Números


Pode ser com mais rigor e alguma (tímida) sensibilidade social, mas o país continuará a ser visto a partir das tabelas de Excel.

Os 12 alquimistas de Costa

Académicos e gestores. Governantes experimentados e altos-quadros da função pública. É a partir desta mistura que António Costa pretende preparar as suas propostas económicas para o programa eleitoral socialista.

Há não poucos meses o MEC mandava fazer saber que:

Colégios vão ter de reduzir 64 turmas com contrato de associação. Se não conseguirem cortar tantas, terão um financiamento mais baixo por turma.

(…)

O financiamento a estes contratos, que em 2009/2010 estava nos 239 milhões por ano, tem vindo a cair e neste ano lectivo 2013/2014 já se fixou nos 149 milhões de euros. “Este acordo, tendo por base a indicação dos serviços para a racionalização dos recursos existentes, permite ao Ministério da Educação e Ciência cumprir o objectivo de redução da despesa com contratos de associação, uma das componentes da redução de despesa inscrita no Documento de Estratégia Orçamental”, explica o Ministério em comunicado esta segunda-feira, 9 de Junho.

Com que então, 149 milhões de euros?

Vamos lá ver a proposta de OE para 2015…

OE2015Prop1

Reparem lá nos valores… em 2014 o total das transferências foi de 240 ME. Podem sempre dizer que não são tudo verbas para contratos de associação, que os há simples e de patrocínio, mas os bolsos para onde vão são os mesmos.

E podemos confirmar com os dados da dotação inicial do orçamento do MEC para 2014:

OEMEC2014

A verdade é que desde 2009/20, o valor das transferências para o sector privado se mantém praticamente igual, enquanto os cortes impostos à rede pública (que se afirma excessiva, pelo que poderia incorporar muitos daqueles que implicam despesa adicional para o Estado) são na ordem das centenas de milhões de euros por ano…

 

CNEDocDe 120.693 em 2010-11 para 104.782 em 2012-13…

 

Os dados da primeira tabela e do primeiro gráfico aglutinam os 1º e 2º ciclos, algo que pode distorcer de algum modo a especificidade de cada ciclo.

No entanto, comparando com o resto dos países europeus analisados (sim eu sei, no extremo oriente e em Israel eles encaixotam os alunos nas turmas…), verifica-se que a média de alunos no CITE1 (1º e 2º ciclos) é mais alta do que em 12 outros países e mais baixa do que em 8, ficando abaixo da média global da amostra, enquanto no CITE2 (3º ciclo), apenas 3 países têm turmas maiores, em média. O que deita abaixo certas conversas de café ou tertúlia.

CNETurmas

Os dados que se seguem referem-se ao número de turmas por número de alunos. Para quem costuma dizer que o limite de 30 está longe de ser atingido, é interessante perceber que 35% das turmas tem 25 ou mais alunos e que há mesmo quase 4% de turmas com o limite legal de alunos ou mais.

Já as turmas com menos de 10 alunos (as que devem fazer as delícias dos viciados em rácios alunos/professor) são menos de 2%.

CNETurmas1Agora uma questão lateral… se o CNE consegue compilar e publicar estes dados já para 2014, porque é que o MEC dificilmente “liberta” este tipo de informação sem passar um ano ou dois?

A utilização da estatística é muito útil e eu gosto, mas… há por vezes limites que o excessivo voluntarismo não prevê.

Assim como há gente que basta ver um monte de números mais ou menos organizados, para achar que já está tudo pronto e que não há necessidade em ir verificar da sua fiabilidade.

Porque os números não devem ser usados de forma acrítica, nem torturados até dizerem o que se pretende. Devem ser recolhidos com rigor e tratados com honestidade para que a sua utilização posterior não esteja contaminada logo à partida.

InBloom’s Collapse Shines Spotlight on Data-Sharing Challenges

(…)

Founded with $100 million in support from the Bill & Melinda Gates Foundation and the Carnegie Corporation of New York, inBloom aimed to serve as a single, secure repository for the student data now collected by districts and stored across numerous disconnected systems. (Gates and Carnegie have also provided grant support for Education Week’s coverage of business and innovation.)

(…)

InBloom also promised to help districts more easily share that information with the growing array of vendors offering software and apps to schools. In the process, it hoped to shake up existing public-private relationships within the education sector, spurring improvements in both classroom practice and product development by bringing order to the chaotic, inefficient system for using student data that is now in place.

Confident in its mission, the Atlanta-based nonprofit made an audacious public launch—replete with parties, indie rock bands, and breathless presentations about the future of “personalized learning”—in March 2013, at the annual South by Southwest education conference in Austin, Texas.

Thirteen months later, following a series of high-profile departures by state and district partners, inBloom announced it will “wind down” operations.

“We have realized that this concept is still new, and building public acceptance for the solution will require more time and resources than anyone could have anticipated,” wrote Iwan Streichenberger, the company’s CEO, in an April 21 letter to supporters.

Suhestão da A. C.

95% de confiança é multiplicar e dividir por 39 nas contas de coisas futuras acontecidas aleatoriamente?

… mesmo se as projecções assumem que a tendência demográfica regressiva não será contrariada, em especial ao nível dos fluxos migratórios.

É verdade que o 1º ciclo corre o risco de perdas na ordem dos 10%, mas esta redução poderia permitir melhorar as condições de aprendizagem de muitas crianças, mas já sabemos que estas projecções – úteis – se destinam principalmente a justificar cortes ou mecanismos de “mobilidade”. Ou seja, esta redução nunca deveria estar associada a um aumento do número de alunos por turma, o que é um absoluto contra-senso.

Por fim, estes números já são conhecidos há mais de um mês.

Primeiro ciclo perde 40 mil estudantes em sete anos

Em termos regionais, o Alentejo é a região mais afectada. Até 2018, deve perder 15% da população estudantil inscrita no ano lectivo 2011/2012.

Claro que, se a lógica é a de continuar a fechar serviços públicos, dificilmente se inverterá um processo de perda mais grave no interior do país.

E, claro, penso que seria quase desnecessário sublinhar que a redução do número de docentes nos últimos anos foi, em termos relativos, superior. Só entre 2007-08 e 2011-12 a redução do número de professores do 1º ensino público foi de 32.105 para 27.264 e desde essa altura não parou…

Não venham, portanto, com as conversas do costume.

Porque uma coisa é criticar opções, achar que se poderia fazer diferente e melhor. Outra deitar tudo abaixo, só porque sim, ou porque dá jeito ou chama a atenção.

Vejamos a quebra do analfabetismo e do abandono escolar precoce:

Educa1Educa5

Agora vejamos alguns indicadores sobre o desempenho do sistema, mesmo que numa perspectiva meramente quantitativa…

Educa2Educa3Educa4

A fonte é sempre a PORDATA. Claro que depois podemos discutir ali algumas inflexões na evolução de alguns ganhos nos últimos anos e debater quem foi responsável pelo que não foi nada mau ao longo destes 40 anos.

Agora dizer que tudo isto foi um fracasso… pois… está bem… estamos sempre a tempo de redefinir conceitos…

As escolas do ensino básico, até ao 9º ano, vão perder quase 50 mil estudantes nos próximos quatro anos, segundo as estimativas da Direcção Geral de Estatística da Educação e Ciência (DGEEC).

A redução de professores já foi numa proporção muito maior…

Nem vale muito a pena dar conversa

Só se for para dizer que aumentar o número de alunos por turma é um paradoxo…

Fui para História, é possível que isso me livre da suspeição de ser maluquinho por números e coisas assim. Mas impressiona-me sempre a abordagem holística (eufemismo para outra coisa) que muita gente defende para conhecer os fenómenos sociais e mesmo os educativos.

Ou aquela postura anti-avaliação, muito maiode68, do paradoxal proibido proibir como se fosse proibido avaliar de forma quantitativa, como se isso fosse um atestado de menoridade intelectual e conceptual a quem o defende e pratica, pelo meio de outras coisas. Como se fossemos praticar a horrível selecção e a abominável exclusão. Como se não pudesse ser apenas uma forma de conhecer.

Conhecer a realidade – a menos que sejamos empedernidos idealistas – implica de alguma forma medir qualquer coisa, nem que seja de forma imperfeita o tempo e o espaço em que nos movemos. Qualquer movimento nosso implica um cálculo, mesmo a quem nem se apercebe de tal.

Não que tudo se deva reduzir a números – isso é a parvoíce de muito economista de algibeira e investigador social armado em “cientista” – mas pelo menos algumas coisas ganham em ter uma configuração quantitativa, mesmo que isso implique – ó meus zeuses e júpiteres – o estabelecimento de seriações e comparações, bases e topos. e nada mais caricato do que ver quem critica o igualitarismo numas coisas a criticar as tabelas ordenadas em outras.

O mesmo para quem acha que a existência de exames implica um “paradigma” específico na sua prática pedagógica. Desculpem-me lá, se só por existir um exame no final do ano ou do ciclo de escolaridade mudam toda a vossa forma de ensinar ou se sentem inadaptados é porque andam com baias estreitas a limitar-vos a metodologia.

Sim, eu sei… há quem seja um one trick pony e tenha ficado com aquilo em que passou a acreditar há 10. 20. 30 ou 40 anos como fé única, a menos que seja como muitos dos nossos políticos que foram a lavar lá fora e entraram na Portela penteadinhos e liberais quando tinham saído desgrenhados e neo-marxistas (embora apenas tenham substituído um trick por outro).

Os exames, a avaliação quantitativa, os rankings fazem parte da vida de alunos e professores e assim deve ser. Mas não esgotam essa mesma vida, são apenas uma das suas partes. A sua existência não é um mal em si. Centrarem-se – defensores e opositores – apenas nisso ou quase em exclusivo nisso é que é um erro.

Sei que não sou doutor dos que prepararam alunos para a Universidade, pois lido com isto a uma escala menos dramática (sou um professor básico, logo, de segunda, para muitos dos que não gostam de hierarquias e seriações, excepção àquelas em que se sentem no topo), mas quando ouço ou leio alguém a dizer que a existência de exames implica um tipo de ensino obcecado com exames dá-me vontade de lhe atirar uma panela de azeite a ferver para cima, pois apenas está a confessar que apenas sabe fazer uma coisa, ou uma coisa de cada vez e é incapaz de circunscrever a preparação para os exames à sua real dimensão na sua prática pedagógica.

Ahhhh… e isto tem tudo a ver com o início do post, porque é muito habitual que esta forma de encarar a avaliação vá a par do horror à quantificação.

Bem… nem sempre… há quem até goste de medir os outros e o que os outros fazem. Só não o querem é para si.

Mas isso agora não interessa nada.

É o que se obtém conjugando dados de sindicatos e Governo.

 

e a contar!

 

… os números do MEC são muito dinâmicos e se acerca das funções desempenhadas apareciam mais de 150.000 docentes, quando se trata de contabilizar o vínculo, já só aparecem 129.509,

O curioso é que já para 2011-12 se apresentam pouco mais de 100.000 professores dos quadros e um peso superior a 22% de contratados com mais de 25% a partir do 2º ciclo, o que levanta muitas e desvairadas dúvidas sobre o qua anda a ser dito por aí sobre o número de professores em exercício…

PerfilDocente2012VinculoSerá que a engenharia curricular do último ano lectivo e do próximo explicam isto tudo? Porque a redução do número de alunos não explica uma quebra de 7,4% (de quase 140.000 para menos de 130.000) no número de professores em exercício em apenas um ano lectivo… sendo que o número de contratados caiu cerca de 20% e o de professores do quadro cerca de 3%.

PerfilDocente2011Vinculoisto significa, por outro lado, que o mais certo é que no ano lectivo de 2012-13, o número de docentes em exercício tenha ficado abaixo em torno (ou mesmo abaixo) dos 120.000 e que os dos quadros já são menos de 100.000, ou seja, um número muito diferente do que tem sido manipulado publicamente em debates sobre a reforma do Estado.

… havia apenas 3,7% de docentes com funções não lectivas em 2011712, de acordo com as estatísticas oficiais.

PerfilDocente2012Funcoes

… visto que as escolas os facultam ao longo de todo o ano para aquela coisa que dá pelo nome de MISI@.

  • Quantos foram verdadeiramente os professores contratados nos últimos anos, fazendo-se a distinção entre número de contratos e número de professores, pois há contratados com 2, 3 e 4 contratos por ano.
  • Qual a distribuição, por intervalos de horas lectivas e duração do contrato, da duração dos contratos desses professores, porque é diferente um contrato para 6 horas para 2 meses e um contrato anual com horário completo.
  • Quais os grupos disciplinares em que foi necessário recorrer a mais contratos/contratados (e respectivo peso relativo) e quais as razões para isso (doença dos professores do quadro, destacamentos em outros serviços, gravidez, alteração do número de turmas inicialmente previstas) e em que escolas/agrupamentos.
  • Qual é o número actual de professores nos quadros, qual a sua evolução nos últimos 5-10 anos, e qual a sua distribuição pelos escalões da carreira e qual a incidência das reduções ao abrigo do artigo 79º.
  • Qual é o número verdadeiro de pedidos de aposentação durante o ano de 2012 ou mesmo até Julho de 2013.

Estes números, por estranho que pareça, não são conhecidos publicamente e os que surgem, com algum atraso temporal, raramente batem certo de acordo com as diversas publicações, mesmo se a fonte oficial é a mesma. Não é fenómeno de agora, mas tentem usar os dados de diferentes publicações do MEC, do INE e da actual DGAEP e perceberão do que falo. Nada bate certo seja com o que for e nem é preciso entrarmos pelo território pantanoso das coisas tipo-FMI.

Mas estes números são essenciais para, cruzando-se com os dos alunos, fazer uma rigorosa prospectiva das verdadeiras necessidades – num quadro de estabilidade curricular e de organização dos horários dos professores – em termos de pessoal docente.

Enquanto o que existe são sarrafadas para o ar, conforme as conveniências, toda a gente se sente no direito de opinar sobre estes assuntos, usando os dados que lhe dão mais jeito, de governantes a assessores encapotados, passando por editoriais da imprensa do dia.

 

… e os alunos não diminuíram 25%. Nem sequer 15%, quanto muito 5%.

Isto é a aritmética pura da engenharia curricular e da gestão dos tempos lectivos.

Podem dizer que se trata de um ajustamento, de uma racionalização dos recursos, de uma redução das margens de desperdício, mas então, repito, a tele-escola permite um ajustamento muito mais eficaz.

Conc30Ago13MECConc30Ago13MECb

O MEC fez circular uma nota em que afirma existirem 2185 professores com horário-zero (DN, Público).

A mim deve estar a falhar qualquer coisa, pois a soma dos não colocados dá-me mais de 6000 candidatos. Reparem só nas listas dos grupos 100, 110 ou 300 que no conjunto somam mais do que aquele valor. Vou em busca da origem do meu erro ou falha de raciocínio.

O Arlindo atingiu um valor semelhante ao meu.

Número de professores caiu o dobro do que número de alunos

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