Pelo menos não é coisa que se resolva, em regra, com uma ou duas gerações. É um processo gradual, cumulatico e muito tem acelerado a História entre nós neste aspecto. Mas o atraso era muito, a inércia e a imensa e a igualdade de oportunidades um mito piedoso que se alimenta em relação à Educação mas se esboroa quando se chega ao mercado de trabalho. Onde não basta a própria qualificação académica, mas a rede de contactos pessoais e familiares. E essa não se constrói à base de facilitismo na avaliação e Novas Oportunidades.
Portugal entre os piores. Educação dos pais limita salário dos filhos
Ascensão social é difícil em Portugal. Educação não chega para reduzir fosso.
O fosso entre os salários das pessoas com pai licenciado e aquelas cujo pai cumpriu o 9.o ano de escolaridade é mais alto em Portugal do que em qualquer outro país da Organização para a Cooperação Económica (OCDE), mostra um estudo comparativo sobre mobilidade social publicado pela organização sediada em Paris. Apesar do crescimento económico nas últimas três décadas ter aberto novas oportunidades de ascensão social para milhares de portugueses, a mobilidade social relativa continua mais baixa do que noutros países desenvolvidos: Portugal é um dos países da OCDE onde a educação e o contexto económico dos pais mais influência tem no salário ganho pelos filhos.
Março 1, 2010 at 10:11 pm
O problema é a solução apontada para ultrapassar essa situação.
Cheira-me a estudo encomendado.
Março 1, 2010 at 10:21 pm
Vejamos os filhos (genros, etc.) dos políticos… sampaio, constâncio, cavaco, soares, etc… Já para não falar de penedos & sucateiros lda…
~Penso preferível não dizer mais nada.
Março 1, 2010 at 10:22 pm
Não quero ceder à tentação de pensar que a escola pode resolver as desigualdades sociais. Isso implicaria dar-lhe um poder que a tornaria numa perigosa fonte de repressão e muito apetecível para os amáveis lideres.
As desigualdades não vêm só do deficit de conhecimento. Portugal e os tigres asiáticos são bem exemplo disso. Mais do que o conhecimento, continua a estar na base do poder a força bruta ou a ausência de escrúpulos.
Março 1, 2010 at 10:22 pm
Volta Pierre Bordieu que estás perdoado…
Março 1, 2010 at 10:24 pm
Mentira, nós é que somos incompetentes e adoramos dar tiros nos pés complicando o que é simples. Ganhamos o salário mínimo europeu e adoramos. Mal empregado 25 de Abril.
Março 1, 2010 at 10:26 pm
Pois mas num inquérito feito vai para um ano os pais portugueses eram os únicos a responder que não queriam ficar mais tempo com os filhos…Curiosos..eu já ponho aqui o texto…
Março 1, 2010 at 10:31 pm
Porque será?
http://www.publico.pt/Sociedade/portugueses-estao-entre-os-europeus-que-mais-desconfiam-do-proximo-revela-inquerito_1351401
Março 1, 2010 at 10:31 pm
Eu também não quero ficar mais tempo com os filhos da p. que nos f. a toda a hora…
Março 1, 2010 at 10:33 pm
Não arranjo o link..mas este texto embora de 99 explica muita coisa…
oão Baptista Magalhães, “Jornal de Notícias” 22.1.99.
“Professor, uma profissão em extinção.
* João Baptista Magalhães
Foram publicados recentemente os resultados dum estudo internacional de avaliação dos sistemas educativos na área da matemática e das ciências. Este estudo (Terceiro Estudo Internacional de Matemática e Ciências) foi concebido para ser aplicado a populações de estudantes de 9,13 e 17 anos de idade, envolvendo em Portugal apenas os alunos do 7º e 8º ano de escolaridade .
Os melhores resultados foram obtidos por Singapura, Coreia, Japão e República Checa.
Os alunos portugueses ficaram situados nos últimos lugares.
Tal facto deveria preocupar as Associações de Pais e, naturalmente, esperava-se que o Ministério da Educação procurasse aprofundar o diagnóstico desta situação, participando no inquérito internacional promovido pela OCDE para a avaliação das competências e conteúdos desenvolvidos pelos diferentes sistemas educativos. Sem o apoio de dados comparativos, corremos o risco de comprometermos os desafios do futuro com uma lógica prisioneira de uma retórica que dispensa a avaliação rigorosa e fundamentada. E são tão prementes os estudos comparativos, quanto é certo que numa sociedade global não há diplomas académicos para competir apenas nos países de origem, mas na Europa e até no mundo.
Não vamos analisar pelas diversas vertentes os dados colhidos no referido estudo.
Apenas queremos sublinhar dois aspectos: primeiro, que ele revela uma correlação nítida entre os resultados obtidos em cada país e o nível sociocultural do meio familiar dos alunos, medido nomeadamente no número de livros existentes em casa. Este dado é fundamental: os nossos alunos não são estimulados para a leitura, porque em casa também não têm exemplos que estimulem esses hábitos. Ora, não desenvolvendo o gosto pela leitura não podem desenvolver o treino de análise e interpretação de textos necessários à compreensão de problemas escritos e não compreendendo esses textos não criam hábitos de estudo que possibilitam o sucesso escolar. Segundo, os alunos dos países que obtiveram bons resultados no inquérito referem que o trabalho de casa para as disciplinas de matemática e ciências ocupa-lhes um tempo superior a três horas por dia e, entre ver televisão e falar com os amigos, não gastam fora do tempo lectivo mais do que uma hora. Não temos elementos que nos permitam saber o tempo que os alunos portugueses dedicam em casa ao trabalho escolar, no entanto, o citado estudo conclui que os nossos alunos não são capazes de mobilizar as aprendizagens anteriores para a compreensão de novos conhecimentos.
Estes problemas são reais e dão que pensar. Entretanto, não vão faltando nas escolas as ocupações retóricas: discute-se regulamentos e documentos orientadores, fazem-se relatórios e as Associações de Pais pedem explicações sobre as notas que determinado
professor deu em determinada turma, promovem-se reuniões e mais reuniões para pôr a funcionar uma virtual comunidade educativa, anunciam-se novas medidas e exige-se aos professores muitas unidades de créditos e a participações em muitas “pedagógicas” acções que fazem esses abastados currículos que acompanham os relatórios empolgantes de mudança de escalão, num frenesim que não deixa tempo para olhar de frente os reais problemas da aprendizagem dos nossos alunos. Talvez, por isso, nem as Associações de Pais, nem o M.E., nem o Conselho Nacional de Educação, nem a maioria dos sindicatos dos professores estejam preocupados com o facto de Portugal ser o único país da OCDE que não vai participar no mega inquérito do início do milénio sobre o que sabem ou não os alunos que acabam a escolaridade obrigatória. Talvez, por tudo isso, ser professor é, entre nós, uma profissão em extinção.”
* Professor e mestre em filosofia
Março 1, 2010 at 10:38 pm
Não me admira nada que Portugal seja um dos países onde mais se verifica que filho de…está safo, e filho de… não tem hipótese.
Embora, nesta fase, já nem os filhos da classe média estejam safos. Estudar, estudam, mas muitos são os tais licenciados desempregados. E muitos emigram.
Qto às classes mais baixas, há que ter atenção aos “novos pobres”: aqueles que, apesar de terem casa e RSI são de uma pobreza cultural ( de valores) assustadora.
Os subsidio-dependentes, habitantes das cidades ( e, em Lisboa, já estamos na 3ª geração. Tive vários alunos sem uma terra de origem, com pais e avós sem profissão, sem raízes de espécie alguma), não têm qualidade para estimular os filhos a lutarem por uma vida melhor.
A escola tb não lhes dá resposta. Os CEF são medíocres. Não saem de lá com ferramentas para nada.
Não se investe na cultura, na educação, que são as bases para uma possível progressão na vida.
Março 1, 2010 at 10:40 pm
ISTO JÁ EM 99..PREMONITÓRIO NÃO ACHAM…?
Março 1, 2010 at 10:46 pm
Março 1, 2010 at 10:48 pm
Isto não tem nada a ver com este post, mas alguém sabe se já existe legislação sobre a avaliação intercalar manhosa inventada à ultima da hora? Ainda não vi nada e acho o cúmulo as escolas continuarem a compactuar com esta palhaçada baseando-se em faxes e pedindo objectivos a 3 meses do fim do ano lectivo…
Março 1, 2010 at 10:48 pm
“A Escola Não Pode, Nem Consegue, Ser O Grande Nivelador Social”
Depende da sociedade pretendida pelos desniveladores sociais, perdão, pelos políticos.
Março 1, 2010 at 10:48 pm
BEM ATÉ AMANHÃ…
Março 1, 2010 at 10:55 pm
É a teoria das castas.
Março 1, 2010 at 10:56 pm
Sim, mas desistir também não constitui uma hipótese viável. Independentemente das suas muitas fraquezas, ainda é a escola que permite remar contra a maré do passado. A alternativa seria ficar ainda mais para trás.
Março 1, 2010 at 10:57 pm
O problema da mobilidade social não se põe, apenas, ao nível das habilitações académicas. Põe-se, essencialmente, ao nível dos salários de miséria praticados no país já que, com as mesmas “habilitações”, noutros países as mesmas pessoas recebem salários muito mais elevados, sendo esta uma das razões porque muitos emigraram.
Março 1, 2010 at 10:59 pm
Março 1, 2010 at 11:42 pm
#18, exacto.
Março 1, 2010 at 11:48 pm
se alimenta em relação à Educação mas se esboroa quando se chega ao mercado de trabalho. Onde não basta a própria qualificação académica, mas a rede de contactos pessoais e familiares
Concordo.
Qual é o menino de boas famílias, mesmo que possuidor de um curso de treta, que fica no Desemprego?
Março 1, 2010 at 11:56 pm
# 18
Muito bem.
A igualdade de oportunidades é um mito piedoso que se alimenta em relação à Educação mas se esboroa quando se chega ao mercado de trabalho, onde não basta a própria qualificação académica, mas a rede de contactos pessoais e familiares. E, neste momento, essa rede está circunscrita a uma “casta” de “sobrinhos e afilhados” dos oligarcas.
Março 2, 2010 at 12:00 am
Com raras excepções, a maioria dos filhos de pessoas da minha(nossa) idade, com formação superior, está em situação laboral indigna ou emigra.
Março 2, 2010 at 12:10 am
Este documento (investigação) de Vasco Graça é precioso. Recomendo leitura e arquivamento. O PG colocou-o em destaque, aqui, no Umbigo.
Sobre o financiamento da Educação:
condicionantes globais e realidades
nacionais
A partir (sobretudo) da página 7, fornece dados muito interessantes sobre esta temática, cruzando dados de três fontes: PISA, ME e OCDE.
Março 2, 2010 at 12:16 am
AQUI
http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rle/n13/13a04.pdf
Março 2, 2010 at 12:19 am
Aliás, a investigação é muito lisongeira para os Professores portugueses.
Março 2, 2010 at 12:25 am
Ai!? Mas que raio de estudo é este?
Em Portugal, como em qualquer país que se quer desenvolvido, a Educação é o principal factor para a mobilidade social ascendente, por isso, a Educação no nosso país está longe de ser um meio para perpetuar a sociedade de castas.
Querem ver que a OCDE concluiu que em Portugal, à imagem de qualquer país subdesenvolvido onde a corrupção floresce a olhos vistos, a selecção dos candidatos para o exercício de determinadas funções (as mais bem remuneradas) depende do Q.I. (Quem Indica), de partidarites, de compadrios e outros esquemas que preterem o mérito em relação à cunha?
Uma conclusão destas para um país de tão brandos e bons costumes só pode ter sido um engano!
Todos sabemos como o PM dá prioridade à Educação – na agenda dele, é uma questão vital! –, exactamente por ser um factor de criação de riqueza e, consequentemente, de desenvolvimento! Tanto assim é que tem envidado todos os esforços para que os professores sejam tidos em grande consideração e estima e, num acto de boa vontade e de forte investimento, fez com que se reabilitasse o estatuto social da classe docente. Estamos muito bem governados, pois estamos!
Março 2, 2010 at 12:38 am
no pdfde#25, são curiosas as notas da última página, onde se fala dos “amigos de Peniche”.
Março 2, 2010 at 12:47 am
“a Educação no nosso país está longe de ser um meio para perpetuar a sociedade de castas.”
Vivemos numa oligarquia. Regime de casta. A Educação é um perigo para a casta, para os oligarcas. Que fazem? Atacam em primeira linha os portadores do conhecimento aos jovens, os agentes, os professores. Para atingirem o objectivo último inconfesso – a sociedade. Para perpetuar a casta. O sistema oligárquico.
Março 2, 2010 at 1:00 am
A casta da independente já se foi.
Março 2, 2010 at 1:49 am
#29
Ana,
A Educação, tal como está em Portugal, funciona como um crivo que não só impede a mobilidade social ascendente, mas promove a mobilidade social descendente para determinados estratos sociais. É como dizes, os oligarcas defendem-se com unhas e dentes, conseguiram inquinar o funcionamento das principais instituições para garantir o seu status quo.
Março 2, 2010 at 9:10 am
As escolas são meras quintas de assistência social onde pastam os jovens antes de serem lançados na selva do mercado.
Este é o desígnio da escola inclusiva, onde não se pode questionar a diferença nem criticar os outros, pelo menos de uma forma inteligente, racional e metódica.
Só resta então a amnésia e a formação de uma identidade de grupo, construída na base natural da violência e da exclusão do Outro.
À força de tanto branqueamento e de tanta política de tolerância, estamos a contribuir para o desenvolvimento de relações tribais que se alicerçam em preconceitos naturais desenvolvidos entre os jovens, com a bênção do Estado.
O agravamento do racismo e da violência são a resposta básica numa escala zoológica, onde todos são encarados numa perspectiva de folhas em branco que precisam de ser preenchidas com as “vivências” de multiculturalidade, para assim se abolir de vez o Mal sobre a Terra.
Chegados a este ponto, a escola inclusiva faz apelo a que se desvalorize a autoridade, o saber e o conhecimento, uma vez que esses princípios devem ser metidos no caixote do lixo da história, em nome da mudança e do nivelamento social.
O que resta então?
O célebre capital social!
Aquilo que une os partidos e as famílias cultivam, numa conjugação perfeita dos hábitos ancestrais salazaristas com o modus operandi das mafias político-finaceiras.
Março 2, 2010 at 4:27 pm
É o post mais densamente certo que eu já li aqui. Pela profundidade da análise no plano histórico e pela assunção de um todo colectivo, nosso, e não dos da direita ou da esquerda, ou dos maus.
Somos o tal país dos 40 anos de salazarismo, 13 de purgatório e 24 de adesão à UE, esta que se tem revelado muito fraquinha como possível e necessário super-ego administrativo a países corruptos como o nosso. A Educação é um fruto desta árvore híbrida de Deus, Diabo e serpentes diversas. É verdade. Já muito caminhámos, essa é que é essa.