Domingo, 8 de Agosto, 2010


Ray Charles, Leon Russell e Willie Nelson, A Song For You

Cartoons por Bill Schorr, Dave Granlund, Jeff Koterba, Jimmy Margulies, Joe Heller e Rex Babin.

Olá Paulo,
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Bem sei que o Ensino Especializado da Música não é propriamente a tua área, mas penso que não deverias deixar passar este assunto em branco.
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A questão – para variar -não está ainda completamente esclarecida, mas a confirmar-se trata-se de centenas de alunos JÁ matriculados nos Conservatórios e Escolas de Música Particulares, ao abrigo do Ensino Articulado (gratuito) muito propagandeado pelo ME e que, de acordo com  o Despacho n.º 12522/2010, de 3 de Agosto  que determina o apoio financeiro a conceder no ano lectivo de 2010-2011 pelo Ministério da Educação à frequência dos cursos de iniciação e dos cursos básico e secundário no domínio do ensino artístico especializado da música poderão ver a sua matrícula anulada por falta de financiamento por parte do ministério. Estes alunos foram submetidos a provas de admissão, matricularam-se, foram constituídas turmas de referência nas escolas protocoladas, foram contratados professores… e agora?

A problemática não é fácil de entender, muito menos de explicar, mas vou tentar.
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Este ano lectivo entrou em vigor uma nova portaria, a 691/25 de Junho, que estabeleceu novos curricula para os Cursos Básicos de Música. A carga horária da formação vocacional (a parte da música, leccionada pelos conservatórios) aumentou consideravelmente o que implicou o aumento dos horários dos professores e a necessidade de contratação de mais docentes. Também o financiamento que as escolas recebem foi aumentado. Até aqui tudo bem (se exceptuarmos o facto de a portaria ser de 25 de Junho para entrar em vigor em Setembro…). Refere a dita portaria que a sua aplicação será faseada, tendo este ano sido aplicada aos 5º e 7º anos, no próximo aos 5, 6, 7 e 8º e no seguinte a todo o Básico. Tal originou que, em termos de curriculum e de financiamento, havia dois regimes diferentes em simultâneo.
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Com este despacho, que determina que o valor do financiamento será igual ao do ano transacto, o resultado é que não só os novos alunos não serão financiados como não haverá qualquer compensação pelo facto de a portaria 691 se alargar a mais dois anos de escolaridade implicando isso maior necessidade de horário docente.
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É o descalabro total…
http://obloguebemtemperado.blogspot.com/2010/08/ai-esta-bomba-2010-do-me.html
http://www.publico.pt/Educação/centenas-de-alunos-de-musica-com-matriculas-anuladas_1450429
http://www.publico.pt/Educação/cortes-no-ensino-da-musica-terao-consequencias-graves-na-organizacao-do-ano-lectivo-diz-be_1450082
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Ana Cláudia
www.ccsetubal.blogspot.com

Repito… tudo o que foi escrito há 15-20 anos parece ter sido escrito ontem ou hoje de manhã. Neste caso da autoria nde António Alarcão Ravara (pp. 70-71).

Quais são as apostas fundamentais a realizar para mudar de facto a realidade da sociedade portuguesa?

Primeiro, procurar conhecer profundamente esta realidade portuguesa e os efeitos que tem no sistema educativo. (…)

Mais, é importante sermos capazes de gerar um sistema que antecipe a realidade, pois não é lógico que daqui a 10 anos andemos ainda a ver o que se passava hoje para tomarmos medidas.

(….)

No sistema escolar há que privilegiar os desfavorecidos, há que pensar em políticas que beneficiem os locais em desertificação, os espaços onde há professores normalmente menos qualificados, as camadas da população que mais facilmente abandonam o sistema educativo, etc. Que se privilegiem esses e não aqueles que à partida já são privilegiados. Que não se pense em sistemas de avaliação que só vão garantir sucesso àqueles que têm condições sociais para chegar a esse sucesso. Que se inverta um bocado essa lógica

Não há que lançar sempre para cima da opinião pública este espectro da culpabilização dos professores. É sintomático que o discurso do Ministério, desde o tempo do Eng. Couto dos Santos para cá, seja o de que a qualidade do sistema depende muito dos professores, e que portanto é pedir-lhes mais, exigir-lhes uma maior entrega, uma maior qualidade e mais ética profissional, etc.

De facto, tudo isso é verdade, mas primeiro é preciso pedir muito às famílias portuguesas, exigir muito da sua mentalidade e confrontá-la com a realidade que vivemos. Se calhar, quando se pensa no modelo de escola que queremos é premente que através de um discurso político se convençam os pais e os grupos sociais em geral que os princípios que estão consagrados têm que ir para a frente, para lá das suas resistências.

… são mesmo ateados voluntariamente, por grupos de malta gira que vai de carro ao longo de certas estradas (até ainda de dia e nem sequer em zonas muito remotas), ateando de forma bastante primária fogos por onde passam, desaparecendo em seguida sem rasto, até voltarem a fazer o mesmo passados uns dias. Nas minhas redondezas há trajectos em que não é o primeiro ano em que se nota esta forma engraçada de passar o tempo.

Ministro Rui Pereira diz que fogos nocturnos são prova de falta de cuidado

“Nunca deixei Saramago pedir a nacionalidade espanhola”

É que grande parte dos bascos, catalães e mesmo galegos, dispensariam a deles de bom grado…

Também na Pública:

Fátima Felgueiras “A minha dor, vivi-a muito comigo”

(Consta que as descolorações e as brazillian-wax doem que se fartam… na carteira e na pele, respectivamente)

Na Pública de hoje:

Uma aventura sem chumbos

Teresa saiu da sala de aula. O teste de filosofia correra-lhe bem. Gostava da disciplina, de pensar nas grandes questões levantadas pelos filósofos, que a faziam reflectir sobre a sua própria vida. Ainda recentemente, ao estudar o conceito de “imortalidade da alma” em Platão, ficara a meditar sobre o facto de ter a mesma idade desde 1982, ano da publicação do primeiro livro de Uma Aventura. É que o não envelhecer torna irrelevante a questão da “metempsicose”: a alma dela nunca terá oportunidade de se mudar para outro corpo. Pensava nisso quando Luísa, a sua gémea, saiu também. Vinha ensonada.

– Então, custou muito?

– Um bocadinho. Custa sempre acordar destas sestas. São tão boaaaas! – bocejou.

– Dormiste? Não respondeste a nada? – admirou-se a irmã.

– Ainda tentei a primeira, aquela “de que é que Sócrates foi acusado?”, mas sabes que eu não me interesso por política. Além disso, é acusado de tantas coisas, não ia conseguir acabar a resposta. E é injusto, chatearem-no com o Freeport. É óptimo. Estes brincos foram tão baratos!

– Eu sei. Fui eu que os comprei. Tu deste o teu dinheiro a um nigeriano qualquer que te mandou um e-mail.

– E que me vai dar uma fortuna, assim que conseguir vender o petróleo que o pai dele tem. Vais ver. Quando eu for milionária, nunca mais… – Luísa deixou a frase a meio.

– Nunca mais o quê?

– Ia dizer que nunca mais estudava, mas de qualquer maneira já não preciso. Não se chumba.

– Isso será boa ideia?

– Claro que sim. Na Europa não se chumba. Na Finlândia, por exemplo, como há sol até à meia-noite os alunos passam o dia na praia. E na Suécia a mesma coisa.

– Não me parece que nesses países se faça assim tanta praia…

– Tens razão, que disparate! A Suécia nem tem mar.

– Queres dizer Suíça.

– Suécia, Suíça… É uma questão de pronúncia.

– Mas nós não somos finlandeses. Mais importante: quem nos educa, os nossos pais, não são finlandeses. Eu acho que tu devias estudar.

– Para quê, se passo à mesma? Imagina que vamos para o Porto, cada uma em seu carro. Tu cansas-te a guiar e gastas dinheiro em gasolina. Eu tenho um acidente logo na 2ª circular e vou descansadinha no reboque!

Teresa ficou surpreendida.

– Que cara é essa?

– Sem querer, usaste uma boa metáfora.

– Foi? É porque almocei picanha. Para a próxima ponho a mão à frente – Luísa corou.

Teresa mudou de conversa. Estava mais preocupada com o Chico e com o Pedro.

– Será que eles já estão a seguir o suspeito? Ele saía do trabalho às 16.45. Passam autocarros de 17 em 17 minutos e a viagem demora 44 minutos. Se ele apanhou o das 13.48, a que horas chega a casa? Faz a conta enquanto eu mando um sms ao Pedro.

– Ok – Luísa começou a fazer a conta. Teve de usar os dedos todos.

– Já sei! 0,8!

– 0,8?

– Mais coisa, menos coisa.

– Deixa que eu faço. Manda tu a mensagem. Pergunta “já estão a ver o…”

– “A ver” leva “h”, não é? Verbo haver. Essa até eu sei.

Teresa retirou o telemóvel à irmã. Não podia perder tempo. O suspeito podia cometer outro crime a qualquer momento. E quem ficaria de vigia à noite?

– Em que é estás a pensar? – perguntou Luísa.

– Que logo à noite ninguém pode ficar de vigia. O Pedro e o Chico entregam o trabalho final de História. Nós e o João temos exames…

– Ah, ah, ah! Esqueces-te de que eu sou finlandesa? Não te preocupes, eu e o Caracol ficamos de vigia enquanto vocês estudam.

– A sério? Óptimo!

– Vês como não estudar tem vantagens? Quem é que tinha razão? Mim!

O Umbigo pode vir a ressentir-se destas leituras, mas estou com saudades de tiradas assumidamente gongóricas como «the lieutnant’s eyes blazed like tropical suns».

Pódio da Desertificação

… graças ao Livresco, que continua no mastro da gávea…

Este tem o interesse de ser de José Manuel Canavarro, ex-SEE do PSD, mas aparentemente indisponível por estes tempos:

Quando será que o número crescente de gurus na área da Psicologia e Psiquiatria, em abundante florescimento e exposição mediática desde os anos 90, em grande medida graças à análise e aconselhamento sobre situações relacionadas com os jovens e a vivência escolar, se oferecerá para, em regime de pro bono ou quase (afinal poderia encarar-se como uma espécie de agradecimento…), colaborar num qualquer regime de parceria com escolas em que se verifiquem numerosas situações de risco?

Assim poderíamos saber qual a eficácia de medidas que, no recato do gabinete parecem infalíveis, mas que nem sempre no campo real da kmassificação escolar têm tendência a não funcionar como especial panaceia.

E assim não ficavam sempre os mesmos com a culpa pelos falhanços, incompreensões, desajustamentos e desvinculações cognitivas.