Bullying Profissional


 

Indique o número, contabilizado em idas e vindas, de deslocações à casa de banho.

 

Crato ainda não percebeu que apenas exige… mesmo que tretas… nada dando em troca.  Queria vê-lo nestas circunstâncias… aliás, sabemos como foi que ele agiu nestas circunstâncias e isso ainda piora tudo.

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Expresso, 26 de Julho de 2014

Já se adivinha na próxima semana mais um dia da PACC bastante conturbado. Mas o Ministério da Educação, ao marcar a prova a três dias úteis da sua realização, numa altura em que muitos professores até se encontram de férias, está a dar argumentos para que os sindicatos contestem a PACC, já não só pelo conteúdo mas também pela forma.

É o que parece decorrer da aplicação concreta das fórmulas em negociação entre o MEC e o autarca “independente” Guilherme Pinto.

Basta reparar que de acordo com as fórmulas ideais são necessários 1473,5 (!) docentes, estando actualmente em exercício 1674, 1 (?), dos quais 63 pediram aposentação. Retirando-os do diferencial de 198, restam 135 que, ao que parece, não são necessários.

Devemos ainda lembrar-nos que, para ganhar 50% do salário anual de um professor contratado em índice 151, a autarquia deve ter menos docentes em exercício do que os necessários, pelo que… serão mais de 135 os que devem ser varridos.

Agora pensemos em mais uma coisa… as autarquias têm técnicos superiores com habilitações para dar aulas, embora não profissionalizados. E outros técnicos…

Agora pensem como será fácil, alegando o completamento de horários e a teoria dos técnicos especializados para dar os cursos profissionais e vocacionais, colocar esses técnicos a dar umas quantas horas semanais de aulas nas escolas sob gestão municipal e digam lá se não estão já a perceber o esquema todo…

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Governo aprova cortes na função pública da era de Sócrates

E António Costa, o que acha?

Não se pedem promessas, claro, que essas existirão sempre, pois fazem parte do folclore.

… pelo que só agora tive hipótese de destacar.

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Expresso, 13 de Junho de 2014

Governo recupera cortes salariais que estavam em vigor no ano passado

Redução de 3,5% a 10% nos salários acima de 1500 euros foi proposta pelo Governo para compensar chumbo do Tribunal Constitucional aos cortes mais acentuados aplicados este ano.

Explicar as razões é algo desnecessário, de tão óbvio. Alguém (Sócrates-Maria de Lurdes Rodrigues) cavou um buraco para onde começou a empurrar toda uma classe profissional, trabalho que veio a ser continuado pelos seus sucessor (Passos Coelho-Crato) com denodado afinco, não se vislumbrando qualquer luz lá no fundo, pois os buracos não têm saída do outro lado da Terra sem nos queimarmos todos na travessia.

E nem vale a pena alterar níveis de dificuldade em exames para fabricar “sucesso” e dizer que foi por causa das “reformas”.

Há quem se vá aguentando, nem que seja pela teimosia de os ir vendo cair e sair a todos e, depois, cá fora, começarem a falar de tudo o que deveria ser feito e não chegaram a fazer.

O último a aguentar, que coloque a tampa antes de ficar todo queimadinho.

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Público, 23 de Maio de 2014

Nota final: só para avisar que aqueles que dizem que sempre avisaram que ia ser assim nunca explicaram o que pretendiam que fosse feito, pois que me pareça os que estavam teriam acabado por fazer o mesmo – ou muito parecido – aos que estão, pois foram eles que abriram a porta e investiram à desfilada. Porque há gente sem memória e outra sem vergonha. Assim, pelo menos, já sabemos que não vale a pena confiar mesmo no “arco da governação”

 

Dá sempre imenso jeito à agenda para além da troika do Governo e a articulismos e bloguismos de liberais cristãos-novos. É uma espécie de estudo em regime de outsourcing com custo incorporado nos 78 mim milhões de euros: FMIAbr14.

Nacos interessantes para desenvolvimento após as europeias.

FMIAbr14(…)

FMIAbr14b

… em que as classes profissionais incómodas para o poder que estava – a começar pelos intelectuais e escritores – eram despojadas das suas hipóteses de emprego, a menos que colaborassem no “bem como”, e obrigadas a sair do que então ainda não havia o cinismo de designar como “zona de conforto” e irem trabalhar como canalizadores, electricistas, varredores.

A lógica que se apresentava era a de igual merecimento entre todas as ocupações, independentemente das qualificações e vocações, mas o objectivo era a do amesquinhamento dos grupos desalinhados com a lógica da domesticação.

Estes pseudo-liberais têm muito dessa atitude e são mais parecidos com aqueles que criticam do que querem que se perceba.

… enquanto alimenta negócios de operadores privados com quem não estabeleceu um laço contratual de longa duração.

Sei que David Justino gosta de provocar com este tipo de afirmações, mas também penso que ele não é favorável a outsourcings desnecessários, na base da negociata de contornos estranhos. Já o ouvi, várias vezes, criticar publicamente essa opção.

Quanto à municipalização das colocações, estou completamente em desacordo e também não acho que a “autonomia” se deva resumir a dar o poder de mando aos directores. Já expliquei bastantes vezes porque discordo e é uma posição baseada no que observo ser a regra – e não a excepção – nas colocações municipais aos mais variados níveis. Aposta-se na “confiança”.

Quanto às negociações ao nível de escola por parte dos directores acho que se são grandes líderes, não precisam de fazer contratações directas, devem saber motivar aqueles que estão ao seu dispor, como qualquer professor deve trabalhar e motivar os seus alunos, que muitas vezes são 150, 200 ou 250.

Ex-ministro da Educação acredita que a redução de docentes vai continuar. E defende que as colocações passem a ser competência das escolas e autarquias

“O papel da escola não é empregar professores. O papel da escola é formar alunos”. É assim que David Justino, presidente do Conselho Nacional da Educação, ex-ministro da Educação e consultor de Cavaco Silva olha para o sistema educativo português. Um sistema que, defende, tem vindo a ser “remendado” com falta de “visão estratégica de futuro”.

Quanto aos “remendos”, eu diria duas coisas:

  • Quem é responsável pela torrente legislativa de enxertos são os governantes e mais ninguém. Não são os sindicatos, os professores, as famílias, os alunos, os “assistentes operacionais”.
  • Quando há bons resultados, leio sempre os ex-MEC a sublinharem a continuidade das políticas estruturantes desenvolvidas nos últimos 15 anos.

O que lamento mais? Que mesmo sendo opção editorial do jornal destacar este tema (não li ainda a entrevista toda), exista material para reacender a cada momento uma fogueira anti-professores, que são os que começaram a pagar mais cedo e de modo mais forte o buraco em que os governantes nos enterraram.

É que não foram outros a fazê-lo, a autorizar as PPP, os contratos swap, as estradas caríssimas para levar os governantes às suas terras natais ou os hospitais construídos em cima uns dos outros para satisfazer os autarcas que agora querem colocar com poder de mando sobre os professores.

Os professores parecem continuar a ser os maus da história da nossa Educação e isso é algo que me confrange, por ser injusto, maniqueísta e cansativo.

O argumento “demográfico” já não colhe, assim como é muito limitada a capacidade explicativa dos desequilíbrios na distribuição dos professores (que estarão em excesso nuns locais e em falta em outros). Afinal, quem teve a obrigação de prever as necessidades e quem teve o poder de abrir vagas ao longo dos anos?

Os professores?

Não!

Ahhhh… já sei… foram os infiltrados dos sindicatos. Se calhar, tão infiltrados como os que saíram do ministério para assessores, consultores e directores de instituições privadas com contratos estabelecidos com o mesmo ministério que antes lhes dava emprego.

David Justino sabe disso… e talvez fosse tempo de apontar baterias a outros alvos que não os do costume.

Esta é uma posição corporativa?

Tanto quanto as dos ministros que se defendem entre si… ou menos, porque de um lado temos 100.000 profissionais e do outro uma meia dúzia de preclaros políticos.

Como no caso dos romanos, estamos (os professores) em clara desvantagem. 😎

… se a vida der voltas.

E já se percebeu que o objectivo é empurrar o máximo de pessoas para fora, como se não bastasse o que já fizeram, enquanto cobriam os prejuízos dos amigos das negociatas.

Função Pública: Governo corta suplementos em Junho e faz nova revisão de salários em Dezembro

Porque os brioches, mesmo quando ficcionados, caem mal em quem vai ficando sem pão.

Podem usar todos os argumentos e mais alguns, desde o argumento demográfico ao da pretensa eficácia, mas um sistema educativo que perde cerca de 7,5% dos seus quadros (a avaliar pelo quadro abaixo que indica uma saída de mais de 8000 professores e educadores) dificilmente poderá ter o mesmo desempenho que tinha. A curto ou médio prazo.

Acrescendo a isto perdas de mais de 10% no salário e aumentos da carga lectiva.

Isto não é emagrecer o Estado, é fazer bullying profissional, apostando na saída de professores mais caros, para integrar outros – em modo ad eternum – com base no escalão salarial mais baixo, independentemente dos anos de exercício da profissão.

Pode ser uma política, pode ter uma qualquer pretensa legitimidade eleitoral ou ideológica, mas é algo que tem custos enormes a médio prazo, com o incentivo a práticas profissionais e pedagógicas defensivas e conservadoras, devidido ao medo (que este MEC incutiu de uma forma tão perversa quanto so governios anteriores) e ao esgotamento (psicológico e físico, mesmo dos mais “novos”).

Nuno Crato assumiu o papel de carrasco da profissão docente, aceitando como boa a sua proletarização e desqualificação, que só por piada se pode negar com base numa ADD de faz-de-conta e uma prova patética de ingresso na carreira, cuja execução na vertente “científica” vou percebendo ter sido entregue a facções académicas interessadas por demais em demonstrar a sua superioridade e capacidade avaliativa (mas que duvido que conseguissem resistir a uma semana de aulas reais fora da sua zona de conforto).

O que se possa dizer em contrário, só muito residulamente passará de artifícios de linguagem, aqueles mesmos que criticava aos eduqueses, pois o anti-eduquês não se deve definir apenas pelo anti, mas sim pela utilização de uma linguagem rigorosa, adequada aos factos e intelectualmente honesta em vez de enveredar por um relativimo linguístico pós-modernaço.

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Público, 18 de Fevereiro de 2014