Novembro 2005


Os ataques ao chamado “paradigma científico moderno”, racionalista, empirista e confiante na possibilidade de uma metateoria, ao longo da segunda metade do século XX, deixaram-nos, na área das Ciências Sociais e Humanas mais do que na das Ciências Físicas e Naturais, perante uma aparente descrença na validade de um conhecimento “objectivo” e uma progressiva multiplicação dos “campos de saber”, em especial a partir da fragmentação das disciplinas mais tradicionais.
A multiplicação de novas disciplinas ou mesmo ciências, organizadas em torno de saberes crescentemente hiper-especializados, dotadas de metodologias tidas como específicas e de um vocabulário cada vez mais distinto do adoptado pelas disciplinas/ciências/campos de saber próximos ou com origens comuns, ultrapassou largamente as ambições iniciais do “pós-modernismo” de crítica às metateorias totalitárias herdadas do cientismo optimista do século XIX.
Com efeito, atingimos um ponto em que, apesar de apelos a uma “abertura das Ciências Sociais”, o que constatamos é, na prática, a defesa acérrima das posições conquistadas pelos protagonistas destes novos campos de saber dotados de novas designações (nomear algo funciona como forma de domínio sobre esse “território”), mais ocupados em definir de forma cada vez mais sofisticada a sua própria identidade, em distinguir-se dos “outros” e em erigir o seu próprio saber naquilo que se pode considerar como um regime de verdade.
Por efeito perverso de alguma cegueira, as velhas metateorias de génese oitocentista foram ultrapassadas por novíssimas “microteorias” tão preocupadas como aquelas em defender a sua “verdade”, em excluir os que a ela não aderem, em combater todos os que são vistos como “adversários” ou mesmo “inimigos” e em não em criar pontos de contacto e de combinação de esforços para obtenção de objectivos total ou parcialmente comuns.
A vertigem de novidade chega ao ponto de, no afã de criar um espaço só “nosso”, as designações dos novos campos de saber se tornarem quase impossíveis e caírem numa sucessão de “pós-“ isto e aquilo como é o caso de autoras que se definem como “pós-modernistas”, “pós-estruturalistas” e “pós-feministas” sem perceberem todas as implicações desta combinação ou daqueles investigadores que optam por ser “pós-estruturalistas”, “pós-marxistas” e “pós-liberais” (Raymond Morrow e Carlos A. Torres na sua obra Teoria Social e Educação).
Nomear um campo de saber, encontrar-lhe uma genealogia híbrida, alinhar algumas considerações conceptuais e metodológicas, criar uma micro-vocabulário de que só os iniciados conheçam a verdadeira chave de acesso, aqui temos a fórmula para encontrar algum sucesso na luta pela criação de um novo “campo de saber” e entrar na liça de negociar as novas “fronteiras disciplinares”.
A esta situação, um pouco por analogia, eu chamaria de nacionalismo disciplinar pois mimetiza de alguma forma o esforço das novas nações na construção de uma identidade própria, reforçando os traços identitários específicos por oposição a tudo o que é considerado exterior – definição de um território, uma linguagem, uma população e, inclusivamente, uma (nova) fé.
Por ironia, os novos “campos de saber” tornaram-se “campos de poder” (um pouco à maneira do conceito de Bourdieu) e, como consequência, as estratégias de afirmação passam pela luta contra aquilo que podemos chamar disciplinas ou “ciências-mãe” das quais se emanciparam e contra as disciplinas ou ciências com as quais apresentam maiores afinidades/fronteiras.
Aliás, de forma mais concreta, a situação presente assimila-se muito ao que Amin Malouf chama identidades mortíferas, ou seja, identidades que se fecham sobre si próprias e procuram criar identidades monolíticas, homogéneas e intolerantes para com a diferença, rejeitando tudo o que conteste o seu dogma. A semelhança para com a afirmação das Nações-Estado ao longo da época contemporânea é menos disparatada do que à primeira observação nos pode parecer: a delimitação de um território de investigação, a construção de uma linguagem própria, a mais ou menos explicíta ou sofisticada elaboração de dogmas (podemos chamar-lhes “conceitos” sem alteração da sua função prática) a que os indivíduos aderem permitem a identificação de uma população – os “nossos” – por oposição aos “outros”, com quem se podem estabelecer diversos níveis de relação – aliança táctica, animosidade latente ou oposição declarada. – no desenvolvimento de estratégias de crescimento e dominação.
Poderão dizer-me que isto não passa de um exagero, de uma distorção da realidade, que nada se passa verdadeiramente assim, mas qualquer revisão minimamente atenta das novas tendências Ciências Sociais e Humanas a nível (inter)nacional permite detectar um evidente esforço pela definição de identidades disciplinares por oposição ao já existente e pelo sublinhar das diferenças em detrimento das características comuns. Por muito quem nos digam que o “paradigma emergente‿ pós-moderno (não no seu sentido estrito mas no sentido mais amplo de “posterior‿ ao moderno) se deve basear no fim das certezas e no diálogo, a verdade é que a ferocidade das reacções às opiniões discordantes revela bem quão longe está qualquer prática de tolerância. E afirmar que esse paradigma se deve constituir-se como “senso comum” pouco explica, podendo deixar-nos receosos quanto ao que isso pode significar em termos práticos.
A instituição de novos “regimes de verdade” ao nível da “microteoria” torna profundamente difícil trabalhar em áreas híbridas, “transfronteiriças” aos campos de saber auto-instituídos, sem que se corra o risco de sofrer fogo cerrado das várias posições entrincheiradas. Que linguagem utilizar ? Que conceitos adoptar ? Que identidade reclamar ? Como conseguir sobreviver num contexto, a que por exemplo António Nóvoa, chama “transgressão disciplinar”?
Concretizemos com uma situação particular, que conheço de perto.
Estudar a evolução da participação feminina no sistema de ensino português ao longo de um determinado período de tempo (o século XX, digamos) implica conjugar conhecimentos, conceitos, metodologias, de diversos campos do saber, desde a História da Educação aos Estudos Feministas, passando por um largo espectro de outras áreas como a História Social, a História das Ideias Políticas, as Sociologias Política, Histórica e da Educação, a Educação Comparada, os Estudos sobre as Mulheres, os Estudos sobre o Género, as questões da Pedagogia da Igualdade e muitos outros “campos científicos” que, embora partilhem objectivos algo concomitantes, não deixam de ter “identidades”, “linguagens” e “verdades” próprias laboriosamente construídas que muitas vezes, mais ou menos subtilmente, implicam posicionamentos e inviabilizam qualquer hipótese de diálogo.
A harmonização dos contributos oriundos de todas estas áreas num conjunto coerente e articulado implica algo que cada vez existe menos, a saber:

· Uma língua franca para comunicação que todos aceitem e não encarem como ameaça à sua identidade específica e particular.
· Uma verdadeira atitude de tolerância e de respeito pela diferença que ultrapasse a sua mera formulação teórica, em especial quando não se aplica apenas aos nossos desejos e interesses.
· Uma reflexão crítica sobre as novas modas que brilham, evitando rápidos alinhamentos identitários como novos micro “regimes de verdade” tão (ou mais) autistas que as velhas metateorias fundadas numa ou outra modalidade de positivismo e que apenas nos vão fechando em celas cada vez menoires e com menos aberturas para o exterior.

Por tudo isto devemos evitar as “identidades mortíferas”, fechadas, monotéticas, de que fala, num contexto político-cultural, Amin Malouf, pois elas são fatais para o diálogo, a tolerância, o intercâmbio de experiências e para construção de identidades plurais, abertas, dialogantes, tolerantes e, consequentemente, vitais para o próprio conhecimento.

Referências Úteis

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ex-aequo “A Construção dos Estudos sobre as Mulheres em Portugal‿, nºs 5 e 6, 2001 e 2001.
 
Becky Francis e Christine Skelton (eds.) – Investigating Gender. Contyemporary perspectives in education, Buckingham/Philadelphia: open University Press, 2001.
 
Linda Gordon – “What’s New in Women’s History‿ in  Feminist Studies/Critical Studies, (Teresa de Laurentis, ed.), Bloomington: Indiana UP, 1986, pp. 20-30.
 
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M. Hammersley e M. Gomm – “Bias in Social Research‿ in Sociological Research Online, vol. 2, no. 1,1997 (http://www.socresonline.org.uk/socresonline/2/1/2.html)
 
Rom Harré – “Social Reality and the Myth of Social Structure‿ in European Journal of Social Theor, volume 5 (1), 2002, PP. 111-123.
 
Mark Jackson – “The Ethical Space of Historiography‿ in Journal of Historical Sociology, volume 14 (4), Dezembro 2001, pp. 467-480.
 
Amin Maalouf – Les Identités meurtrières, Paris: Grasset, 1998.
 
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Raymond Morrow e Carlos Torres – Teoria Social e Educação, Porto: Afrontamento, 1997.
 
António Nóvoa – Histoire & Comparaison, Lisboa: Educa, 1998.
 
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Karl Popper – The Poverty of Historicism, London/New York: Routledge, 2002.
 
Carlos A. Aguirre Rojas – “Rethinking Current Social Sciences: the Case of Historical Discourse in the History of Modernity‿ in Journal of Worls-Systems Research, volume VI (3), Outono/Inverno 2000, pp. 750-766.
 
Boaventura S. Santos – Um Discurso sobre as Ciências, Porto: Afrontamento, 1987.
 
Immanuel Wallerstein – “The End of Certainties in the Social Sciences‿, comunicação ao seminário Conceptos em Ciencias y Humanidades (Mexico City, 1998).
 

Texto produzido originalmente para o site da Associação dos Professores de História, acabou citado ou usado em outros locais, por isso porque não utilizá-lo eu  mesmo? 

«A apresenta uma opinião, enquanto B pensa na que irá injectar
logo que possa, de forma decente. Isto é uma troca no sentido
em que “trocamos? saudações: oferecemos uma fórmula e é-nos
oferecida outra, mas geralmente vamo-nos embora com a nossa.»
 
J. Barzun, The House of Intelect, p. 63.
 
 
Há mais de quatro décadas, Jacques Barzun ocuparia boa parte de um dos capítulos da sua obra The House of Intelect (1959, 22002) lamentando o declínio da conversa como forma privilegiada para o debate de ideias e para o exercício produtivo das nossas capacidades intelectuais. Segundo ele o hábito de conversar intelectualmente desapareceu quase por completo na sociedade ocidental. Em vez de construirmos uma conversa, articulando o nosso raciocínio no dos nossos interlocutores, analisando argumentos, avançando para novas ideias, limitamo-nos a “trocar” ideias”, no sentido comercial do termo. Toma lá a minha opinião, dá cá a tua, e pronto, já está, ficamos à mesma na nossa e tudo fica na mesma.

A razão para esta situação, segundo Barzun, está naquilo a que chama a ascensão das “maneiras? dos “bons modos? que, a coberto de pretensos ideais democráticos, parece querer a todo o custo evitar os problemas e os confrontos, em busca de um consenso que a ninguém desagrade e a todos satisfaça.

Realmente, embora escrito em 1959, isto retrata a actualidade da nossa vida intelectual e académica de forma atrozmente rigorosa. Ninguém está para pensar sobre o que os outros dizem. Apenas se aceita ou recusa, ponto final, sem mais elaboração. E quando as ideias diferem, o mais habitual é uma de duas soluções, ou ignorar as opiniões adversas ou então atacá-las como ofensivas sem discutir os seus argumentos. Agora discutir ideias, analisá-las, aperfeiçoá-las, modificá-las perante os outros, isso é que não porque parece ser sinal de fraqueza das nossas próprias convicções ou crenças.

Esta atitude traduz-se, na prática, numa crescente esterilidade do que passam por ser os “debates? de ideias no nosso país da vida política à académica mas passando por quase todos os aspectos da nossa vida. Os danos que este autismo traz manifestam-se, em minha opinião, em duas situações de igual modo prejudiciais ao desenvolvimento intelectual da nossa sociedade:

           

Por um lado, a cristalização das divisões entre as várias áreas científicas ou disciplinares em que o conhecimento humano se foi fragmentando, particularmente após a crítica pós-moderna ao paradigma herdado do positivismo. Da macro-divisão primordial entre as chamadas ciências físico-naturais, ditas “exactas?, e as ciências sociais e humanas, às subdivisões no interior de cada disciplina/ciência, o conhecimento humano foi ficando cada vez mais compartimentado e foram ficando cada vez mais reduzidas as possibilidades de debate de ideias em virtude dos antagonismos desenvolvidos pela competição entre as cada vez mais especializadas micro-áreas do conhecimento. Apenas a título de exemplo, recuperemos o movimento de progressivo estilhaçamento das Ciências Sociais e Humanas que, da autonomização dos campos próprios da Sociologia, da Antropologia ou mesmo da  Psicologia em relação à Filosofia, à História ou mesmo à Geografia, passou para um mosaico quase infindável de micro-variantes que, mesmo quando ditas transversais e transdisciplinares, só sentem que a sua identidade está construída quando delimitam ferozmente as suas fronteiras e uma linguagem própria em relação aos campos do saber mais próximos. Aqueles que pretendem, sob o manto da construção de um “novo paradigma? ou de um “paradigma emergente?, alcançar uma nova unificação do saber recuperando o “senso comum? como via válida para o conhecimento científico, parecem esquecer que um paradigma não é meramente uma nova teoria concorrente às preexistentes, mas sim o conjunto de teorias que, de uma forma mais ou menos articulada, constituem o corpo de “conhecimento? aceite enquanto tal pela maioria da comunidade científica num dado período. E, neste sentido, estamos actualmente, muito longe de uma paradigma aceite pacificamente pela maioria de uma comunidade científica fragmentada e pouco dialogante.

Por outro lado, a inutilidade de muitos encontros ditos “científicos? entre especialistas de determinadas temáticas em que cada um se apresenta munido das suas opiniões, as quais são expostas com maior ou menor rigor e/ou brilhantismo mas que, em boa verdade, acabam por nunca ser verdadeiramente contraditadas mas meramente trocadas. Se não são apenas sumariamente elogiadas, por obrigação formal da ocasião, são criticadas pelos seus oponentes mas de uma forma que inviabiliza o seu eventual aperfeiçoamento através de um debate sério. Neste caso, as divisões de carácter disciplinar dão lugar à competição entre especialidades e, muito mais grave, às inimizades pessoais que se traduzem num isolamento de grupos de indivíduos com interesses comuns, que lutam por um melhor posicionamento na comunidade intelectual/académica, degladiando-se entre si sem nunca confrontar verdadeiramente as respectivas posições.
No caso da História, que aqui mais nos interessa e ocupa, este movimento para a hiper-especialização começou por cruzar a segmentação cronológica de maior ou menor amplitude com as divisões temáticas de maior (História Social, História Económica, História Política, História Cultural, História Institucional, etc, etc) ou aparente menor ambição (História dos Descobrimentos, História das Mulheres, História das Técnicas, História deste ou daquele conflito militar, entre muitos exemplos possíveis).

Um pouco à semelhança das clivagens políticas, à medida que a fragmentação cresce, maiores são os muros que se levantam contra o exterior, e quanto mais específica a área de estudo (por exemplo, a penetração dos Jesuítas no Tibete entre 1570 e 1580)  maior é a animosidade contra a concorrência próxima (a influência franciscana no Tibete entre 1575 e 1585, continuando no nosso exemplo caricatural). E também à imagem da vida política, acaba tudo por culminar no plano pessoal do relacionamento entre investigadores de uma mesma micro-área de trabalho ou de micro-áreas contíguas.

Nunca encontrei reacções tão negativas e violentas ou atitudes de mais ostensiva ignorância mútua como entre estudiosos de um mesmo tema que, sentindo-se ameaçados, baseiam o seu comportamento em estratégias de uma agressividade mais activa (ataque pessoal sem debate de ideias) ou passiva (manifestação de desconhecimento do trabalho de outrém como forma de evitar a sua discussão).

Esta atomização, por paradoxal que pareça, é reforçada pelos comportamentos de grupo em que os investigadores se envolvem como mecanismo de defesa perante o que acham ser ameaças externas. Funcionando em grupo num sistema que lembra as velhas clientelas romanas, os indivíduos sentem-se mais protegidos e, em simultâneo, mais poderosos, conforme a notoriedade seu(s) do(s) patrono(s). Neste sistema, como parece natural, a protecção é muitas vezes feita à custa de um pouco da nossa liberdade (neste caso, a intelectual) e as heterodoxias são duramente punidas.

A tradução prática deste tipo de comportamentos, para além da trivial e secular pura maledicência mais ou menos dissimulada, encontra-se na forma como funcionam as poucas revistas da especialidade que sobrevivem entre nós (com dificuldades nascidas do público diminuto de fiéis a que se dirigem), nos mecanismos de selecção de colaboradores ou mesmo da redacção de recensões ou de divulgação de projectos de investigação em curso. Como é óbvio, seleccionam-se e divulgam-se apenas os “nossos?, a menos que seja para sumariamente criticar de forma destrutiva os “outros?, para isso servindo o mais ligeiro pretexto ou lapso encontrado. No caso particular das recensões, é curioso como as feitas sobre as obras dos “nossos? são meros resumos encomiásticos do seu conteúdo, quase podendo ter sido feitas pelos próprios autores para colocar na contra-capa do livro a pedido da editora, enquanto as que são feitas sobre os “outros? passam quantas vezes apenas por detectar o pequeno pormenor errado ou a velada acusação de ignorância e incompetência. Apenas para exemplificar, há um ano ou dois, numa revista da especialidade, três bons investigadores com responsabilidades na História da Expansão Portuguesa envolveram-se em dura polémica sobre a qualidade da respectiva competência científica, usando como argumentos fundamentais para a “discussão? questões de favores pessoais concedidos/recebidos, mas raramente confrontando ideias, conceitos ou métodos de trabalho.

Esta agressividade é o reverso da atitude que postula o silêncio sobre a “concorrência? como forma de a tornar invisível. Neste caso, os exemplos seriam ainda mais fáceis de encontrar, desde os casos em que um(a) especialista de determinada área de estudo é convidado a apresentar um ponto da situação da pesquisa realizada à mera leitura das bibliografias de obras tidas como “de referência?.

Em qualquer dos casos, aquilo a que se procura fugir é a um verdadeiro confronto de ideias, ao debate em torno de concepções diferentes sobre um mesmo fenómeno ou assunto e a uma eventual reavaliação das nossas próprias convicções perante o seu confronto com outras alternativas, em resumo, é a fuga exactamente ao que devia constituir o cerne do trabalho intelectual. O contraditório não é necessariamente uma ameaça, mas antes um mecanismo indispensável para o progresso.

Infelizmente, tanto a agressividade crítica não fundamentada como o ignorar ostensivo das vozes discordantes, só agravam o isolamento paroquial a que se têm vindo a votar muitas das áreas de especialização não só da História como do próprio conjunto das Ciências Sociais e Humanas, ainda seduzidas pelo brilho retórico do paradigma pós-moderno e incapazes de utrapassar o seu relativismo, mesmo quando recorrem às mais elaboradas construções teóricas para esconder o vazio do seu conteúdo. Aliás, talvez a decadêncida do debate de ideias seja consequência directa e inevitável desse mesmo vazio.

Está bem.

Também quero um blog só para mim, onde possa tirar da gaveta alguns textos, uns mais esquecidos do que outros, outros menos originais do que uns.

A ver no que dá.