Boa tarde
Acabei de tomar conhecimento da minha classificação da avaliação de desempenho.
Não tenho qualquer reclamação a fazer a quem diretamente me avaliou que, julgo eu, ficou tão chocado como eu quando se apercebeu dos resultados. Tive uma classificação de 9,6 que se traduziu numa menção de BOM!
Na anterior avaliação obtive a menção Excelente, com uma classificação (quantitativa) até um pouco abaixo desta.
O que é que se alterou?
Eu até admitia esta menção de BOM se existissem muitos colegas com classificações superiores. Não foi esse o caso!
A causa foram os percentis!
O que se passou é que na avaliação anterior eu era apenas uma professora empenhada. Nesta avaliação continuei a ser uma professora ainda mais empenhada… Tão empenhada que fui nomeada coordenadora de departamento e, azar dos azares, se por milagre fossemos descongelados para o próximo ano, eu mudaria de escalão, logo fui obrigatoriamente avaliada.
Assim, além de todo o trabalho que sempre fiz como professora (apenas e só professora) e que me valeu a anterior menção de EXCELENTE:
– tive todo o trabalho extra como coordenadora de um grande departamento, função que tentei desempenhar com empenho total, conforme ficou traduzido na avaliação quantitativa;
– foi-me imposta a tarefa acrescida de avaliar três colegas.
– vou entrar oficialmente de férias e continuo a trabalhar, porque nunca fui de deixar tarefas por acabar e ainda há muito que fazer na escola.
Qual o resultado de tanto empenho e esforço?
Como no meu universo (coordenadores avaliados) somos apenas 2 professoras (igualmente competentes), não tenho acesso ao Excelente e ao Muito Bom!
Nem sequer faço questão de obter estas menções! Faço o meu trabalho como sempre fiz, mesmo quando esta avaliação não existia.
O que me revolta as entranhas é ser permitido tornar legal tamanha injustiça.
Como é possível?
– De que serviram as aulas assistidas (e que fui obrigada a ter, pois vou para o 3º escalão)?
Tenho a mesma menção que aqueles que as não tiveram.
– De que serviu ser empenhada e competente?
Fui nomeada coordenadora e tive mais do dobro do trabalho, do desgaste ao longo do ano e das responsabilidades, para além de ter que avaliar colegas usando um modelo com o qual sempre discordei.
Pior ainda… fui esta semana novamente eleita pelos colegas de departamento para continuar a desempenhar o cargo de coordenadora. Já viram o azar?
Por este andar nunca mais terei uma menção superior a Bom!
Tenho que ser sincera: apesar do trabalho extra que implica, não deixei de sentir satisfação pelo reconhecimento de que até tinha feito um bom trabalho quando os colegas me escolheram novamente.
Mas agora, chego à conclusão que fiz tudo errado.
No próximo ciclo avaliativo:
– Não vale a pena ter aulas assistidas;
– Dou as minhas aulas e chega; dedico mais tempo à família.
– Ser coordenadora de departamento nem pensar – há que mostrar uma boa dose de incompetência para não me elegerem novamente.
Não estou, de modo algum, a querer dizer que sou melhor do que muitos dos outros colegas. Não é disso que se trata. Como disse atrás, não é a menção em si que me revolta, é a injustiça dum processo, que todos reconhecem.
Volto a frisar que não tenho qualquer reclamação a fazer relativamente a quem me avaliou nem queixar-me de falta de reconhecimento pelo meu trabalho, pelo contrário. Simplesmente foi obrigado a aplicar a lei.
Mesmo na minha escola, não sou o único caso. E quantos mais haverá…
Além da outra colega coordenadora que também foi avaliada, e que está no mesmo pacote que eu, dou outro exemplo:
– uma “simples professora” avaliada este ano, uma única, teve a pouca sorte de nomeada avaliadora e… o seu universo mudou por completo! Ao ser nomeada deixou de estar num universo de 26 professores (com a possibilidade de vários Muito Bom e Excelente) para passar a um universo solitário donde só ela faz parte e… puff! Muito Bom e Excelente não são mais que uma miragem!
Não sei qual foi a classificação que obteve, nem interessa, pois nunca passará do Bom, embora possa merece-lo muito mais do que outros.
Já viram como os azares acontecem?
Podia ter sido outra professora nomeada… mas foi ela (será por ser competente?)
Podiam existir várias avaliadoras a ser também avaliadas este ano… e as possibilidades de uma menção melhor era possível.
E até havia várias, éramos 3… mas duas tivemos o azar de ser nomeadas coordenadoras (será que também tem qualquer relação com competência?)
Podia precisar de ser avaliada noutro ano, em que maior número de professores avaliadores fosse avaliado… até porque vamos continuar congelados!
É esta a avaliação de professores que queremos? Ao sabor da sorte e do azar e não do verdadeiro valor que cada um tem?
Não sou sindicalizada nem nunca o fui, mas disse sempre NÃO a este modelo de avaliação e tentei combatê-lo até onde foi possível. Fiz as greves, fui às manifestações…
E vi, incrédula, professores e sindicatos a ceder! Ainda me custa acreditar como é que uma atrocidade destas se tornou real…legal!
Isto é igualdade de direitos? Onde que não a vejo?
Desculpem este texto tão extenso, talvez confuso, eu sei! É um desabafo que não consigo conter e tão turbulento que as ideias se confundem e as palavras se atropelam.
Escrevo para os autores dos blogs que mais consultámos (ao minuto) durante o período da greve às avaliações e que muito nos ajudaram a manter uma coesão que, pela primeira vez, me deixou um pouco orgulhosa da classe dos professores. Foram um permanente veículo de informação atualizada e foram a voz de muitos de nós, dando-nos a força necessária para continuar.
Assim, e porque não sei a quem mais me dirigir que o faça melhor que vós, peço-vos: tentem divulgar e alertar para estas injustiças que diariamente se praticam em nome da lei, contrariamente à consciência daqueles que nas escolas as têm que aplicar.
Para que muitos questionem: Como é isto possível? Como nos deixámos chegar a este ponto?
Creio que qualquer um que pare um pouco para refletir só poderá chegar a uma conclusão:
Isto tem que mudar!
Desabafo de uma professora num universo “com muito azar”