Quarta-feira, 26 de Agosto, 2009


Eu trato da coisa do Photobucket logo que tenha paciência e o cartão de crédito à mão. Entretanto estou com as imagens na barra lateral em stand-by.

Miguel Abrantes do Simplex dedica-me um post – fazendo uma pausa estranha no intuito básico do blogue que é brincar ao pingue-pongue com o Jamais – tentando demonstrar que eu não sei bem o quê, que não descobri a pólvora, enquanto aprimora a argumentação do Governo para explicar os critérios usados para calcular a evolução do insucesso e faz uma digressão de mediano valor sobre a utilidade dos cursos profissionais.

É um bom contributo para o debate das opiniões.

Sobre os factos, nada a dizer, pois em nenhum momento desmente qualquer dos meus cálculos.

Resta-lhe insinuar que eu gostaria de ver jovens nas ruas, sem qualificações. Esquece-se que quem anda no terreno, a mantê-los na escola são professores como eu. Ele não sei bem o que faz, para além de ter opiniões coincidentes com o Governo, o que se compreende pelas funções que consta ter na AP.

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Confesso que só depois de postar é que li os títulos…

É tão elementar que até me deixou boquiaberto. Ao ir trabalhando os dados da propaganda oficial do ME, comecei a aperceber-me de algo no mínimo curioso. Apesar do alarde em torno do aumento dos alunos a concluir o 9º ano e a inscreverem-se no 10º, os níveis de sucesso no 9º ano praticamente não evoluíram desde o início da década e o grande ganho é em relação ao início deste mandato, quando se atingiram os níveis mais baixos de sucesso desde 2000.

O cálculo é simples. Basta usar os dados divulgados e fazer o cálculo do sucesso, a partir das tabelas das matrículas e conclusões do 9º ano (páginas 2 e 3 desta apresentação).

SucessoSpin1SucessoSpin2

Se conseguirmos ultrapassar a barragem de nevoeiro em torno da quantidade, percebe-se que o sucesso é exactamente o mesmo do que em 2003/04 e apenas mais 2% do que em 2000/01. Ganhou-se 10%, é certo, mas em relação ao primeiro ano lectivo que decorreu já sob a actual gerência ministerial.

Pelos vistos o início dos mandatos do PS em matéria de Educação tendem a ser algo calamitosos. Depois, é verdade, torna-se mais fácil recuperar…

E esta, einh?!

Sócrates e a educação.

Ó Bino! És capaz de apontar o Canadá e a Dinamarca?

Se há coisa que me esmorece um pouco é a falta de trabalho e enquadramento crítico que a comunicação social dispensa aos dados estatísticos oficiais da propaganda governamental. Eu sei que são entregues no momento (domingo bem tarde para a edição de 2ª feira) ou então são negados ou adiada a sua entrega até ter passado o maior bruá da manobra mediática.

De qualquer modo, nota-se uma certa falta de um inside knowledge das coisas que permita desmontar em tempo útil algumas das manipulações mais evidentes.

Desde 2ª feira andei mais ocupado com os dados globais e com a tentativa de desmontagem do insucesso no Ensino Básico. Hoje vou centrar-me mais no Ensino Secundário onde se anuncia a descida para metade do insucesso desde 1996/97.

Já ontem julgo ter demonstrado que isto é falacioso, porque foi escolhido para início da série de dados um momento de alta no insucesso pois dois anos – em 1994/95 – o insucesso era quase 15 pontos mais baixos.

Mas tudo bem, vamos assumir até que se tomarmos como referência o ano de maior insucesso (2000/01), o dito cujo desceu de 40% para 18% em cerca de uma década.

Antes de mais há que desmontar este período em dois ciclos: antes deste Governo e com este Governo.

Se o fizermos constatamos o seguinte: de 200/01 a 2004/05 o insucesso baixa de 40% para 30%. De 2005/06 para 2008/09 de 31,7% para 18%. É quase uma duplicação do ritmo, com uma aceleração notória a partir de 2006/07.

InsucessoSpin6

Há pois que tentar compreender algo sobre esse ano-charneira de 2006/07 e depois ir em busca do que permitiu manter essa milagrosa retracção no insucesso.

Eu penso ter encontrado dois contributos indesmentíveis para o sucesso das políticas, mais do que para o das aprendizagens.

Comecemos pela estrutura do sucesso no Ensino Secundário em 2006/07:

Sucesso1

Se repararmos com atenção, o nível de sucesso nos cursos profissionais e CEF/EFA é bem superior (10 a 20%) ao do Ensino Secundário regular ou geral. Ou seja, as vias que são frequentadas maioritariamente por alunos que têm dificuldades em acompanhar o currículo comum e que, em regra, apresentavam à entrada nestes cursos um historial de maior insucesso com várias repetências, de súbito tornam-se comparativamente melhores alunos do que os seus antigos colegas.

Podemos acreditar que é por causa da vocação para os cursos de jardinagem, restauração, informática e afins. Podemos até reconhecer – sem ironia – que o trabalho com eles é feito com outras metodologias que podem obter melhores resultados (como docente de PCA, sei que é difícil mas proveitoso trabalhar com turmas menores e com currículos adaptados), mas não nos vamos iludir: estes alunos que apresentam níveis de sucesso tão superiores aos que frequentam o currículo normal, dificilmente se terão tornado melhores alunos do que os das turmas regulares. Só que apresentam níveis de sucesso elevados decorrentes da própria forma como as escolas e os professores são obrigados a gerir a avaliação.

Acho ser desnecessário evocar casos concretos de ameaças de inspecção ou visitas de responsáveis regionais do ME quando se verificam níveis de insucesso indesejáveis em algumas destas turmas. Por vezes logo no 1º período. É a verdade, pode não ser a mais conveniente de admitir, mas sabemos que é assim.

Por isso mesmo, a anunciada enorme aposta nestes cursos tem tanto de interessada na qualificação profissional da população como na certeza que quantos mais alunos nestes cursos, mais certo é o sucesso.

Mas nem todos os alunos com problemas de aproveitamento podem, ou estão dispostos a, ser encaminhados para estes cursos, logo haveria que intervir na redução do insucesso também no Ensino Secundário normal.

E isso é feito no início do ano lectivo de 2007/08 com a criação do engenhoso regime de permeabilidade, ou de reorientação do percurso formativo dos alunos, que desde logo se percebeu ser mais um atalho para produzir sucesso.

Na prática, o que o despacho normativo 36/2007 permitiu foi que os alunos pudessem saltitar de disciplina em disciplina, tipo buffet quente e frio, à experiência, podendo desistir e trocar de disciplina quando as coisas corressem mal. Parece uma caricatura mas não é. E ao longo do ano que se seguiu foram feitas ainda quatro adaptações a este regime de permeabilidade.

Claro que nestas condições é quase impossível o sucesso não aumentar. Se os alunos passam a poder reorientar formativamente o seu percurso – leia-se, mudar de disciplinas em busca das que lhes permitem melhores resultados – só por milagre o sucesso não aumentaria de forma significativa.

Tudo bem. O ME apresentou números que parecem dramáticos de quebra do insucesso no Secundário. Houve um editorialista no JN que se interrogava sobre como isto tinha sido possível, se todos os ministros anteriores foram inábeis e incompetentes.

Não propriamente.

Tal como o editorialista em causa (e outros…) e muitos dos jornalistas que trataram este assunto não foram inábeis ou incompetentes para ir em busca de explicações, em vez de apenas ecoarem os números fornecidos.

Apenas não estão a par dos meandros e cordelinhos da produção estatística de sucesso por via legislativa.

Se articularmos a manipulação do ano de partida da série cronológica, a opção pelos cursos profissionais e CEF/EFA com as suas regras muito particulares e as consequências do regime de permeabilidade dificilmente será defensável que – no plano concreto das aprendizagens – este sucesso de 18% tenha um significado dramaticamente diverso do de 21.9% em meados dos anos 90.

Nota das 15.40 – Após a escrita apressada inicial, fiz uma primeira revisão do post, para eliminação dois dislates mais gritantes.

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