Balanços


Quando os governos da “Europa” e muitas das suas oposições aceitam como presidente um tipo que, enquanto governante do seu minúsculo estado, aceitou manobras de evasão fiscal de contribuintes dos outros estado europeus e como autoridade máxima do chamado eurogrupo um outro que nem uma tese de mestrado bolonhesa conseguiu fazer sem polémicas?

A quem disser que isto são epifenómenos eu contraponho que são sinais evidentes do resto do icebergue.

Falou-se em desconfiança. Os especialistas falaram nisso e alguns autarcas queixaram-se que andamos a desconfiar das suas intenções e capacidades. O mais destemido, porque é vice-presidente do partido da Situação, disse mesmo que não aceitava que apoucassem as suas competências.

O que diriam “as escolas” e os professores (sabemos, para eles são meros funcionários sem direito a opinião, mesmo em “escolas de cidadania”) a quem são retiradas quase todas as competências que têm em nome de qualquer coisa que um jovem secretário da Administração Local apareceu a defender, sem ninguém da equipa política do MEC com coragem para dar os ares?

Sim, desconfio, até porque sabemos de muito decisor político local que era professor, nem sempre dos mais motivados para a função, até lhe acenarem com outra coisa.

Muitas coisas boas, incluindo o debate, embora seja um bocado chato um tipo fazer 300 quilómetros para fazer parte do painel final que é espremido porque houve quem falasse demais e depois os representantes das escolas é que tiveram de ficar calados perante os comentários finais, tipo discurso, de alguns presentes sem direito a contraditório

Por exemplo, eu gostaria muito de ter respondido ao excelso senhor presidente da Confap que quando me ouve é como se visse vermelho diante dos olhos ou então faz por não perceber o que eu digo com clareza: o recurso ao argumento das “famílias” é uma mistificação nestas cosas da Educação, pois não passa de uma instrumentalização útil para os políticos usarem contra professores e escolas. Mas há quem se preste ao papel…

… para situações que revelam o fracasso de reformas que alguns procuram emular, a começar pelos ministros que andaram lá por fora e acharam o máximo à escola lá das vizinhanças do campus.

The government’s flagship free schools programme has been dealt a blow with the announcement that a third school is to close after a damning Ofsted report found that leadership, teaching, pupil behaviour and achievement were all “inadequate”, the lowest possible rating.

Durham Free School, which has a Christian ethos and opened in September 2013, has had its funding agreement terminated after being put in special measures by the schools watchdog, Ofsted, after an inspection in November.

O problema adicional é que por cá não existye um organismo como o Ofsted, com poderes efectivos para alguma coisa e não apenas para inspecções a arquivar.

Alguém está a ver o poder político a mandar fechar uma escola privada, sem que os queirozes se arrepelassem todos e viessem para a rua armados em charlies assassinados,, mártires da liberdade na Educação?

 

Agradecendo a referência ao V. Teodoro:

AVOIDING THE SAME OLD MISTAKES – LESSONS FOR REFORM OF 14–19 EDUCATION IN ENGLAND

The Teaching Profession in 2014 (in Charts)

Referência enviada pela A. C.

The Year in Charts

Exposing the charter school lie: Michelle Rhee, Louis C.K. and the year phony education reform revealed its true colors

Charter schools promised new education innovations. Instead, they produced scam after new scam.

O desalento que levou os médicos a sair do país e a não acreditar no regresso

A Educação do meu Umbigo

2014 IN BLOGGING

The year in sex writing

From period fetishists to manservants, these pieces told stories about love and sex that we just couldn’t forget.

Do NY Times:

The Year in Pictures, 2014

… fica aqui em imagem.

PG Pub28Dez14

Público, 28 de Dezembro de 2014

É ler a imprensa e reparar como a Educação desapareceu do radar no que aos balanços dos acontecimentos mais importantes do ano diz respeito.

Isto num ano em que se sucederam inépcias diversas e disparates enormes no sector e em que até na avaliação do Expresso, sempre tão afável com o seu ex-colaborador, a avaliação de Nuno Crato atinge níveis mínimos históricos, suplantando pela negativa todos os seus colegas de desgoverno e olhem que anda por lá muita gente inepta.

Exp27Dez14

Como foi isto possível?

Como é possível que tenha quase morrido para a opinião pública qualquer polémica numa área tutelada por um ministro  incapaz de dominar uma única área específica do seu ministério e desastroso do ponto de vista político, ao ponto de ser Poiares Maduro a assumir parte das suas funções quanto à transferência de competências para as autarquias ou a precisar do aval de um secretário de Estado qualquer para aprovar rescisões de professores?

A resposta encontra-se na quase total rendição de uma classe profissional, cansada e desiludida com insucessos sucessivos, e na incapacidade de agir de forma consequente dos seus representantes institucionais, oscilando entre a irrelevância prática e o desejo de ser parceiros à mesa (FNE) e o ensaio, realização e auto-avaliação de lutas sempre apresentadas como vencidas, apesar das sucessivas derrotas (Fenprof). Das organizações micro-corporativas formadas pelos “dirigentes escolares” restaram umas opiniões individuais e a apatia colectiva.

O ano de 2014 foi o do quase fechamento do círculo iniciado há perto de uma década, apenas faltando o foguetório final reservado para meados de 2015, em pleno período pré-eleitoral.

Nuno Crato foi o mais desastroso ministro da Educação dos últimos 20 anos, pois, ao contrário de Maria de Lurdes Rodrigues, quando assumiu a pasta tinha os professores e a opinião pública do seu lado.

Agora, resta a indiferença, pois já nem animosidade consegue verdadeiramente despertar, ao contrário da iniciadora das políticas que ele aprofundou.

Pelo caminho, perdemos todos e perdeu o país, mas só saberemos disso quando ele estiver bem longe e ao abrigo de qualquer responsabilização. Ele, os seus mandantes e mais os homens dos interesses que deixou vicejar em torno do orçamento do seu ministério.

 

Four Charts That Defined the World in 2014

15 Great Albums You Didn’t Hear in 2014

20 Best Pop Albums of 2014

Apenas 1342 professores rescindiram com o Estado

Há, realmente, mistérios inescrutáveis na contabilidade desta malta…

Em meu entender, a primeira parte foi globalmente demasiado teórica, como acabei por dizer, algo estratosférica, filosófica, utópica, muito ligada à especialidade académica de parte dos intervenientes.

Na segunda parte desceu-se um pouco à Terra, mas era para isso que eu lá estava, de certa forma como o participante ligado ao quotidiano das escolas. Nota-se que não fui brindado com a tolerância que existiu para as longas intervenções da 1ª parte, mas eu também fiz as minhas maldades

Nunca dá para falar tudo o que gostaríamos, pelo que há opções a fazer, em especial quando não se leva um guião para despejar e se vai construindo, ao ouvir os sete intervenientes anteriores, um fio condutor para a intervenção.

Quiçá, um dia, se possa ter um programa com um ou dois teóricos e 6 ou 7 intervenientes com experiência concreta, micro, mesmo que se considerem como “narrativas” o que são apenas realidades.

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Depoimento feito no início da semana passada para uma peça da TVI24 que ainda não tive oportunidade de ver se foi publicada.

  • O maior feito foi ter o actual PM convencido, em 2011, grande parte do país que iríamos iniciar um novo ciclo político, mais virtuoso do que o anterior, não apenas no tipo de opções políticas, evitando o despesismo desnecessário, mas em especial no tipo de procedimentos, esperando-se que fosse possível um governo que soubesse manter-se longe dos conflitos de interesses, da promiscuidade com os interesses económicos e que soubesse falar verdade, sem retoques cosméticos na comunicação com os portugueses. Esperava-se um governo para tempos difíceis, capaz de exigir sacrifícios, mas também de apresentar resultados ao fim de alguns que não se resumissem a indicadores abstractos, sem efeitos positivos na vida das pessoas.
  • O maior de todos os enganos foi o projecto “ir além da troika” que elevou uma série de más decisões a um patamar de quase obsessão, em que os governantes, em particular da área mais próxima do PM e do ministério das Finanças, se mostraram incapazes de uma reavaliação das suas opções, de admitir erros e equívocos com mudanças de políticas e não apenas com vazios e instrumentais declarações de mea culpa. São já múltiplos os casos em que, após se admitirem erros, se insiste nas mesmas soluções e se endossa a culpa para terceiros.
  • Um outro engano, que agravou de forma terrível a capacidade de confiar na classe política, foi a forma como este governo, em múltiplas oportunidades, decidiu ocultar a verdade até aos limites do possível, com a utilização de uma linguagem voluntariamente ambígua, de um vocabulário enganador e com um diverso leque de truques linguísticos destinados a enganar a opinião pública, adiando o conhecimento das realidades. Esta forma de preferir a opacidade à transparência, a habilidade linguística ao relato dos factos conhecidos – já antes ensaiada e muito criticada aos governos anteriores do PS – veio destruir a escassa capacidade dos cidadãos comuns, não directamente envolvidos na vida partidária, no discurso político, ao ponto de ser quase irrelevante que tipo de declarações são feitas, pois se sabe que o seu prazo de validade é curtíssimo e que tudo não passa de “narrativa”, de uma ficção discursiva. A erosão da confiança nos “actores políticas” atingiu um tal grau que quase nenhuma das instituições fundamentais do regime democrático escapa à desconfiança sistemática de uma maioria de cidadãos que até das eleições se vai afastando, ao perceber que apenas narrativas sobre a realidade e não verdadeiras alternativas políticas.
  • Aclarando melhor este último ponto, refiro-me a uma miríade de declarações relacionadas com a apresentação de medidas fiscais (ou outras) em que se utilizam meandros linguísticos para ocultar o que se sabe ser outra coisa. O caso BES/GES é um desses e dos mais recentes, mas da mesma forma podemos falar da famigerada “fiscalidade verde”. Mais para trás, quase todos os orçamentos foram apresentados com um discurso que visava ocultar os aumentos de impostos e de cortes. As reacções aos acórdãos do T. Constitucional… Quase todas as declarações do ministro Pires de Lima sobre a economia e o combate ao desemprego. Declarações dele e de Paulo portas sobre a “economia real” estar a produzir empregos quando são quase todos subsidiados pelo Estado. Quase todas as declarações do ministro Poiares Maduro, seja sobre que assunto for,

Fazem-me lembrar alguns contos de ficção científica de Ph. K. Dick ou o filme Eles Vivem do John Carpenter.

Porque nem pré-programei o post e tenho optado por não levar traquitana tecnológica atrás nas mais recentes saídas.

Ontem à noite, foi em Oliveira do Hospital e correu bastante bem, embora esteja a ser juiz em causa parcialmente própria.

Entre outras coisas, fiquei a perceber melhor os meandros da relação entre os mega-mega-agrupamentos e a crise demográfica do interior.

Não fotografei o repasto preparatório, mas quero aqui agradecer a simpatia e hospitalidade dos colegas Luís Torgal e Carlos Carvalheira, sem desmercer a restante companhia.

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Do debate que se seguiu ficaram várias ideias, a principal das quais talvez seja a de que, em muitos casos, nós colaboramos com os desvarios e acabamos por ser carrascos de nós próprios, seja por inacção ao não combatermos o que nos impões, seja por acção ao – mesmo que numa estratégia defensiva – aderirmos às modas e andarmos a fazer todo o tipo de grelhas coloridas.

 

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