Domingo, 9 de Agosto, 2009


Sacha Baron Cohen explica como se entrevista um terrorista.

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Conheço S. Miguel há cerca de 15 anos. Acho que conheci os últimos tempos de um período mais natural da ilha, antes da chegada do Desenvolvimento Cesarista, parente insular do Desenvolvimento Cavaquista que o antecedeu no continente.

  • Onde antes existia casario de traça tradicional, a especulação imobiliária fez construir blocos aterradores de apartamentos incaracterísticos, numa zona onde este tipo de construção sreria obviamente desaconselhada.
  • Onde existiam estradas e caminhos rodeados de vegetação natural que eram um regalo para o olhar começaram a rasgar coisas à moda dos nossos IC’s e IP’s, com alargamentos periódicos que cada vez os desfeiam mais e mais. Acredito que com alguns ganhos funcionais em termos de rapidez nas deslocações, mas em muitos casos sem grande nexo que não um sorvedouro de subsídios.
  • As colinas antes cobertas de vegetação e arvoredo com destaque para as criptomérias, vão continuando a ser raspadas até ao tutano para pastagens, resultado da aposta numa monocultura com destino a prazo.

Mas tudo isto traz Progresso, Desenvolvimento, e quem viveu a insularidade e todas as suas dificuldades, nem sempre tem capacidade crítica para perceber que estão a destruir a sua especificidade e um dos seus maiores trunfos. O eixo Ponta Delgada-Ribeira Grande assemelha-se cada vez a qualquer espaço urbano continental e isto não é um elogio. E a doença vai-se espalhando para todos os pontos onde começam a pulular os espaços comerciais abarracados à moda dos nossos subúrbios.

A imagem usada corresponde a uma dessas aberrações nascidas ao lado de um dos passos (usados na procissão do Senhor dos Passos na sua evocação do Calvário) da Ribeira Grande, numa zona caracterizada por diversas outras aberrações consentidas por um poder local modernaço.

Uma dor de alma.

Discordo da forma como foi aprovada a lei sobre a educação sexual em meio escolar (designação só por si do mais ridículo) e de parte das suas finalidades.

Mas daí a entrar pelos territórios do descabelamento vai todo um infinito.

Estas senhoras e senhores devem viver uma vida toda muito espiritual e parece-me que não andarão muito afastados da mentalidade daqueloutros que querem julgar uma mulher sudanesa por usar calças.

Educação sexual é um “erro trágico”

A Federação Portuguesa pela Vida considera um “erro trágico” a aprovação da lei da educação sexual, crítica partilhada pela Associação Juntos pela Vida, para quem Cavaco Silva é responsável pelas “leis mais criminosas da História”.

Em comunicado, as duas associações tecem duras críticas à lei sobre educação sexual na escola, aprovada quinta-feira, considerando que esta “propalada como meio de prevenir o aborto é agora instituída de acordo com as orientações do maior operador privado da indústria do aborto”.

“A doutrinação compulsiva anti-família é, a partir de agora, um facto protegido pela Lei”, refere a Associação Juntos pela Vida.

A mesma associação enumera uma série de diplomas, entre as quais a lei da liberalização do aborto a pedido da procriação medicamente assistida e a lei do divórcio, considerando-as como as “mais criminosas da História de Portugal”.

Erro trágico na História de Portugal foi – sei lá – a Inquisição, o Estado Novo, todo o tipo de perseguições que levaram à perda de vidas por delitos de opinião. Ensinar sexualidade às crianças e jovens não pode seques estar no mesmo patamar.

É como equivaler o Holocausto à prostituição ou à masturbação.

Caramba, pessoal, deixem o corpo ter um pouco de prazer ou, em alternativa, aprendam o suficiente para saber o que perdem, enquanto distribuem burkas-tugas (vulgo, lenços negros) pela vossa comunidade.

Eu bem digo que falta um enorme debate – se possível com uma dimensão de trabalho prático e/ou autónomo na modalidade de pleasureshops – sobre Sexo em Portugal.

Respeito a posição abstinente e adstringente de quem assim o entende. Mas então respeitem também a inversa.E não tenham medo da Informação.

O Apocalipse não chegará por via da Fornicação desmesurada, meus caros; se assim fosse já teria acontecido há muitos séculos, quando os vossos tataravós divulgavam as teorias aristotélicas da mulher como mero receptáculo da semente e costuravam aquelas lingeries só com um buraquinho para evitar o contacto entre os corpos.

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Maria José Nogueira Pinto, uma espécie de Vale de Almeida do PSD, em entrevista ao DN, tem algumas interessantes declarações, das quais respigo aquela que se relaciona com a Educação

Caso haja uma vitória do PSD, muitas das políticas que estão a ser seguidas vão ser radicalmente alteradas. Isso é benéfico?

Quem é que nos diz que vão ser radicalmente alteradas? Acho que todas as que são más devem ser alteradas, mas não há razão para mudar as que não o são. Não ouvi dizer que iam ser alteradas e, aliás, em algumas ocasiões escutei mesmo Manuela Ferreira Leite referir boas medidas do Governo de Sócrates.

Na Educação não haverá dúvidas!

É preciso distinguir o trigo do joio em todos os sectores e o trigo deve ser poupado e o joio arrancado. A questão da Educação é muito mais complexa que a avaliação. Ninguém põe em causa a necessidade de avaliar, o que está em causa é o modelo e há muitos países, até bem próximos, como a Espanha, onde resultaram. A avaliação é fundamental e é tudo. Aliás os políticos são avaliados nas eleições e até deviam sê-lo mais amiúde e gostar de o ser.

Há aqui demasiada amplitude. E só se fala na avaliação, o que é sempre redutor, pois ela é apenas uma parte da operacionalização do Estatuto na parte que os professores mais recusam, a divisão horizontal da carreira e as quotas. Embora a Mizé não seja quem define as políticas do PSD, é sempre bom perceber o estado de espírito.

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