Quinta-feira, 18 de Fevereiro, 2010


Blur, Girls and Boys

Quando a res publica está nas mãos destes rapazes…

De Henrique Monteiro no site do Expresso:

Parece um desmentido… mas não é

Num comunicado que deve ter sido medido ao milímetro, o chefe do Governo nada diz que já não se soubesse.

“Como é uma falsidade que alguma vez eu ou o Governo, à data da minha primeira declaração sobre o assunto na Assembleia da República, tenhamos sido informados pela PT, sobre as suas intenções de adquirir a TVI.”

Esta frase, retirada da declaração de Sócrates, nesta noite de quinta-feira, parece desmentir aquilo que o Expresso e vários comentadores afirmaram: que o primeiro-ministro, muito antes da notícia que relatava a intenção da PT em comprar a TVI, sabia do negócio.

Parece, mas não desmente. O que Sócrates deixa claro é que é uma falsidade que ele ou o Governo (e volto a citar) “tenhamos sido informados pela PT”. Por qualquer razão a frase não acaba em informados, mas “em pela PT”.

A fonte da informação não foi a PT, eis tudo o que é dito num comunicado que deve ter sido medido ao milímetro. Mas Sócrates poderia ter ido mais longe, apenas um pouco mais longe, e esclarecer se – sim ou não? – já tinha conhecimento da hipótese de negócio.

O WordPress esteve em quebra durante 2 horas e algum alvoroço se instalou. Blasfémias, Insurgente, aqui o Umbigo e mail’uns quantos, todos a pensar que se nos tinham atravessado uma vara no caminho ou então que tínhamos sido arquivados pelo pinto atrás do monteiro, enquanto o noronha ratificava o nascimento.

Como se vê, a crise de carência baralhou-me os circuitos e deixou-me pior que um ruipedro depois de ver os milhões anuais a fugirem-se-lhe por uma demissão.

Foi-me dada a hipótese de aceder em primeira mão, em termos de grande público, a esta obra que contraria muitas das ideias feitas sobre a forma de educar as crianças, tanto na perspectiva dos pais como dos professores.

Podia gostar apenas do tema como catalisador para um bom debate, mas acontece que partilho de muitas das ideias dos autores, por vezes contrárias às vulgatas que pululam na abundante bibliografia de auto-ajuda ou orientação e/ou aconselhamento educacional. Curiosamente, algumas das ideias estranhas que este livro contém baseiam-se em pesquisas científicas pouco populares para a opinião pública e para alguns especialistas agarrados às teorias de anteontem.

Um dos exemplos é o caso da auto-estima e do papel do elogio, e da sua natureza, no desempenho escolar das crianças. Deixo aqui o link – com a autorização da editora – para a descarga gratuita do primeiro capítulo que aborda este tema e de que eu passo a fazer uma citação para provocar alguma discussão que vá para além de política educativa e entre por territórios muito mais importantes para a qualidade da Educação. Aviso desde já que algumas conclusões são claramente contrárias a muito do que se lê e ouve pela comunicação social e ainda se ensina na formação inicial ou contínua de professores, e que só à custa de muita prática muitos de nós conseguem ter o discernimento e coragem para contrariar, conseguindo fundamentar essa opção.

Presume-se que se uma criança acredita que é inteligente (após ouvir isso constantemente), não se intimidará com novos desafios académicos. O elogio constante deve funcionar como um anjo de guarda, assegurando que as crianças não desaproveitam os seus talentos.

Mas um corpo cada vez maior – e um novo estudo feito a partir das trincheiras do sistema de ensino público de Nova Iorque – indica com grande convicção que pode estar a acontecer precisamente o contrário. Dizer às crianças que são “inteligentes” não as impede de ter um desempenho fraco. Pelo contrário, pode ser a causa disso.

(…)

Após a publicação de The Psychology of Self-Esteem em 1969, onde Nathaniel Branden considerava que a auto-estima era a qualidade mais importante de uma pessoa,a  convicção de que devemos fazer o que possível para termos uma boa auto-estima transformou-se num movimento com grandes repercussões na sociedade.

Em 1984, a legislatura da Califórnia já havia criado um grupo de acção oficial dedicado à auto-estima, acreditando que ao melhorar a auto-estima dos cidadãos contribuiria para inúmeras outras melhorias, desde uma menor dependência na segurança social até à diminuição da gravidez juvenil. Estes argumentos transformaram a auto-estima num movimento imparável, em especial em relação às crianças. Tudo o que pudesse afectar negativamente a auto-estima das crianças era eliminado. As competições começaram a ser vistas negativamente. Os treinadores de futebol deixaram de contar os golos e começaram a dar troféus a todos. Os professores deixaram de usar lápis vermelhos. As críticas foram substituídas por elogio ubíquos e imerecidos. Existe inclusivamente um distrito escolar em Massachussetts onde as crianças “saltam à corda” na aula de ginástica sem uma corda – para evitar o embaraço de tropeçarem. (pp. 21, 26-27)

Vamos lá ouvir…

É só aos jornalistas ou nós também podemos ouvir?

Sócrates faz declaração aos jornalistas esta noite

O primeiro-ministro, José Sócrates, vai fazer uma declaração aos jornalistas esta quinta-feira, pelas 20:05 horas, a partir da residência oficial.

Não concordo com várias posições de Paulo Rangel sobre a Educação, mas pelo menos há a vantagem de haver ideias mais ou menos concretas para discutir, a partir de um naco significativo da entrevista que surge hoje no I, mesmo se nela por vezes resvala para um saudisismo que seria melhor temperar.

Qual é a sua ruptura na educação?

É o sector onde temos mais de mudar as políticas, embora com alguma prudência.
Acho que houve um modelo de educação baseado no facilitismo e na ideia de que o aluno é o centro da educação. Ora, eu penso exactamente o contrário. Penso que a escola deve ser visto como um valor colectivo, é um centro de transmissão do saber, de transmissão geracional do saber. O que é fundamental na escola é exigência e rigor no ensino. Considero que é muito mais importante, por exemplo, o sistema de avaliação dos alunos e de qualidade do ensino do que o sistema de avaliação dos professores. Considero mais importante a questão da autoridade e da disciplina na escola do que a questão da carreira dos professores. E considero que isto é feito em nome de um projecto de igualdade de oportunidades, porque uma escola facilitista é a escola que protege as classes mais altas. Uma escola pública facilitista é a que mais favorece a estratificação social. Porque as classes mais baixas do ponto de vista sócio-cultural ou económico-cultural não têm outro sítio onde aprender além da escola – não têm colégios privados. Neste momento, eu diria que temos quase uma escola classista que, cada vez mais, aumenta o fosso entre as classes privilegiadas e as menos privilegiadas.

Isso é quase uma posição socialista…

Não. É uma posição a favor da igualdade de oportunidades. Por exemplo, a prioridade do PSD, muitas vezes, no discurso da educação, tem sido a liberdade de escolha. Eu sou a favor da liberdade de escolha, mas não é a questão principal do ensino em Portugal. A questão principal é a exigência, o rigor, a transmissão dos conhecimentos. A posição socialista é a posição da escola inclusiva: “Vamos passar toda a gente, para que todos sejam iguais, vamos facilitar”. Porque agora a escola está massificada e, por isso, temos de passar todos. Há aqui uns que não têm capacidade para aprender, que têm um ambiente sócio-familiar difícil, portanto vamos facilitar-lhes a vida. Muitas dessas pessoas podem render muito mais! É preciso é exigir delas e acompanhá-las. Depois há um outro problema: há, realmente, casos de franjas económico-sociais – e nalguns casos até nem tem a ver com a questão social, mas com uma questão psicológica das próprias crianças e adolescentes – que é a questão do abandono escolar. Esta questão é difícil e, em Portugal, é dramática. Eu aí, sinceramente, só vejo uma solução: a introdução de um ensino profissional mais cedo. Que é outro tabu que também não encaixa.

Acredito que sexta-feira não se note mais do que o estritamente necessário, mas com o passar do tempo se verá a vaga de fundo soarista perante a qual o o partido de Sócrates se verá entre a espada e a parede. Provavelmente escolherá a parede. Quem quiser que adivinhe o papel de Alegre e Nobre nesta espécie de ajuste de contas.

Presidenciais. A mão de Soares empurra Fernando Nobre contra Alegre

Soarista Vítor Ramalho não apoia formalmente Nobre, mas diz que “esta é uma candidatura muito necessária”.

Fernando Nobre avança para a candidatura à Presidência da República pela mão de Mário Soares. O incentivo do ex-Presidente foi confirmado pelo presidente da AMI ao Bloco de Esquerda quando, há duas semanas, informou o partido – do qual foi mandatário nas eleições europeias -, de que ia avançar para Belém, soube o i. Nobre junta-se assim a Manuel Alegre na corrida à Presidência e cria um problema à esquerda (leia-se PS e Bloco).

Fernando Nobre anuncia a candidatura na sexta-feira, às 20 horas, no Padrão dos Descobrimentos, precisamente à mesma hora em que Manuel Alegre estará em Coimbra para um megajantar com apoiantes.

O presidente da AMI não tem experiência política, mas toca vários quadrantes: apoiou Mário Soares nas presidenciais de 2006, foi mandatário de António Costa em Lisboa e deu o seu apoio ao social–democrata António Capucho nas últimas autárquicas, para além do Bloco nas europeias. Há muito que a ala soarista do PS procurava um candidato alternativo a Alegre: Jorge Sampaio, Jaime Gama, Artur Santos Silva, Vera Jardim, Carvalho da Silva, Guilherme d’Oliveira Martins e Gomes Canotilho foram nomes sondados para Belém e todos recusaram. Alegre avançou sozinho, mas a falta de consenso foi o calcanhar de Aquiles que António Vitorino lhe apontou: “Se ele aspira a ter o apoio do PS não poderá aparecer como um candidato oriundo da área do BE”, disse na RTP.

Já vislumbro uma comissão de honta com valteres, lellos, edites e, se não der muito nas vistas, até varas. A culpa não ser, certamente, do carácter do candidato. Apenas do ego. Acontece a qualquer um.

Ainda sem link no site do SPRC mas chegado por mail:

Professor associado no SPRC ganha processo interposto pelo Gabinete Jurídico do Sindicato

Horas de reunião serão pagas como serviço docente extraordinário

Mais uma vez, se confirma a razão que temos!

A luta pela consagração de horários de trabalho justos e adequados ao seu fim tem sido difícil e para ser bem sucedida tem de contar com o envolvimento dos professores.

Esse envolvimento, para o qual a FENPROF e o SPRC têm preparado poderosos instrumentos legais, implica que cada um de nós, na sua situação, recorra aos meios jurídicos e judiciais postos à disposição e os use. Muitas vezes há algum pudor em o fazer, pois os professores receiam que os órgãos de gestão interpretem as acções interpostas em tribunal pelos docentes como sendo contra estes e não contra o próprio sistema instalado que menospreza o seu papel pedagógico e os considera meramente instrumentais dos objectivos do sistema educativo. O resultado é quase sempre uma enorme sobrecarga de trabalho que contribui, como é óbvio, negativamente para a qualidade do ensino e das aprendizagens.

Há, contudo, quem se recuse a pactuar com esta situação e force decisões adequadas para o problema. É o caso de um docente que obteve agora de um Tribunal Administrativo e Fiscal uma decisão preciosa para o professor em causa, mas principalmente para a luta geral dos professores portugueses.

Assim, o referido TAF manda pagar horas extraordinárias, correspondentes a tempos de reunião de CEF previstos no Despacho Conjunto n.º 453/2004 como equiparados a tempos lectivos e que a escola havia inscrito na componente não lectiva no horário do referido professor. Como é claro, este acórdão é de relevante interesse sindical e vem comprovar a justeza das críticas e dos argumentos aduzidos pelo SPRC e pela FENPROF sobre esta matéria.

Para discutir mais adiante, com oferta do primeiro capítulo.
Com muita coisa contrária ao senso comum e ao eduquês bem-pensante e politicamente correcto.

Grupo de militares de Abril contra casamento entre homossexuais

Um grupo inicial de 25 militares de Abril escreveu uma Carta Aberta contra a lei que permite o casamento entre homossexuais, que consideram ser uma “aberração”, disse em conferência de imprensa um dos seus subscritores, o general Garcia Leandro.

Hugo Pratt, Corto Maltese (Fábula de Veneza edição colorida, 1984)