Fevereiro 2008


 3028a.jpg

(c) Antero Valério

Centenas de professores em vigília em Torres Vedras

Centenas de professores da Região Oeste, vestidos de preto, estão concentrados hoje à noite em Torres Vedras, numa vigília de protesto contra as medidas do Ministério da Educação, empunhando cartazes em que manifestam a sua revolta
Os professores ouvidos pela agência Lusa criticam as mais recentes medidas do Ministério, como a avaliação ao seu desempenho, o novo modelo de gestão das escolas e o novo estatuto do aluno.

«O que me faz estar aqui é o facto destas medidas estarem a trazer muita instabilidade e prejuízo efectivo à actividade educativa» , afirmou Maria João Alves, professora do ensino secundário.

«É muita legislação, toda nova, a meio de um ano lectivo e toda para entrar em vigor ontem» , apontou a docente.

«Os professores gastam muitas horas para analisarem estas medidas e isso causa muita instabilidade. Acho que isto é de quem não tem ideia de como uma escola funciona» , sublinhou Maria João Alves, docente em Torres Vedras.

Uma das organizadoras do protesto, Conceição Margaça, explicou que o movimento dos docentes surgiu «à margem dos sindicatos» porque os professores «estão unidos em querer mostrar o seu descontentamento».

A senhora que se segue

A crescente contestação dos professores e o apoio político que vêm conquistando estão a colocar o Governo numa posição difícil. Até os tribunais parecem estar contra a ministra

Ao demitir Correia de Campos, o primeiro-ministro, sem querer, fez uma outra vítima: Maria de Lurdes Rodrigues.À contestação dos professores juntou-se, agora, toda a oposição na evidente esperança de que José Sócrates deixe cair mais um membro do Governo. E não é difícil ver que se está a entrar num ciclo vicioso em que, aos sucessivos ataques à ministra, o chefe do Governo irá responder com declarações de apoio – e, a cada aplauso de Sócrates, reagirá a oposição com novo grito de “ministra para a rua”, tornando uma remodelação ainda mais insustentável.Com todas as atenções centradas na ministra da Educação, mais se notam as fragilidades da sua equipa. Poucos governantes (se é que houve mais algum) terão visto tantas decisões suas travadas nos tribunais, uma moda que pegou com a contestação à época extraordinária de exames em 2006 e ameaça, agora, o processo de avaliação dos professores. Se Maria de Lurdes Rodrigues perder esta nova batalha, não será a ela que a oposição pedirá contas.

Esta é uma nota quase lateral, mas um pouco necessária como introdução ao que gostaria de escrever sobre este movimento de contestação genuína que se vive pela primeira vez em Portugal em muito tempo.

No Público de hoje, na página 2, em bom artigo da jornalista Isabel Leiria, percebe-se como tudo isto apanhou quase toda a gente de surpresa e ainda agora andam à procura de um rumo e um sentido conhecido para enquadrar o que se passa.

A certa altura lê-se que (sem link permanente):

Inicialmente promovidos por sindicatos afectos à Fenprof (à excepção da concentração no Porto, convocada por SMS, mails e blogues, sem que se tenha tornado pública a sua origem), os protestos têm ganho dimensão com ajuda da promoção feita em páginas na Internet dedicadas à educação e ao “passa SMS” entre milhares de colegas que se sentem “atacados” como nunca.

Ora, se bem me lembro, e até acho que me lembro ou conheço razoavelmente bem o que se passou em dois ou três dos primeiros núcleos de contestação, em nenhum momento os protestos foram promovidos por este ou aquele sindicato.

A análise que é feita está errada, não percebendo bem porquê, pois seria relativamente fácil seguir a cronologia dos acontecimentos (a que está no artigo parece desconhecer que as coisas não nasceram a 16 de Fevereiro no Largo do Rato), através do contacto com as pessoas envolvidas. Aliás, é estranho que alguns dos protagonistas que foram ouvidos (em especial dos núcleos das Caldas da Rainha e Leiria) realcem exactamente a independência dos movimentos e depois se escreva que tudo começou com a partir de acções sindicais.

Mais curioso ainda é o recurso a Manuela Teixeira, alguém com uma longa carrerira no establishment sindical mais sereno e ordeiro, +ara explicar o que se passa neste(s) movimento(s).

Ou seja, até quem acompanha jornalisticamente a Educação há muitos anos parece ter sido ultrapassado pelos acontecimentos e, perante as ondas revoltas, parece querer ancorar-se em pontos seguros e conhecidos.

O mesmo se parece passar com o presidente do Conselho de Escolas que, na sua abordagem do fenómeno prefere desvalorizar o que se passa, por perceber que os professores não se sentem minimamente representados pelo organismo a que preside e cujas opiniões o ME recorta a seu bel-prazer.

Álvaro dos Santos, presidente do Conselho das Escolas, admite que a contestação é “inelutável”, mas, pessoalmente, considera que alguma está a ser “empolada”. Como presidente deste órgão consultivo garante que vai continuar a “fazer tudo para que as escolas tenham condições efectivas para fazer bem o seu trabalho”.

Para o seu próprio mal, há quem não perceba que se virou uma página de uma história que cada vez se ia mais acinzentando em termos de movimentos de contestação social. Há quem se agarre ao passado para se sentir seguro.

E assim se vê quem tem receio da mudança e da inovação.

No que isto poderá dar? Em algo de completamente diferente do que conhecemos na nossa história recente, assim todos os interessados percebam que o sucesso depende da liberdade, independência e genuinidade do que se passa e que o importante é a redescoberta do orgulho de ser professor, como profissional e cidadão, e que essa identidade se faz promovendo a confluência de muitas diversidades, sem aproveitamentos particulares.

E tendo sempre presente que devemos ser nós a dar os bons exemplos.

Fichas de avaliação: Maria de Lurdes Rodrigues foi “mal informada”, admite o Ministério

Ao contrário do que a ministra da Educação declarou hoje à saída do debate parlamentar com o primeiro-ministro, o conselho pedagógico do Agrupamento de Escolas Correia Mateus, em Leiria, ainda não se pronunciou sobre a proposta de ficha de avaliação que contempla a “verbalização” de críticas às mudanças ocorridas no sistema de ensino como um dos parâmetros de avaliação.

“Aquela era uma pergunta de forma alguma aceitável e o conselho pedagógico já deliberou negativamente”, disse Maria de Lurdes Rodrigues ao final da manhã, depois de Francisco Louçã, no Bloco de Esquerda ter denunciado a situação durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro.

Horas depois, questionado pelo PÚBLICO, o assessor de imprensa do Ministério da Educação admitiu que a reunião do conselho pedagógico ainda não tinha ocorrido – está marcada para 12 de Março – e explicou que a ministra declarou o contrário porque “foi mal informada”.

Como já escrevi uns posts atrás, acho que a primeira vez que as afamadas propostas de grelhas do Agrupamento de Escolas Correia Mateus (avaliacao-de-desempenho1.doc) surgiram publicamente foi aqui no Umbigo, a 13 de Fevereiro. Passados alguns dias, o documentono formato original começou a circular por mail e apareceu referido em outros espaços.

O reparo não é para ganhar louros. É apenas para sublinhar que então omiti a identificação da Escola, embora isso não me tenha sido expressamente pedido por quem me enviou o documento. Só que aquilo era tão, mas tão grave, que achei que o mínimo a fazer seria esperar para ver qual o desfecho. Lembro-me que alguns(mas) comentadore(a)s chegaram a quase não acreditar que aquilo fosse verdade. Deram-me, porém, o benefício da dúvida e confiaram que eu não estava a enganar ninguém.

Porque embora ainda aparentemente em discussão, só o facto de a proposta de ficha de avaliação dos docentes conter alguns dos parâmetros em causa já era algo absolutamente vergonhoso.

Agora que a coisa chegou ao domínio público, não há que esconder que aquele caso poderá ser relativamente isolado, mas também poderá ser apenas um entre outros casos (e já ouvi falar de mais, entre o igualmente descarado e o mais subtil) que andarão por aí a polvilhar o país, servindo de cobertura para verdadeiras «caças às bruxas» em muitos estabelecimentos de ensino, com o objectivo claro de prejudicar quem desalinha.

Mas mais grave é que a Ministra da Educação – que não tem obrigação de conhecer tudo isto, justiça lhe seja feita – não pode é afirmar peremptoriamente algo que desconhece, sempre naquela mania de tuido justificar, tudo achar que está bem e que tudo acontece no melhor dos mundos, só uns detalhes é que não.

Que Maria de Lurdes Rodrigues parece mais à vontade a rebater em termos vagos, atirando com chavões e lugares-comuns para cima da mesa, a contestação dos professores já sabíamos. Que sempre que se apontam aspectos concretos, prefere caracterizá-los como «caricaturais» também já é notório. Agora que o seu pessoal de apoio, normalmente tão couraçado e célere a lançar contra-fogos, a deixasse ser apanhada em falso desta maneira já é algo inesperado e revela um certo clima de fim de festa, cada um por si e todos para os abrigos que está a chover grosso.

Para mais porque MLR afirma estar em permanente contacto com as Escolas e delas receber imensa informação, através do Conselho das ditas e não só. Por isso mesmo, teria sido mais fácil MLR não se precipitar em respostas formatadas e ter a humildade de se informar com alguma fiabilidade. Porque ninguém é capaz de acertar sempre. Só que quem com ferros gosta de ferir, com ferros acaba ferida.

E fosse a comunicação social mais rápida a escrutinar muita outra coisa, quantas outras «más informações» se tornariam públicas e notórias.

Para hoje e o fim de semana:

  • Aventuras e Agruras de Virgulino Capelinhas, um conhecido meu que é presidente honorífico, honorário e hereditário de uma associação do meu bairro.
  • Problemas de Percepção ou como a imprensa (no caso de hoje o jornal Público) tem alguma dificuldade em saber exactamente como as coisas têm acontecido.
  • Um Novo Movimento Social: as origens, características, objectivos e caminhos possíveis para o actual movimento de contestação dos docentes, tudo visto a partir aqui do meu cantinho.
  • Uma possível reportagem fotográfica da concentração de amanhã em Setúbal (só falta mesmo comprar um boa carga de pilhas).

Como brinde é possível que eu não resista a escrever um breve texto sobre O Senhor Almeida Até Sabe Quatro Línguas.

O colega Ademar Santos do Abnóxio lançou-me o desafio de, no âmbito da blogosfera, encontrarmos ideias para ajudar a Ministra a perceber que deve sair para bem da Educação em Portugal, e com ela as suas políticas e os Secretários de Estado, acrescentaria eu.

Agora ainda estou com os níveis de criatividade muito em baixo, mas com umas ajudas isto desemperra durante a semana.

Uma coisa óbvia poderá ser pedir ao Antero um contributo gráfico especial e a partir daí…

É neste momento quase impossível, estando na escola por regra das 10 às 5, e mesmo aproveitando o intervalo para almoço para espreitar o correio, conseguir dar conta de todas as iniciativas. E depois a caixa vai enchendo e eu nem sempre consigo postar tudo.

De qualquer modo, ficam aqui mais duas para hoje e amanhã, sendo que a de Setúbal já estava anunciada em post anterior:

  • Hoje, sexta-feira 29, Braga, 21.30, Avenida Central. 
  • Amanhã, sábado 1, Setúbal, 15.00, Praça do Bocage.

Quem conseguir compilar tudo o que aconteceu esta semana (ontem foram mais 2000 professores em Aveiro) e está previsto acontecer até dia 8, é favor enviar-me.

Valter Lemos acusa Ana Benavente de ter sempre cedido aos interesses da Fenprof

(…)
Valter Lemos respondeu assim,esta manhã, aos microfones da Rádio Renascença, às críticas feitas por Ana Benavente, ontem, na SIC Notícias. Ana Benavente criticou algumas das medidas de política de Educação e confessou que, se fosse professora, também estaria decerto na rua em protesto contra o Governo.

O actual secretário de Estado disse estar surpreendido pelo facto de Benavente “cavalgar as posições da FENPROF”, apesar de considerar que a antiga secretária de estado não seja “grande adepta da avaliação e do rigor”.

Para Valter Lemos, a actuação de Ana Benavente nos governos de Guterres “resultou nos piores resultados escolares da Europa” em matéria de sucesso escolar e, na base deste falhanço, esteve uma cedência permanente aos interesses da FENPROF.

Sinceramente acho é sempre bom vê-los à bulha. E Valter Lemos tem a sua parte de razão, pois eu não quero voltar ao benaventismo. O interessante é que Valter Lemos se esquece que esteve, mesmo se algo perifericamente, associado a um período de igual memória duvidosa na nossa Educação, aquele tempo final do cavaquismo da Pedagogia do Sucesso, em que a reforma de Roberto Carneiro foi adulterada de todos os modos possíveis e em que a avaliação dos alunos foi quase transformada numa lamentável ficção.

Nesse aspecto Ana Benavnte apenas continuou a obra anterior e temos obra escrita por Valter Lemos para confirmar a sua concepção peculiar de avaliação. Estão bem um para o outro quanto a responsabilidades por maus resultados do nosso sistema de ensino.

A quem na altura cedeu Couto dos Santos, talvez Valter Lemos nos pudesse elucidar.

E depois esta obsessão com a Fenprof é algo doentia. Será que ele acha que todos somos da Fenprof? Todos os que acham que ele apenas está no lugar que está por solidariedades de bastidores serão comunistas?

6ª FEIRA, DIA 29 DE FEVEREIRO, ÀS 20h15m, JUNTO AOS PAÇOS DO CONCELHO EM TORRES VEDRAS, CONCENTRAÇÃO DE PROFESSORES….

SÁBADO, DIA 1 DE MARÇO, PELAS 16H30M, NO LARGO DOS NAVEGANTES, JUNTO AO HOTEL VILA GALÉ, NA ZONA DAS ESPLANADAS, NA ERICEIRA, CONCENTRAÇÃO DE PROFESSORES….

NOTA: TODOS VESTIDOS DE PRETO

Não podemos dar tréguas ao GOVERNO E AO ME!!!!…..

TEMOS QUE CONTINUAR EM CIMA DELES!!!!….

TEMOS QUE SER CADA VEZ MAIS!!!….

Traz outro amigo também!!….

DIVULGA!!!!!….

Visitem:

http://defendeaprofissao.wordpress.com/

A grelha em causa já tinha sido objecto de comentário aqui há mais de duas semanas. Chegou hoje ao Parlamento e ao mainstream mediático, por fim. É bom. Para que se saiba como o modelo de avaliação dos docentes pode derrapar para mecanismos de controle da liberdade de expressão dos cidadãos, neste caso de professores.

Acho estranho que o Primeiro-Ministro desconhecesse o assunto. Afinal com tantos recortes de imprensa e do conteúdo de blogues, logo terá escapado esse tema aos serviços competentes?

Já temos Associação!

Às dez horas seis minutos e vinte e sete segundos recebi das mãos duma simpática e compreensiva (pela nossa luta) funcionária pública o certificado de admissibilidade e o cartão provisório de identificação da nossa associação:

APEDE – Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino

A partir de agora já temos personalidade jurídica, já não somos somente um movimento de professores o que nos permitirá prosseguir os nossos objectivos que ficaram estabelecidos na nossa reunião das Caldas da Rainha de dia 23 do corrente mês.

O mais difícil está ainda para vir, não tenhamos ilusões de nenhuma espécie em relação a isso! Unidos poderemos conseguir! Vamos a isso!

Francisco Trindade

 jpp1.jpgjpp2.jpg

É certo que Pacheco Pereira deu sempre algum espaço – embora sempre tacticamente doseado – a alguns desabafos de professores.

Mas como muitos foi sempre daqueles que se debruçaram mais sobre a forma (comunicacional) da acção da Ministra da Educação e seus Secretários do que sobre a sua substância.

Como muitos, reagiu pavloviamente, aos chavões de «mérito», «rigor», «autonomia», «abertura à comunidade», «avaliação», «reforma», «mudança».

O Governo e o ME tocaram uma modinha agradável e eles dançaram com gosto.

Como muitos, quase sempre achou que as reformas anunciadas e despejadas sobre as escolas eram naturalmente boas, o problema estava na comunicação. Curiosamente, muitos dos que criticavam o excesso de diálogo do guterrismo foram dos primeiros a lamentar que tão corajosa e determinada Ministra fosse tão desastrada a explicar a sua acção. Também curiosamente, muitos deles eram os mesmos que achavam que José Sócrates e o Governo eram excelentes máquinas comunicacionais.

Mas raramente leram as reformas, pensaram sobre elas, tentaram entender se estavam ajustadas à realidade ou correctas na sua calendarização. Dificilmente perceberiam o que implicariam para o trabalho quotidiano nas Escolas.

Por regra, menosprezaram os professores como «semi-profissionais» qualificados; em muitos ambientes (da política ao jornalismo, das profissões liberais mais afamadas ao mundo académico) os professores do Ensino Não-Superior são aqueles que não foram outra coisa, por falta de «mérito» ou de capacidade de trabalho.

Muitas vezes parecem ter-se esquecido que as pessoas singram de acordo com as suas prioridades, interesses, ambições e oportunidades. Quem nem todos podem querer ser o que outros são. Que quase todos os críticos seriam incapazes de ser professores do Ensino Não-Superior por falta de competência, paciência e capacidade de trabalho. Muitos críticos dos professores atribuíram-lhes os vícios e defeitos que viam reflectidos nos espelhos em casa. Só que como se sentiam profissionais de «maior sucesso», nunca pensaram questionar o seu modo de vida.

Claro que, depois, quando os professores se fartaram e começaram a revoltar, voltou logo uma imensa argúcia analítica. Quando os protestos inundam as ruas e os professores se mobilizam como nunca, são muitos os que – em vez de admitirem a sua sobranceria e erro de cálculo – tentam surgir a cavalgar a onda, a explicar a onda, a diagnosticar a onda, a mostrarem-se mestres na arte de evitar uma nova onda.

Está bem.

Ao contrário deles, os professores não se incomodam muito com isso e acolhem-nos, com natural bonomia. Embora saibamos distinguir verdadeira fé de mero oportunismo.

No caso de Pacheco Pereira só ele saberá se é mesmo lagarto, se camaleão.

(imagens da crónica na Sábado de ontem)

I was a small, fat child in a council house
There was only one thing I ever dreamed about
And Fate has just
Handed it to me – whoopee

O senhor Almeida continua zangadíssimo com o «snr Guinote» a quem dirige, agora a ritmo diário, diversos impropérios. Mentiroso compulsivo, cobarde, grotesco, caricato, todo o poder de fogo a que é capaz de lançar mão. Que sou fundamentalista, dirão colegas meus de profissão. Acredito. Devem ser os mesmos que o reverenciam e mandam mails quando lhe tocam, ao de leve, muito levemente, na emplumada sabedoria.

Diz que eu escrevo mentiras criminosas e que mostrou documentos que provam o contrário. Não percebo do que fala, pois só me lembro de ser eu a mostrar documentos. Considera-me incompetente e indigno do salário mensal que o Estado me paga.

Apesar disso, acha que deve aceitar um pretenso convite que lhe foi proposto para debater comigo, perante a Comunicação Social, as questões da Educação. O estranho é que a seguir recomenda que eu não aceite o repto. O senhor Almeida deseja esmagar-me com a sua sapiência estridente e os seus comentários espirituosos em off. Mas como é magnânimo abre-me a porta para que eu não aceite ser demolido perante testemunhas. O senhor Almeida é, pois, alguém com bom coração.

A verdade é que ele sabe que o «snr Guinote» não gosta muito de usar fato e gravata (casamentos, defesas de tese e foi porque me avisaram a tempo desta vez) e pode ter receio de ficar mal na fotografia perante o garbo e porte altivo do senhor Almeida. Que intimida quando dá aquele balanço de corpo de quem vai partir à desfilada. Já eu sou um tipo desgrenhado, nada fotogénico.

Mas sabe ainda o senhor Almeida, por certo, que o «snr Guinote» aprendeu com os seus ascendentes a distinguir o trigo do joio e uma provocação de questões sérias. E não se deixa levar por tácticas arruaceiras.

A verdade é que aqui o «snr Guinote» espera agora ansiosamente pelo seu correio todas as noites à espera de nova mensagem de escárnio e maldizer. Porque são estes ataques de irritação descontrolada, à beira da apoplexia verbal, que acabam por dar um pouco de colorido ao final de um dia de trabalho. São, no fundo, a prova de que uma parte da minha missão está a ser cumprida. A de revelar a verdadeira face daqueles que querem a toda a força «dar a cara», aparecer, ser vistos, mas depois não percebem que não devem medir os outros pela sua escassa medida.

O assunto tornou-se incontornável e com o apaziguamento na Saúde irrompeu com toda a força na comunicação social. Quanto ao que o movimento de contestação pode originar, vou tentar arranjar amanhã tempo para sintetizar o que penso.

Por agora ficam umas notas sobre as intervenções que espreitei no início do programa da RTP1, que entretanto deixei a gravar.

Por ordem alfabética das presenças, com as senhoras primeiro, realçando ainda que é tudo gente razoavelmente jovem:ad.jpg

  • Ana Drago – parece ser aquela que está mais a par dos diversos temas, movendo-se com algum à vontade pelos assuntos e não se focando num único. Como dizia um colega meu, num compreensível acesso malandreco, tem ainda a vantagem de ser uma política com quem seria interessante negociar.
  • Margarida Botelho – levou o trabalho de casa razoavelmente feito, mb.jpgembora com pouca maleabilidade e aquela atracção pelas acções de rua como solução fundamental para a contestação. Mas elas são tão mais importantes e genuínas quanto os partidos se desviarem do caminho. Neste caso convinha que o PCP não agitasse muito as correias de transmissão do movimento sindical.
  • Marco António Costa – razoavelmente articulado e com assinalável bom senso, mac.jpgrecuperando de forma apropriada o conceito de «trapalhada» que foi introduzido no nosso léxico político em 2004, adaptando-a com justeza ao momento presente e à forma de legislar do Ministério da Educação. Apesar de se ver que tinha uma cábula para ler (até misturou as coisas e criou um híbrido Conselho Nacional das Escolas, misto de CE e CNE), soube apresentar exemplos concretos da dita «trapalhada» como o do CCAP.
  • Marcos Perestrelo – faz lembrar aquele tipo de soldado que é deixado a defendermp.jpg uma posição perdida, na esperança de fazer os inimigos perder algum tempo. Para não ser trucidado – e como se percebe que muitos dos presentes são, afinal, bons amigos – optou pela postura simpática, cordata, sorridente, para sobreviver. Muito longe dos desvarios retóricos do outro sábado. Disse o que podia dizer e que seria dito por qualquer outro enviado do PS para tal missão. Merece justa recompensa pela missão impossível.
  • Nuno Melo – abordou o assunto um bocadinho pela rama, sacando do eduquês nm.jpgda legislação e argumentando que nem os professores perceberão a legislação feita pelo ME. Não será bem assim pois o problema é percebermos bem onde aquilo quer chegar. Mas em tempos destes, aceitam-se todas as boas vontades e ele funcionará para o público feminino da mesma forma que a Ana Drago para o masculino.

 ministro-b.gif

Muito interessante a evolução dos indicadores de popularidade e apreciação do desempenho dos protagonistas políticos nestes últimos dias. O André Freire esteve na RTP2 a explicá-los (ou outros semelhantes).

Apesar das ineficiências da oposição o Grande Líder está um bocado mais pequeno.

Chegou-me por diversas vias o que o jornalista João Gobern disse no programa “Pano para mangas” da Antena 1, no dia seguinte ao programa “Prós e Contras” da passada segunda-feira. Aí fica a transcrição, para exemplificar mais uma voz que engrossa a fila:

“Infelizmente, ainda há quem se deixe ficar do lado mais fácil, aquele que olha para Maria de Lurdes Rodrigues, como uma mistura de reformadora iluminada e padeira de Aljubarrota, em luta contra a molenguisse e os boicotes dos professores, essa classe repetidas vezes apresentada como ingovernável e reactiva a qualquer mudança.
Para quem alimentasse esta imagem de uma cruzada ministerial, pela conversão mesmo à bruta dos infiéis, entregues a uma comunicação social populista e que mal sabe fazer contas de somar, oferecidos a um grupo de “articulistas”, que há muitos anos se benze por protecção, de cada vez que tem de passar mais perto de escola ou de um professor; espera-se que as 3 longas horas do “Prós e Contras”, da noite de ontem tenham provado de uma vez por todas, que o Sr. Primeiro Ministro mostrou afinal, ser falível ao ensaiar uma micro-mudança de titulares e ao deixar intocada a Srª Ministra da Educação.
Do alto do seu gabinete, só mesmo a Ministra, uma equipa servil de ditos académicos e uns quantos agentes infiltrados no terreno; há sempre, mas sempre, aqueles que com mira em promoções, louvores ou pequenos estipêndios, se dispõem a ser mais “papistas do que o papa”, só esses, vêem com bons olhos, a continuidade na avaliação dos professores, tal como está a ser feita e na aplicação do novo modelo de gestão escolar, como uma melhoria.
Mais: só essa poderosa minoria, dá como arrumadas a contento as questões das aulas de substituição e o concurso dos professores titulares.
A Srª Ministra parece ter ensurdecido há muito. Ontem, passou sinais para o exterior, de que já está a ser atormentada pela cegueira. Fechou os olhos a todos os argumentos que dão a avaliação, como um processo injusto, apressado e inexequível, apesar de ter diante de si, muito mais do que as “excomungadas” reticências sindicais.
Nunca conseguiu demonstrar (apesar da pose explicativa), qualquer vantagem no modelo de gestão que quer por força, aplicar às escolas. Refugiou-se nos feitos, “abespinhou-se” quando puseram em causa o seu perfil, muito mais de gestora do que de pedagoga, tentou sempre demonstrar que a sua luta é contra uma minoria que se agita.
Foi-se apagando, lenta, mas inexoravelmente, diante de episódios, de vivências, de casos, que se não eram novidade para quem os acompanha no dia a dia, pareceram surpreendê-la e até chocá-la. O que vem confirmar, que até neste campo de tantas consequências, se continua a legislar com fúria, mas a viver de costas para a realidade do país.
Deixou por abordar, aquela que para mim como lei, é a questão decisiva: o facto de com tantas reuniões, papéis, burocracias, justificações, definições de objectivos, avaliações e substituições; continuarem os professores a ser desviados da sua função primordial e “abençoada”: dar aulas e formar pessoas. Quem não entende isto na prática, não percebeu nada, o que é grave, ao fim de 3 anos, pelo que estou à vontade na sentença:
Não haverá reforma da educação, sem se começar pela reforma antecipada, mas tardia, da Srª Ministra da Educação.”

Mas o que significa exactamente «retirar da esfera governativa» a avaliação dos docentes? É deixá-la apenas às escolas ou é um modelo em que a entrega às «comunidades»? Urge saber…

Página seguinte »