Coerências


Estou longe, mesmo muito longe, de apreciar o anterior PM.

Mas… não posso deixar de reparar que muitos dos que defendem que toda a sua vida financeira e fiscal deve ser do domínio público, mesmo com as investigações sobre ele em segredo de Justiça, são os mesmos que defendem que qualquer detalhe sobre a vida financeira e fiscal do actual PM e outras “personalidades” deve ser mantida sobre reserva em nome do “direito à privacidade”.

A favor da teoria de MST no Expresso de ontem está a sua coerência nos últimos anos, a qual passa por defender a maioria dos poderosos-mesmo-poderosos com problemas com a Justiça (Sócrates, Salgado, Passos Coelho), apenas se continuando a mostrar feroz como outrora com os varas miúdos.

No meu caso, acho que a casta política que se perpetua e reproduz no poder nas últimas décadas deve estar sujeita ao mesmo tipo de escrutínio público que existe em outras democracias que nos apontam como modelares. Lá fora, até republicanos empedernidos como o Jeb Bush se afastam de todos os cargos que ocupam no sector privado quando se decidem por uma eventual candidatura presidencial. E atenção que estamos a falar de alguém que representa mesmo uma das linhagens políticas mais conservadoras da sociedade americana.

Por cá, quem vai para a “vida pública”, gerir a “coisa pública”, faz tudo por manter-se em todos os seus poisos habituais, por manter “privada” a sua vida profissional e fiscal, não compreendendo que é isso que nos faz suspeitar quase de imediato que algo de estranho se passa, em especial quando a implementação de “filtros” coincide no tempo com a revelação de pormenores maiores sobre incumprimentos diversos das obrigações de certas figuras que se querem exemplares e que afirmam que os “pol+iticos não são todos iguais”.

Se não são, demonstrem-no.

João Carlos Espada (i. e. o sumo apóstolo de Popper na Terra para desgosto da alma do próprio) está muito preocupado com a aproximação de alguns partidos, movimentos ou governos europeus à Rússia.

Pub16Fev15b

Público, 16 de Fevereiro de 2015

Eu é que devo andar distraído, que não o li tão preocupado com a subserviência económica de alguns governos, a começar pelo nosso, em relação a Angola ou à China.

Aliás, o que li em relação à China – esse farol vibrante da democracia – foi muito instrutivo a propósito do Dia Mundial da Democracia, em 2008:

Em segundo lugar, esse clube não visa excluir ou subverter, ou derrubar pela força regimes não democráticos. A China, aliás, compreende isso muito bem e está a integrar-se com bastante compostura na comunidade internacional.

Ou em 2012, quando depois de visitar o Brasil, decidiu erigir a China como um dos exemplos do empreendedorismo internacional:

Foi uma sociedade civil vibrante, em perpétuo movimento, com uma energia empreendedora que só tem paralelo nos EUA (e talvez na China e na Índia, mas devo admitir que não senti aí a mesma energia).

 

Caricatura de Schäuble condenada pela Alemanha

… pelo seu intervencionismo político no 2º mandato, envolvendo-se de forma clara em disputas partidárias, faça agora algo parecido ou pior, quando comenta governos estrangeiros, depois de ter feito a exaltação da neutralidade da função presidencial.

Recusar aquela coisa do culto imperial, então… estava mesmo a pedi-las, certo, amiguinh@s fofinh@s das opiniões da treta?

Somos todos Charlie?

São todos Charlie?

Mentira, grande mentira. Hoje já quase ninguém é “Charlie”, leia-se sátiro, libidinoso, anarquista e iconoclasta.

Alberto Pimenta, José Vilhena, há malta a querer fazer-se passar por vocês.

O Bruno Nogueira e o João Quadros explicaram a coisa, hoje de manhãzinha, na TSF de forma lapidar.

Só lhes faltou a concretização com rostos (isso fazem em outros dias) da hipocrisia de muitos dos nossos charlies bem-pensantes no rescaldo de qualquer acontecimento deste género.

Bastaria termos cá uma Charlie Hebdo (escala 8 em 10 contra uns meros 4 ou 5 em 10 do Inimigo Público ou do falecido Contra-Informação), sem compromissos publicitários, sem a necessidade de agradar a patrocinadores antes de eles caírem em desgraça (e então já se investigam as aleivosias) e veríamos quanto tempo durariam sem serem objecto de um outro tipo de atentado, mais manso mas quase tão eficaz, para que desaparecesse ou se tornasse “responsável”.

Já pensaram o que seria o recluso nº 44 nas mãos daquela malta? Bastou ver o que fizeram ao Sarkozy e ele apenas foi lá dentro para ser inquirido.

Isso é que seria ver as câncias, as claras e os queridinhos a retorcer-se tod@s e a esquecerem todas as rebeldias passadas, as idas a Paris e aos quiosques do Quartier Latin de outros tempos, erguendo o punho contra o “mau gosto”, a “insensatez”, o “radicalismo” do tipo de crítica que sempre foi a imagem de marca dos radicais anarquistas e libertários da Charlie. Ou de outras publicações, menos ásperas em algumas arestas, como o Le Canard Enchainé ou a L’Echo des Savannes.

Ontem, enquanto almoçava, ouvia alguém numa mesa ao lado, especialista instantâneo na coisa, a elogiar o Wolinski como um grande desenhador e um dos seus favoritos.

Sim, pois, está bem.

Olhem…eu cá não os achava grandes desenhadores. Não vou fingir agora. Achava-os era um exemplo em termos de atitude, de aquilo de muito bom que o Maio de 68 deixou para trás, de gente que não envelheceu precocemente por dentro, como aconteceu aos nossos charlies por procuração ocasional.

Cheguei à Charlie Hebdo por via da exploração adolescente da banda desenhada, em arquivos de sobras da Pilote, da Metal Hurlant, da (a suivre), depois dos tempos dos tintins&spirous. Nunca fui exilado em França, é uma pena, falta-me esse cosmopolitismo essencial.

E mesmo se achava que, por muitas vezes, o que eles escreviam e desenhavam ia muito para além do meu gozo ou gosto pessoal, a lição aprendida foi sempre a de não aceitar como amos os interesses alheios para formar opinião. Não amochar aos granadeiros&zeinais por causa de uma página dupla de publicidade ou aos ulricos&salgados por causa do patrocínio a uns grandes debates de actualidade e umas idas à estranja descobrir “a realidade lá fora”. Não evitar abordar assuntos tropicais, com medo que as isabéis ou os sobrinhos se aborreçam e deixem de investir.

Muitos dos nossos charlies de meados desta semana, borrar-se-iam todos se, com metade da idade do Wolinski ou do Cabu, tivessem um décimo da sua insanidade consciente.

Claro, este deve ser um momento de união de todos os que defendem a liberdade (de expressão e não só), a democracia e os seus valores da tolerância.

O problema é quando o momento acaba e todos voltam à sua vidinha e, nesse aspecto, aquele xónhónhó do Gustavo Santos, em que todos aproveitaram para bater, até é o mais sincero de todos. porque nem esconde aquilo que é. Voluntariamente ou porque é mesmo assim e nem consegue evitar.

O pior são os outros que, pela calada, fazem quase tudo para que qualquer charb cá do sítio prefira ficar de joelhos a fazer ondas no pantanal.

Simpson

Charlie2

Charb : « Je préfère mourir debout que vivre à genoux»

E assim foi.

Resmas de comentadores e jornalistas a criticar jornalistas e comentadores por não saberem a matéria de facto do processo e divulgarem peças sem contraditório, sem que isso os impeça de se pronunciar exactamente sobre as mesmas peças e matérias que consideram não ser válidas.

Colocando um “alegadamente” antes de falar pode-se tudo.

O Monteiro do Expresso acha que isto já é demais…

(…)

Pois realmente parece uma chatice, esta de condenar uma antiga ministra socialista, da facção mais correcta, em pena de prisão efectiva. Os crimes que terá praticado são graves? Pois, mas mesmo assim é demais. Prisão efectiva? Isso é para os pés descalços, que agora são os pequenos traficantes de droga e coisas assim. Traficar com dinheiros públicos, com favores a amigos, isso nem parece crime.  Será?! Lá fora é, claro que é . E as penas são a doer. Mas aqui? Nesta terra de brandos costumes, condenar em prisão efectiva esta gente que ainda há pouco tempo convidávamos para almoçar nos pabes ou noutros sítios para nos darem notícias? Isto faz-se? Não se faz, é um exagero, claro que é.

Director escolar demite-se devido a instabilidade na colocação de professores

Em contrapartida, acredito que outros se estejam a sentir com perfil para ascender na cadeia alimentar.

MEC avança com bolsas de 1500 euros anuais para levar mil alunos para o interior do país

Secretário de Estado do Ensino Superior já assinou o despacho que aprova o programa +Superior. Já este domingo serão conhecidos os resultados do concurso nacional de acesso ao ensino superior.

Embora eles por vezes não entendam bem o que é “interior”.

Eu percebo o pluralismo de opiniões, mas… não escreveram um livro em conjunto? Afinal partilham visões diferentes da mesma realidade?

Ou, se calhar, cada um dispara conforme a situação, de acordo com o que acha fazer mais mossa no vosso ódio de estimação?

É que, para o caso do que fazem os professores nas escolas, cada tiro, cada melro. Nem me interessa quem tem razão… apenas assinalar a “coerência” do pensamento económico insurgente:

Miguel Botelho Moniz, 17 de Junho:

O principal problema na distribuição de alunos por turma não é o número absoluto em si, mas o facto de existir uma diferença tão grande no rácio entre professores “praticantes” e alunos versos professores totais e alunos. Isto é, o erário público paga a milhares de professores para não dar aulas, estando estes com horários zero, em funções administrativas ou sindicais.

Carlos Guimarães Pinto, 19 de Agosto:

2. “Portugal tem mais professores do que outros países, porque os professores em Portugal cumprem mais funções para além de ensinar”

Falso. Portugal é um dos países onde os professores passam uma maior parte do seu tempo a ensinar.

Já sei… as ideias “evoluem”… ou… queriam dizer ambos o mesmo, mas de formas diferentes.

Enfim… o costume.

Gosto em especial daquela em que os professores com horário-zero assumem funções sindicais aos milhares. Um muuuussssst ao nível de quem “não abdica de pensar” como faz o CGP (eu prometo que não faço mais chalaças com o nome… nem aprecio isso… mas como “vítima” habitual… desforro-me de quando em vez).

Ou não era bem isso que queria dizer, até porque a meio de Setembro do ano passado o MEC dizia que os horários-zero eram pouco acima dos 1200 e ainda iam diminuir.

Mas ninguém informou a tertúlia económica insurgente.

Mas é mesmo giro um a dizer que os professores dão imensas aulas, por isso é que os rácios não se explicam por terem outras funções e o outro a dizer que essas funções são aos milhares.

A realidade é plural.

É pós-moderna.

Estilhaça-se e fragmenta-se perante o pensamento em movimento.

devil

PG Pub15MAi14

Público, 15 de Maio de 2014

Não sei quanto tempo, caso a legislação eu ameaçam publicar para amordaçar as vozes críticas de “dentro” venha mesmo a ser colocada em prática, poderei continuar a dizer publicamente aquilo que penso e em que acredito.

Pelo que vou aproveitando.

Se não tenho uma visão conspirativa global da maioria das pessoas que trabalham na comunicação social (pelo menos, das que conheço), tenho uma visão muito negativa dos herdeiros do Relvas que continuam a desgovernar-nos às claras ou nas sombras.

São muito liberais e adoram a liberdade, desde que ela não se vire contra eles. E isso é tão mais verdade quão maior é a incompetência e a falta de carácter.

A claustrofobia democrática está de boa saúde, mas não se recomenda.

 

… em Fevereiro de 1992, quando Cavaco cedeu e, com o fugaz Diamantino Durão no MEC, a PGA foi anulada e o Independente tratou o tema sob a batuta de Paulo Portas.

Calhou achar hoje este exemplar e notar que muitos dos nomes dos “jovens” já no poder ou a querer ascender eram… Miguel Macedo, Marques Mendes (os já empoleirados), Passos Coelho, Miguel Relvas e Carlos Coelho (em rota mais ou menos rápida de ascensão).

São especialmente interessantes as opiniões de Pulido Valente sobre o assunto (naquela altura até falava na razão dos 100.000 alunos nas ruas contra a prova de acesso à Universidade) e a peça sobre todos os jogos de poder da JSD de então, polvilhada de carreiristas da primeira apanha e como Passos Coelho ziguezagueava entre a contestação e a necessidade de fazer pela vida.

E isto também nos ajuda muito a compreender a arqueologia do discurso do rigor… e dos revolteios dos seus protagonistas actuais, no poder ou na opinião publicada que há quem diga da maior lucidez… (tem dias…)

Naquela altura uma prova de ingresso na Universidade era uma hipocrisia e uma irresponsabilidade… 🙂

SONY DSCSONY DSC

SONY DSC

SONY DSCSONY DSC

Independente, 28 de Fevereiro de 1992

 

 

… sentadinho de camarote, mesmo ao lado do Papa em declínio.

Para quem tentou erguer uma carreira à custa de umas bofetadas mal apanhadas em Felgueiras há sempre tempo para um novo low.

(o problema não é a febre clubista… nesse casos vai-se de cachecol para o meio da bancada…)

… e em todos os casos em que o Ocidente apoiou a “auto-determinação” dos povos e todos aqueles slogans que parecem funcionar só num sentido.

Podemos pensar o que quisermos acerca das tácticas do Putin, mas… isto é tão ou mais democrático do que muitas outras coisas que foram aceites como boas pela “comunidade internacional”. Com ou sem intimidações sobre as minorias.

E agora?

95% votam a favor da integração da Crimeia na Rússia

 

Quando Carlos Macedo, militante nº 6, foi expulso do PSD por criticar a ministra Leonor Beleza? Seria interessante recuperar o que então disseram alguns actuais notáveis.

PSD expulsa António Capucho, um militante que fundou o partido com Sá Carneiro

Ex-secretário-geral dos sociais-democratas diz que decisão confirma o estado a que chegou o PSD.

Macedo foi depois readmitido por unanimidade em 1990, mas recusou.

No caso presente, em que o PSD está dominado por ex-jotinhas que fizeram carreira na base de uma rebeldia habilmente coreografada nesses mesmos anos 90, a intolerância é a regra e a purga de matriz estalinista um recurso fácil – porque estatutário 🙂 – e cómodo para apagar as vozes dissonantes.

Seria interessante ver o que muitos dos actuais coelhistas fizeram quando Manuela Ferreira Leite era líder do PSD.

A liberdade (política, de expressão) individual, a essência de qualquer verdadeiro liberalismo, é estranha a esta malta, gentinha criada na base do esquema, do truque e da canelada e que – já era antes claro, mas agora fica às escancaras – não consegue elevar-se acima da mediocridade ética.

rolha

Dinamarca: Ministros demitem-se após entrada da Goldman Sachs em eléctrica estatal

Imaginem se fossem empresas chinesas meio manhosas.

O MEC decidiu que os directores podem acumular esse cargo com o de – por exemplo – vereador, apesar da legislação o não permitir de modo muito claro. Seja o cargo remunerado ou não. É o que está no santo decreto. Parece que é “inconstitucional” e que fere os cristais dos cidadãos directores.

Já a porcaria dos cidadãozecos dos professores podem ver tudo e mais alguma coisa acontecer-lhes, de congelamentos na progressão a reduções salariais acumuladas, de aumento de horas lectivas a avaliações completamente ficcionadas, que nada é “inconstitucional”.

Realmente, há alturas em que só apetece…

polish-a-turd

Página seguinte »