempo, fomos pouco a pouco deixando de escrever cartas… aquelas cartas escritas com o nosso pulso, aquelas que retratam a nossa caligrafia e no fundo tanto de nós!
E se uma carta se transformasse num gesto de amor…
Estaríamos dispostos a parar um pouco para escrever uma carta?

È este o novo apelo por Darfur!
Escrever uma carta,
dirigida à Presidência da União Europeia,
Apelando por este povo!
Por Amor… uma Carta!
Por tantas vidas inocentes…Uma Carta!
Não percam tempo escrevam a vossa carta!

Publicai no vosso blog esta iniciativa!
E peçam a todos os vossos contactos que façam o mesmo!
Darfur precisa de um gesto de Amor!

As cartas (por correio ou por mail) deverão ser enviadas para:

Por amor… Uma carta
CVJ – Missionários Combonianos
Areeiro
3030-168 Coimbra
Mail: jovemissio@gmail.com

PS: As cartas serão entregues na presidência da união europeia no mesmo momento da entrega da petição em curso

***

Eu já escrevi a minha,

quis fazê-lo à moda antiga,

seguiu hoje via ctt!

Oportunamente plublicarei!

O povo de Darfur conta connvosco!
M Ã O S  À  O B R A!!!
Iniciativa promovida em conjunto com – Jovens e Missão

É certo que mesmo que fossem melhores eu não compraria porque não gosto de quem vende a banha da cobra. Tenho esse defeito: por muito bom que pareça o produto não o compro caso desconfie do vendedor. Cá por coisas. E neste caso a coisa nem tem aparência boa e promete escravidão de três anos.

Na minha Escola, pela última lista, candidataram-se menos de 10% dos docentes à aquisição das máquinas cujas limitações os nossos colegas mais informados já explicaram, e que no Fliscorno se sumariam de forma bem estruturada.

Só por falta de tempo e oportunidade é que aqui ainda não reproduzi o folheto dos estabelecimentos de hard discount Lidl onde, pelo menos pela minha zona,  estiveram ontem à venda – não sei se não terão acabado às 9.05 – portáteis Targa por €799, devidamente equipados e artilhados para todo o tipo de intempéries, com o interesse adicional de ainda não trazerem o Vista que atrapalha mais do que ajuda. Eu, por experiência, não tenho razão de queixa e aquele que comprei numa das primeiras promoções deste género há um par de anos ainda hoje – memória RAM à parte – está muito à frente dos que os ME quer distribuir pela malta, com a agravante de podermos ser filmados a apertar a mão a alguém indesejado e indesejável.

Depois de tomar conhecimento da possibilidade que a tutela vai dar aos alunos de transitarem entre área de estudos – quase que como num sistema de créditos – por forma a completarem o Ensino Secundário evitando as disciplinas em que não conseguem ter sucesso, fiquei com vontade de beneficiar do mesmo regime – designado como de permeabilidade – na minha avaliação como docente.

Como lecciono – para além das ACND – Língua Portuguesa, História e Geografia de Portugal e T.I.C, acabando por pertencer a três Departamentas Curriculares diferentes, gostaria que me fosse possível escolher as avaliações que melhor me conviessem nos diferentes Departamentos.

Por exemplo e por hipótese, escolheria os parâmetros das categorias A e D da avaliação da minha Coordenadora de Língua Portuguesa, os parâmetros da C da do Departamento de História e os da categoria D do Departamento em que estão incluídos os professores de TIC.

 Acho que seria justo pois, pelo menos, teria direito ao mesmo tipo de facilidades que são concedidas aos alunos. Afinal, se é para implementarmos a “Pedagogia do Sucesso” por qualquer método, ao menos que possamos beneficiar da mesma lógica na nossa própria avaliação.

Ou o sucesso quando nasce não é, afinal, para todos?

A avaliação dos docentes a realizar pelo presidente do Conselho Executivo, um mimo de 4 páginas kafkianas que se podem encontrar no site do SPGL.

Fica aqui a primeira (cliquem na imagem para se ver melhor), relativa à avaliação da assiduidade à componente lectiva e ao cumprimento da componente não-lectiva.

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Leiam e por favor sejam comedidos nos gritos de desespero e nas expressões vernáculas porque, afinal, o verdadeiro artista é o que sofre em silêncio.

Ou não.

Fica aqui a ligação para a grelha de avaliação dos professores-titulares que deverá ser preenchida pelos inspectores itinerantes do ME – uma versão moderna dos juízes de fora.

Acho que neste momento, todos perceberão (titulares e rasos) a imensa armadilha que tudo isto significa.

A parte esquisita de tudo isto é que se para se ser titular não se podia ter redução da componente lectiva que não derivasse da idade e tempo de serviço (as motivadas por saúde eram eliminatórias e impediam o mero acesso ao concurso) que sentido faz a parte destacada a azul na segunda página do documento?

Neste momento a única esperança é que, como foi construído a partir do gabinete e de umas leituras mal feitas, todo este edifício burocrático colapse sobre os seus próprios frágeis fundamentos.

A questão não é nova, o lamento recorrente: afinal, que tipo de sucesso educativo pretendem os nossos governantes?

Um sucesso real que, mesmo expresso em formulações teóricas de recorte duvidoso, corresponda a aprendizagens efectivamente realizadas e competências desenvolvidas, ou apenas indicadores estatísticos de um pretenso sucesso?

As novas medidas prometidas para a permeabilidade no Ensino Secundário são mais uma pedrada em qualquer tipo de política educativa coerente que vise um ensino de qualidade sofrível. A flexibilidade e a liberdade de opções dos alunos não são justificativo para que se possam a andar a recortar disciplinas desta e daquela área, conforme as facilidades, de modo a completar uma espécie de curículo para facilitar o acesso a uma universidade bolonhizada ou de mera conclusão desse ciclo de estudos.

O Ensino Secundário já é neste momento uma completa manta de retalhos, a que agora se irá sobrepôr um labirinto e não um conjunto de «avenidas de liberdade» na expressão utópica de Joaquim Azevedo em obra publicada há uns quantos anos.

O Presidente da República exigiu, há não muito tempo, resultados na área da Educação.

Neste momento não tenho a mais ínfima dúvida que esses resultados existirão em 2009.

Resta saber se há o mínimo interesse em saber qual foi o processo usado para alcançar tais resultados, sendo que por resultados se devem entender uns quadros estatísticos e uns gráficos muito simples para apresentar num Prós e Contras de Setembro de 2009, com uma Ministra de discurso telecomandado e os homens da sombra a sorrir na bancada.

Resta saber se Cavaco Silva – e não apenas ele – está disposto a tomar pelo valor facial aquilo que lhe apresentarão como resultados de uma política de sucesso. É verdade que o início deste ciclo de balda se iniciou no seu segundo governo de maioria, aquele em que um dos actuais secretário de Estado teve os seus primeiros tempos de semi-visibilidade como especialista do IIE para a «pedagogia do sucesso».

Resta, pois, saber, se o actual PR aprendeu com os erros do passado, se apenas está preocupado na inflacção cosmética do tal sucesso conseguido na secretaria.

Mas, se calhar, em boa verdade, isso nem interessa nada porque na hora crucial nada disto vai entrar em linha de conta e apenas se vai escolher esta aparência de governação e uma espécie de oposição comatosa, na qual se destacará o político português preferido dos eleitores de Maringá.

As razões da nossa ligação à escola são, portanto, antes de mais razões pessoais com origem na nossa própria experiência: sabemos que a actividade intelectual é uma via de enriquecimento pessoal insubstituível. Sabemos igualmente que esta via não se abre sem esforço e sem dificuldades, e que todas as crianças, especialmente aquelas que são oriundas de famílias sem instrução, precisam de encontrar professores dedicados e exigentes, capazes de lhes dar a provar, e de partilhar com elas, o prazer dos verdadeiros alimentos intelectuais. (AA.VV, Eduquês: Um flagelo sem fronteiras, 2007, p. 28)

A obra é resultante do movimento despoletado em França por Laurent Lafforgue e merece leitura pois os seus autores são grandes figuras da ciência, mesmo se o título em português é de molde a provocar rejeições epidérmicas em algumas sensibilidades.

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Grupo de Trabalho de Educação para Saúde apresenta relatório final

O Grupo de Trabalho de Educação para a Saúde apresentou o relatório final que reafirma a importância da Promoção e Educação para a Saúde nas escolas do 1.º ao 12.º anos e propõe um programa mínimo e obrigatório de Educação Sexual para todos os estudantes, consoante o ciclo de escolaridade.

Este é daqueles temas em que o desconforto é tal que tudo é tratado com pinças, como se a realidade dos comportamentos quotidianos não existisse e como se fossem necessários estudos sobre estudos, relatórios sobre relatórios para se atingir um pré-projecto de acordo para voltar a discutir o tema que, entretanto, já precisa de uma nova abordagem.

A intenção original não é má de todo, a estratégia de jogar para o lado e para fora, fugindo do que interessa – que é cumprir o prometido e implementar uma indispensável Educação Sexual não a disfarçando com eufemismos higiénicos – é que é lamentável e revela muita falta de coragem política.

Que a matéria seja de frequência voluntária e dependa da autorização parental. Mas que se ande para a frente e, de uma vez, se pare com os papéis e grupos de trabalho, comités, comissões inter e intra-coiso, estruturas de missão ou lá o que agora chamam a estas coisas burocráticas.

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