Doutor Em Spin


É nestas alturas que me apetece atirar qualquer tipo de civilidade e cortesia para as cucuias e dizer uma série de disparates e palavrões, porque esta é uma conversa que só engana quem quiser ser mesmo ingénuo.

Leitão Amaro explicou esta manhã, no Parlamento, que o processo de descentralização de competências na Educação não vai resultar em sub-financiamento das autarquias. O governante repetiu que descentralização não é privatização.

O governo já tinha garantido que as câmaras que aceitarem receber novas competências no sector da Educação, no âmbito do processo de descentralização que o Governo tem em curso, iriam receber exactamente o mesmo que é gasto actualmente pelo Ministério da Educação. Mas o Executivo deu uma garantia adicional: no final do primeiro ano, as verbas serão revistas para garantir que as autarquias estão a receber o dinheiro necessário.
 
A garantia foi feita por António Leitão Amaro, secretário de Estado da Administração Local, durante a audição desta manhã na comissão parlamentar de poder local. Além de se garantir, nos contratos que estão a ser celebrados, que “se o Estado gasta 100, os municípios recebem 100”, não se vai dar “esse ponto por fechado na celebração do contrato”.
 
Estão previstas “regras de revisão ao final do primeiro ano, para ter a certeza que os cálculos no início foram bem feitos”, para se “houver alguma dúvida” eles serem “novamente feitos”, relativamente à verba a transferir para financiar o pessoal não docente e outras despesas. “Não só asseguramos a mochila financeira à cabeça como temos cláusulas de revisão e reequilíbrio para que o Estado reponha eventuais diferenças” em situações de emergência, “assegurando a sustentabilidade deste modelo no domínio financeiro”.

O jovem secretário de Estado não passa de um pau mandado para fazer isto e não tem qualquer capacidade para garantir seja o que for para o futuro… pois essas cláusulas de revisão podem servir para tanta coisa que a mim só apetece esbardalhar o vernáculo todo.

Mas por acaso fazem-se novas turmas por causa de mais uns repetentes? Com turmas a 30 cabe de lá tudo um pouco, nem sequer as lâmpadas consomem mais.

A unidade de custo, como nos contratos com os privados, é a turma e essa tem o mesmo valor com 27 ou 29 alunos. Aquilo de multiplicar os 4.000 euros é aritmética preguiçosa para espantar os tios patinhas.

Engana-se quem quer ser enganado.

Qualquer coisa me impediu de fazer publicações acerca dos atrasos no pagamento aos colégios de Educação Especial, apesar de várias notícias acerca do assunto.

Algo me parecia esquisito, algo batia mal na estória de colocar 700 alunos sem aulas, hoje. quando vi o Queiroz e Mello a falar na televisão a esse respeito, as dúvidas adensaram-se.

Na sequência do encontro de hoje da AEEP com o MEC fiquei a perceber melhor alguns contornos da coisa.

Afinal, os atrasos ficaram a dever-se à forma incompetente como o MEC enviou os processos dos contratos para aprovação pelo Tribunal de Contas. A caminho de casa, ouvi na TSF a notícia que está parcialmente reproduzida no site:

A TSF contactou o Tribunal de Contas que diz ter sido «surpreendido nos últimos dias do ano com a entrada de um número elevado de processos, respeitantes ao Ministério da Educação, os quais não vinham instruídos de acordo com a Lei de modo a permitir a sua análise, pelo que foram devolvidos».

O que falta aqui é que pareceu ser acordo entre as partes amigas que esta coisa dos vistos do TdC é uma chatice e que os procedimentos devem ser outros.

Ora… este visto não é novidade. Se houve atrasos, foi porque o MEC assim quis, para ver se dava estrilho e se criavam condições (leia-se, a AEEP aparecer a gritar ai-jesus que não pagam em timing oportuno para assustar os encarregados de educação atingidos) para ver se a obrigatoriedade do visto do TdC deixa de existir e se tudo pode ser resolvido entre os amigos do peito do costume, sem fiscalização qualquer.

Aquilo que me parece evidente é que isto não passou de um daqueles truques acertados de antemão entre os jogadores que refilam muito com as condições do terreno, apesar de terem combinado o resultado num par de telefonemas.

E foi um truque equivalente a uma greve que tomou os alunos mais vulneráveis como reféns, para usar a terminologia tão do agrado dos defensores dos direitos dos “alunos e das famílias”.

Não acredito. Mesmo, mesmo.

Um tipo que se farta do pântano há quase 15 anos quererá a ele voltar, presidenciá-lo, quando está ainda mais fétido?

Nem passa pela ONU, este ou aquele cargo, a teórica hesitação, mas tão só pela necessidade de Costa aquietar as hostes encenando a miragem do candidato desejado e que ninguém contestaria.

Mas terá de ser outro.

(se me enganar, então estou pronto para politólogo comentador, residente e com avença…)

Exp20Dez14

Expresso, 20 de Dezembro de 2014

O Expresso anda há um par de semanas a barafustar por ter uma entrevista ao vivo e a cores com José Sócrates, o recluso nº 44 do Estabelecimento Prisional de Elvas.

Parece-me evidente o interesse comercial de tal iniciativa.

Parece-me evidente que José Sócrates anseia imenso por tal entrevista.

Tenho sérias dúvidas sobre o seu interesse jornalístico, no sentido mais restrito e nobre do termo..

Porque quase todos sabemos o que José Sócrates responderia às 81 questões e, se quiserem, podem dizer que colocaram lá uma câmara oculta e eu escrevo-lhes as 81 respostas com um grau mínimo de diferença em relação ao que seria o original, pelo menos em termos de conteúdo.

Qualquer entrevista a José Sócrates e uma tão longa seria o palco privilegiado para ele desenvolver uma narrativa de que já nos apercebemos do essencial e para se auto-branquear com a ajuda do semanário do regime, amplificado em seguida por spots sucessivos na SIC e SICN e mais unas quantos comentadores (com o residente MST na primeira fila) a acenarem com a cabeça que sim, que tudo está perfeito e o homem mal detido.

Dificilmente seria usada para nos informar sobre algo de essencial.

Isto não significa que ache boa ou má a decisão do juiz ter negado o direito à entrevista ou a do Expresso continuar na sua luta, alegadamente sobre a transparência do processo do recluso nº 44 do E.P.E, (e de mais nenhum, não tendo eu reparado se foram entrevistar longamente aquele recém libertado em Paços de Ferreira que se descobriu não ter sido o autor do homicídio pelo qual foi condenado).

Por mim, podem entrevistá-lo as vezes que quiserem e até com 811 questões.

Acho é que o interesse da entrevista em causa não é propriamente “jornalístico”, em especial quando tanto se criticou o jornalismo de outros órgãos de comunicação social por acesso privilegiado a certas informações. Até porque sabemos bem que nenhuma informação substantiva se saberia de tal forma que Sócrates não consiga colocar cá fora através de diversas “fontes” que o visitam.

Não é bem o mesmo?

Não será.

Mas o que está em causa aqui é o interesse comercial (legítimo, claro!) de tal exclusivo para uma empresa de informação.

E o profundo interesse do recluso de – na falta de uma conferência de imprensa em directo televisivo nos vários canais – ensaiar uma peça rocambolesca como tantas que lhe conhecemos.

Mas não disfarcem isso com outros pretextos.

Nada de essencial mudou pois o objectivo dos municípios será eliminarem as contratações “regulares” para se mostrarem eficientes e ficam, deste modo, com 25% do currículo para entregarem a quem bem entenderem.

Isto não passa de mais um truque, uma manigância, uma cortina de fumo do ministro Maduro, em conivência com este lote de autarcas, prontos para toda a obra.

Ao que parece, o Conselho de Escolas vai, mais do que tardiamente, pronunciar-se hoje sobre esta questão.

Quanto ao mais, penso que as formalidades que o próprio desgoverno apresentou para avançar com esta municipalização educativa não foram cumpridas, mas quase toda a gente assobia para o lado.

Teremos, assim, em 2015, muitas escolas dirigidas à distância, em diversos casos, por malta que mal conseguiu se pirou das escolas, pois não aguentava uma semana de aulas a sério.

Econ15Dez14

Diário Económico, 15 de Dezembro de 2014

 

… conseguisse ver que não ganha nada (ou quase nada, porque há sempre os tais marimba boys armados em falsos rebeldes e que adoravam as festas do engenheiro) em querer herdar a maior parte da herança socrática, que ele ajudou a criar mas que é tempo de perceber que precisa ser relembrada apenas para não ser retomada?

Será que é agora que, por fim, António Costa consegue ir para além de ser a criatura lançada para a frente pelas facções soarista e socrática do PS?

Terá ele a coragem e capacidade para transformar o PS em outra coisa do que tem sido? Em mais do que um parceiro de um futuro PSD de Rui Rio?

… alterando a forma de funcionamento das escolas em nome de uma alegada eficácia?

Municípios não vão poder dispensar ou despedir professores, garante Governo

Na mesma nota, a PGR esclarece ainda que “a magistrada do Ministério Público, Maria José Morgado [directora do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa], em momento algum da participação recebida do Ministério da Justiça é indicada como suspeita”.

… que metade dos professores colocados a semana passada já se foram embora para outras paragens.

Este modelo de colocações, que nunca é por demais explicar que funciona assim à parva por ser descentralizado e permitir que uma pessoa seja colocada dezenas de vezes ou em dias e semanas seguidas e (em nome da liberdade de escolha, hélas!) ir escolhendo as hipóteses menos malignas, é um portento da estupidez de que não se pode responsabilizar apenas um director-geral, as pobres das maquinetas ou o algoritmo que não nasce de geração espontânea.

Este modelo está profundamente errado, mas aproveitar isso para avançar para uma ainda maior desregulação das colocações dos professores contratados (e mais tarde… as próprias entradas nos quadros?) é apenas aprofundar o buraco em que nos enfiaram.

Eu sei que o spin metido nisto até parece funcionar junto dos pobres de espírito e dos convertidos ao disparate, mas é muito importante sublinhar que os sacrificados maiores são os alunos, mesmo se o tempo está bom para um horário cheio de furos à segunda metade dos anos 70 e para um ajustamento maior dos namoros da estação.

Mas, claro… para a semana está tudo resolvido.

Como seria de esperar, os pedidos de decsculpa de alguns ministros destinaram-se apenas a arrefecer o ambiente durante uns dias.

A fase seguinte, o processo de reformulação em curso (prec), caracteriza-se por culpar os informáticos e os computadores por sabotagens e bloqueios.

Agora é na Educação, em que um alegado “bloqueio” fez com que fossem disparados emails em todas as direcções. Ainda estou para perceber como um “bloqueio” em vez de produzir um “bloqueio” (ler a definição aqui) produz o seu oposto…

Claro que estas manobras de spin até podem ser assumidas com toda a sinceridade por personalidades algo messiânicas, que acreditam não ser suas as falhas mais do que evidentemente demonstradas. Quer a ministra da Justiça, quer o ministro da Educação já demonstraram incluir-se neste tipo de perfil.

Portugal tem professores e polícias a mais, OCDE sugere mais cortes na função pública

O que deprime um pouco nestas coisas da OCDE e que a partir das parangonas é possível detectar o responsável pelo estudo.

Os estudos tipo-sócrates/PS eram quase sempre apresentados por Paulo Santiago, os tipo-passos coelho/PSD ficam para Ángel Gurria.

Os “estudos” são quase sempre “encomendas” feitas a um alfaiate que já conhece bem as medidas do pagador.

Apresentam sempre propostas aterradoras, para que o desgoverno apareça com alternativas semi-aterradoras e parecer bonzinho.

Tudo isto é demasiado previsível.

Tudo isto é fado.

Mas precisam de uma legitimação das “bases” que desprezaram nos momentos em que teria sido mais importante consultá-las.

Não sabem o que fazer, apenas o que lhes mandam fazer.

A “onda” está aí… já temos decidido quem é o próximo PM e agora é importante “marcar posições no terreno”, por causa do “pós”. A rua volta a ser uma arma táctica de guerrilha interna, no território para cá do laranjal.

(aviso desde já que desgosto irremediavelmente das maiorias absolutas…)

O mexilhão observa, não vai em reuniões e as manifestações voltaram para o museu de cera de onde saíram durante um par de anos, mas a culpa será sempre dele, faça ou não faça.

O verdadeiro desconforto do SE Casanova não é com os erros na colocação de professores, mas sim com o facto de o terem obrigado a assumir publicamente o dito “desconforto” por um processo que tutela, mas do qual não quer saber e tem raiva a quem sabe.

O desconforto maior foi ter de ver o elogio ao ministro, enquanto para ele ficaram – por agora – as nozes para descascar e o lugar mau na fotografia, ele que está tão habituado ao estilo português suave das palmadinhas nas costas e pisca-piscas.

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, defendeu hoje em Oleiros que o modelo de colocação de professores deve ser o mais descentralizado possível.
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Eu descentralizava era Vexa para a Guiné Equatorial, Libéria… qualquer coisa assim quentinha… por causa do Inverno, claro. Nunca seria por mentir sobre a origem do erro que está a causar a actual confusão. Porque já se esperava a desfaçatez e falta de honestidade intelectual neste assunto.
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Claro que da parte dos directores existe disponibilidade para assumir a responsabilidade, mas… o problema não é quem gere as coisas, é o modelo que permite que se andem a fazer centenas de concursos, uns atrás dos outros.
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Os sindicatos continuam com aquela fixação das reuniões, como se resolvessem alguma coisa, para além de oportunidades para declarações à comunicação social.
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Quanto ao ministro, faz apelos ao PS – descansem, o PS de Costa não fará rupturas nestas matérias, pois concorda com a “descentralização” e mesmo com a municipalização – e garante que ao fim de quatro anos talvez já consiga perceber alguma coisa deste assunto.

… e não como um procedimento para satisfação das necessidades das escolas (o que é diferente de “necessidades dos directores”, que me desculpem os que não abusam dos procedimento de selecção…), nada se conseguirá resolver em termos de estabilidade do trabalho com os alunos.

Vamos tentar ser claros acerca do maior problema que tem estado em causa na Educação vai para 10 anos e que é a tentativa das sucessivas equipas ministeriais estarem ao serviço de uma luta de contornos algo mitológicos contra um fantasma que assombra algumas mentes e que é “o excessivo peso dos sindicatos (leia-se Fenprof) na 5 de Outubro”. Em complemento, foi criado mais um demónio para justificar a luta que é “o atávico corporativismo dos professores”.

A maior parte dos problemas relacionados com os concursos de professores – embora não todos, admito – estão relacionados com o arreganho e pertinácia com que vári@s ministr@s e governos decidiram mostrar a sua coragem política através do que pretenderam ser a humilhação de toda uma classe para atingir, no fundo, uma força sindical considerada demasiado forte e que, nos tempos que correm, é personificada por cronistas preguiçosos no Mário Nogueira, quase se esquecendo que no início era… o suave Paulo Sucena que liderava a organização.

Não é dia ou oportunidade para detalhar aqui os episódios da proto-história deste conflito, um dos quais se pode localizar na não concretização da vinculação prometida ainda em tempos de Guterres e Júlio Pedrosa, com o argumento de que a sua demissão fazia com que o governo apenas pudesse tomar medidas “de gestão”, apesar de tudo já ter sido negociado e decidido antes, enquanto outro momento atravessa os governos de Durão Barroso e Santana Lopes, quando mudam as regras dos concursos, no sentido de uma maior controle central das liberdades locais dos conselhos executivos no pedido de horários (no Expresso de hoje detalham-se algumas peripécias políticas desses tempos).

Mas é dia para relembrar que todos os esforços desenvolvidos, em especial já com Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues em nome da “autonomia das escolas”, da “agilização dos procedimentos” e da “descentralização do concurso”, tudo no sentido de aproximar mais das escolas a escolha dos seus professores, são esforços que visam um outro objectivo não explicitado e que é o de quebrar a força dos sindicatos de professores e, por arrasto (ou vice-versa), para domesticar a classe profissional dos professores, encarada como incómoda, cara e habituada a ter alguma margem de liberdade no exercício da sua profissão. Crato e Casanova não passam de executores atrapalhados dessa agenda política, passada de ministr@ em ministr@ em amigáveis almoços de transição.

Podemos ouvir ou ler, com moderado interesse e razoável atenção, ditos e escritos a assegurar que tudo tem sido feito em prol das escolas e da maior adequação dos procedimentos dos concursos às necessidades locais de cada comunidade educativa.

Mas isso é, em grande parte, uma mentira que se espalha para servir de véu ao resto. E é bem sabido que a missão básica de Maria de Lurdes Rodrigues, tal como delineada por João Freire em estudo que lhe foi pedido mal ela chegou ao cargo, era essa… a de quebrar o alegado poder dos sindicatos de professores, mesmo se estes últimos eram desconsiderados como incapazes de reacções próprias (os zecos não passavam de esparguete, algo com que mesmo muitos “lutadores profissionais” concordam…) e vistos como fáceis de dominar, assim se decepassem as lideranças sindicais.

É bem verdade que alguns sindicatos, a começar pela Fenprof, se puseram a jeito logo ali por 2005-06 e, em certa medida, ajudaram a lixar as coisas, devido à formatação como sempre encararam as “lutas” (quando são vitoriosas, foi a sua condução que o permitiu, mas quando falham é porque os professores não estavam disponíveis para ir mais além…).

Mas não é isso que interessa agora.

O que interessa é destacar que todos os esforços no sentido de destruir um concurso nacional, com regras simples e transparentes, de colocação e mobilidade de professores, atomizando-o em concursos regionais ou locais – e com autarcas do “socialista” Basílio Horta ao “independente” Rui Moreira, passando por outros, em especial da zona a norte de Lisboa, a reclamarem um papel mais activo nesta matéria – se destinam a que o procedimento perca dimensão, os erros se diluam na esfera local e se torne cada vez mais difícil uma mobilização colectiva de toda a classe em torno de objectivos comuns.

Os concursos de colocação de professores, assim como a retórica da “autonomia” e da “liberdade de escolha”, tornaram-se campos da mais pura luta política, da qual estão arredados os interesses dos alunos e das escolas. Mesmo os directores que, por vezes, se deixam seduzir pelos elogios de “pioneirismo” e das “lideranças fortes”, são apenas actores secundários e instrumentais neste processo.

O que se passa este ano nas escolas, a total balbúrdia com mês e meio de ano lectivo, foi consequência de incompetência política e inépcia técnica mas, curiosamente, está ser aproveitado por todos os que continuam a ver um concurso com regras claras de colocação de professores como um obstáculo para dar a entender que foi esse modelo de concurso que falhou.

Nada de mais falacioso (palavra cara a alguns…). O que falhou foi a tentativa de implementar uma atomização do concurso com base em legislação herdada ainda dos tempos dos governos do PS.

Só que há quem continue, de forma consciente a deturpar os factos, a evocar o Mário Nogueira em vão e a adjectivar de forma depreciativa quem lhes lembra que estão distorcer de forma consciente a realidade.

Desde 2009 que não existe qualquer verdadeiro concurso nacional e alargado de colocação de professores.

Existiram vinculações extraordinárias, mobilidades internas, ofertas de escola, bolsas de recrutamento, até mesmo um fingimento de concurso nacional em 2013.

Este ano, aquilo a que assistimos, na esteira das ofertas de escola, foi a uma tentativa de sistematização do concurso para contratação de docentes para escolas com contrato de autonomia ou TEIP.

E este ano tivemos uma nova tenativa para complementar a graduação profissional com base na média de curso e tempo de serviço com subcritérios que cada escola escolhia como sendo mais adequados às suas necessidades.

Já li e ouvi directores a dizer que este método não lhes dá a autonomia que desejavam.

Acredito.

Mas a verdade é que têm sido estas tentativas para subverter o modelo clássico de concurso – apresentado como grau zero de inteligência por algumas sapiências – que têm culminado em fiascos.

Claro que podemos fazer textos, berrar, espernear, etc, etc, etc, clamando contra o centralismno do MEC e defendendo que as contratações deveriam ser feitas de acordo com métodos ad hoc.

E chamar-lhe liberalismo, liberdade, etc, etc, as larachas do costume.

Mas isso é apenas uma forma pouco hábil para tentar esconder a realidade.

O que fracassou foi exactamente a “operacionalização” da tentativa mais forte de desmantelamento de um concurso simples de fazer quando as regras são claras.

Quanto aos directores insatisfeitos com a falta de autonomia… eu compreendo-vos. Também seria mais fácil se fosse eu a escolher a dedo os alunos das minhas turmas.

… insistindo que o problema está na existência concursos centralizados e com regras transparentes, em vez de os atomizar em “ofertas de escola” e com dezenas de “subcritérios”, ajustáveis a cada realidade.

Reconheço a José Manuel Fernandes, a teimosia, desculpem, a persistência na ideia de que todo o mal da Educação se resume, por esta ordem, aos seguintes factores: Mário Nogueira, Fenprof, corporativismo dos professores e concursos “centralizados”.

Desta vez atira sobre os concursos “centralizados” e sobre o “processo concursal” [sic], como se o que se está a passar não resultasse exactamente do inverso: da tentativa de desmantelar uma forma de concurso que funcionava de modo claro, substituindo-o por micro-concursos locais com a aparência de um procedimento centralizado. A primeira tentativa passou-se com a “oferta de escola” que, de tão mau, até este desgoverno achou por bem substituí-lo por esta Bolsa de Contratação de Escola que, como o próprio nome diz, é um procedimento que se baseia em concursos locais, com listas de ordenação por escola/agrupamento.

Eu até acredito que o JMFernandes seja capaz de resolver todos os problemas da Educação, a começar pelos concursos de professores.

Mas, em primeiro lugar é indispensável que perceba do que está a falar e, como se pode ler em diversos parágrafos, ele escreve sobre o que pensa ser a realidade, numa espécie de pensamento mágico, em que há anjos (imaculados) e demónios (quase todos apropriadamente avermelhados), virtudes (liberais) e pecados (corporativos).

Só que… o que se passa decorre exactamente da tentativa de aplicação das virtudes que JMF defende, por parte dos pretensos anjos que ele continua a defender (Crato) e não do contrário. As falhas resultam dos mecanismos criados para desmantelar as velhas listas ordenadas por graduação profissional.

Não perceber isto é estar a perorar completamente ao lado de tudo.

Eu não defendo que o MEC se demita ou seja demitido, muito pelo contrário. Espero que ele leve o calvário até ao fim e que o seu legado fique claramente estabelecido. Como o da outra.

 

Não tendo bastado a tentativa de relativizar os problemas do arranque do ano lectivo com números cozinhados acerca das falhas, percebe-se que a ideia do MEC é ir começando a, de fatia em fatia, esvaziar o número de queixosos por esta enorme palhaçada. Com colocações aqui ou ali, mais ou menos distantes, efeitos a 1 de Setembro, etc, etc, até poderem dizer que são apenas 0,1% os que estão a fazer barulho, assim tentando que a opinião pública se desinteresse do assunto.

Não deixa de ser curioso que o principal esforço para fragmentar o concurso nacional e a lógica tradicional de graduação para efeitos de concurso esteja a culminar neste enorme fiasco.

E há que encobrir isso.

A conversa fiada sobre a maneira do Novo Banco Bom não ir penalizar os contribuintes e tudo o que é mau ser suportado pelos accionistas do velho Banco Mau faz-me lembrar aquele episódio com 20 anos e que fez a fama do Peres Mettello durante anos a fio, quando o Mário Soares disse que só depois de o ouvir é que tinha percebido a forma de financiamento da ponte Vasco da Gama.

Com tudo o que agora sabemos dos encargos das PPP, percebe-se bem que o dito Metello apenas ajudou (de forma voluntária ou ingénua, não sei) a multiplicar uma mensagem spinada e destinada acalmar a malta.

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