Parece um crime de lesa-majestade argumentar contra uma medida aparentemente tão generosa e progressista. Nem valerá a pena evocar que países muito mais desenvolvidos que o nosso têm apenas 9 anos de escolaridade (Áustria, Suiça, Itália) e que, em contrapartida, existem países com uma escolaridade de 11-12 anos, sem que isso corresponda a um maior nível de desenvolvimento (Arménia, Barbados, Bahamas, Butão, Guatemala, Moldávia, Togo, etc).
O alargamento para 12 anos da escolaridade obrigatória desperta uma adesão imediata por parte de quem a ouve, em especial quando se prescinde de analisar o passado em matéria de legislação educativa, o presente socioeconómico e cultural ou as implicações para o futuro de tal medida.
Sistematizemos estas ideias:
- Portugal foi dos primeiros países europeus a decretar a escolaridade obrigatória, ainda na primeira metade do século XIX, mas dos últimos (último?) a concretizá-la na prática. O voluntarismo legislativo em matéria educativa é uma constante da nossa História. Em todos os regimes políticos a Educação foi apresentada como o motor do desenvolvimento e a alavanca para projectos de engenharia social e/ou aprofundamento da cidadania. A verdade é que, se analisarmos os indicadores estatísticos, a cada investida legislativa nunca correspondeu qualquer arranque significativo em matéria de alfabetização ou qualificação da população portuguesa.
- No presente temos ainda uma escolaridade obrigatória de nove anos mal consolidada, com elevados níveis de insucesso e abandono, resultado da grande fragilidade social e económica de muitas famílias e das suas carências culturais. Enquanto em outros países uma alfabetização próxima dos 100% foi alcançada na viragem do século XIX para o XX, entre nós esse projecto demorou mais um século a concluir. Exactamente porque à construção retórica das políticas educacionais poucas vezes corresponderam as condições essenciais para a sua concretização. A realidade impôs-se quase sempre aos decretos.
- Em termos de futuro, esta medida levanta diversos problemas, para além daquele que tem sido mais evocado (meios técnicos e humanos para a assegurar). Seria interessante saber, antes de mais, se temos um mercado de trabalho preparado para absorver uma mão-de-obra mais certificada mas indiferenciada. E em seguida, se esta medida não visa principalmente funcionar como uma almofada contra o desemprego precoce. E se, ao ser anunciada pela enésima vez, não pretende ser um argumento eleitoralista poucos meses depois da própria ministra da Educação ter realçado a sua não urgência.
Pode parecer estranho levantar reservas a uma medida que parece tão obviamente positiva. Mas, infelizmente, talvez seja a atitude mais lúcida a tomar.
Texto produzido para a Notícias Magazine de hoje, p. 6.
Maio 3, 2009 at 12:06 pm
Este é um problema.
As intenções até podem ser boas, mas as concretizações destroem-nas ou ficam nas gavetas, por falta de meios ou de vontade.
Também estes últimos anos têm sido pródigos em intenções, muitas delas positivas. O problema é que muitas delas não se concretizam.
Será, como dizia o outro, que somos um povo que não se deixa governar?
Maio 3, 2009 at 12:16 pm
E depois, tornamo-nos desconfiados.
O avanço e progresso de uma sociedade, de um país não devia estar limitado pela desconfiança dos cidadãos.
Parece ter ouvido a ministra da educação dizer que tal medida não implicaria mais professores.
Eu não queria ser desconfiada. Mas desconfio.
Não são precisos mais professores?
Maio 3, 2009 at 12:20 pm
Ao título do artigo – Porquê? Para quê? – acrescentaria também – Como?
Maio 3, 2009 at 12:39 pm
Eu ainda não acredito que esta medida vá para a frente sem que seja acompanhada da outra de não haver retenções até ao nono ano. Que vamos nós fazer com alunos de 16, 17 ano no 5º ano? Se já com os de 13 é o que é…
Maio 3, 2009 at 12:39 pm
http://raivaescondida.wordpress.com/2009/05/03/medina-carreira-entrevista-rcpcm-sapo-videos/
Maio 3, 2009 at 1:30 pm
Para dar cabo do resto o mais depressa possível, para pagarmos duas vezes o ensino dos nossos filhos, o público com impostos, e o privado pela frequência. Depois pagar com impostos os subsídios de reinserção e de desemprego de quem não obteve “qualificações” no público, depois pagar mais impostos para o reforço das forças policiais para controlar quem anda no gamanço porque não tem outra alternativa… e continuar a pagar os automóveis de quem nos impõe ou não se opõe à falência económica e social.
Maio 3, 2009 at 1:35 pm
#1
Bem pelo contrário, a maioria é do mais tolerante que se pode encontrar.
Dá-me ideia é que não temos muita sorte com quem nos sai na rifa.
Maio 3, 2009 at 1:35 pm
Parece-me existir uma incorrecção quando o Paulo diz que “[…]Em todos os regimes políticos a Educação foi apresentada como o motor do desenvolvimento e a alavanca para projectos de engenharia social e/ou aprofundamento da cidadania.[…]”
Tanto quanto julgo saber, as Escolas Normais Primárias, criadas ainda no tempo da Monarquia para formação dos professores primários e aprofundadas no tempo da 1ª República, de que o edifício actual da ESEL é um bom exemplo, foram extintas em 1930 pelo Estado Novo e os professores primários substituídos pelos Mestres Escola, sendo exigido como habilitações suficientes para desempenhar essas funções apenas saber ler e escrever. Só em 1943 o Estado Novo criou os Magistérios Primários, perante o descalabro na formação da população e da falta de quadros.
Há também a questão das purgas universitárias, que removeram muita da nata intelectual das nossas universidades.
Mesmo quando o regime Salazarista acordou para a necessidade da formação técnica, exigida pela industrialização do País, foi sempre uma aposta mitigada, no sentido de que apenas uma minoria tinha acesso à educação, apesar de, ao nível científico, os que a tinham eram relativamente bem preparados.
Maio 3, 2009 at 1:36 pm
Porquê? Para quê? Para aumentar a frequência dos Cursos Profissionais, uma das meninas dos olhos do PM. No final do próximo governo PS, será mais um sucesso estatístico a apresentar.
O que é que se faz agora aos alunos com repetências sucessivas? CEFs ou Profissionais. O que até seria uma saída se a maior parte desses alunos tivesse vontade de os frequentar.
Quanto ao problema de um grande número de pessoas com uma qualificação indiferenciada, já temos neste momento no desemprego muita gente com cursos superiores. O Governo devia também apostar na formação (profisssionalismo) da nossa classe empresarial que não valoriza a qualificação dada nos Institutos e Universidades.
Maio 3, 2009 at 1:53 pm
http://raivaescondida.wordpress.com/2009/05/03/socrates-recebido-com-assobios-e-insultos-em-terra-socialista/
Maio 3, 2009 at 3:41 pm
#9> já temos neste momento no desemprego muita gente com cursos superiores.
Um esclarecimento, conhece algum medico ou Engenheiro (com “E” maiusculo) desempregado? Claro que nao, a falta de formados nessas areas e’ conhecida ha’ N anos.
Infelizmente, os alunos continuam a preferir cursos de elevadissima taxa de desemprego, porque sera’? 😉
A sociedade portuguesa sabe, mas recusa afirmar claramante, que ha’ cursos a serio e cursos “liberal arts” (designacao norte-americana) ou de “teologia” (designacao sueca).
Os primeiros – associados a elevados criterios de exigencia – dao emprego de elevado nivel.
Os segundos sao apenas para alargamento cultural. Quem tira esse tipo de cursos deve capacitar-se que, com a maior probabilidade, tera’ emprego em areas ortogonais.
9#> nossa classe empresarial que não valoriza a qualificação dada nos Institutos e Universidades.
Conheco casos muito recentes de finalistas de cursos de Engenharia e de Economia (NB! mais uma vez com E maiusculo) que antes de concluir sao cativados por empresas com vencimentos brutos superiores a 1200 EUR!
********
Nota: muito provavelmente vai responder que nem todos querem ser Medicos, Economistas ou Engenheiros.
E’ verdade, mas gostaria que esclarecesse porque razao a maior parte pretende ser sociologo, formado em comunicacao social ou em direito? 😦
Maio 3, 2009 at 5:25 pm
#11
No caso dos medicos não é uma questão de falta de procura. Conheço muitos casos de pessoas que ambicionavam ir para medicina, com medias elevadissimas, e que acabaram por ir para outros cursos de segunda escolha.O problema está neste caso no “numerus clausus” .
Maio 3, 2009 at 5:40 pm
#12 conheço muitos casos desses e também a falta de médicos nos hospitais.
#11 também conheço casos de alunos que à saída da Ensino superior já tinham emprego.
Mas infelizmente conheço ainda mais que emigraram por não encontrar emprego em Portugal e conheço ainda muitos mais, formados em Universidades que dão Licenciaturas com Maiúscula em Engenharias, Economias etc, a serem contratados ganhando pouco mais que o salário mínimo e ainda dependentes economicamente dos pais. E também sabemos que a maioria dos nossos empresários (com letra minúscula), são amadores a quem falta o saber necessário que poderiam “contratar” a quem o possui. A falência de muitas empresas não se deve só à crise.
Maio 3, 2009 at 5:48 pm
#4
Com esses não precisa de se preocupar, estão quase a acabar a escolaridade obrigatória de 12 anos.
Maio 3, 2009 at 6:38 pm
#12> O problema está neste caso no “numerus clausus”.
Ja’ sei que vou ser fuzilado, mas o “numerus clausus” nao e’ problema! O numero de medicos, por habitante, nao e’ muito diferente de paises avancados europeus como o Franca.
O problema maior esta’ na distribuicao dos medicos, maioritariamente concentrados nos grandes centros urbanos. Ha’ centros de saude no centro de Lisboa com medicos de familia com menos de 500 utentes, mas que se recusam mudar para os arredores onde a procura e’ superior a 2000 utentes/medico.
A agravar, ha’ especialidades com graves deficiencias.
********
Ja’ agora, ha’ cursos de Engenharia (com E maiusculo) nos maiores centros urbanos que nao preenchem as vagas.
Pois e’, estudar matematica e fisica para a maioria dos alunos (e nao so’ 😦 ) e’ uma grande chatice!
#12> Conheço muitos casos de pessoas que ambicionavam ir para medicina.
E eu tambem conheco, mas o problema real esta’ na seleccao demasiadamente estreita praticada em Portugal. Se outras materias igualmente uteis para o correcto exercicio de medicina contassem para seleccao, como por exemplo a matematica e a cultura geral, estou convencido que as medias astronomicas baixariam significativamente!
Sei que anos atras fizeram, por curiosidade, uma prova alargada a caloiros de medicina. A divergencia muito significativa nos resultados levou que essa ideia fosse imediatamente posta num congelador a helio liquido 😦
**********
Votando ao problema base, em principio concordo com a escolaridade de 12 anos. No entanto, esse objectivo nao deve por em causa a exigencia no sistema educativo (nos alunos e nos docentes!!!) bem como a necessidade de segmentar a formacao com base na CAPACIDADE dos alunos.
Os diplomas concedidos devem corresponder a niveis claros de formacao adquirida, com avaliacao tal real como possivel!
Infelizmente Portugal e’ uma sociedade do “faz-de-conta” transversal. E’ um problema transversal na sociedade que tambem se manifesta no sistema educativo basico como, por exemplo, o 3 para “chapeu de chuva” onde cabem praticamente todos*.
* Sou fortemente contra a escala 1-5, por ser propositadamente reduzida, como a 0-20 que cai no outro extremo.
Ha’ paises que adoptam escalas de avaliacao mais apropriadas, como o 0-10 no Brasil ou 0-15 na Alemanha.
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#13> formados em Universidades que dão Licenciaturas com Maiúscula em Engenharias, Economias etc, a serem contratados ganhando pouco mais que o salário mínimo
Comecou-se por falar de emprego, saltou-se logo para a diferenciacao salarial.
Esse e’ outro problema (bem real, alias), mas deixo a sugestao de se evitar a atitude bem portuguesa de comecar a divergir. Isso e’ bom para os politicos que nao sabem apresentar propostas concretas, ou pretendem fugir ‘as questoes dificeis 😉
Nao e’ com debates que se convencem pessoas, quando muito apenas se pode adquirir capacidades de argumentacao e aumentar o conhecimento nas areas em discussao – mas apenas se os debates forem bem estruturados.
Maio 3, 2009 at 6:58 pm
#15,
[o 12º ano]”nao deve por em causa a exigencia no sistema educativo”.
Sobre este aspecto não temos que nos preocupar: exigência é coisa que não existe no nosso sistema de ensino há mais de uma década…
Maio 3, 2009 at 7:22 pm
#16> exigência é coisa que não existe no nosso sistema de ensino há mais de uma década…
E a solucao e’ ficar de bracos cruzados a chorar pelos corredores?
A unica materia prima valiosa e’ a existente entre as orelhas! Tem a vantagem de ser a unica que se pode reproduzir. Apresenta tambem o grande inconveniente de exigir trabalho paciente durante anos a criar durante muitos anos, bem como a participacao plena da esmagadora maioria dos intervenientes (politicos, pais, docentes e alunos) mas que facilmente se destroi em pouco anos.
Exceptuando alguns casos particulares, o desenvolvimento das sociedades baseia-se maioritariamente no factor educativo. Exemplo: quer a Noruega, quer Angola possuem petrolio – mas a primeira esta’ nos primeiros lugares do IDH a segunda continua a seguir como lanterna vermelha.
Sejamos realistas, a grande maioria da populacao portuguesa – incluindo os docentes – tem como forma cultural de estar a “vidinha”: minimiza o numero de riscos, dobra a coluna ‘a frente do chefe – mas diz mal pelas costas, e’ desorganizado nos metodos de trabalho e no dia-a-dia, culpa sempre os outros pelos problemas.
Pena e’ nao ter tido capacidade de ver que, com a globalizacao, os tempos de viver ‘a conta dos outros (especiarias da India, ouro do Brasil, cafe’ de Angola, subsidios da UE) acabaram de vez! Nos ultimos 10 anos o nivel economico tem baixado e assim vai continuar enquanto TODOS continuarem com a mesma atitude cultural de apenas viver a “vidinha” 😦
Maio 3, 2009 at 7:40 pm
12 anos é muito tempo para se poder desperdiçar a:
– Incomodar professores;
– Perturbar o ambiente na sala de aula e o sucesso dos alunos que querem estudar.
– Perder a oportunidade de aprender profissões e serem agentes activos.
Maio 3, 2009 at 8:12 pm
Vamos lá falar da realidade:
o ensino, tal como está, é, até ao 9º ano, relativamente acessível à maioria dos jovens das classes média e média alta e muito difícil para os das classes mais baixas.
Todos sabemos as razões deste facto.
Vejamos as pautas de algumas escolas que conheço com turmas onde a maioria dos miúdos só tem 4 e 5.
Agora vamos para uma escola em “meio desfavorecido” ou “de famílias disfuncionais” ( como agora se chamam). É raro o aluno que não tem uma ou mais negativas ( a minha escola é assim). No final do ano, há alunos com 4 ou mais negativas que transitam, pq é assim. Transitam.
Isto pode levar-nos a pensar que a escola não consegue resolver os problemas estruturais das famílias, património que esses alunos trazem para a escola. é difícil a concentração qdo em casa há alcoolismo, desemprego, etc ( e as consequências disso nas relações humanas)
Para muitos, para a maioria dos meus alunos é impensável que cheguem ao 12º ano. Alguns desistem ainda no 2º ciclo.
Alternativas? Os curriculos alternativos e os CEF.?
Até poderia ser mas com regras firmes e condições e recursos “normais”.
Há alunos que saem da minha escola e vão fazer profissionalizações na Casa Pia. Surpreendetemente, tornam-se alunos aplicados.
é por isso que defendo que o sistema de ensino deveria ter desde muito cedo escolas profissionais, mais técnicas que teóricas para aqueles que não podem ou não gostam de estudar. Os cef são remendos que se criaram para encontrar soluções “caseiras” para o enorme abandono.
As 2 vias de ensino ( com possibilidade de reingresso para quem quiser continuar os estudos) são adoptadas em vários países como a Alemanha e, se lhes tirássemos a carga de “filhos de um deus menor” dariam a muitos a possibilidade de construir um futuro.
Que futuro terão os jovens com o 12º ano daqui a 4 anos? O mesmo que têm agora os que fazem o 9º ano!
Maio 3, 2009 at 8:14 pm
Quanto à questão das engenharias e medicinas, tenho pena de viver numa sociedade que considera inúteis os estudos em filosofia ou literaturas ou outras áreas denominadas de “humanidades” ou “ciências humanas”.
O que será de nós qdo não houver ninguém que saiba ler, analisar, pensar… ?
Maio 3, 2009 at 8:53 pm
“Seria interessante saber, antes de mais, se temos um mercado de trabalho preparado para absorver uma mão-de-obra mais certificada mas indiferenciada.”
De todos os argumentos apresentados no artigo este é o mais frágil de todos. No pós-guerra houve um ministro da educação que mostrou preocupação pela proliferação de licenciaturas com este mesmo argumento. Contrariamente ao senso comum não temos licenciados a mais. Temos de tudo a menos.
Sou contra o alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano pela simples razão de que, mais de duas décadas após a LBSE, não conseguimos assegurar a efectiva consolidação do 9º ano de escolaridade como patamar mínimo em termos educativos.
Maio 3, 2009 at 8:53 pm
20#>tenho pena de viver numa sociedade que considera inúteis os estudos em filosofia ou literaturas
La’ vem a distorcao das afirmacoes 😦
Afirmei, e mantenho, que existe um pendor excessivo de humanidades na formacao superior.
20#>O que será de nós qdo não houver ninguém que saiba ler, analisar, pensar…
Se reinvidica que a analise / pensamento / escrita (obviamente tambem a leitura) e’ reservada maioritariamente a pessoas formadas em humanidades, tenho pena de concluir que se encontra completamente fora da realidade.
Devia saber que espirito aberto e’ uma atitude essencial ‘a formacao de uma visao cultural.
* Eu tanto admiro o engenho de Watt e de Stephenson na criacao da locomotiva a vapor, como quero conhecer o impacto que teve na mobilidade / desenvolvimento economico e vivencia diaria das pessoas.
* A beleza da teoria de evolucao das especies nao fica ao lado do conhecimento detalhado da viagem do Beagle e dos enormes debates que se seguiram ‘a publicacao.
* Se tiver horror ‘a recorrencia, muito provavelmente nao vai conseguir perceber a maravilhar em ouvir um canon de Bach ou apreciar uma gravura de Escher!
Os 3 topicos que citei sao exemplos da ponte entre a cultura e a tecnologia que estabeleco em todas os 10 primeiros minutos das minhas aulas no Tecnico!
Acrescento ‘a minha pena a observacao que uma parte muito significativa dos alunos de humanidades vai apenas para fugir ‘as matematicas, nao por interesse!
Maio 3, 2009 at 9:08 pm
#21> Contrariamente ao senso comum não temos licenciados a mais.
Concordo plenamente, com uma ressalva apenas: o curso superior nao pode ser considerado como direito automatico ‘a obtencao de empregos especificos (defendo isso ate’ para medicina).
No estrangeiro, os cursos servem apenas como guia, podem ser necessarios para determinadas actividades mas nao sao garantia! Quem tirar um curso de Engenharia, Economia (E maisuculo 😉 ), sabe que pode ter boas hipoteses de ter um emprego bem remunerado por varias razoes: sao cursos de grande procura e de muita exigencia. Um aluno que tirar um curso de “liberal arts” (EUA) ou de teologia (Suecia) sabe que e’ uma formacao complementar e emprego sera’ quase de certeza noutra area. Essa e’ a realidade em muitos paises!
Em Portugal so’ ate’ os anos 60 um licenciado tinha garantidamente um bom emprego, porque eram muito poucos os licenciados. A realidade hoje e’ bem distinta, mas continua-se amarrado a afirmacoes de ha’ 30 anos atras!
Maio 3, 2009 at 9:57 pm
Começo por dizer que gostei de ler as observações deste artigo, mas também me cumpre referir que não partilho das conclusões que são retiradas.
Encaro a aprendizagem e a formação sobretudo como uma forma de enriquecimento humano e sinceramente acho um entrave ao desenvolvimento a mentalidade de apenas estudar para se ter um “emprego compatível”.
Por isso mesmo, pese embora todas as dificuldades que possam existir para a concretização da medida, acho-a positiva.
Sempre que o nível de escolaridade aumentar o nível de exigência dos cidadãos aumenta, o que só pode ser bom para o nosso futuro.
Que se vejam resultados rápidos, eu não acredito, mas alguma vez se teria que começar….
Maio 3, 2009 at 10:48 pm
RG Crespo,
Aproveitando a sua preseça neste espaço, e tendo constatado que é professor no Técnico, gostaria de lhe colocar as seguintes questões e saber a sua opinião sobre as mesmas.
1- Qual a sua leitura sobre os conhecimentos e capacidades dos jovens que ingressam nas Engenharias?
2- “Entrar em Engeharias é fácil. Difícil é sair” (esta é uma frase que um dos meus diz cá em casa, talvez para se desculpar de algumas baldas…)
2- O que pensa do processo de Bolonha?
Maio 3, 2009 at 10:50 pm
Engenharias, digo.
A última questão é a 3.
Maio 3, 2009 at 11:22 pm
#25
Formou-se no Técnico.
Pelo que escreveu em tempos, anda pela Grã-Bretanha.
Maio 3, 2009 at 11:38 pm
#25> gostaria de lhe colocar as seguintes questões
[…]
Eu nao tenho problemas em expressar as minhas ideias mesmo sendo contrarias ‘a ortodoxia vigente (ja’ as apresentei claramente em anfiteatros de 150 alunos, apesar de tudo os alunos foram suficientemente educados para responder apenas com um sorriso amarelo 😉 ), mas para escrever aqui
– teria de escrever muito
– conforme ja’ escrevi no #15, constituiria um desvio do assunto central “Uma Escolaridade Obrigatória De 12 Anos”.
Maio 3, 2009 at 11:53 pm
#28,
As minhas questões foram honestas, pelo que não me interessava se as respostas fossem muito ou pouco contrárias à ortodoxia vigente.
Penso que não seria necessário escrever muito para responder às 3 questões colocadas.
Finalmente considero que não seria um desvio assim tão acentuado em relação ao assunto central.
De qualquer modo, obrigada pela atenção.
Maio 4, 2009 at 12:15 pm
#28> Penso que não seria necessário escrever muito
A frase “Entrar em Engenharias é fácil. Difícil é sair” e’ dita por muitos alunos do Tecnico como desculpa para as falhas. Ao transcreve-la, esta’ a manifestar preocupacao (possivelmente por ter um filho(a) nessa situacao). Sugiro que se abstenha de revelar indirectamente o desconhecimento ao afirmar que a resposta e’ dada em poucas linhas – veja o tamanho desta mensagem!
#28> considero que não seria um desvio assim tão acentuado em relação ao assunto central.
As questoes 2) e 3) saem claramente fora do ambito do blogue, e’ a minha posicao e nao vale a pena insistir!
Vou responder ‘a questao 1), ficando claro que sao APENAS as minhas observacoes e nao a posicao do IST. As questoes que colocou, e outras, sao debatidas entre docentes do Tecnico. Obviamente nao ha’ posicoes iguais e nem todos sem sentem ‘a vontade de exprimir com frontalidade as suas ideias.
Desejo que a minha mensagem possa contribuir para as observacoes de alguns docentes do blogue que trabalham a montante.
*********
– Para o curso exigente ser feito, nao e’ necessario ser premio Nobel. Os maiores problemas dos alunos nas Universidades (com U maiusculo ;-)) sao defeitos transversais ‘a socidedade portugues : desorganizacao, falta de maturidade, incapacidade de gerir falhas, objectivos limitados!
* Exemplo de desorganizacao: os alunos nao estabelecem um plano semanal de estudos, porque o horizonte nao e’ superior a 3 dias 😦 Como nao existe uma avaliacao continua, limitam o tempo de estudo ‘as vesperas de provas (o que torna impossivel adquirir uma visao global essencial ‘a aprovacao em diversas disciplinas).
* Exemplo de falta de maturidade: os alunos devem fazer 30 ECTS por semestre, normalmente cada disciplina corresponde a 6 ECTS, portanto inscrevem-se a 5 disciplinas. Frequentemente o aluno so’ obtem aprovacao nalgumas disciplinas. No semestre seguinte inscreve-se a mais (por vezes no limite maximo de 8! :-(). E’ facil de ver que, dividindo o tempo escasso por maior numero de disciplinas, diminuem ainda mais a taxa de aprovacao!
* Exemplo de incapacidade de gerir as falhas: para o caso anterior, eu aconselho os meus tutorandos um plano realista de estudos (inscrever a 3 se fez 0-1 disciplinas, 4 se fez 2-3 disciplinas). A resposta invariavel e’ “eu vou recuperar, a brincadeira acabou-se!”. E’ facil de calcular os resultados. Infelizmente, voltam a insistir no mesmo erro, nao consegui inventar um obuz que entrasse nessas cabecas (por outras palavras, o desprezo pelas vozes experimentadas e’ mais uma causa para o atraso estrutural da sociedade).
* Exemplo de objectivos limitados: uma parte significativa de alunos pretende fazer o curso com minimo esforc,o (NB! na realidade, ha’ muitos que nao querem ser engenheiros, pretendem apenas obter o diploma do IST para ficar com um lugar de gestao / representacao comercial / suporte tecnico – por outras palavras, a “vidinha” 😦 ).
A apontar para 11, inevitavelmente acabam por ficar abaixo da linha de agua!
*********
Nas minhas conversas com caloiros tenho observado de forma extensa varias falhas graves na formacao de base.
* As capacidades de analise e de imaginacao sao extremamente reduzidas! Os alunos limita-se a decorar de forma acefala a materia (para “despejar” receitas nas provas), ficando paralisados no formular de relacoes entre topicos distintos.
* As competencias a nivel de fisica sao extremamente baixas, com consequencias visiveis em disciplinas exigentes (ex: Electromagnetismo e Optica).
Este e’ um problema gravissimo na maior parte dos ramos de Engenharia. Lanco a hipotese de parte significativa dos docentes do ensino secundario vir dos Piagets & Co, cuja (in)competencia cientifica e’ deveras conhecida, ou estarem vocacionados apenas para Quimica (no pun intended!).
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Ja’ estamos na 9a semana de aulas (o semestre tem 14 + epoca de exames), se for o caso do(a) seu(ua) filho(a) ter problemas sugiro algumas regras basicas de “bom senso”:
– Estabeleca um plano realista de disciplinas: mais vale por agora de parte 3 e apostar noutras 3, e FAZE-LAS, do que insistir nas 6 e so’ fazer 1.
– Defina ja’ um plano de estudos diarios e CUMPRA-O! Em cada um dos 6 dias da semana estudar apenas 2 disciplinas, no dia 7 saia mesmo de casa para desanuviar (cinema, piscina, football, ver as muidas ou os rapazes, … 😉 )
– Na vespera de ir ‘a aula (teorica ou laboratorial) LEIA A MATERIA A SER DADA! Provavelmente so’ percebera’ 1/4 da materia, mas quando for ‘a aula ja’ parte ‘a frente (sem falar que, na vida profissional, tera’ muitas vezes de estudar por si). O ditado e’ bem velho “candeia que vai ‘a frente alumia duas vezes”.
– Se tiver duvidas, esclareca-as imediatamente no horario de duvidas ou no final das aulas. Na vespera de provas e’ uma confusao com imensos alunos a tentar fixar com cuspo a materia, colocando apenas questoes basicas 😦
– Deve estar ciente que ha’ um tempo para estudar e um tempo para falar, os dois NAO SE MISTURAM!
Sentar nas filas da frente, e reservar a conversa (football, gozo, namoro,… whatever) para a esplanada/jardim/…
Maio 13, 2009 at 11:58 am
12 anos de escolaridade obrigatória
Os Equívocos
Recentemente, o 1º ministro José Sócrates anunciou a implementação da obrigatoriedade de frequência escolar de 12 anos, aplicável a partir de 2009/2010 e seguintes, a todos os jovens que se inscrevam no 7º ano.
A medida é correcta e já tinha sido apontada como necessária pelos governos de coligação PSD-PP anteriores ao actual.
O primeiro equívoco não é do Governo. É dos jornalistas e de – curiosamente – muitos responsáveis que comentam a decisão: a confusão entre uma escolaridade de 12 anos e a conclusão do 12º ano.
Até hoje, a escolaridade básica eram 9 anos (1º ao 9º ano) e a escolaridade obrigatória de 9 anos. Daí adveio a confusão. Entre os dois 9 (noves). A verdade é que nunca foi obrigatório que todos concluíssem a escolaridade básica (o 9º ano). Mas tão só que ficassem 9 anos, aí sim, de forma obrigatória, no sistema. Os alunos ficam “livres” de o deixar, ao completarem 16 anos antes do início do ano lectivo.
O 9º ano só é concluído em 9 anos nos casos em que a carreira do aluno é imaculada. Sem “chumbos”. Assim, é só nesse caso, que a conclusão da escolaridade obrigatória é simultânea com o termo do 9º ano.
A verdade é que esses casos seriam apenas alguns. Sempre cada vez mais, mas ainda longe de números que pudéssemos considerar como razoáveis.
E ali estava o problema. Muitas vezes, apesar da escolaridade obrigatória estar cumprida, a conclusão do 9º ano ficava muito longe para uma grande fatia dos alunos. Devido aos anos “repetidos” que originava atrasos na frequência. O que não é bom para os alunos e para o País.
Agora, a Escolaridade Básica vai continuar a ter 9 anos (1º ao 9º ano) mas passará a ser obrigatório ficar na escola (ou em formação), durante 12 anos.
Chegamos então, ao segundo equívoco. Este já de uma maioria considerável dos intervenientes, onde se incluem os responsáveis governativos: ao contrário do que vêm referindo, o alargamento da escolaridade obrigatória a 12 anos pouco irá influir no Ensino Secundário e não terá absolutamente nada a haver com o 12º ano…
Os grandes problemas estão bem identificados, nas situações de abandono precoce. Ou seja, no grupo de alunos que, ao atingir os 16 anos optavam por sair da escola. Encontrando-se, estes, nos 6º, 7º, 8º ou 9º anos. Ou seja, acumulando insucessos no ensino básico pelo que, muito longe de poderem almejar atingir (e muito menos concluir) o Secundário.
Esta saída precoce, destes alunos, do sistema (no qual não se identificavam) era, muitas vezes, uma benesse para as Escolas. E por razões entendíveis: afinal, esses alunos eram referenciais pouco interessantes para os restantes alunos e focos de instabilidade e problemas para o estabelecimento.
Mas são estes jovens que, agora, sentirão a mudança da lei: terão que ali (nas escolas) “penar” mais 3 anos. Não no Secundário, mas no Básico. Onde estão agora, sem perspectivas de ir muito mais longe. Com as óbvias implicações ao serem impedidos, antes dos 18 anos, de aceder ao mercado de trabalho. Serão mais problemas para as escolas e professores que os terão que aguentar mais 3 anos. Mais velhos, maiores, menos “controláveis”, mais frustrados, mais incompreendidos.
A notícia que a idade de empregabilidade se manterá nos 16 anos é contraditória. A não ser que esses jovens (16-18 anos) se mantenham em simultâneo, no mercado de trabalho e em frequência escolar/formativa.
O que nos leva ao 3º equívoco. A bolsa de estudo. Para os alunos no Secundário com aproveitamento. O que constitui um “tiro” completamente ao lado. Como vimos, o que esta nova lei vai acrescentar (e manter mais 3 anos no sistema) são alunos no Básico e sem aproveitamento regular. E são estes alunos os que terão que ser apoiados. Caso contrário, teremos um “inferno na Terra” para eles, para os outros alunos, para os professores e para as suas Escolas.
A bolsa de estudo para os alunos do Secundário, com aproveitamento, servirá para aqueles que, sem ela, estariam ali mesmo. Não acrescentará nada ao crescimento da escolaridade, sem prejuízo da oferta ser-lhes (a esses alunos) pessoalmente interessante (afinal é-lhes dado dinheiro).
Ainda não se entendeu se a atribuição da bolsa será feita juntamente com o Abono de Família, pelo sistema da Segurança Social (deverá ser assim, para simplificação administrativa) ou através do sistema da Acção Social Escolar (processo muito mais complicado).
Escrevi no início que a medida é boa. E é.
O grande impacto será vivido na possibilidade de mais alunos concluírem a escolaridade básica. Pois 9 anos obrigatórios, para estes alunos com insucesso acumulado, não chegavam para, sequer, concluir a Escolaridade Básica. Agora com 12 anos, isso passará a será possível.
Mas isto não é suficiente. Fazer a lei é fácil. Assegurar os resultados objectivados, é mais difícil.
Mas é possível. E como:
Assegurando a multiplicação de ofertas de formação profissional de nível II (e não de nível III, conforme é usual se ouvir falar), de preferência nas Escolas de Ensino Secundário onde as idades dos alunos agora “retidos” no sistema se equivalerão às dos restantes, facilitando a sua integração. Nas zonas de população mais rarefeita, será necessário garantir transportes regulares para garantir o acesso desses alunos aos locais e escolas devidas. A idade (mais avançada) dos alunos facilita o processo (distâncias maiores a percorrer).
Por outro lado, haverá que incrementar os Cursos de Educação Formação que atribuem profissionalização de nível II a fim de os disponibilizar aos alunos, que, já perto dos 18 anos, concluem o Básico mas já não estão dispostos a continuar no sistema ao longo dos mais 3 anos que constituem o Secundário. Aí entram esses cursos com durações de 1 ano que acrescentam uma componente profissional ao Ensino Básico já concluído.
Realmente, como diz a Ministra, não deverá haver grande acréscimo imediato de alunos no sistema. Daí não se dever esperar grandes incrementos na oferta de trabalho docente. Gradualmente haverá mais alunos, mas contrabalançados com a redução demográfica, o seu número deverá manter-se mais ou menos estável ou com uma variação gradual positiva reduzida.
As ofertas prévias na Educação Pré-Escolar (alargamento da sua frequência) e numa Escola a Tempo Inteiro de qualidade, reduzirão o insucesso e permitirão, primeiro, que a conclusão da escolaridade básica possa ser, efectivamente, generalizada e que, depois, então, se aumente o mais possível e de forma sustentada o nível médio formativo dos jovens portugueses para além do Ensino Básico.
Finalmente:
A bolsa de estudo anunciada é um tiro falhado. Que custará 150 milhões de euros anuais dentro de poucos anos. Ora, não se entende para que serve.
Afinal, aqueles alunos são apoiados pela Acção Social Escolar para efeitos de acesso a livros, material escolar, transportes, alimentação, acesso à banda larga. Já quase tudo gratuito. Antigamente, a bolsa de estudo (e bem) justificava-se para os casos em que a escolaridade obrigava à frequência escolar em estabelecimentos distantes, servindo para financiar uma morada de recurso.
Assim, para que servirá este dinheiro dado assim, de forma avulsa? Não quero nem sugerir algumas aplicações (tão erradas quanto possíveis).
Muito mais correcto seria aplicar esse dinheiro no reforço dos apoios ASE, aplicáveis a todos os alunos com mais de 16 anos (sim, também do básico e sem considerar o facto do aluno não ter obtido, pontualmente, aproveitamento) de forma muito mais criteriosa (criar crédito para determinados usos) e, talvez, suportar estágios – por inteiro – nas empresas que aceitem alunos a frequentar cursos de nível II. Incluindo compensação às empresas e aos alunos (neste caso, substituindo-se ao emprego agora impossibilitado).
O acesso precoce destes jovens, já nesta fase (estágios nas empresas) ao sistema da Segurança Social (habilitando esses jovens aos benefícios correspondentes) também poderia ser analisado e financiado pelo Estado (ao invés da atribuição inútil das bolsas).
Considero que é aqui que se deverá centrar o esforço máximo a fazer nos próximos anos. Mesmo que, ganha a primeira aposta e ultrapassada a primeira fase, tudo se possa transferir para o nível seguinte: secundário e formação de nível III. Mas por agora, ainda estaremos longe (talvez 10 anos) disso.