1-Professora de Educação Visual e Educação Tecnológica, 59 anos de idade, divorciada, com um filho.
2-Exerci a profissão durante 39 anos, percorri o país durante 14 anos, atualmente faço parte do quadro de nomeação definitiva
3-Encontro-me de atestado há sensivelmente um mês.
4-Honestamente, não posso precisar nem a data nem a razão. Comecei a sentir-me cansada e incapaz de dar resposta a todas as solicitações da profissão. Escolhi a profissão por paixão e exerci-a com empenho e dedicação. Sinto saudade da professora que fui e da alegria que sentia ao chegar a escola.
5-A escola não é imune aos problemas sociais e sempre que eles se agravam a escola reflecte-os, como se fosse um espelho.
Todos os dias somos confrontados com abusos sobre os mais frágeis, pelo que os professores cansados são alvos a abater. Isto é gravíssimo em termos educacionais, as faltas de respeito para com professores têm reflexo não apenas na saúde dos visados mas também nos outros alunos.
Os alunos vítimas de abuso por parte de colegas mais agressivos tendem a sofrer em silêncio, conscientes da impunidade dos agressores e perdem a confiança nos professores.
Nos últimos anos, as escolas estão em contínua reorganização, o trabalho que se fez ontem hoje está desatualizado. Estas mudanças contínuas geram instabilidade, insegurança e desmotivam qualquer trabalhador.
A diversidade de tarefas, um professor não se limita a preparar e dar aulas.
O aumento do número de alunos por turma, que ao contrário do que os economistas possam dizer não se traduzirá no decréscimo da despesa, mas sim num maior desgaste do professor e insucesso dos alunos.
A avaliação de colegas também foi muito desgastante e toda essa polémica acabou ferindo a imagem do professor que é hoje muito diferente daquela que existia quando comecei a trabalhar.
6-Sempre tive boa relação com os colegas e a direção da escola, inclusivamente telefonam a saber como estou; pessoalmente evito o contato social porque me sinto mal comigo própria, insatisfeita por não conseguir cumprir a minha função
No que se refere ao Ministério da Educação, todos sabemos que existem doenças profissionais, mas se for um professor desgastado com 39 anos de serviço, não tem direito a esse reconhecimento, ainda que tenha o tempo de serviço e descontos para uma reforma sem penalização. Tem problemas? A culpa é dele. Ou foi sempre muito frágil e deprimido, ou incompetente, ou não planificou corretamente as aulas, ou…Qualquer treta serve para atribuir a culpa à vitima.
8-Inicialmente consultei o médico e continuei a trabalhar, estava preocupada com os alunos e as notas de final de período, devia ter ficado de baixa, como ele me aconselhou. Posteriormente a situação agravou-se, sentia-me muito cansada, comecei a esconder-me para chorar, a evitar os amigos, estava mesmo doente.
Tenho tido a compreensão dos médicos que consultei e acho que estou a ser bem assistida.
9- Pedi a reforma antecipada, com uma forte penalização. Tenho tempo de serviço e descontos para ter uma reforma completa mas não tenho idade. Estou doente, incapaz de voltar. Quero ficar com as lembranças dos tempos em que fui feliz, trabalhei muito, com gosto, amei os meus alunos e sei que me retribuíram o afeto.