Profundezas


… frequentado por elites locais, das políticas e das empreendedoras. Daquelas que mudam de automóvel a cada vaga de subsídios para fazer e desfazer obra ou a cada mudança de PDM.

O nível de análise política é de uma profundidade tão grande que fica tipo verniz nas unhas de senhora. O que vale é que o galo de cabidela compensou.

Só sobraram os ossinhos… e algum molho.

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“A lei do OE para 2013 está neste momento a ser analisada com todo o cuidado, é uma lei muito complexa, tem cerca de 250 artigos, o Governo levou vários meses a preparar o orçamento, a Assembleia mais de um mês a discuti-lo”, afirmou Cavaco Silva aos jornalistas, à margem da apresentação de um projeto de judo de inclusão social, em Lisboa.

O chefe de Estado reiterou que não cederá “a nenhuma pressão” e disse que o Orçamento “é apenas uma das 20 leis e decretos” que está neste momento a analisar.

“Tomarei a decisão tendo em conta os pareceres jurídicos aprofundados que mandei fazer e tendo em conta a minha avaliação do superior interesse nacional”, afirmou.

O João Dias da Silva está em grande forma:

Pode-se faltar e ter sucesso e faltar e não ter sucesso.

Poizé!

La Palisse!

Ao fim de seis meses de insurreição, cinco dos quais apoiados por persistentes bombardeamentos da NATO, os contra-revolucionários tomaram a capital da Líbia. No assalto a Tripoli, a Aliança Atlântica e os mercenários e fundamentalistas islâmicos afectos ao Conselho Nacional de Transição (CNT) mataram tantas pessoas como as vítimas civis estimadas pelo governo líbio durante todo o conflito. […]  A queda de Tripoli é uma derrota para todos os progressistas e amantes da paz, mas não a sua rendição ou deserção da luta contra a barbárie.

Estranho quando leio ou ouço falar acerca de projectos, quando do que se trata é de pessoas. Não percebo esta transformação, por vezes para lá de linguística, que despersonaliza os indivíduos ou grupos de indivíduos, por forma a transformá-los em variáveis de um projecto.

Talvez seja assim mais fácil lidar com as situações, esquecendo que são pessoas que estão em causa e não casas, estudos, experiências, peças. São pessoas, individuais, com rosto, aspirações próprias, com quem é preciso dialogar, que é preciso conhecer.

Os projectos são ideias, teorizações, idealizações, que se tentam implementar sem atender a circunstancialismos, às especificidades. Talvez assim seja mais fácil para quem só atende aos seus objectivos e desejos. Dificilmente é algo equilibrado, pois há quem projecta e quem tem de se adaptar ao projecto.

O projecto não pode preceder as pessoas. As pessoas é que interessam e o projecto só se constrói com elas, em diálogo, construindo a partir delas. Não apresentando o fa(c)to pronto a vestir e, se encaixas tudo bem, se não encaixas, ou fazes por encaixar, ou desencaixas e vais à tua vida.

Estou cansado de ler e ouvir falar em projectos e objectivos. Falem em pessoas. Com as pessoas. Olhem para dentro delas. Só construam os projectos depois. Afinal a vida não é o mesmo que brincar aos legos.

Não há nada que agrade mais a quem se julga fadado para algo do que sentir-se insubstituível. Nada tilinta mais aos ouvidos de um pintodacosta ou joãojardim (para ir aos casos mais extremos de sucesso decrépito) do que uma vaga de fundo que sussurra ou brame que se é insubstituível e que sem nós o mundo descamba e desfalece.

A alguns mais discretos, bastam algumas vozes a assinalar essa mesma impossibilidade de substituição de quem é o homem (ou mulher… lembremo-nos de MLR!) providencial para um determinado lugar ou função.

A verdade é que a função ou o lugar é que podem ser insubstituíveis, quem a(o) ocupa não. Podem ocupá-lo melhor ou pior, mas a verdade é que as estrelas continuarão no céu e o orvalho nas ervas e flores nas manhãs mais bonitas.

Mas os que são grandes – e pequenos – líderes acham mesmo que são insubstituíveis. Não são. Ninguém é, para além de um certo contexto que eu quase limitaria aos afectos, e só gente ingénua, arrogante ou desligada da realidade pode pensar que é insubstituível, no sentido de tudo parar ou ficar irremediavelmente inclinado caso esse alguém não faça o que se espera dele(a) ou o que querem que faça ou ele(a) quer fazer e precisa de um pretexto para.

A consciência de que somos transitórios, pontuais, ocasionais e que raramente, muito raramente, a nossa individualidade vai para além do temporário é muito importante. É quase tão importante quanto a consciência de que um dia morreremos e – grande m****!!! – o sol nascerá no dia seguinte e nós não o poderemos apreciar. Sei do que falo, porque já há muito (cortesia da perda de muitos familiares próximos em idade precoce) percebi que quase todos somos substituíveis no nosso papel ou função, mesmo se com a morte ainda tenho uns problemas a resolver que a leitura dos velhos contos do Woody Allen não resolveram, excepto aquele em que se abre a hipótese de jogarmos às cartas o nosso destino com a ceifeira.

Agora quanto à vida social, política, cultural, económica, etc, o maior erro -e que muitos males causou no passado – foi a da crença de se ser insubstituível e de se ter uma espécie de destino marcado com a História Grande ou pequena.

É um erro.

Nos tempos que vivemos, de desnorte, este erro é comum, porque numa época de gente pequena, ao olhar-se à volta, qualquer pigmeu se julga gigante ou quase.

(e nada disto, repito, nada disto, tem a ver com o facto do meu novo cartão do cidadão me ter atribuído mais dois cm de altura do que o meu vetusto bi).

O tipo de trabalho que deveria acontecer com maior frequência, em outras escolas, em outros departamentos.

Documento completo: REFLEXÃO_DEPART VISO.

Acho bem. Eu cá vou reflectir muito. Na segunda-feira de manhã espero ter uma opinião formada e estarei pronto.

Em vez de dizer que as equipas adversárias jogam mal sempre, só porque são adversárias, podemos focar-nos em criticar quando estão mesmo a jogar mal, independentemente da cor das camisolas.

Transferindo isto para a política – acaso a metáfora tenha escapado por entre os dedos a alguém mais distraído – uma pessoa pode concentrar-se em criticar a estupidez das ideias e das práticas, sem que isso esteja pré-condicionado.

Ficção, prefiro em forma de livro ou série televisiva. Seja a da comédia de costumes, seja a de horror.

Uber Gewissheit

Logische-Philosophische Abhandlung

O problema não está nas gerações jovens de agora, mas nos pseudo-traumas das anteriores que não souberam lidar com a liberdade, que desenvolveram fantasmas em torno do exercício da autoridade e que têm problemas em lidar com ela, oscilando entre a extrema agressividade e a absoluta complacência.

Porque isto é em grande parte o resultado de adultos que não souberam, eles próprios, crescer e estruturar-se de modo a entenderem que o porreirismo não é um valor em si mesmo, uma finalidade. A geração dos pais-irmãos pode achar-se muito cool a si mesma, mas laborou demasiado tempo num erro fundamental: eles são pais dos filhos e devem saber encaminhá-los na vida. A menos que a não tenham descoberto eles próprios e por isso precisem de ajuda na sua tardia descoberta.

Tive a minha conta de nãos ao longo da vida, aprendi a geri-los melhor ou pior, mas não a querer eliminá-los da vida. Porque um mundo de gratificação garantida e quase imediata é um mundo que desaparece no abismo da emoção epidérmica, perde profundidade e o esforço perde sentido.

“Uma geração que não pode ouvir um ‘não’ é manipuladora”

(…)

O excesso de permissividade é prejudicial aos miúdos?

A tentativa de converter em permissividade a presença e a atenção que não tiveram é. Revela deficiência no desenvolvimento da relação entre pais e filhos. E a ideia que os pais às vezes também têm de não quererem reproduzir nos filhos o modelo de educação severa que receberam, quando não é bem medida, também é.

(…)

Às vezes é importante saber dizer “não” ou pode abdicar-se disso?

É muito importante saber dizer não! Por muito difícil que ele seja de dizer e de ouvir. Se não dissermos não, vamos criar uma geração que, na idade adulta, não irá tolerar a frustração. Querer e ter é errado, porque não são coincidentes. E perante esse não, os miúdos não podem exercer o seu poder reivindicativo, manipulatório. Alguns pais pagam uma viagem destas com grande dificuldade por medo que os miúdos possam ser ostracizados por parte dos colegas se não forem. É muito importante saber dizer não. Mas não é um não porque não; é um não explicado. Uma geração incapaz de ouvir um não, que deprime quando o ouve, é uma geração de manipuladores.

Estimado colega,

Apresento um relato que talvez seja motivador de reflexão do estado a que chegou o satus social de quem é trabalhador da Administração Pública:

Uma aluna do ensino secundário comentava despudoradamente que “os professores já ganham muito, e por isso, não têm razão em fazer greve. Ganham no mínimo €1500, muito mais que o salário mínimo de muitas outras pessoas, e ainda protestam para ganhar mais. O funcionário público já é bem pago, e com o país nas condições em que está, ainda acha que devia ganhar mais”. Quando retorqui que seria irónico se um dia fosse trabalhadora do Estado, e portanto, se continuaria a possuir esse discurso, respondeu que “efectivamente, com as notas que tenho [que são baixas], o meu destino é ser funcionário público…”.

Se acrescentar à equação que a sua família é de classe alta, e que era apoiada por mais 4 colegas na sua opinião, e que ao longo do último ano não foi a única vez em que foram expressas opiniões desta índole por outros alunos, fui obrigado a concluir, com alguma náusea ‘sartreriana‘, que existe um conjunto significativo de encarregados de educação que apresentam ódio, desprezo e animosidade em relação à classe docente. Esta inferência é baseada no simples facto de que não acredito que, genericamente e honrando excepções, estes adolescentes tenham um nível cultural suficientemente elevado para produzirem opiniões individuais sobre temas políticos, económicos e sociais; eles reproduzem o que ouvem em casa…

Deste modo, concluo que considera-se o trabalhador com funções públicas (utilizando o novo jargão jurídico) aquele que:

– não tem lugar em mais nenhum lugar da sociedade,

– possui um baixo nível cultural e académico,

– não possui competências de excelência

– contribui para o mau estado das finanças públicas,

– lhe é conferido aquilo que não merece e portanto não tem direito à indignação, contestação e indignação

Como se pode trabalhar com utentes que psicologicamente possuem uma indisposição em relação aqueles que lhes prestam serviço?

Como pode um professor trabalhar com alunos que já não respeitam socialmente a sua profissão?

Como é possível lutar contra o maquiavelismo e a destruição do Estado social quando futuros profissionais da educação afirmam “Regalias, horas, férias, isso não interessa desde que tenha emprego” (Soraia Fernandes, de 18 anos, aluna do primeiro ano de Educação Básica na ESEL)?

Como é possível impedir a destruição de conquistas civilizacionais se os futuros adultos já estão formatados para aceitarem a escravização como uma normalidade social?

Esta animosidade é mais uma acha na fogueira ateada por determinados interlocutores interessados unicamente em desviar recursos financeiros para alimentar a matilha de lobos esfaimados das mordomias…

Mário Silva

No Público vem hoje uma longa matéria sobre os famigerados planos de recuperação que agora enxameiam o quotidiano das escolas. Ao contrário do que ali se afirma, não é à aproximação do Carnaval que eles são feitos, já muitos o foram nas reuniões de avaliação do primeiro período, para não falar dos planos de acompanhamento que já transitam do ano anterior.

Vamos lá abrir o jogo quase todo de uma vez: os planos de recuperação são uma completa mistificação em muitos, demasiados, casos. Foram um dos diversos estratagemas que o ME criou para demonstrar o quando duvida do trabalho dos professores, em particular da avaliação que fazem dos alunos, e acabaram por tornar-se um instrumento defensivo de muitos desses professores, em especial Directores de Turma, para se resguardarem das investidas dos Encarregados de Educação.

Muitas vezes há um plano de recuperação apenas porque o aluno foi proposto para apoio pedagógico acrescido numa disciplina, pois o docente em causa deu-lhe uma classificação de dois e acha mais seguro propor o apoio, fazer-se um planozinho para inglês ver e garantir-se um meio de defesa caso a negativa se mantenha no final do ano.

Fosse eu abrir completamente o jogo e diria que 80% dos planos são uma imensa treta, mera formalidade para o ME pressionar os professores (dás uma negativa??? ora toma lá mais um monte de papelada para fazeres!!!) e estes para se defenderem (pelo sim, pelo não, mais vale fazer o papel, não venha por aí  um recurso o queixa mais azeda…).

Abrisse eu mesmo o jogo todo e diria que em 80% dos casos (ok, podem ser apenas 70% o chegar aos 85%), a escola e os professores não têm meios aos seu dispor para resolver os problemas detectados, caso os planos de recuperação fossem feitos como deve ser e para levar a sério: ou seja, se contemplassem aquilo que é mesmo necessário para que o aluno tenha sucesso e que, na maior parte dos casos que conheço se pode resumir da seguinte forma:

  • Despiste atempado de necessidades educativas, especiais ou outras, e existência de meios humanos especializados para resolver a situação.
  • Maior envolvimento das famílias no acompanhamento dos alunos e dos seus trabalhos, não chegando dizer que não sabiam que o aluno tinha feito teste e tido negativa em cinco disciplinas (nem os sumários consultam nos cadernos diários???).
  • Alteração da atitude dos alunos, precocemente convencidos pela ideologia do direito ao sucesso, em relação ao trabalho na sala de aula.

Atenção que não estou a retirar os professores da equação. Já acima escrevi que muitos planos resultam de estratégias defensivas de muitos docentes. Assim como não nego que nem sempre são apenas os alunos a necessitar de mudar de atitude. O que estou a dizer é que se os planos de recuperação fossem feitos a sério, existiriam muito menos, mas seriam para cumprir efectivamente.

Só que para isso seria necessário, desde logo, que as escolas dispusessem de pessoal técnico especializados para despistar ou tentar tratar de problemas que, na situação actual, ficam meses ou anos por sequer diagnosticar de forma competente.

Não chega ter um(a) ou dois(duas) docentes de Ensino Especial por Agrupamento com 1500 ou 2000 alunos. Ou ter um(a) psicólogo(a) escolar nas mesmas condições. Não chega ter de mendigar consultas especializadas nos Centros de Saúde ou esperar meses por um atendimento na área da pedo-psiquiatria. Não chega esperar que na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco atribuam um grau de prioridade elevado às situações que lhes vão chegando de novo. Não chega ter um(a) terapeuta da fala, algures, não sei onde, assoberbado(a) de solicitações. Não chega fazer papéis a relatar o que se passa e, ao não se conseguir que o mais importante se faça, se dê a classificação necessária para a criança ou jovem passar de ano porque, afinal, a culpa nem foi dele(a).

A verdade é que as escolas públicas portuguesas estão mal, muito mal, equipadas do ponto de vista dos recursos humanos para lidar com situações frequentes que um professor regular não tem ferramentas para resolver.

Mas depois dizem que há um ratio muito elevado de professores nas escolas em relação aos alunos.

Pois claro. Há professores a fazer um pouco de tudo e mais alguma coisa.

Já alguma vez compararam o ratio de outros técnicos especializados entre as escolas portuguesas e as escolas dos países onde se trata destas questões a sério?

Naquilo em que nós ganhamos, sem margem para dúvida, é na produção de planos, relatórios e demais papelada destinada a desculpabilizar tudo e todos por qualquer coisinha.

O ME proclama que manda fazer tudo e mais alguma coisa para defender o direito ao sucesso de todos os alunos. Os professores, ordeiramente, cumprem grande parte do que lhes é mandado e ainda se mostram mais pressurosos muitas vezes do que os próprios mandantes. E vai de produzir planos de rcuperação por tudo e nada.

Só para exemplificar: conheço o caso de uma turma que, em tempos recentes, apresentava no final do 2º período 14 planos de recuperação ou acompanhamento em 25 alunos. No ano lectivo anterior tinha sido, ex-aequo, a melhor turma da escola no seu ano de escolaridade. Desses 14 planos apenas resultou uma retenção, não porque os planos tenham sido cumpridos, mas porque em cerca de metade dos casos (ou mais) havia planos apenas para justificar a atribuição de aulas de apoio numa ou duas disciplinas ou solicitar o acompanhamento mais frequente dos encarregados de educação em coisas tão simples como verificar se os alnos traziam o material mais básico para as aulas (caderno, material de escrita, um ou outro manual).

Nos casos mesmo mais sérios, que acarretam uma intervenção mais urgente de alguém com competências específicas para apresentar soluções ao Conselho de Turma para trabalhar com os alunos, há que dizê-lo com frontalidade: em muitas escolas mais vale esperarem (alunos, famílias e professores) todos bem sentados e prepararmos (nós, professores) o três no final do ano, porque infelizmente as coisas são o que são.

É verdade que os níveis de insucesso ainda continuam a ser trágicos, como se escreve na notícia?

Talvez.

Estou é convicto que é um milagre que sejam só os que temos porque, em boa verdade, muito pouco é efectivamente feito para resolver os problemas detectados.

Nota final: Na peça identifica-se o 3º ciclo como aquele em que os planos de recuperação imperam. É apenas mais uma evidência a demonstrar que uma reorganização curricular e dos ciclos de escolaridade não deve ser ditada pelo achismo dos que consideram que a transição do 1º para o 2º CEB é que é traumática. De achismo estamos fartos e dos seus péssimos resultados ainda mais.

O Ricardo explica com mais profundidade a questão que eu aflorei a meio da tarde. Parece que muita gente andou distraída com uns detalhe, nomeadamente o artigo 37º do ECD.

Sei que esta abordagem não é cómoda para alguns, mas é bom que seja analisada.

Suspensão ou substituição?

(…)

Não, não estou a compactuar com ninguém e desde sempre tenho mantido um ponto de vista profundamente legal, sobre toda esta temática da avaliação. Assim, se a suspensão fosse adiante, os colegas que (ainda) não foram avaliados poderiam vir a ter problemas sérios (leiam o ponto 2, do artigo 37.º do ECD). Para existir progressão teria de existir avaliação. A avaliação seria suspensa (recordo que estamos a falar de um Decreto Regulamentar) e o ECD continuaria activo (Decreto-Lei), provocando efeitos perversos em termos de progressão.

Por aquilo que li, as propostas de suspensão do modelo de avaliação, que os partidos da oposição apresentaram (creio que à excepção da proposta do CDS) não acautelavam convenientemente esta situação… Daí que a proposta do PSD faça algum sentido nesta altura, embora seja um tremendo recuo àquilo com que se comprometeu em plena campanha eleitoral (algo que não me agradou particularmente até verificar que poderia servir os interesses dos professores). Obviamente que o PSD não recuou para agradar os professores ou acautelar os seus interesses, mas que poderá ter dado algum jeito…

No post anterior fiz uma ligeira comparação entre o desempenho de três escolas 2/3 do concelho onde lecciono. Deixei de fora uma que é TEIP e outra cuja posição sobre a ADD é menos clara. Usei apenas 3 casos, com situações bem definidas. Desde logo, seria curioso analisar a situação do tal grupo dos 13.

Nos comentários ao post fui objecto de, pelo menos, duas acusações de desonestidade intelectual, coisa que muito me divertiu pelos termos em que foram colocadas.

  • O zecarlos acha que eu escolhi casos convenientes e que ele seria capaz de fazer o mesmo, mas na inversa. Pena que não tenha feito e demonstrado o seu ponto. Longe de mim dizer que a ADD foi prejudicial em todos os casos. Apenas posso falar dos que conheço. Não me alonguei por quintais alheios. Mas o que encontrei parece demonstrar que, mesmo eu não acreditando nelas, as brujas andam por aí.
  • Maria Campos, o(a) já mítico(a) comentador(a) do Umbigo, faz algo melhor e mais fascinante: alega que, afinal, há muito mais factores a ter em conta na análise do sucesso dos alunos do que a ADD (descoberta da pólvora molhada!) e que não é em dois anos que a implementação da ADD produz resultados palpáveis (descoberta da pólvora cremosa!). O curioso é que o PAM deu resultados logo num ano e até atingiu níveis de ensino em que ainda não tinha sido implementado quando os resultados dos exames de Matemática no Secundário subiram em 2008, o mesmo se passando com o PNL, quando o sucesso em Língua Portuguesa quase chegou aos 102%.

Se há coisa perfeitamente comovente e tocante é como alguns aspirantes a spin-doctors (falo em MC, obviamente) usam os argumentos e as lógicas do tubérculo a gosto.

Vamos lá então ser honestos do ponto de vista intelectual e atender a um par de questões:

  • Se o modelo de ADD se destinava a melhorar o desempenho dos professores e foi apresentado como um instrumento essencial para promover o sucesso educativo e premiar as melhores práticas docentes, como é que se entende que quem o defendeu apareça agora a dizer que, afinal, afinal, não é bem assim, que demora tempo e tal?
  • Assim sendo, como se compreende então que o modelo de ADD – que precisaria notoriamente de entrar em velocidade de cruzeiro para dar (bons) resultados, a acreditar nas marias campesinas – tenha sido objecto de um prolongamento do regime simplificado pelo terceiro ano?

A pedido de várias famílias, em particular de uma, abro aqui espaço para uma discussão antropo-sociológica acerca do aparente retorno do Portugalinho dos Milagres Futebolísticos: a Dinamarca ganhou à Suécia e até somos capazes de ir ao playoff de apuramento para o Mundial sem perceber como. A menos que a Hungria nos meta ainda um golo como já ameaçou.

portugal02

da intemporalidade dos conflitos da educação

Há em alguns políticos e comentadores a tentação para se erigirem como detentores da capacidade de enxerdarem e defenderem o Interesse Geral contra os mesquinhos interesses corporativos.

Criticam quem defenda a verdade, o rigor com os factos e as promessas, mas depois são eles que têm uma verdade maior, a verdade do Interesse Geral. Os outros são defensores de interesses particulares, menores, egoístas.

Esta é uma atitude profundamente arrogante porque Interesse Geral eu não conheço, nem nunca conheci como se determina ou se coloca em prática, ou defende, porque não passa de uma abstracção retórica. Ou então o Interesse Geralo mais não passaa do que o agregado dos diversos interesses particulares dos cidadãos de uma dada sociedade.

Aliás, o Interesse Geral, colocado assim, acima dos interesses dos indivíduos, remete-nos para um caldinho cultural vizinho dos regimes autoritários e totalitários que erigiram a Raça, a Nação, a Religião ou a Classe como Interesses Gerais do seu projecto político, espezinhando pelo caminho os interesses particulares e os indivíduos que se opuseram a esse projecto Colectivo de Unidade.

E acho estranho que quem se assuma defensor da liberdade, ou liberal no sentido político ou económico, embarque nestas aventuras estranhas do Interesse Geral, indemonstrável e volúvel conforme os contextos.

Só para contextualizar, relembremos o caso do défice, que em 2003 qualificaram como obsessão, em 2005 já era de Interesse Geral e agora em 2009 tem dias: se é para uns efeitos pode agravar-se, se é para outros deve conter-se.

O Interesse Geral mais não passa do que de um manto usado para cobrir interesses de facção, elevando-os a um patamar superior.

Eu prefiro ser realista e explicar o meu interesse particular. E acho que é da soma dos interesses particulares, conjugando-os, mas sem sacrificar brutalmente nenhuns, que se atinge um projecto de sociedade verdadeiramente liberal no sentido mais radical do termo.

Quem está sempre a acusar os interesses corporativos, sabe bem que uma sociedade não se constrói sobre uma amálgama indiferenciada de indivíduos, sem identidades socioprofissionais, por exemplo. A menos que seja esse o projecto do Interesse Geral: tornar a sociedade uma mera amálgama de indivíduos indiferenciados.

Há que fazer opções, é certo. A manta não dá para cobrir todos, aceito. Mas preciso que me expliquem e fundamentem as opções tomadas, não apenas que as enunciem como inadiáveis e há muito necessárias. É preciso mais do que isto.

O Interesse Geral não pode ser um vazio usado para ocultar vazios de ideias e projectos ou para legitimar opções políticas e económicas resultantes de interesses particulares, esses sim, transitoriamente com as rédeas do poder político para os impor ao resto da sociedade.

Por isso, sempre tive dificuldade em rever-me em projectos políticos com soluções mágicas para tudo, evocando um qualquer tipo de Interesse Geral para colocar o Colectivo acima do Indivíduo. Sejam de esquerda, de direita ou do centro.

Sejam baseados em Magalhães, em Livros Verdes, Vermelhos ou Laranjas. Na Bíblia ou em bíblias.

A deriva totalitária, mesmo que em democracia formal, é uma tentação de todos os homens que se acham providenciais.

O Interesse Geral, nova formulação aparentemente mais vazia dos velhos projectos de subordinação das massas aos projectos políticos de facção, não me serve como argumento para nada.

Em especial quando surge enroupado em coisa nenhuma, tirando fatiotas elegantes e meneios estudados.

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