Abandono Escolar


Não arranjam melhores justificações?

Eu vou ler o raio do relatório e depois logo vejo se lá há alguma coisa que vá além destas variações em torno da “eficácia” e “chá com bolinhos”..

Conselho Nacional de Educação defende fim dos chumbos

Órgão consultivo do Ministério da Educação diz que retenção dos alunos sai demasiado cara ao Estado, pode provocar “problemas emocionais” nos alunos e não é eficaz.

De uma coisa eu tenho a certeza… os nexos de causalidade apresentados podem ser perfeitamente revertidos com ganhos de lógica, nomeadamente os que associam a retenção à indisciplina e ao abandono. Não serão a falta de regras de disciplina e o abandono a motivarem, em primeiro lugar, a retenção e não o contrário?

Fizeram o estudo das causas das retenções? Terá sido apenas culpa dos insensíveis professores?

A investigação demonstra que alunos retidos, nomeadamente nos anos iniciais da escolaridade, não melhoram os seus resultados e são mais propensos a uma nova retenção, além da evidente associação entre a retenção e o aumento dos níveis de desmotivação, indisciplina e abandono escolar. Verifica-se igualmente que existe uma maior probabilidade de retenção de alunos com piores condições socioeconómicas, bem como de alunos provenientes de países estrangeiros.

A recomendação é fraquinha, fraquinha e não passa de muita conversa com pouca demonstração, mas eu não esperaria muito mais, confesso, porque sou muito preconceituoso e arcaico na minha mundivisão.

Eu gostava era de apresentar a certos “relatores” o aluno que hoje me comunicou que quer mesmo chumbar no 7º ano para fazer a terceira retenção e assim ter a possibilidade de fazer um vocacional de 2 anos e não ter de passar por exames para concluir o 3º ciclo.

Enquanto o sistema permitir estes truques, deixemo-nos de conversas fiadas sobre “problemas emocionais” e discursos tremendistas deste tipo:

Chumbos são “a situação mais grave do sistema de ensino em Portugal”

O que eu queria era vê-los a dar a volta a este texto em vez de relatarem tretas que já caem de tão velhas. A começar pelo “novo” pai dos pais que cada vez parece tão instrumental quanto o anterior.

Custa muito ver o CNE a render-se aos argumentos mais primários da “eficácia financeira” e dos referidos “problemas emocionais”.

Retrocesso ameaça educação, a maior “vítima” dos cortes

Abandono escolar é preocupação sem rostos nem números

O abandono escolar real é dos fenómenos que a forma oficial de tratar o assunto mais esconde por trás do aparato burocrático.

120 mil crianças sofrem com falta de comida

 

 

 

Absentismo e abandono escolar já são a segunda maior ameaça a menores

Não tem sido por falta de aviso sobre as consequências dramáticas das políticas sociais deste Governo.

Aguarda-se inquérito do MEC sobre mais esta evidência resultante da sua cumplicidade activa com o que se passa, ao retirar capacidade às escolas para fazerem melhor uma das suas funções mais delicadas que é a de funcionar como amortecedor da exclusão social.

Unofficial exclusions leave thousands of vulnerable children without education

Children illegally denied access to schooling as authorities fail to keep track of cases that schools keep off the books.

De: Direção (DREN)

Exmo.(a) Senhor(a)

Diretor(a) / Presidente de CAP

 

Na sequência da publicitação das ”ORIENTAÇÕES PARA A DISTRIBUIÇÃO DE SERVIÇO LETIVO”, de 17.07.2012, envio a V. Exa., em anexo, o modelo a seguir para a comunicação a esta DRE das medidas adotadas.

As medidas  a adotar e que constam do formulário são as constantes do primeiro bloco – identificadas de 1 a 11 – com exceção das medidas 8. e 9., porquanto a sua adoção carece de autorização prévia de membro do governo responsável pela área da educação, devendo ser requeridas de forma autónoma. No caso particular da medida 8. (turmas de ensino profissional) o pedido de autorização não deve ser feito através da plataforma, uma vez que a mesma se destina apenas à inserção de cursos já prévia e devidamente autorizados.

O formato do modelo não deve ser alterado, sem prejuízo de poderem ser acrescentadas as linhas que se entendam necessárias.

Com os melhores cumprimentos,

João Grancho

Diretor Regional

Anexo: Medidas serviço letivo DREN.

A notícia é da 1ª página do Público, mas não tem link.

Escolas perderam 23 mil professores em três anos

Repórter TVI desta noite: «Caderno Escolar»

Números do abandono escolar em Portugal são cerca do dobro da União europeia.

É como certa pobreza envergonhada, existe mas não se declara.

Tudo com a conivência de uma legislação canhestra, mesmo a pedir a violação por todos o(a)s loopholes.

É um tema interessante de ser desenvolvido, até porque tem nacos brilhantes de ficção e muita gente a representar papéis de brilhante dissimulação.

Substituir as provas de recuperação por PIT foi substituir um asno por um jerico. Espera-se, agora, que o CDS se deixe de estratégias da treta.

De boas intenções estamos fartos. Eficácia, precisa-se, sem cedência aos sentimentos de culpabilização. Há que criar nas escolas equipas específicas para tratar destes casos e não é apenas com a boa vontade dos professores multifunções. Há que contratar assistentes sociais e os tais mediadores que a EPIS tem usado com sucesso.

Insucesso escolar. Plano para salvar alunos faltosos foi um fracasso 

PS e CDS exigiram às escolas planos individuais para resgatar os alunos que não vão às aulas. Directores dizem que a medida era bem-intencionada mas não teve qualquer efeito

Pelos vistos colocaram o Teixeira dos Santos a ser entrevistado à mesma hora da transmissão do Braga-Benfica. Acho que nem o pai Josef fez tamanha maldade aos  kameneves e zinovieves.

Inflating Test Scores in Los Angeles?

Natalie* is a smart and witty sophomore at Mission High in San Francisco. Despite her struggles with ulcers and depression, she tries to make it to school on time every day. But since Natalie commutes across town, taking two buses in the process, some days she is late for her 8:10 a.m. history class. Last time she walked into class 10 minutes late, her teacher Ms. Bowman nodded and smiled at her without interrupting the lecture.

If Natalie went to public school in Los Angeles, though, she might have been stopped by a police officer at the bus stop or near the school entrance. The police officer would question her about her tardiness, might search her bag, and would write up a ticket for $240. That’s because until recently, the Los Angeles city and school police would do “sweeps” near schools and give out tickets to students who were late or not in class.

(…)

Natalie’s district, the San Francisco Unified School District (SFUSD), uses six “carrots” or goes through six, school-based counseling and intervention steps before a truant student is referred to the District Attorney’s office. Mission High School principal Eric Guthertz told me that most students who have attendance issues are usually dealing with a crises at home or at school. “There is a lot of room before you get to the police. We meet with the parents and students many times, and we do home visits. In some extreme cases, a police officer might drive us to the house, but we do the talking,” he told me. While school-based counseling and interventions take more time and resources than referring them to police, it works better in the long haul, Guthertz says. And he’s got numbers to prove it. The drop out rate at Mission High went down from 8.8 percent to 1.6 percent last year, after more school-based measures were implemented. SFUSD reports that the attendance among chronically truant students at the elementary school level in San Francisco also went up 33 percent.

… a ministra dos encerramentos. Pim!

Por cá preferem-se os mega-coisos.

Le micro-lycée, une deuxième chance pour les “décrocheurs”

Para além dos países da Europa do Norte, Isabel Alçada nomeou outros países como exemplares no combate ao abandono e insucesso na entrevista que deu à SIC no fim de semana. Especificou, por exemplo, a Austrália e o Canadá.

Sobre a Austrália, só um pequeno detalhe (a medida data de há 2 anos e já é posterior a esta outra, draconiana, de prender os pais que, repetidamente, não assegurassem a ida à escola dos filhos):

On August 27, education minister Julia Gillard tabled legislation enabling welfare recipients’ payments to be denied for up to three months if their children were regularly absent from school.

“The key thing for us is to make the education revolution real for all kids, including those kids where school attendance is a real problem”, Prime Minister Kevin Rudd told the August 25 Daily Telegraph. “Obviously there can’t be an education revolution for kids if they’re not at school, and we are determined to make sure across Australia that they are attending schools properly.”

The proposed scheme will be trialled in eight areas: six Northern Territory communities, the Perth suburb of Cannington and one more metropolitan area that is as yet undecided.

Under the legislation, proving that children are regularly attending school would be a condition for receiving all Centrelink-based payments except the Family Tax Benefit. Instances in which children were absent from school without good reason would result in a 13-week suspension of welfare payments, with reinstated payments and back-pay conditional on “parents [meeting] their responsibilities relating to enrolment and attendance within 13 weeks”, the August 26 Age reported.

E para debate:

Tackling truancy – is cutting welfare payments an effective method?

Dois anos depois, parece que as coisas ainda andam complicadas:

Will tracking truants up attendance?

Por lá, parece que os sindicatos apoiam esta linha dura:

Union backs school truancy crackdown

Se nos transformarmos num arquipélago formado por pequenas ilhas com poucas centenas de habitantes e uma área de 17 km2 somos capazes de chegar ao topo do PISA.

Não há registos de abandono escolar

Os resultados escolares dos 40 alunos da ilha do Corvo estão acima da média da Região. A escola é para estes jovens mais do que um local de ensino, conforme comprova a directora do estabelecimento.

Agora a sério e com o maior dos respeitos: para onde é que um miúdo traquinas poderá fugir das aulas na ilha do Corvo?

A Escola Básica Integrada Mouzinho da Silveira, da ilha do Corvo, tem um taxa de sucesso educativo de 96% e uma taxa de abandono escolar de 0%. Conta com 40 alunos, número que tem vindo a manter-se nos últimos dois anos. “Na área central da prática lectiva e dos resultados escolares, a análise dos diversos elementos estatísticos e dos relatórios permite verificar que os resultados foram globalmente positivos, tanto a nível interno como externo”, afirma Deolinda Estêvão, presidente do Conselho Executivo. A nível externo, prossegue, “os resultados nas PASE (Prova de Avaliação Sumativa Externa) foram satisfatórios em todos os anos lectivos, destacando-se os resultados do primeiro ciclo onde registámos uma evolução muito positiva, comparativamente com os resultados obtidos no ano lectivo 2007/2008.

… como o Estado Novo fez com a prostituição no final dos anos 40 do século XX. Não registando o fenómeno, oficialmente ele não existia.

Portugal garante que consegue reduzir casos de abandono escolar

Portugal está em condições de cumprir as metas de redução de abandono escolar e de aumento de alunos em formação superior que os ministros da Educação europeus estão hoje a definir como elementos centrais da política educativa europeia.

Portugueses no Luxemburgo são os campeões do abandono escolar

Um em cada quatro alunos que abandona a escola secundária no Luxemburgo é português, revela um estudo do Ministério da Educação luxemburguês, acrescentando que no último ano lectivo deixaram os bancos da escola 454 estudantes portugueses.

De acordo com o documento, os alunos portugueses, que representam 19,1 por cento da população estudantil, são os que apresentam a maior taxa de abandono escolar entre os estrangeiros: 23,5 por cento do total de estudantes que abandonam a escola.

Logo a seguir surgem os ex-jugoslavos, com 61 alunos a abandonar a escola (3,2 por cento do total), os franceses com 55 (2,9 por cento do total), os italianos com 54 (2,8 por cento), os belgas com 28 (1,5 por cento), os cabo-verdianos com 25 (1,3 por cento) e os alemães com 15 (0,8 por cento). Entre os luxemburgueses, 1,097 estudantes deixaram a escola no ano lectivo de 2008/2009, representando 56,9 por cento do total.

O I traz hoje uma peça sobre os riscos de abandono e insucesso escolar – por vezes com uma excessiva permeabilidade dos conceitos – com base na acção do projecto EPIS.

Mesmo ao lado, não surgindo na edição online, estão as declarações de Ivone Lima Miranda, coordenadora da Rede de Mediadores para o Sucesso Escolar.

O que nos diz ela sobre a metodologia e prioridades desta intervenção:

Foi criado um conselho científico com antigos governantes ligados à Educação – Roberto Carneiro, Júlio Pedrosa, Marçal Grilo, José Canavarro e ainda professores de universidades públicas que definiram uma estratégia e um alvo de actuação – o 3º ciclo. Isto por ser o ciclo com maior taxa de insucesso escolar e também a fase mais prolongada, o que permitiu testar o modelo durante dois anos.

Ora muito bem. Por uma vez, concordo com o diagnóstico de um conselho de sábios bem mais sábio do que eu. É no 3º ciclo que residem muitos dos problemas mais graves da escolaridade.

Mas o que é que nós temos prometido pelo anterior Governo, com o aval de um CNE presidido então por um destes antigos governantes, sem que nenhum dos outros tenha surgido a questionar?

Alterações ao nível do 2º ciclo, com a sua inclusão num futuro ciclo alargado de seis anos de escolaridade, com argumentos mais do que duvidosos e sem grande fundamentação empírica.

O que nos diz o terreno é que os problemas se agravam a partir do 7º ano. Não é de agora que considero que a solução correcta seria manter os primeiros quatro primeiros anos de escolaridade e depois juntar os actuais 2º e 3º ciclos de escolaridade numa ciclo de 4 ou 5 anos (passando o equivalente ao secundário para 4 anos ou à mesma com 3) que permitiria uma organização curricular mais coerente e uma estruturação dos programas das disciplinas mais adequada e mais distendida, sem repetições desnecessárias ou sobreposições a cada ciclo de escolaridade sem especiais ganhos.

A realidade mais evidente, observada no terreno, é que o 3º ciclo precisa de ser alterado.

Nos gabinetes acha-se que é o 2º ciclo que precisa de desaparecer.

E assim sempre tem sido.

As teorias de laboratório a serem despejadas nas escolas para resolver problemas que não existem ou que não são os prioritários.

Vamos com décadas desta metodologia, base de torrentes legislativas desadequadas, nunca devidamente avaliadas, mas a culpa nunca é dos teorizadores.

Tenhamos simpatia ou não pelo projecto EPIS, concordo com o diagnóstico feito. É pena que, embora servindo aos seus destinatários em 10 concelhos, não possa ser devidamente aproveitado para pensar a sério as mudanças que o nosso sistema de ensino necessita, especialmente em tempos de expansão da escolaridade obrigatória.

Já têm alguns dias e como, no entretanto, não dei pela peça sair, ficam por aqui neste dia de prosas curtas, com parte da introdução explicativa que inclui para justificar a impossibilidade de dizer mais:

Todos os dados sobre insucesso, assiduidade, abandono, são fornecidos ao ME para registo na base de dados MISI@ e tratamento por este organismo.

Portanto, é impossível qualquer entidade independente ter números alternativos, que não sejam ao chamado “olhómetro”, bem falível conforme os contextos em que cada um se insere.

E o ME gere de forma política esses dados, não sabendo nós exactamente como é que é calculado o abandono escolar, pois não é possível verificar dados.

1- Quantas crianças/adolescentes desistem da escola por ano?

Esses números só o ME poderá disponibilizar, em especial os que correspondem ao abandono real dos alunos que apresentam uma baixíssima assiduidade mas que, graças aos mecanismos burocrático-legislativos, permanecem oficialmente dentro do sistema de ensino, mesmo mal frequentando quaisquer aulas. O número de abandonos reais excede em muito os dados oficiais divulgados pelo ME.

2- Qual a média de idades das crianças que desistem?

Dentro da escolaridade básica – que é o que aqui interessa – os abandonos verificar-se-ão principalmente a partir dos 11-12 anos, nos 2º e 3º ciclos do Ensino Básico. Muitas vezes é um abandono temporário ou intermitente, voltando a matricular-se no ano seguinte. Ao contrário do que se afirma muitas vezes, não é o insucesso que leva ao abandono. O que se observa é que as situações de “abandono encoberto” conduzem naturalmente ao insucesso e depois quando é impossível ocultar mais esse abandono, surgem casos de alunos com 3 e 4 repetências na escolaridade básica, que mais não são do que casos de abandono que, por razões de ordem política e burocrática, não se registam como tal.

3- Quantas crianças há que não têm a escolaridade mínima obrigatória?

É um número impossível de calcular.

4- As suas principais razões da desistência?

Normalmente passam pelo modo de vida das suas famílias. Há os casos mais óbvios de pobreza extrema em que as crianças entram de forma precoce e marginal no mercado de trabalho precário, ou de desagregação familiar em que a ausência de um controle parental faz com que essas crianças e jovens possam ausentar-se da escola sem que ninguém as responsabilize e sem que a escola tenha meios para as “ir buscar” e trazê-las, mesmo quando se accionam os mecanismos disponíveis (contactos com as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, por exemplo)

Outro caso é o dos chamados “itinerantes”, ou seja, de famílias com um modo de vida não totalmente sedentário, sem uma residência fixa verdadeiramente permanente, que se deslocam sazonalmente ou em intervalos curtos, de um local para outro, impedindo as crianças de completarem com sucesso os anos lectivos.

Por fim há o caso de emigrantes, que levam os seus filhos para fora do país, sem que seja possível saber se eles irão frequentar efectivamente alguma escola.

5- Ainda são as famílias mais pobres ou de bairros sociais que menos colocam os filhos na escola?

Sim, se considerarmos como “bairros” sociais não apenas aqueles que oficialmente se designam assim, mas mais todas as zonas habitacionais degradadas em termos socio-económicos. Pode acontecer, por exemplo, em zonas rurais, em que não existem propriamente “bairros sociais”.

6- Há casos de crianças que não frequentam a escola de todo, isto é, que nunca foram à escola?

É possível que sim, mas também acredito que esses sejam casos verdadeiramente residuais.

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