Família


Frapviseu

A Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias aprovou nesta quarta-feira um parecer negativo sobre uma petição contra o programa do ex-primeiro-ministro José Sócrates na RTP. A petição reuniu 138 mil assinaturas online e deu entrada na Assembleia da República a 14 de Janeiro deste ano.

 

A Renascença foi conhecer quatro casos de famílias, onde trabalhar mais uma hora por dia vai obrigar a uma reorganização de toda a rotina e até a mais gastos. A lei das 40 horas semanais entra em vigor no sábado.

Mas os nossos governantes lá percebem a diferença entre mais e melhor, produção e produtividade?

Quanto aos efeitos negativos desta medida em termos sociais e familiares, há sempre aquela facção muito deus-ao-peito-a-favor-das-famílias que deveria raciocinar sobre os valores e como defender em vez de apenas os enunciar com a boca cheia de anda,

Fala quem sabe!

«As famílias vão ficar com menos para viver», alerta CONFAP

A Confederação das Associações de Pais (CONFAP) vai enviar ao Parlamento simulações do impacto que a redução das deduções fiscais em Educação vai ter no rendimento das famílias, que «vão ficar com menos para viver».

«Estamos a pedir simulações a alguns fiscalistas, que na próxima semana vamos enviar aos grupos parlamentares para mostrar que as famílias vão ficar com menos para viver», disse este sábado à agência Lusa o presidente da CONFAP.

Albino Almeida realçou que a redução das deduções fiscais em Educação, uma medida incluída no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), «vai levar a uma diminuição do rendimento das famílias e pôr em causa a continuidade da manutenção dos seus filhos no sistema educativo com a qualidade que devem estar».

«Na prática trata-se de um imposto indirecto que incide sobre as famílias», considerou, realçando que «são as famílias com mais do que um filho que mais preocupam».

Albino Almeida adiantou que a CONFAP já alertou o Ministério da Educação para o facto de que «a Educação é um investimento e não uma despesa».

3. A petição e a vida diária nas escolas

Uma avaliação subjectiva, mas alargada, leva a concluir que a ideia da penalização das famílias pelo absentismo e indisciplina é sentida como muito necessária nas escolas.
Essa ideia é conexa a questões no âmbito da protecção social, nomeadamente o problema da vigilância da atribuição de vários tipos de prestações e do cumprimento de compromissos na área educativa constantes dos acordos (por exemplo, de inserção) que, embora assinados, são muitas vezes ignorados (por enfase excessiva no direito à prestação e desatenção à vinculação aos deveres do acordo).
O contexto difícil (e arriscado) da acção dos técnicos das equipas de acompanhamento leva a que seja complexo fazer o paralelismo entre as faltas às aulas e os actos contra a paz escolar e as consequências dessas faltas e actos no recebimento de prestações do Estado.
Gera-se assim o paradoxo de que muitas prestações sociais são atribuídas no pressuposto de que as crianças do agregado vão à escola mas, quando isso não acontece, e deve presumir-se que é responsabilidade das famílias (que são apoiadas para tal), a prestação social permanece, sem qualquer consequência pelo incumprimento.
Perante este problema, que quem esteja na realidade das escolas com absentismo e abandono crónicos conhece bem e pode descrever, a capacidade de acção da escola é nula e existe descoordenação entre a acção das instituições sociais, por falta clara de lei.
Qualquer contacto com Comissões de Protecção de Crianças e Jovens resultará em narrações de episódios bonitos de esforço e voluntarismo de quem lá trabalha mas isso acontece no quadro da miséria de falta de meios e de um contexto de autoridade difusa em que se acaba a ter de negociar com quem não cumpre as suas obrigações de forma recorrente.
Neste contexto surgiu a petição com uma proposta vaga (para alargar o debate) mas incisiva na sua intencionalidade.
Naturalmente que o tema foi puxado para a questão das prestações sociais mas é óbvio que há problemas de comportamento, indisciplina e violência (às vezes bem difíceis de resolver) em todos os grupos socio-económicos. A acção do Estado deve chegar a todos.

O problema é que a ferramenta para os casos em que o Estado lida com a negligência educativa de famílias que se bastam a si próprias implica um debate ainda mais profundo (por jogar com um âmbito represssivo ainda mais complexo). E nesse contexto surge a questão das multas.

4. A concretização da petição: como fazer?

Deliberadamente não foram apresentadas ideias de concretização das medidas sugeridas, que cabem a um nível que ultrapassa o nível de proposta de cidadãos e que cabe aos decisores políticos (há muitos países em que, numa perspectiva de Direito Comparado, se podem buscar exemplos replicáveis).
O ponto a que o debate chegou justifica alguma concretização adicional. Poderia dar esse contributo, mas a título individual só o farei com a nula autoridade de lutador provinciano da trincheira educativa bem longe dos estados-maiores institucionais.
A vida quotidiana leva a que possa enunciar alguns pontos de desenvolvimento da ideia de responsabilização. E com a consciência de que há questões de liberdade associadas ao problema.
Desde a Grécia Antiga que a presença do poder público na educação da criança é um tema de debate. Esparta, a cidade grega que catalizou a oposição a Atenas, escolheu um modelo em que as crianças eram entregues ao Estado e criadas por este. Atenas, que acaba por ser a avó das Democracias, estruturou-se num modelo de educação familiar oposto a esse.
A presença do Estado na educação e a sua maior interferência na vida das crianças podem trazer riscos para a Liberdade mas a sua ausência total e indeferença podem ser ainda mais perigosam.
Aliás, hoje já estamos muito longe da génese deste debate: a própria existência de um Direito de Família e Menores significa que a Lei e o Estado não se alheiam totalmente da vida das famílias e que esta não é um território sem lei, entregue aos puros devaneios individuais.
Por isso é uma conquista civilizacional que os pais não tenham puros direitos sobre os filhos mas poderes-deveres que devem exercer em seu benefício.
Assim, não pode estar na limitada esfera de escolha individual de um progenitor saber se um filho pode ou não vir à escola, se pode ou não faltar, se pode ou não fumar ou fazer certos consumos perigosos à sua formação e saúde, se pode ou não ter uma alimentação saudável, se se pode pôr em risco ou não, se deve ou não agredir colegas e ser reforçado na atitude quando o faz…. Estes e outros comportamentos existem nas escolas por parte de algumas famílias, e mesmo sendo numericamente limitados, a sua existência tem de ser analisada e combatida.
Um único aluno recorrentemente violento que a família não controle, ou não queira controlar, pode destruir totalmente o clima de uma escola e com efeitos alargados.
E a ideia, infelizmente difundida, de que tudo se resolve com diálogo e negociação, por se tratar de uma escola e tudo se ter de resolver com pedagogia, está errada. Uma esmagadora maioria dos casos de abandono, violência e indisciplina podem ser resolvidos com diálogo e negociação e uma actividade puramente pedagógica, é verdade, mas há casos limite (infelizmente a aumentar) em que, sem algum tipo de sancionamento, dificilmente se invertem as tendências.
E o concreto, dirão os que leem? Resposta simples: o actual Estatuto do aluno e legislação sobre participação dos pais tem larga prosa que consagra os deveres dos encarregados de educação. Se o legislador tentar rever a legislação, prevendo as consequências que surgirão ao caminho de quem não se esforçar por os cumprir, estaremos a avançar.
A maioria desse articulado de deveres é lei escrita sem sanção. Se se debater a transformação desses “deveres” em reais deveres (sancionáveis no incumprimento) e não em intenções desejáveis (que é o que são hoje) progrediremos e sem nos enredarmos em discussões de pormenor cansativas e estéreis.
No discurso ideológico sobre isto esta ideia do sancionamento é muitas vezes associada por grupos, a que até sou próximo nos princípios políticos, a uma atitude fascistóide e anti-libertária. Infelizmente para mim, a urgência do quadro de crianças e jovens que abandonam a escola por negligência dos pais, e até por incitamento destes, provoca uma repugnância maior e suscita a possibilidade de conceber esta perspectiva que não se encararia noutro quadro.

5. A petição e os sindicatos

Muita gente se pronuncia sobre este assunto. Entre os pronunciamentos regista-se o da FENPROF (o sindicato mais representativo) que com um discurso muito semelhante a outros sindicatos enviou para os mails dos sindicalizados uma lista de propostas. Propostas que devem ser consideradas, com as quais será dificil não se concordar com o mérito e cuja listagem é muito semelhante às que surgem no contexto do debate sobre as questões da segurança rodoviária. Imaginem o paralelo e entenderão como o sancionamento tem de aparecer a dada altura da reflexão como consequência lógica.
Entre essas propostas incluem-se muitas ideias que são, no fundo, questões estruturais do sistema (promoção de um amplo debate “Por uma Cultura de Paz e de Não-violência”, a atribuição às Escolas e Agrupamentos de Escolas dos recursos humanos, financeiros e materiais necessários para o desenvolvimento de planos de actividade que concretizem os seus Projectos Educativos, a adopção de medidas preventivas que dêem resposta à situação actual, através da negociação de protocolos de cooperação entre as escolas e os operadores sociais integrados no meio em que a escola se integra ou desenvolvimento de uma efectiva política favorecedora da fruição da actividade cultural e da prática de actividade física e desportiva, enquanto factores de excelência para a convivência social em contexto de vivência colectiva).
A linguagem pode parecer cansativa e redonda mas entenda-se o conteúdo: “a política favorecedora da fruição da actividade cultural e desportiva” quer dizer mais prática desportiva e actividade cultural nas escolas. Depois de entender, toda a gente concorda com isto.
Outras medidas poderão ser úteis, se não se transformarem na criação de uma burocracia associada à violência escolar (Criação de um “Observatório para a Não-violência e para a Convivência Escolar” ou apoio a planos anuais das Escolas e Agrupamentos de Escolas para o desenvolvimento de projectos de promoção da Convivência Escolar).
Outras, faz sentido lembrá-las mas não são novidade (por exemplo, a garantia de apoio jurídico e judicial a todos os profissionais de educação vítimas de violência que existe, na medida em que o MP tem actuado e agredir um professor é um crime agravado face ao código penal).
Outras, até soa estranho que tenha de se falar delas, pelo que significa de constatação do desleixo (Integração nos planos de estudo da formação inicial de docentes da temática da gestão de conflitos e da não-violência e convivência escolares e Definição prioritária dessas matérias nos planos anuais de formação).
Há uma que não se percebe o que está a fazer na listagem porque não é medida de solução e poderá ser dado para o agravamento (Alargamento da obrigatoriedade de frequência à educação pré-escolar e da escolaridade obrigatória ao 12.º ano). Concordo com toda a gente que concorda com o alargamento mas nem todos perceberam ainda o que significará de problemas.
Há outra que é uma generalidade com que, mais uma vez, toda a gente concorda (mas no concreto sabe-se mal o que será): Consagração de uma política de combate à indisciplina e violência escolares, de compromisso, partilhado, que envolva toda a sociedade portuguesa e que favoreça o desenvolvimento da consciência social dos cidadãos perante o problema.
Aliás, esse é o debate. Finalmente, também a FENPROF acaba a concordar com a petição porque entre as medidas enumera: (ponto 8 ) Estabelecimento de regras de co-responsabilização das famílias, dos professores e dos alunos relativamente à convivência, frequência e sucesso escolares e educativo dos alunos. Ora como a responsabilidade implica sancionamento ao incumprimento a concordância no princípio é patente, falta saber como o concretizar.
Assim, o movimento de opinião pública à volta desta questão regista um largo consenso. Além dos peticionários, 2 das principais forças de representação de agentes da comunidade educativa concordam com a ideia de responsabilização e predispõem-se a negociar o assunto. Diluem isso numa retórica mais vasta mas acabam a reconhecer que, no contexto, a proposta da petição faz algum sentido e merece ser discutida.
Senhores deputados, que pensam fazer?

Recuperando aqui um texto do Luís Sottomaior Braga a propósito da petição que lançou e entregou no Parlamento sobre a responsabilização das famílias pelo comportamento dos seus educados, recuperada aqui:

Reflexão sobre responsabilização dos pais e encarregados de educação na escola: sinais de consenso no meio da emoção.

1. A CONFAP e a Petição

A Confap veio apoiar esta semana a ideia de que é preciso responsabilizar os pais que “abandonam os filhos na escola”. Foi assim que as notícias traduziram a ideia e acaba por ser um bom resumo (embora se se ler o comunicado talvez se tenha um entendimento diferente do que resulta dito pelo seu Presidente).
Não tendo uma opinião muito favorável sobre a consistência filosófica da acção do principal dirigente da CONFAP, Albino Almeida, e da sua tendência para cavalgar a onda mediática, não se pode deixar de registar a importância do que disse nas suas declarações e do que apareceu escrito no comunicado da CONFAP, até porque, sendo as famílias fundamentais na comunidade educativa, a mudança de posição de um dos seus representantes traz um novo dado à reflexão.
O tema é sensível e fracturante mas merece um debate alongado e profundo que a actual situação emocional, causada pela morte de uma criança, condiciona. Na verdade, se os problemas que o caso do Tua levanta são muito graves e merecem um rebate geral de consciência, o debate sobre a questão geral deve ser racionalizado, e mais centrado na gestão e quotidiano das escolas do que na emoção colectiva de quem não o viva e muitas vezes, por isso, não o entende.
Há cerca de um ano a delicadeza de alguns amigos fez com que um texto que escrevi tivesse tido a sorte de ser transformado numa petição pública de grande divulgação sobre esta questão. Mas esse texto começou por ser uma reflexão individual de um professor (que se assume de esquerda e de ideologia socialista, embora não de partido) sobre um dia duro na difícil tarefa de educar crianças e jovens por contraponto a modelos educativos familiares que deseducam e desresponsabilizam.
Essa petição recolheu mais de 17 mil assinaturas e foi apreciada no Parlamento.
Na sua essência era um texto concreto e pragmático, curto para ser lido, generalista para suscitar consenso, mas objectivo para ter efeito. O que pedíamos era simples: medidas concretas de mudança na legislação do Estatuto do Aluno e legislação conexa, para responsabilizar os pais que não liguem e não reajam aos actos de violência e indisciplina dos filhos e para aqueles que promovam ou tolerem o seu absentismo e abandono.

2. O Parlamento e a petição

A petição não teve qualquer consequência prática (passado um ano) e recentemente, face a isso, escrevi a todos os deputados da Comissão de Educação e à Senhora Ministra da Educação a lembrar o seu conteúdo. Obtive uma resposta muito positiva do Gabinete da Senhora Ministra mas que, e correctamente, remeteu para o Parlamento (o Estatuto do Aluno é uma Lei produzida por este e que, por afectar matéria de Direitos fundamentais, está no âmbito da sua reserva de Lei).
Como os primeiros peticionários disseram na altura, na Comissão de Educação, o texto era uma visão da trincheira educativa e, talvez por isso, difícil de explicar e aceitar. Possui a natureza polémica de conjugar as ideias, criadas de princípios de vida e acção profissional baseados na solidariedade e na consciência social, com a visão pragmática e operativa que se obtém pela luta diária nessa trincheira.
Ao longo do processo de debate da petição, várias vezes surgiram acusações de reaccionarismo e primarismo e outras de quem, às vezes distante da realidade, tem uma visão de princípio contra a sanção e penalização dos pais e encarregados de educação negligentes.
O teor da petição não defende a repressão pura e simples mas o dia-a-dia da trincheira educativa leva a concluir que não se pode continuar na ambiência utópica (bonita, mas desligada do contexto prático) de que voluntariamente se vai fazer que agrade e se adira, sem mais, ao que se recusa e até se agride. A ideia da responsabilização operativa e concreta dos pais e encarregados de educação pela violência e indisciplina é naturalmente polémica e eventualmente a sua implementação implica rupturas que gerarão debates árduos (e que será bom que sejam mesmo árduos para serem eficazes).

(Continua…)

Pelo menos não é coisa que se resolva, em regra, com uma ou duas gerações. É um processo gradual, cumulatico e muito tem acelerado a História entre nós neste aspecto. Mas o atraso era muito, a inércia e a imensa e a igualdade de oportunidades um mito piedoso que se alimenta em relação à Educação mas se esboroa quando se chega ao mercado de trabalho. Onde não basta a própria qualificação académica, mas a rede de contactos pessoais e familiares. E essa não se constrói à base de facilitismo na avaliação e Novas Oportunidades.

Portugal entre os piores. Educação dos pais limita salário dos filhos

Ascensão social é difícil em Portugal. Educação não chega para reduzir fosso.

O fosso entre os salários das pessoas com pai licenciado e aquelas cujo pai cumpriu o 9.o ano de escolaridade é mais alto em Portugal do que em qualquer outro país da Organização para a Cooperação Económica (OCDE), mostra um estudo comparativo sobre mobilidade social publicado pela organização sediada em Paris. Apesar do crescimento económico nas últimas três décadas ter aberto novas oportunidades de ascensão social para milhares de portugueses, a mobilidade social relativa continua mais baixa do que noutros países desenvolvidos: Portugal é um dos países da OCDE onde a educação e o contexto económico dos pais mais influência tem no salário ganho pelos filhos.

* – A confirmar. Se confirmarem, é adequado pensar-se que será em conjunto.

Artigo publicado no Diário do Minho de ontem:

A família é uma grande solução para os problemas actuais da escola

A Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) propôs o alargamento dos horários de permanência dos alunos na escola, entrando “ao raiar da aurora” e saindo no crepúsculo do dia, querendo entregar mais esta tarefa às instituições escolares, afastando, cada vez mais, as crianças dos seus ideais laços afectivos.

Daniel Sampaio, num artigo que escreveu no jornal “O Público”, refere que não consegue conceber “um desenvolvimento da personalidade sem um conjunto de identificações com figuras de referência, nos diversos territórios onde os mais novos se movem (…) não estaremos a remediar à pressa um mal-estar civilizacional, pedindo aos professores (mais uma vez…) que substituam a família?” O mesmo autor compreende a preocupação de alguns progenitores que trabalham o dia inteiro, preferindo deixar as crianças num local de maior confiança, mas é de acordo que se tentem outras soluções.

A escola não pode fazer mais. O professor, além das tarefas burocráticas, lecciona, educa e, em muitos casos, é o principal promotor de regras, querendo o bem-estar dos seus alunos, pretendendo dar-lhes uma formação o mais completa possível. Com todas essas horas na escola, onde está o papel da família? Criem-se condições para que os filhos possam estar algum tempo com os seus pais! Não façam da escola um autêntico “armazém”, fazendo com que as crianças a repudiem, com já está a acontecer! Haja equilíbrio e ponderação e não exageremos! A vida em família é muitíssimo importante, sendo o convívio, a interiorização de regras assimiladas, com o diálogo e o bom exemplo dos progenitores, fundamentais. A escola não pode substituir o papel da família, exceptuando-se alguns casos anómalos que poderão ter uma atenção especial da parte dos professores, como já vem acontecendo, mas haja moderação e arranjemos algum tempo para estarmos com os nossos filhos.

A indisciplina, o absentismo e o abandono escolar só poderão ter alguma solução com a responsabilização da família. Temos o exemplo de muitos alunos (ainda os há, felizmente) educados, estudiosos, responsáveis, respeitadores que chegam à escola com regras oriundas do seu seio familiar, sendo autênticos tesouros que se valorizam, sempre mais, com os diversos agentes educativos a convergirem para a sua verdadeira formação.

Uma petição, há dias na Internet, (www.peticao.com.pt/responsabilizacao) com o objectivo de “incitar a Assembleia da República a legislar no sentido de se criar mecanismos administrativos e judiciais, desburocratizados, efectivos e atempados, de responsabilização dos pais e encarregados de educação em casos de indisciplina escolar, absentismo e abandono” é uma óptima iniciativa para começarmos a pôr travão a tão grandes pesadelos que se vivem hoje nas escolas, sobretudo no desrespeito pelas regras escolares e falta de autoridade dos professores. Os nossos políticos têm que ser sensibilizados para essa questão geradora de grandes abusos em todo o ambiente escolar. Quando é que, noutros tempos, havia violência contra professores ou contra qualquer interveniente no processo educativo? De quem é a culpa? É urgente acabar com isso, tomando medidas capazes, legislando para o efeito e sem benevolência (nos casos de indisciplina, violência… é evidente!) pois sem disciplina, sem educação, sem autoridade dos professores, sem a exigência, sem ordem nas salas, sem gosto pelo estudo e pela escola não se vai a lado nenhum e os pais são a peça fundamental para que esta situação se inverta.

Quantas pessoas ainda hoje recordam aquele tempo em que a exigência e a autoridade dos professores eram factores preponderantes. Ainda, hoje, muitos dos que levaram bofetadas e até reguadas, porque eram malandros, comovem-se ao reencontrarem aquele professor que foi capaz de fazer deles verdadeiros cidadãos, caso contrário entrariam no mundo da ruína. Convençam-se, de uma vez por todas, é preciso tomar medidas para evitarmos uma situação caótica, cada vez mais acentuada, difícil de ser controlada. Os nossos políticos devem legislar e não é com a escola a tempo inteiro, em exagero, e com tanto facilitismo que o problema é solucionado.

Salvador de Sousa
(Professor da Escola Monsenhor Elísio de Araújo – Pico de Regalados – Vila Verde)

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Pública, 15 de Fevereiro de 2009

Pois, o problema passa por percebermos o que queremos exactamente da escola… e já agora que modelo de sociedade queremos construir. Por enquanto há quem pareça ter optado pelo pseudo-modernaço por fora e terceiro mundista logo atrás do vidro da montra.

Even middle-class children are suffering from neglect


Rachel Johnson says that working mothers, divorce, Polish nannies and an obsession with extra-curricular activities mean that our children are seeingless of their parents than at any time in the last 100 years

And when did you last see your children? Before you both left at the crack for the office? When they were already in bed? Or do you only see them — let’s be brutally realistic here, given our divorce rate — at alternate weekends?
So we don’t need to ask any more who tucks them up at night, takes them to school, listens to their Homeric summaries of Harry Potter books, buys them Start-rites, takes them to the dentist, finds out they’re upset, do we?

E quem discorda deste estado de coisas é porque é conservador, atávico, não percebe o progresso, etc, etc. Por cá, algumas «famílias» em vez de reivindicarem melhores condições laborais exigem mais AEC para a sua prole, para manter a criançada o mais tempo fora de casa que é possível. Em contrapartida, quem quer regressar a casa mais cedo pelas razões contrárias cada vez tem maiores dificuldades.

Este volume decorre da realização em Novembro de 2007 de uma Conferência Internacional na Fundação Calouste Gulbenkian dedicada ao tema Educação, Inovação e Desenvolvimento.

Foram algus e doutos os participantes reunidos sob os auspícios do administrador da F.C.G. Marçal Grilo que tem uma intervenção final na conferência e no volume com partes perfeitamente desnecessárias contra a presença de professores no C.N.E. (as quais talvez até ache que o próprio já não repetiria hoje).

Em quase todas as intervenções temos muita inovação para cá, very inovation para lá. Algumas coisas interessantes, outras meras redundâncias.

De qualquer modo, há nacos interessantes como este que transcrevo da responsabilidade de Júlio Pedrosa, presidente do C.N.E. e que destaca um aspecto muito interessante que devemos ter sempre em conta, em especial todos os que se preocupam com a problemática relação Família-Educação-Sucesso.

Permitam-me trazer aquilo que o último relatório PISA, daquele célebre programa de avaliação das competências das crianças com quinze anos nos diz. Normalmente, centramos a nossa atenção nos resultados das nossas crianças e não discutimos os factores que estão por detrás desses resultados.

Curiosamente, esse relatório de 2004 faz uma análise cuidada dos factores, dos factores ligados às próprias crianças, dos factores ligados aos professores, dos factores ligados à escola, dos factores ligados aos stakeholders, dos factores ligados ao investimento e dos factores ligados á família.

Eu permitia-me trazer a família para a discussão, porque em Portugal estamos numa situação em que três dos factores ligados á família merecem discussão e análise.

Primeiro factor: a heterogeneidade socioeconómica das famílias tem uma relação directa com os fracos resultados que Portugal apresenta. O nosso país está no grupo de quatro países – Portugal, a Turquia, o México e a Tunísia – em que a heterogeneidade socioeconómica das famílias é maior.

O segundo factor ligado às famílias tem a ver com o seu nível educativo. O patamar, a partir do qual há normalmente uma correlação positiva entre escolarização dos pais e sucesso escolar dos filhos, são os doze anos de escolaridade. Ora, 71% da população portuguesa tem menos de nove anos de escolaridade, segundo os dados do censo de 2001, e 60% tem menos de sete anos de escolaridade. Estes dados dão-nos uma perspectiva elucidativa do nível médio educativo das famílias das nossas crianças.

O terceiro factor ligado ás famílias tem a ver com a frequência e a natureza das conversas em casa, entre as famílias e as crianças. Quanto maior é o nível cultural das famílias maior a corelação com o sucesso escolar, se houver diálogo na família. (pp. 65-66)

Analisar estas evidências e, depois, avançadas duas centenas de páginas, ser obrigado a ler que a única diferença entre Portugal e a Finlândia está na organização e na atitude perante as instituições (Marçal Grilo, p. 276-277) realmente dá uma certa vontade de gritar contra os lugares-comuns.

Nem anjos inocentes, nem geração rasca

(…)
Doses cavalares de mimo, desaparecimentos de Maddies e problemas de consciência de pais ausentes compõem uma fórmula de tal forma explosiva que as criancinhas se transformam em flores de jarra às quais parece mal tocar até com um dedo. O meu pai contou-me no outro dia que em miúdo levou um tabefe porque ao cumprimentar um adulto o tratou por “você” em vez de “senhor”. Não é a este tempo que queremos voltar. Mas é preciso encontrar o equilíbrio entre distribuir sopapos por faltas de cortesia e não poder puxar uma criança para um canto sem se ser ameaçado com a polícia. Já é hora de acabar com o mito do bom rebelde. As crianças não são seres angélicos que o mundo corrompe. São bicharocos nem sempre encantadores, muitas vezes cruéis, que têm de ser educados para a vida e para se comportarem devidamente em sociedade. Alguém se esqueceu de fazer esse trabalho com aquela miúda do Porto, dez anos atrás. Tão simples – ou tão complicado – quanto isso.

Carolina Michaëlis: Para Onde Vamos?!…

(…)
Não é preciso muito para percebermos que o que se passou na Escola Carolina Michaëlis é extremamente grave. E o pior é que todos temos a noção de que, como outros professores entretanto já confirmaram, este não é um acontecimento tão isolado assim. Nem sequer me estou a referir aos casos, de que com alguma frequência ouvimos falar, de actos que ocorrem em escolas implantadas em zonas consideradas mais problemáticas, perpetrados por estudantes que as frequentam. Até porque essas escolas, fruto da sua natureza, são, tanto quanto sei, objecto de uma maior vigilância e protecção em relação a um estabelecimento de ensino dito “normal”. Não.

O problema, do meu ponto de vista, é estrutural: creio que hoje se terá perdido, em grande parte, a noção de que, a seguir à instituição “família”, as instituições “escola” e “professor” são as mais importantes na construção de uma sociedade desenvolvida, equilibrada e onde o respeito, a consideração e a educação sejam, de facto, valores colocados em prática. Os professores, seja no Ensino Básico, Secundário ou Universitário, são alguém que, tal como os pais, nos prepara para a vida, nos confere ensinamentos e práticas essenciais – cabendo, portanto, aos pais, a tarefa de incutir nos filhos o respeito que devem a um professor.
(…)

Há uns tempos li num perfil de Miguel Frasquilho no jornal Sol, pessoa da minha geração, que relaxava a ouvir Céline Dion.
Pronto, este texto redime-o um pouco de tal pecado quase capital… porque os gostos existem para serem discutidos, ao contrário do outro lugar-comum politicamente correcto.

Pais estão de acordo com ideia do ministério

O alargamento da “escola a tempo inteiro” ao 2.º ciclo, um objectivo que o Ministério da Educação pretende implementar de forma faseada, vai traduzir-se num aumento radical no número de horas que os estudantes vão passar nos estabelecimentos de ensino ou em actividades, como as visitas de estudo, que estes irão organizar.

Actualmente, um estudante do 6.º ano com um horário normal passa cerca de 39 horas semanais na escola, hora de almoço incluída. No futuro, o volume deverá subir até às 55 horas semanais. Um acréscimo de 16 horas por semana que se fica a dever à disseminação de actividades de enriquecimento curricular (AEC) pela segunda parte do dia e à promessa de que, após o dia de aulas, das 08.30 às 17.30, a escola poderá assegurar o “apoio à família” por mais duas horas, tal como sucede no 1.º ciclo.

Para os mais distraídos, isto é apenas a gravilha onde irá assentar o alcatrão da desregulação completa das leis laborais.

E a justificação será que o Estado até lhes guarda as crianças.

O mais estranho é que há pessoas inteligentes (claro que não falo de alguns porta-vozes emplumados das “famílias”) que acreditam que este é o caminho certo, de completa alienação das estruturas familiares, já de si cada vez mais ténues.

E estranho ainda mais que alguns críticos dos regimes totalitários não vejam aqui nada de preocupante.

O autor e a obra desta citação.

Para o homem individual a família é mais importante que o Estado. A humanidade aceita o indivíduo e o indivíduo aceita a família que é o seu berço, a sua origem e a sua protecção social. A humanidade é de facto constituída pelo indivíduo e pela família e não pelo Estado. O Estado é um sistema económico e político artificial, por vezes um sistema militar, com o qual a humanidade nada tem a ver nem possui qualquer relação.

A família é exactamente como uma planta, composta por ramos, folhas e botões. Adaptar a paisagem natural ou transformá-la em jardins ou parques é um processo artificial que nada tem a ver com a verdadeira natureza das plantas. Também factores políticos, económicos ou militares têm transformado grupos de famílias em Estados que nada têm a ver com a humanidade. Qualquer posição, condição ou medida conducente à dispersão ou ao enfraquecimento da família são desumanas e antinaturais.

Atenção, nada de ceder ao óbvio, porque isto é onde o alfa e o ómega se encontram. A quem acertar não sei se posso oferecer um exemplar, porque me parece que só tenho este.