Inversões De Marcha


É muito interessante a retórica do governo grego, faz-me lembrar algumas vitórias sindicais por cá.

Dizem que ganharam tempo?

Mas era esse o objectivo?

E tempo para quê?

Até à próxima negociação em Junho?

Até novo entendimento?

É verdade que a sua posição era muito difícil, desde logo devido a posições vergonhosas como a do governo português, mero cão de fila do alemão, e que seria delicado declarar que não conseguiram praticamente nada do que pretendiam… mas… só quem não quer ver é que não vê que apenas conseguiram manter o que já tinham. Que era o que não queriam manter.

O resto é fumaça e, agora sim, pensamento mágico.

É pena.

Mesmo se teremos elogios ao bom senso ou ao sentido de responsabilidade.

Com jeitinho, até teremos prosa do Assis a este respeito.

Foi a vitória – e nem sequer muito subtil – do pãozinho sem sal do eurogrupo e da nossa maria deslavada.

Então o Juncker pede desculpa na mesma altura em que os gregos “radicais” se rendem quase por completo à real politik das semânticas?

Mas, claro, a evocação de modelos externos de “sucesso” não contempla as notícias sobre o momento em que se consideram falhadas as reformas apregoadas e é necessário voltar ao que por cá querem abandonar.

Porque uma coisa é dar autonomia às escolas, no sentido de uma capacidade de tomar decisões partilhadas e mobilizadoras da comunidade escolar e educativa e outra é criar micro-centralismos com hierarquias tão ou mais rígidas do que uma única.

Chancellor Set to Centralize Management of New York City Schools

Chancellor Carmen Fariña is expected to announce changes on Thursday that will restore a centralized hierarchy to New York City’s schools, largely dispensing with one of the core management philosophies of the previous mayoral administration.

Beginning this fall, most principals will report to superintendents and to regional centers, according to a person who saw a draft of the plans late last year, but spoke on the condition of anonymity because this person was not authorized to speak about them publicly. The superintendents, who generally cover districts or parts of boroughs, and the regional centers would report to administrators in the chancellor’s office.

É mais do que certo que as gravações das declarações bem claras do shôr ministro da coisa, mais do secretário Monteiro existem e permitem confirmar que foram feitas de peito feito, muita arrogância, escasso pudor político ou ético e imensa falta de sentido de Estado, vergonha na cara e tudo o que se possa dizer de mau destes dois arremedos de “governantes” que só servem para denegrir a função.

Foram bem claras… a clarificação foi mandá-los calar.

Sobre as declarações do ministro da Economia, António Pires de Lima, o primeiro-ministro afirmou: «O senhor ministro fez uma referência ontem [quinta-feira] que foi interpretada dessa maneira e ele próprio pediu-me para neste debate deixar muito claro que não há nenhuma discriminação».

«Nós assegurámos que qualquer que fosse o comprador da TAP não deixasse de respeitar os convénios, os acordos de empresa em vigor e que estão em vigor até à publicação do caderno de encargos», afirmou Passos.

Eu gostaria de ver um projecto comum desse tipo, com o Rui Tavares ou o Daniel Oliveira à laia de pendurezas.

Costa reúne-se com Passos e defende projeto comum após as eleições

O secretário-geral do PS defendeu esta quinta-feira junto do primeiro-ministro um compromisso para que o país tenha um projeto comum, mas acrescentou que a construção desse projeto deve fazer-se após o julgamento dos portugueses em eleições.

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  • 31 de Outubro:

PS promete reposição integral dos salários da Função Pública em 2016

  • 12 de Novembro:

Costa não garante reposição imediata dos salários da função pública

  • Julho de 2013:

Cavaco quer “compromisso de salvação nacional” e põe governo a prazo

O presidente da República recomendou um “compromisso de salvação nacional” entre PS, PSD e CDS e admitiu uma antecipação das eleições, não para já, mas a partir do final do programa de assistência financeira, em junho de 2014.

  • Novembro de 2014:

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Expresso, 8 de Novembro de 2014

… afinal não passou de uma criação da imprensa.

Parece que, apesar de preguiçosos e patéticos, os jornalistas, são muito criativos.

Crato reconhece erro, pede “desculpa ao país” e manda refazer listas de colocação de professores

Professores já contratados pelas bolsas de contratação de escola não perdem o lugar. Mas entre mil a dois mil docentes poderão ser agora repescados. Houve um erro dos serviços do Ministério da Educação, admitiu Nuno Crato. Responsabilidades serão “apuradas”. “Peço desculpa aos professores, aos pais e ao país.”

Nuno Crato promete corrigir fórmula e pede desculpa aos professores

Depois de mais de quatro dias de protestos, o ministro da Educação assumiu o erro e prometeu refazer os cálculos e corrigir a ordem de colocação dos professores.

Desde já, algumas coisas óbvias:

  • Quem foi colocado, por erro do MEC, não pode ser agora prejudicado.
  • Quem deveria ser colocado e o vai ser tardiamente, deve ser ressarcido pelos danos causados, em termos materiais e morais.
  • O “interesse dos alunos” sempre foi a menos das preocupações deste desgoverno.
  • O pedido de desculpas fica bem, mas… phosga-se, ele foi avisado a tempo, como já aconteceu em outros momentos de disparate.

Ao contrário do que eu cheguei aqui a escrever, parece que o desgoverno apostou no disparate, não se percebe se apenas para desmentir notícias e fugas de informação.

Esta decisão é perfeitamente ilógica para quem abriu um processo de rescisões com grande pompa e decidiu alargar o prazo para conseguir mais adesões, pois era uma medida destinada a fazer poupanças e adequar melhor os meios humanos às necessidades.

Se dos 1889 deferimentos, cerca de 300 ou 500 não forem aceites, qual é o sentido de encerrar o processo?

Quanto ao programa de rescisões, o prazo para os 1771 professores notificados pela tutela darem a resposta final terminou ontem. Casanova Almeida não adiantou números, mas sublinhou que o processo está fechado e que os 1717 docentes não notificados não terão possibilidade de rescindir. “Para todos os outros que não receberam comunicação os pedidos não foram deferidos e o processo está encerrado. E não está em cima da mesa a abertura de um novo prazo para rescisões”.

De qualquer modo, continuo a dizer que existem 1771 potenciais requerimentos para acesso à informação que fundamentou os deferimentos e, a seguir, 1771 potenciais impugnações do processo.

O artigo vem originalmente do Financial Times, esse bastião do esquerdismo estatista.

É apenas mais um dos vários balanços muito negativos das reformas introduzidas na Suécia na primeira metade dos anos 90, no sentido de desregular, liberalizar e localizar as políticas educativas.

Num páis, muito mais rico do que o nosso, com uma tradição de descentralização muito forte e baixos níveis de desigualdade, o descalabro foi o que se anda a ver há uns anos e que motivou uma inversão nas ditas políticas nos últimos anos.

Mas, entre nós, a coligação dos laranjinhas com os azuis-cueca, continua a insistir em algo que já sabemos não funcionar.

Os “investigadores” que dão apoio a grupos parlamentares, a tertúlia dos economistas insurgentes apalermados, os queirozes&muñozes com muitas viagens aos states para “observar”, tornaram-se um impressionante grupo de pressão em direcção ao penhasco.

E o actual PM e o seu séquito – que só em universidades de Verão de vão de escada conseguem dar uma aula de uma hora sem serem calados – engolem a fórmula sem qualquer capacidade de análise critica das teoriasbu-cosmopolitas (e de novo com aquele tom aflautado que nos lembra alguém) do ministro Poiares mais do secretário Lomba.

Eu até acredito que exista quem, de boa fé, ainda acredite – como qualquer bom marxista-leninista – que a culpa não é da teoria mas do que os homens fizeram com o liberalismo/socialismo real e que se deve continuar a insistir no que sabemos ter falhado.

Mas…

E existe um MEC para quê, se assina de cruz todo o disparate?

Suecos decepcionados com sistema de educação

Nenhum outro país europeu confiou uma fatia tão grande da educação dos seus filhos a empresas privadas como a Suécia. No entanto, à medida que o número de ‘friskola’ aumentava, a confiança da Suécia nas escolas com fins lucrativos diminuía.

MEC cedeu a protesto dos professores e prorrogou prazo para candidatos à Bolsa de Contratação

O MEC alargou até às 18h de sexta-feira o prazo para a candidatura dos cerca de 30 mil professores, mas a associação nacional de docentes contratados, que diz que aquele processo representa “um esforço “hercúleo”, “inútil” e “absurdo”, teme que a prorrogação não seja suficiente.

Informem já a insurgência mais aguerrida, a blasfémiadocunha e trolls conexos.

Governo avisa que só rescinde com docentes que não façam falta

Na deriva em busca de reformas educativas desreguladoras, o Chile foi um farol de recurso perante a falência evidente de casos mais próximos.

Ainda recentemente, um lobista distraído o voltava a citar, mas… a realidade é outra. Perante o aumento das desigualdades e o descalabro sócio-educativo chileno, a nova presidente viu-se na necessidade de enfrentar os interesses instalados.

Chile’s President Announces Education Reform Package

Michelle Bachelet’s Plan Calls for More Universities, Increased Funding for Kindergarten.

Referência enviada pelo Luís Braga.

Muito me divertem as piruetas dos politólogos de trazer por casa. Quem defendia a legitimidade revolucionária do povo ucraniano pós-europeu está contra a legitimidade do povo ucraniano pró-russo.

E vice-versa.

Só falta mesmo ir para lá alguém distribuir bandeirinhas da URSS.

O engraçado é por cá darem tudo por adquirido e decidido quando o país com mais falantes de Português ainda está a ver se…

Mudanças nas regras da Língua Portuguesa serão reavaliadas

(…)

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa ganhou novo prazo para a implantação definitiva: foi ampliado até 2016, para que haja mais discussão em torno do tema. Professores e estudantes do Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, que têm o português como língua oficial, têm até julho para debater mudanças e fazer sugestões. As melhores propostas serão selecionadas em setembro, no Seminário Internacional Linguístico-Ortográfico da Língua Portuguesa, que será realizado em Brasília. Após os debates, os governos dos países de Língua Portuguesa terão aproximadamente um ano para determinar o que deve ser simplificado.

O problema é que parece que mais do que a depilação actual, há quem queira mesmo uma completa brazilian wax ao nosso idioma escrito.

… algumas pessoas se dessem ao trabalho de analisar as propostas do novo mayor de Nova York (eleito há poucos meses) para a área da Educação, em especial no que se relaciona com o combate às desigualdades, por exemplo, no acesso ao pré-escolar?

The De Blasio Record on Education

 

… e vai decidindo às cegas e às cabeçadas na parede.

Ministério recua e muda outra vez regras dos exames para o ensino profissional e artístico

Este ano, os estudantes ainda só serão obrigados a fazer o exame nacional de Português, se quiserem candidatar-se ao ensino superior.

Era para acabar, mas agora parece que é para ficar, notando-se que para os operadores privados até já é um óptimo modelo… em especial se… aumentarem progressivamente as contribuições e…  privatizarem a sua gestão?

Há é que saber ler nas entrelinhas… e reparar como aqueles articulistas e comentadores que advogavam o fim de um sistema “salazarista” subitamente se calaram…

Pub16Fev14

Público, 16 de Fevereiro de 2014

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