Estudos da Treta


Preparem-se para, nos próximos dias, serem bombardeados com derivados destes quadros, com declarações entusiasmadas por parte da coligação dos interesses privados instalados no Estado e dos interesses privados à espera das prebendas do Estado.

Estes quadros estão nas páginas 82 e 83 do estudo da Mercer e não apresentam qualquer demonstração da metodologia como foram alcançados, não fazem discriminação quanto ao vínculo dos trabalhadores envolvidos, da sua dimensão, posição na carreira, nada.

E reportam-se, claro, ao ano em que não tinham sido retirados os subsídios.

Mercer2Mercer3Seria ainda interessante que fosse lida com atenção a parte final do relatório, em que se faz publicidade às áreas de intervenção da empresa que fez o estudo. E perceber-se-á que…

… de demolidor para a larga maioria da população, o FMI mandou dizer que acha que em Portugal os ricos fogem ao fisco. Terão feito mais algum estudo gracioso que ofereceram ao governo português sobre um assunto tão inédito e que até ao momento ninguém tinha imaginado?

Relatório do FMI teve “mão” do Governo

(…)

Houve mão do Governo no recente relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) com sugestões para o corte de quatro mil milhões de euros na despesa pública. É o próprio FMI que o confirma, em resposta a questões colocadas pela Renascença.

Página 60 do estudo tipo-FMI:

Public school teachers have remained a relatively privileged group within society in general and within the civil service in particular. The compensation of teacher and other staff comprises about 70 percent of education spending. In 2012, out of 230,000 professional staff in public education, 160,000 are teachers (of which 117,000 are tenured teachers, including over 12,000 in regional or local administrations) (Table 6.1). These permanent teachers earn more than other senior civil servants at the top of their pay scales, and work fewer teaching hours (by earning schedule reduction entitlements). To date, their seniority privileges have not been curbed, and, although there are possibilities for teacher mobility, there is no mechanism to forcefully redeploy permanent teachers from overstaffed schools to schools with shortages of teachers.

Gostava de chamar a atenção para algumas coisas:

  • No quadro 6.1 não está muita da informação que aqui se diz estar, ou então está agrupada ao monte, sem dar para distinguir alhos de bugalhos. Num lado os dados estão divididos de forma canhestra por grau de ensino numa terminologia pouco usual em estudos internacionais sobre Educação, mas em outro (caso do vínculo contratual) aparece tudo misturado. os 117.000 “tenured teachers” estão todos ao molho e fé em Deus que ninguém sabe se são primários, secundários ou terciários. Também o que se afirma sobre 12.000 nas administrações locais e regionais 🙂 ). Mais complicado – porque metodologicamente pouco honesto – é deixar para uma nota de rodapé a explicação que, na verdade, os 160.ooo professores representam menos de 140.000 lugares reais, quando se transforma o sub-emprego docente em horários completos, baixando o número de docentes no ensino não-superior para menos de 120.000. Mas usar o outro número para estabelecer rácios.

FMI1c

Apublica

  • É um absoluto disparate dizer que os professores são os funcionários públicos melhor pagos (repare-se que não é fornecido nenhum quadro comprovativo, pois há diversos grupos como médicos, juízes ou diplomatas que têm remunerações mais altas), não apenas porque nenhum está no topo da escala salarial (não existe nenhum professor no actual 10º escalão), mas porque há carreiras melhor pagas e só a pura ignorância ou desonestidade pode fazer escrever outra coisa. É ainda de uma completa desfaçatez dizer que os professores dos quadros são os que dão menos aulas, quando isso se aplica apenas a uma parte deles e, obviamente, dão mais aulas do que médicos, enfermeiros, juízes e diplomatas (esta foi mesmo só para entrar no espírito de non-sense do documento).

O estudo é mau, senhor secretário de Estado adjunto, é mau. É mau não apenas porque foi encomendado para atingir certos objectivos, mas porque o faz com evidente incompetência.

Vejamos este naco:

FMI7

Embora não seja claro… se os autores reportam o número de alunos dos níveis de ensino “não-terciário”, julgo ser justo pensar que estão a falar de professores dos mesmos níveis de ensino.

Vimos no quadro inserido no post anterior que o MEC indica ter ao seu serviço 128.945 professores. Sejamos generosos. Vamos lá colocar 130.000 para comodidade e redondez do número.

Então temos 1 professor por cada português em idade activa? Portantosssss, shôtôre, deixa cá ver, 130.000 vezes 25 dá a modos que 3.250.000 portugueses em “working age”, ou seja, “idade activa” para os investigadores tipo-FMI.

Só que… raios, raios, raios… não bate certo!

De acordo com os dados oficiais… a população activa em Portugal situa-se nos 5.587.300 individuos. Os dados do censo de 2011 usados pela Pordata davam um pouco menos, mas mesmo assim mais de 5,5 milhões.

Uma diferença irrisória… apenas 2,25 milhões de tugas… um desvio daqueles de fazer inveja a uma PPP… ou obra pública contratada a amigos.

Phosga-se… c’a ganda erro!!!

E pagaram por esta… turd?

Se há coisa deliciosa nestes estudos é a forma como se rendilham os dados e se fazem os seus contornos.

Eu exemplifico com a questão dos rácios alunos/professor, que anda a excitar o Ramiro, mas apenas porque ele tem problemas básicos de enquadramento com a Aritmética.

Diz ele que em Portugal há 8 alunos por professor nos Ensinos Básico e Secundário (vamos lá ver se depois não muda o post e diz que se enganou…) e que é o estudo do FMI que diz isso.

Ora bem, entre FMI e Ramiro, venha Maomé e escolha o toucinho.

No estudo tipo-FMI temos o seguinte quadro:

FMI6

Só que estes números não batem certo com est’outro quadro que aparece um pouquinho antes:

FMI5Então é assim… para o ano usado no 1º quadro (2010), há 1.567.677alunos nos ensinos “primário” e “secundário” (supõe-se que este inclui a partir do 5º ano, mas a terminologia é de curioso e leigo no assunto) e os professores são 144.615, O rácio dá 10,8 e nunca o da ramirice, nem o do estudo tipo-FMI.

O pior é que falam em full-time teaching staff e no total de professores estão, como é óbvio, muitos com horários incompletos…

Mas há dados mais recentes, de 2011, em que – maravilha das maravilhas estatísticas – houve exactamente 140.000 professores, nem um a mais ou menos, coisa linda de morrer. E 1.536.339 alunos. O que dá um rácio de 11 alunos por professor (15,5 no “primário” e 9,4 no “secundário”).

O secretário de Estado adjunto Carlos Moedas pode achar que isto está bem feito.

Mas não está.

Foi feito à pressa, de forma distraída, com as partes a serem coladas conforme a mensagem desejada.

Aliás para 2012 avança-se um número abaixo dos 129.000 professores e para 2013 de 117.000. Mesmo que os alunos tenham diminuído para 1.400.000 (gosto de manter aquela harmonia baseada no nº 14 relativa ao º de docentes em 2011) ficamos com um rácio de 12 alunos por professor.

Ou seja, nada bate certo com nada e nem sequer ainda estamos a falar em substância… apenas na forma de apresentar os dados.

Que estão todos bichados.

Quanto custou ao erário público esta treta?

«Uma coisa é o relatório do FMI, outra coisa é o que se diz que é o relatório do FMI e outra coisa ainda é o que o Governo vai fazer», afirmou Nuno Crato.

E o que diz o relatório?

FMI3

Mas há pior… porque há um falseamento objectivo dos dados disponíveis acerca dos custos por turma,a pagando-se os dados mais recentes, com os ajustamentos resultantes dos cortes salariais pós 2009:

FMI4

A última frase é uma objectiva falsidade, novamente, pois as escolas TEIP recebem financiamentos específicos.

Mas tem um aspecto claro: o modelo GPS é o desejado.

Tamanho do pénis influencia a economia

Um economista finlandês decidiu analisar a correlação entre o tamanho do pénis e o crescimento económico, e uma das conclusões do estudo é que quanto maior o tamanho do órgão sexual masculino menor o crescimento económico.

E o estudo, sendo finlandês, certamente que é supé-qualidade!

Agora, sejai sinceros… não preferem o outro subdesenvolvimento, o da economia? Pobrezinho(a)s, mas alegrinho(a)s!

Mais detalhes aqui.

O problema é que os indianos se reproduzem que se fartam… curtinho, mas agitadinho!

Cansado de constatações da treta. Agora é que o corpo docente está envelhecido. Mas a seguir afirma-se que cada vez há mais contratados.

Portanto, o que está a acontecer é que os quadros estão, na prática fechados e, infelizmente, todos envelhecemos.

Facilitem as aposentações e abram os quadros de escola e agrupamento e verão um rejuvenescimento maior do que uma Primavera Tropical. Nem será preciso emigrar.

Cada vez mais cansado de conversa de chacha.

Como esta:

“O estudo sobre o desfasamento etário dos alunos que frequentam o ensino básico e secundário relativamente à idade ideal dos ciclos e níveis respetivos revela que o sistema continua a não estar preparado para responder às necessidades da população que acolhe, utilizando muitas vezes a repetência como meio de superação de dificuldades. Raramente esta solução resolve os problemas dos jovens implicados, pelo que uma primeira retenção é frequentemente geradora de outras e consequentemente de desmotivação e abandono”, avisa o CNE, que apela para uma “mudança profunda na atitude dos professores e das escolas face ao insucesso dos seus alunos”.

O problema são os professores que devem mudar de atitude. Os alunos nem por isso. Podem continuar a trabalhar para o seu insucesso que a responsabilidade nunca é deles.

Bem… realmente o melhor é emigrar… enquanto o CNE não se libertar da prisão eduquesa é apenas mais do mesmo.

Quando é que produziu um estudo preocupado com a condição profissional e o bem-estar dos docentes? Que me lembre, talvez no século passado…

Relatório do Grupo de Trabalho para a definição do conceito de serviço público de comunicação social

Todo no documento está muito mal escrito e é possidoniamente palavroso, virgulento e horrivelmente pretensioso. Mas o Carlos Vaz Marques conseguiu desbravá-lo e, através do FB, divulgar esta pérola que eu sublinho:

Mas há passagens perfeitamente insuportáveis, feita de um pseudo-discurso conhecedor, um pouco à imagem do coordenador do grupo de trabalho, especialista em tudo e mais alguma coisa, mas com sumo seco:

21. A evolução do meio televisão de meio generalista de massas para meio segmentado, depois para meio de suporte a conteúdos a pedido, e hoje para uma plataforma de distribuição digital, corresponde à transformação dos mecanismos de representação e transporte da informação. A digitalização dos mecanismos de codificação e transporte resultou inevitavelmente numa fragmentação de canais a que se veio juntar em fase posterior uma fragmentação de audiências com que hoje os canais generalistas do passado são confrontados.

E isto ainda está online no site do Governo de Portugal a esta hora (22.20, já tendo eu guardado uma cópia para memória futura), certamente porque se passa uma de duas coisas:

  • Ninguém por quem passou este relatório teve a capacidade para dar com o erro.
  • Está tudo a ver a bola, incluindo o ministro contentinho que encomendou e mandou pagar este estudo.

Devia ser mais simples assim: assumirem de vez que querem que a RTP deixe de competir no mercado publicitário para facilitar a vida aos privados e, pelo caminho, acabar com um serviço público de informação. Só gostava de perceber se foram inspirar-se na BBC ou na PBS, já que são tão anglo-saxónicos.

O problema é que dizer mal do Sócrates era fácil. O pior é ter algo mais do que isso lá dentro. E esse é um dos problemas de, por exemplo, João Duque.