Drogas E Escolas


The use of so-called ‘smart drugs’, bought on the internet, to boost mental performance is rife in British universities. So can we all benefit from ‘having an edge’, or is it just a form of cheating that should be banned?

Resultando de uma troca de mails, vou aqui apresentar o essencial do que declarei, seja ou não politicamente correcto e mais ou menos agradável.

Não faço esta reprodução por ter sido citado de forma menos exacta, mas apenas porque – já agora – fica tudo o que escrevi e que, por acaso, tem confirmação nas declarações de vários dos alunos que aparecem a testemunhar sobre o assunto nas páginas 4 a 7 do Público.

A minha experiência pessoal é mais pacífica em termos de drogas na escola. (…). Com as drogas [alguns alunos] contactam no bairro de origem e para eles não é grande novidade, mas o consumo é escasso.

Nas Secundárias é bem pior.
Há uns anos, numa secundária [que conheço], era feito o tráfico de drogas leves quase à frente de toda a gente.
Um dia, um polícia foi embirrar comigo porque estava com duas rodas do carro em cima do passeio (…) e eu, como estava em dia não, perguntei-lhe se era isso que o preocupava e se não via o que estavam a fazer ali a poucas dezenas de metros na entrada de um prédio.
O rapaz, um pouco “verde”, ia tendo uma apoplexia e quase queria que eu lhe fizesse um relatório, se era tráfico, do quê, etc.
Mandei-o ir ver.
Foi para o lado contrário.

Muitas vezes, este pequeno tráfico é, infelizmente, tolerado pela própria polícia.

(…)

Tudo depende das zonas em que actuem, da atenção que prestem, etc, etc. A crise também diminui os meios para a compra, embora acentuem o estímulo para os furtos a colegas e no pequeno comércio ou mesmo supermercados mais vulneráveis. Há dois anos atrás, numa turma minha, falava-se abertamente do Minipreços que eram mais fáceis de roubar, da posição das câmaras, das que estavam desligadas, etc. Tudo a meia voz, enquanto faziam os trabalhos normais. Miúdos de 12-13 anos.

Quanto a droga… depende muito. O haxixe continua por aí, mas em relação a outros anos (talvez em relação a uma década atrás) parece-me ter-se redireccionado algum consumo para os comprimidos “divertidos”, consumidos mais em ambientes nocturnos.

Há tráfico dentro das escolas e nas imediações?

Dentro das escolas haverá mais estímulo para a compra e consumo fora, em especial nas Secundárias, como disse. O que não quer dizer que os alunos, em especial no turno da tarde, não apareçam visivelmente “pedrados” e eventualmente com pequenas quantidades na sua posse para distribuição pelos amigos, funcionando um como testa de ferro de um grupo para a aquisição.

Nas imediações de muitas escolas, sabe-se perfeitamente onde andam os pequenos dealers, os cafés a visitar, é algo de conhecimento simples para quem é da zona e mesmo para quem venha de fora, com um mínimo de atenção, é possível detectar as movimentações, os rituais, etc.

O meu conhecimento é mais na zona da margem sul e é assim que as coisas se passam em quase todos os concelhos (Moita, Barreiro, Montijo, Almada, Seixal, Setúbal…)

Quem vende são alunos ou estranhos à escola?

Há alunos que já estão envolvidos no pequeno tráfico, outras vezes são antigos alunos com amigos que funcionam como elos de contacto e de aliciamento de novos consumidores.

Em espaços exteriores à escola podem ser elementos “estranhos”, mas nunca completamente estranhos. Há sempre ligação a alguém de dentro da escola que sabe a quem recorrer.

Que tipo de drogas?

De forma impressionista, o velho haxixe e as chamadas drogas recreativas de baixo custo, por vezes compradas a meias entre vários amigos.

Porquê na escola?

Porque é onde existe a maior concentração possível de potenciais consumidores a partir de menor idade. Quando a iniciação acontece na escola, ou através de elementos presentes na escola, é normal que se estenda para consumo nas saídas para outros espaços, à noite, etc.

Há alguma coisa a mudar a este nível – sente que há mais gente a consumir e/ou a vender?

Não me é possível fazer essa avaliação com rigor. Como disse, na minha escola não sinto grande presença ou mesmo quase nenhuma (é mais comum ouvir alunos falar que beberam álcool). O que sei é pelas conversas que tenho com colegas ou pelo que observo em escolas por onde a minha mulher tem passado (quase sempre Secundárias). E depois a minha percepção é atraiçoada pelo facto de, enquanto aluno e apesar de nunca ter consumido (sou um anjinho nesta matéria), achar que na segunda metade dos anos 70 e início dos anos 80 o consumo ser mais generalizado. Só que na altura eu estava no “meio”, era aluno e muitos amigos e conhecidos meus consumiam e alguns morreram na sequência de overdoses, coisa que desconheço ter acontecido nas escolas por onde passei.
É possível que exista é uma maior diversidade de consumos, com a conjugação de vários elementos, das drogas leves às ditas recreativas, passando pelo álcool. Não penso que consumos mais “pesados” (cocaína, heroína, ácido) estejam em crescendo mas, repito, é uma mera dedução com base numa observação limitada.

… do Público porque o link é só para assinantes:

Oferta de haxixe junto das escolas duplicou em cinco anos

Nos recreios, nas casas de banho, nas imediações da escola. O PÚBLICO falou com jovens que vendem drogas aos colegas: “Consomes, começas a vender, alimentas uma rede de amigos.” E divulga dados preliminares de um inquérito do IDT.

Mais logo posso colocar aqui as minhas declarações que, como vai sendo hábito, não são das mais consensuais e fofinhas, porque vejo o que vejo, ouço o que ouço e não gosto de assobiar para o lado.