É outro estudo que contraria certas narrativas dominantes no nosso debate público sobre Educação. Fica por aqui, embora esteja linkado dois posts abaixo: H_Reis__C_Pereira_CNE_5_dez_2014.
Se é verdade que se considera que a retenção tem efeitos negativos no 1º ciclo (ISCED1), é falso que isso seja verificável para os 2º e 3º ciclos (ISCED 2), verificando-se mesmo um ligeiro efeito positivo a médio prazo.
Como é essa a experiência que tenho, foi bom verificar que essa sensação individual tem fundamentação empírica válida.
Vamos lá a ver uma coisa… eu não defensor dos chumbos por dá cá aquela palha e os primeiros a sabê-lo são os meus alunos.
O que não gosto é de andarem por aí a venderem banha da cobra sobre o assunto, raramente com algum fundamento para além das “evidências” de esplanada, típicas dos especialistas preguiçosos, embora sempre pejados de boas intenções e prontos a acusar quem deles discorda de coisas horríveis.
Dezembro 23, 2014 at 4:06 pm
Embora também me sinta globalmente bastante identificado com o que o estudo afirma, estou longe de ter certezas definitivas sobre o dilema retenção/não retenção.
Em qualquer caso, há algo que eu gostaria que fosse estudado com a máxima profundidade possível, nomeadamente, qual o efeito que teria na generalidade dos alunos o acabar com as retenções (por exemplo no 2º ou no 3º ciclo)? Isto é, como encararia um aluno médio, essencialmente interessado em “safar-se” (e há tantos assim…), o facto de verificar que trabalhando chega a um resultado e não trabalhando chega ao “mesmo” resultado?
Não será este efeito perverso muito pior que o conjunto dos efeitos benéficos que o fim das retenções eventualmente traga?
Dezembro 23, 2014 at 4:09 pm
Tenho notado que a retenção provoca inchaço.
Dezembro 23, 2014 at 4:58 pm
Quando se aborda o “problema da retenção”, quando se concentra a atenção na alegada “cultura da retenção”, parte-se quase invariavelmente de uma perspectiva errada sobre a educação, perspectiva que ameaça tornar-se hegemónica (utilitária/tecnocrática): a preocupação com os resultados, a pressão dos resultados, que vai até à “estigmatização”, deixando de lado o primordial, os processos, o ensino-aprendizagem.
Porque aceitando esta óptica enviesada, são os processos que terão de ser revistos – “aligeirados”, “facilitados”, “regularizados, “normalizados” – para se diminuir as retenções para níveis “aceitáveis” (segundo critérios extrínsecos ao ensino, de oportunidade ou de cariz político-ideológico).
Quando se devia era focar a atenção na qualidade das aprendizagens, dar prioridade efectiva a estas, já que a avaliação* é que deve decorrer daquela: a retenção será então vista “naturalmente”, sem dramas ou estigmas, como resultante do “filtro” da qualidade – só transita quem acompanha/assimila a qualidade dos processos.
*Por comodidade escrevo “avaliação” quando deveria – no sentido que efectivamente lhe é conferido pela nomenklatura eduquesa – escrever “classificação”.
Dezembro 23, 2014 at 5:00 pm
#2
Esta obsessão com a “retenção” pode dar a ideia de uma fixação na fase retentivo-anal, de que falava o velho Freud… 👿
Dezembro 23, 2014 at 5:02 pm
O último parágrafo diz tudo. Para além de estar a negrito, devia estar a vermelho. E com maiúsculas, já agora. A psicologia das almas piedosas que se queixam da “cultura da retenção” é o que deve estar na linha da frente da desconstrução a fazer pelos seus críticos. Aquelas almas queixam-se do que não existe. E nós queixamos de que eles existam. Porque nos infernizam, no melhor dos casos exibindo os seus atestados de pureza e espírito missionário; no pior, acusando-nos, não só de incompetência (a seus olhos, a única explicação concebível para o insucesso) mas de imoralidade (devida à suposta incapacidade de atender ao contexto ou historial do aluno).
Dezembro 23, 2014 at 7:05 pm
#2,
Nada que um talo de couve, untado ou não com azeite, não resolva.
🙂