Cavaco Silva fez hoje um interessante discurso nas cerimónias oficiais das comemorações do 25 de Abril no Parlamento.
Começou ele assim:
Não vou repetir o que aqui afirmei o ano passado. Apenas direi que me impressiona que muitos jovens não saibam sequer o que foi o 25 de Abril, nem o que significou para Portugal. Os mais novos, sobretudo, quando interrogados sobre o que sucedeu em 25 de Abril de 1974 produzem afirmações que surpreendem pela ignorância de quem foram os principais protagonistas, pelo total alheamento relativamente ao que era viver num regime autoritário.
Não poderia estar mais de acordo, sendo eu por deformação professor de História antes de qualquer outra coisa polivalente e generalista que me obriguem a fazer.
Continuando de forma algo incisiva, O PR interpelou os políticos presentes e responsabilizou-os pelo alheamento dos jovens em relação à política e evocou um estudo que encomendou para demonstrar como a juventude tem escassos conhecimentos sobre a vida política:
O estudo colocou aos inquiridos três perguntas muito simples: qual o número de Estados da União Europeia, quem foi o primeiro Presidente eleito após o 25 de Abril e se o Partido Socialista dispunha ou não de uma maioria absoluta no Parlamento. Pois, Senhores Deputados, metade dos jovens entre os 15 e os 19 anos e um terço dos jovens entre os 18 e os 29 anos não foi sequer capaz de responder correctamente a uma única das três perguntas colocadas. Repito: metade dos jovens entre os 15 e os 19 anos não foi capaz de responder a uma única de três perguntas simples que lhes foram colocadas. No dia em que comemoramos solenemente o 34º aniversário do 25 de Abril, numa cerimónia todos os anos repetida, somos obrigados a pensar se foi este o futuro que sonhámos.
Na transmissão televisiva a que assisti, houve um momento em que as declarações do PR foram intercaladas com um plano da nossa Ministra e do nosso ex-Ministro Santos Silva, numa insinuação visual longe de subtil.
Efectivamente, há falhas na Educação a este nível. A rapaziada realmente não tem muito interesse em saber se são 7, 27 ou 77 países na União Europeia e provavelmente pensa que o Ramalho Eanes nunca existiu ou então foi um qualquer descobridor quatrocentista. Se o PS tem maioria ou não? Who cares?
Não é possível negar o défice notório de conhecimentos a este nível.
Como não me apetece enveredar por considerações vagas, vou pelo caminho corporativista, directamente ao que acho ter sido uma opção errada na organização curricular do nosso sistema educativo básico (a qual parece que se pretende reforçar brevemente) e que passa pelo acréscimo de horas que os alunos passam na Escola, mas por uma diminuição do que eu consideraria ser a «carga útil» desse horário. Com o apoio dum grupo restrito de «pais» que falam em nome de todos e que querem os filhos horas a fio na escola, mas para serem entretidos.
Ou seja, os alunos têm mais horas de ocupação obrigatória, mas essa ocupação foi enviesada pela introdução das ACND nos 2º e 3º CEB, em detrimento das horas dedicadas ás disciplinas propriamente ditas. No 3º CEB istoi foi ainda agravado por uma atomização curricular que tornou perfeitamente irracional a carga horária de algumas dessas disciplinas.
Por interesse pessoal e relevância para o assunto abordado pelo PR, tomemos o exemplo da História, disciplina actualmente mal vista pelos responsáveis políticos e espremida no currículo do 3º CEB.
Como é possível, por vezes com um bloco semanal equivalente ao tempo concedido a Estudo Acompanhado ou a Área de Projecto, trabalhar com os alunos de forma produtiva uns belos milhares de anos de História? Aliás as ACND têm tanto crédito horário semanal como as Ciências Sociais e Humanas!
Ah e tal, podem sempre usar aquelas ACND para compensar isso.
Errado. A obsessão actual é com a Língua Portuguesa e especialmente a Matemática por causa do PISA. E, para além disso, não seria mais útil aos alunos aprenderem História nas aulas de História de forma coerente e articulada?
Mas não: temos muito interesse em desenvolver habilidades, mas pouco em dar-lhes substância. Algo em que se basear. Capacidade de – mais do que recolherem informação na Wikipedia e imprimi-la directamente – organizarem de forma selectiva e crítica o que recolhem.
Claro que não sabem quantos estados tem a UE. Afinal o que interessa isso? Mas qual a vantagem em saber quem foram ou são os detentores de cargos políticos para além do óbvio: o Sócrates, o Cavaco, etc! só se der pontos para ganhar um pacotes de sms à borla.
Mesmo na Escola isso é subalternizado e periférico para o Sucesso.
Portanto, enquanto não se fizer uma distinção clara entre o essencial e o acessório no currículo escolar e se optar pelo desejo do sucesso estatístico e não pela consolidação das aprendizagens fundamentais (mesmo que nos chamem conservadores), quaisquer estudos que se façam continuarão a ter este tipo de resultados. Nem há maneira das coisas se apresentarem de outra forma.
Abril 25, 2008 at 11:09 pm
Sempre achei aberrante os alunos terem uma aula por semana de História ,não sou de História mas esta disciplina é importantissima .O mesmo se passa nas línguas estrangeiras ,no básico terem um bloco de 90 minutos por semana tambem é aberrante ,tendo em conta as indicações do Quadro Comum Europeu para as LÍNGUAS .Mas neste país decidiu-se que a Escola era um recreio ,não é um local para aprender !
Abril 25, 2008 at 11:11 pm
Primeiro parabéns pelo belo artigo de hoje
segundo é pena mas é verdade o PS é maioritário.3 estou contente o meu filho só não conhecia Eanito el estático o resto sabia.
Abril 25, 2008 at 11:20 pm
Além de história, considero criminoso o facto de se querer acabar com a disciplina de Filosofia. Será que queremos seres acéfalos, que não tenham espirito crítico, que não reflectam com profundidade em nada? – Temo que para os que nos governam isso dê muito jeito! Para que não me considerem pessoa a defender causa própria, informo desde já que sou professor de informática! Esta alienação colectiva dá muito jeito ao poder protofascista que temos!
Abril 25, 2008 at 11:25 pm
Discurso de Presidente para político ouvir. Acredito que o Presidente não está vivamente preocupado com o conhecimento do 25 de Abril.
Não foi ele figura maior do pós-25 de Abril? O que ele fez em relação ao assunto?
As festas do 25 de Abril são cada vez menos importantes, a vida das pessoas é o maior bem.
Acho que este discurso é um distraídor da situação real das pessoas.
25 de Abril sempre, mas este discurso é lágrima de crocodilo, penso eu…
Abril 25, 2008 at 11:30 pm
O que mais impressiona foi a necessidade de encomendar um estudo à UC. Contudo, relembro uma questão que colocaram aos estudantes ingleses: quem foi, para eles, a personagem mais importante do século XX inglês? Resposta: David Beckham! (pessoalmente diria Victoria…).
Paulo, quando era estudante a alusão que se dava ao 25 de Abril era quase residual. Fazia parte do último capítulo de HST do 9º ano de escolaridade. Nem se chegava lá! Contudo, eu, e muitas pessoas como eu, sabiam de facto o que foi o 25 de Abril. A escola não pode dar tudo, como agora se pretende, apesar de, pessoalmente considerar a disciplina de HST fundamental. Por outro lado, fala-se nos estudantes actuais, e quantos de nós, das gerações seguintes, sabem de facto o que foi o 25 de Abrl, a não ser as habituais referências levianas? O problema é que hoje esteve bom tempo e, portanto, hoje foi um belo dia de praia. Também relembro que Cavaco não sabia quantos Cantos tinha os Lusíadas…
Abril 25, 2008 at 11:40 pm
a memória é curta
não foi este senhor que quis (propôs) que o 25 de Abril (o feriado, claro) deveria ser adiado ou antecipado para o sábado ou domingo mais próximo?
Abril 25, 2008 at 11:43 pm
Sabemos que muitos conhecimentos são trabalhados com os alunos mediante a importância que o prof. lhes dá. Normalmente são trabalhados conteúdos para exames ou provas; ou então, como o Prof. Cavaco pensa, há coisas que nem têm importância, passemos à frente…
Abril 25, 2008 at 11:49 pm
Bom, hoje estou para aqui voltado, a ocupar espaço neste blogue. O problema do currículo é que ele plasma o niilismo social em que se vive. O currículo deveria ser conservador, deveria fazer frente à desagregação social e á efemeridade dos valores, transmitindo valores cognitivos e éticos sólidos. Mas o que se passa é que há uma pulsão mortal na própria classe política. Veja-se o nosso caso. O ME está a construir um edifício pesadíssimo para quê? Para assegurar umas quantas trivialidades. Parece que se quer certificar que estamos mesmo impedidos de ensinar alguma coisa de substancial. Se olharmos para a vacuidade do currículo e a parafernália do ECD, da avaliação, da gestão, da concepção interna de escola e do estatuto do aluno, da escola a tempo inteiro, ficamos perplexos: tanta coisa para assegurar que não se ensine nada. Isto é o pós-modernismo dado a viver às crianças. Cria-se um sistema totalitário e dentro dele há apenas vácuo.
Abril 26, 2008 at 12:05 am
Hoje o destaque foi para o desconhecimento sobre o significado da data (é realmente preocupante). No telejornal da 1 eram entrevistadas pessoas que tinham passado o dia numa das praias da linha e, independentemente da idade, respondiam tratar-se o feriado do “Dia da Independência” (perguntei-me se seria uma influência do cinema norte-americano). O hilariante foi ser o entrevistado mais esclarecido um ucraniano que, em português algo atrapalhado, referia algo como “o princípio da democracia no país”.
off the record : o programa da 1 sobre as memórias de Abril levou, há pouco, um texto de Hélder Costa (depoimento de um ex-pide). O actor referia ter deixado a pide e ser alguém actualmente irrepreensível, até se tinha tornado presidente de uma associação de pais. A gargalhada na plateia foi estrondosa (perguntei-me porquê).
Abril 26, 2008 at 12:10 am
“O actor referia ter deixado a pide e ser alguém actualmente irrepreensível, até se tinha tornado presidente de uma associação de pais. A gargalhada na plateia foi estrondosa (perguntei-me porquê).”
Vi/ouvi o programa muito por alto, mas reparei nisso, “fui presidente de uma Associação de Pais” e muitos risos… porquê?
Abril 26, 2008 at 12:12 am
Caro Paulo, a questão do desconhecimento histórico está na mesma razão do enorme desconhecimento cultural que abrange uma parte significativa dos jovens actuais mas também da sociedade no seu todo. Este dado é um dos mais significativos indicadores dos resultados desastrosos das políticas educativas das últimas décadas. Pior que isto é o facto de esta ausência cultural chegar já aos alunos universitários e até aos actuais licenciados. É um fenómeno vigente e ideológico. Ainda me hão-de explicar a quem interessa isto? A quem interessa ter uma sociedade inculta e por conseguinte facilmente manipulada em termos políticos e não só? Uma sociedade sem referencias nem valores nacionais e universais!
Enquanto isto…lá vamos nós porreiraçamente andando.
Ah…não esquecer. A culpa disto tudo é dos professorzecos.
Abril 26, 2008 at 12:14 am
O meu filho (13 anos) riu-se com a ignorância da juventude, ele sabia responder a tudo. Quem lhe ensinou eu?
Sabem que canal estamos a ver cá em casa? RTP 1, As vozes de Abril, ele conhece quase todas as músicas porque gosta.
Abril 26, 2008 at 12:16 am
Há alunos do 7ºano/8ºano de escolaridade de Educaçao Especial que acompanho, que têm (só)um tempo lectivo de L. Portuguesa. Quanto a História estão sempre nas aulas, com excepção dos com mais graves deficiências mentais. Claro.
Abril 26, 2008 at 12:17 am
Ah e aqui em casa não há militância nem fundamentalismos, só liberdade e estética.
Abril 26, 2008 at 12:17 am
Parabéns. Gosto de ler o que escreve. Revela bom senso que é o que está a faltar aos nossos políticos.Pergunto-me muitas vezes se seremos nós professores “iluminados”. Ouve-se tanto disparate que começo a ficar desiludida com o meu país, pois nem vejo”luz ao fundo do túnel”. Sou professora porque gosto, mas não abraço a burocracia que cada vez mais me querem impor. São horas a fazer relatórios porque tem tudo que ser fundamentado… Perco o meu tempo a fazê-los e nem tempo sobra para planificar seriamente as aulas. Se não fosse ficar tão penalizada dado que tenho 33 anos de serviço, mas pouco mais de 50 anos, vinha-me embora. Tirei o meu curso a trabalhar ao mesmo tempo, mas ainda sou penalizada por isso. O ME não merece os bons profissionais que tem. Gostaria de ver a senhora Ministra avaliada. Talvez fosse boa ideia todos os ME e respectivos secretários terem sempre uma turma do ensino básico para que não perdessem o contacto com a realidade. Pergunto porque será que quem deixa de dar aulas, (atá os presidentes dos CE), começa logo a pensar de outra modo? Traumatizados? Freud explicaria, certamente. Obrigada pelos seus escritos e perdoe o meu desabafo. Até sempre.
Abril 26, 2008 at 12:18 am
Se a escola também deverá formar cidadãos cultos e minimamente estruturados, em termos pessoais, para a vida, existem quanto a mim três disciplinas que deveriam ser obrigatórias aos alunos de todas as áreas do ensino secundário: FILOSOFIA; INTRODUÇÃO à POLÍTICA; HISTÓRIA DA CULTURA E DAS ARTES!
Abril 26, 2008 at 12:23 am
No 6º ano, um aluno com mongolismo e com deficiência mental moderada vai 30 a 40 minutos (acompanhado com uma auxiliar) e com propostas de trabalho, a uma aula de História da sua turma. Sei que é de “loucos”. Mas vai. E com alguma ajuda, ja referencia alguns factos…
ihihihihihih…
Abril 26, 2008 at 12:31 am
Eu lembro aqui uma evidência: O país tem produzido cabeças de nível internacional,em diversas áreas do conhecimento, das ciências da vida à arquitectura, que foram “formadas” na Escola Pública, nas últimas décadas. E até produz pernas de nível internacional!
O discurso de que “eles agora não sabem nada” já era! Sabem sim senhor!
Abril 26, 2008 at 12:44 am
meu comentário [6]
peço desculpa ao sr PR. Afinal os feriados que não coincidissem com sábados e domingos, deveriam ser colados aos fins-de-semana: sextas e segundas – assim é que é!
“O presidente Cavaco Silva estava de visita à Índia e ouviu um empresário português sugerir que os feriados fossem “transferidos para as segundas e sextas-feiras”. Cavaco sorriu e lembrou aos jornalistas a tentativa falhada que tinha feito quando era chefe do Governo.”
http://jn.sapo.pt/2007/12/04/primeiro_plano/mais_um_terco_proximo_sera_para_desc.html
em “tentativas falhadas para mudar feriados”
Abril 26, 2008 at 1:47 am
Leia, Senhor Presidente!
Redacção feita por uma aluna de Letras, que obteve a vitória num concurso interno promovido pelo professor da cadeira de Gramática Portuguesa.
Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo, era bem definido, feminino, singular. Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingénua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.
Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo.
Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.
Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo.
Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula.
Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros.
Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa. Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.
Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objecto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.
Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.
Que loucura, meu Deus!
Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que, as condições eram estas:
Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história. Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.
Fernanda Braga da Cruz
Abril 26, 2008 at 1:53 am
Mas…
Interpretei o discurso do Presidente de modo diferente. Recados para a “corporação política”. Terei ouvido mal?
Abril 26, 2008 at 2:53 am
Lembrem-se de que o Presidente que se mostrou tão preocupado com o estado da democracia e da juventude foi o mesmo que no dia 11 promulgou o modelo de gestão escolar do ME. O tal que acaba com a eleição directa do Presidente do CE; que reduz a participação dos professores a uma votação; que lhes retira até a possibilidade de escolherem o seu representante ao Conselho Pedagógico(representante que falará em seu nome!); que coloca professores e funcionário obrigatóriamente em minoria através de artifícios matemáticos; … Pelos vistos nada disto chocou o nosso Presidente ou mesmo indignou a sua preocupação com o exemplo que vamos dar aos alunos.
Um abraço a todos e já agora Viva o 25 de Abril ( o de 1974!)
Abril 26, 2008 at 3:32 am
Bom motivo para descontrair, este 20.
Volto ao PR para referir neste curto espaço umas poucas banalidades sobre a importância da liberdade conquistada em 25 de Abril.
1º-Cada um pode achar que o discurso do senhor Presidente foi “interessante”
2ª – O sr. PR tem direito a dizer “principais protagonistas”, sendo sabido que “protagonistas” já significa “principais”(dou-lhe o benefício da dúvida pq não é ele que escreve os discursos)
3ª – O sr. PR tem direito a achar que os jovens ainda nem sequer nascidos em 1974 deveriam ser capazes de comparar e “sentir” a diferença entre uma ditadura e uma democracia, e considerá-los ignorantes
4ª – O sr. PR tem o direito de ser demagogo e assobiar para o ar
Eu tenho direito a achar que o discurso é mais do mesmo; que “autoritário” é um véu protector para regime fascista dos mais sangrentos e repressivos da Europa.
“Autoritário” é um bom começo para designar os regimes políticos pós-25 de Abril responsáveis pela repressão e morte no “buzinão” na ponte 25 de Abril, pela violênca contra os vidreiros na Marinha Grande, pela vergonhosa repressão da manifestação dos polícias no Rossio – o célebre “secos e molhados”, pela repressão da mais imponente manifestação de estudantes em Lisboa (ali por volta de 1994: aquela em que correu mundo a imagem do velho a ser barbaramente agredido por dois plícias no fundo das escadarias da Assembleia da República. Só para referir alguns exemplos.
E tenho ainda um importante direito. O direito de perguntar aos homens e mulheres que dão forma de letra à historia deste país: “Os senhores registaram, para memória futura, quem teve a ideia de alterar o dia da semana do feriado 25 de Abril? E quem ordenou a substituição dos CRAVOS por outras flores na sessão solene da AR? E quem era 1º ministro à época da violenta repressão de todas as manifestações acima referidas?
E quem negou à viúva de Salgueiro Maia uma pensão de viuvez, ao abrigo da prestação de relevantes serviços à Pátria, e concedeu a dois agentes da PIDE-DGS, na mesma data, pelo mesmo motivo?
Há um colega, grande historiador, que costuma dizer para outros colegas nossos:
– Já apontaste?
– Já.
– Então aponta outra vez, para não esqueceres.
Então aponte outra vez, para não esquecer: um mestre indigno não pode exigir ter bons discípulos.
Abril 26, 2008 at 4:00 am
E o que fez o PR por isto nos 10 anos que foi PM? É espantoso como os políticos se queixam por cá do estado a que isto chegou como se nunca tivessem passado pelo poder e assumido responsabilidades em todo este processo. Nem se dão conta que é a eles próprios que devem prestar contas; em vez de se queixarem do «povo». Qualquer dia fazem como o outro e perguntam se não se pode demitir o povo.
Abril 26, 2008 at 4:29 am
É caso para dizer: Mas que grande lata!!!!
Abril 26, 2008 at 7:55 am
Subtil… também vi. Mas este PR já foi PM. A Ministra teve antecessores. O estudo hoje de pouco vale digamos para dois terços dos alunos. Percebem, compreendem, mas nunca mais olham para a matéria nem os pais lhes lembram essa necessidade. Um destes dias ainda nos vão culpar por não conseguirmos que eles MEMORIZEM. As aulas de EAcompanhado não eram para ensinar métodos de estudo? Em que se transformaram? Em apoios a duas disciplinas – na minha escola. Colegas que fizeram formação na altura não lhes deram essa disciplina. Deram a outros sem formação! È fado nosso, é nacional.
Já agora: e que tal o PR fazer um inqueritozinho aos alunos dos cursos FEN / Novas oportunidades quando concluem o 9º ano ou o secundário? Aí é que ele ficaria impressionado, caramba! Nem imagina!
Abril 26, 2008 at 9:54 am
Este presidente já começa com a angústia de não ser reconhecido no futuro, por isso foi verificar a popularidade dos anteriores. Contudo na Madeira perdeu uma oportunidade de representar um papel importante, preferiu as metáforas a entrar em conflito. Podia a Madeira pedir a independência e era menos um sitio para visitar?
Em verdade é com ele e pela mão de Sócrates que Portugal perde parte da sua soberania para UE e nem uma consulta aos portugueses, para quê? O parlamento representa-nos, pois mas votamos neles porque nos prometeram essa consulta. Como esta promessa outras não cumpridas. E agora digam lá para quê tanta preocupação com o passado, com o futuro aqui ao lado com cada vez mais excluídos, mais bolsas de pobreza, mais ignorância apesar da escola quase permanente, mas com currículos duvidosos que não ajudam muitos os alunos a serem cidadãos participativos e empenhados na vida da vida sociopolítica. E dos poucos que acordam para estas realidades, um dia desistem ou vão parar a um partido para que lhe dêem uma visão já feita da realidade, e se possível uma carreira politica.
Abril 26, 2008 at 11:17 am
Parabéns, Paulo Guinote,pelo excelente texto/comentário ao discurso do Presidente.Li todos os comentários e subscrevo-os quase todos.É muito reconfortante verificar que pertenço a uma classe profissional(profs)onde abunda massa crítica e consciência da realidade social e política!
Realmente, o que podemos esperar de um Presidente que,embora mostrando algumas boas intenções,revela uma confrangedora falta de conhecimento crítico da REALIDADE EDUCATIVA e da REALIDADE CULTURAL do nosso país?O Senhor poderá saber muito de Economia e Gestão, e depois?…Isso chega para ser um Grande Presidente da República?Falta-lhe conhecimento, sensibilidade e sobretudo…falta-lhe MUITO MUNDO.Ah,nada de confusões- ele já deve ter dado várias voltas ao mundo!-mas não é disso que se trata!Até podia passar o resto da vida a viajar… mas se o faz de cabeça fechada,volta na mesma!!!!
Quanto ao curriculum do Ensino Básico (que é o que conheço)só me resta dizer que concordo 100% com Paulo Guinote:mal empregadas horas e trabalho dos profs.nas ACND! Há tanto para aprender, ensinar e desenvolver em História, Língua Portuguesa,Matemática, etc…
Eles fazem os Curricula, as leis, os despachos; promulgam toda essa “treta” e depois queixam-se?
De quê? De quem? Posso garantir que não sou eu a culpada, que tenho 35 anos de serviço como professora de Língua Portugues e Francês.
A Ministra Rodrigues e o ex Santos Silva, entre outros,bem podem limpar as mãos à parede pelas “BORRADAS”que fizeram ou estão a fazer!!!!O grande Problema é que não temos tido Ministros da Educação mas…Ministrecos de Educação!!!!!!!!
Mas são eles que mandam, não é?Talvez a história lhes venhaa” fazer justiça”…
Abril 26, 2008 at 11:48 am
E vós homens e mulheres de pouca fé! arrependei-vos porque está próximo o …. QUÊ? A criação das Áreas Curriculares não Disciplinares tem pura e simplesmente e ver com a POUPANÇA! vEJAM O QUE ELES POUPARAM COM ISSO EM TERMOS DE HORÁRIOS LECTIVOS!!!!
Abril 26, 2008 at 12:21 pm
Deveriam fazer um exame de admissão para deputados e também para ministros (com a exigência de 14 valores) e era ver os resultados dos nossos ” ilustres”!!!!
Abril 26, 2008 at 12:43 pm
O que não conseguem fazer é um exame de consciência e admitir que as politicas impostas foram até hoje, na sua quase totalidade, erradas, e que eles são os culpados pela situação.
As Áreas não Curriculares, este ando estou na de área de Projecto, na minha opinião de nada servem, quando estas horas poderiam ser redistribuidas pelas áreas curriculares ou então aligeirar a carga horária dos alunos.
Mas os políticos comportam-se assim, quando há problemas, os culpados são os outros e nunca eles.
Penso que a legislação em Portugal nasce órfã.
Abril 26, 2008 at 2:24 pm
também gostei do miúdo
“(…) manda a verdade que se diga que o discurso de José M. Soeiro, do BE, foi o mais interessante dos discursos parlamentares. Arriscaria mesmo: um dos melhores de sempre em sessões comemorativas do 25 de Abril (e, bem posso dizê-lo, porque os li todos, um a um, no ano passado). Não subscreveria uma linha do que ali foi dito; estarei até nos antípodas daquele modelo de políticas educativas e de paradigma de escola. Mas raras vezes foi tão bem enunciado um modelo congruente e alternativo. Exemplarmente escrito, bem lido, pleno de conteúdo: eis um discurso que nos faz acreditar que a política ainda consegue recrutar jovens de grande talento.
Público 26.04.2008, Paulo Rangel
Deputado do PSD
(com o mandato suspenso)
“(…)O problema das escolas não é, portanto, os professores, mesmo que se queira tantas vezes transformá-los nos culpados das políticas educativas. O problema das escolas não são os jovens, mesmo que se queira construir histericamente a imagem de que os estudantes são todos perigosos delinquentes. O problema das escolas não é terem demasiada democracia na sua gestão, mesmo que se use essa distorção como argumento para subordinar as políticas educativas ao modelo das empresas.
A crise da escola não é uma crise técnica, relacionada com um problema de eficácia. É uma crise política, ligada a um problema de legitimidade. Não há forma de resolver esta crise sem a pensar politicamente e sem a articular com os diferentes projectos de sociedade que conflictuam no país.
(…)
A resposta democrática valoriza a diversificação dos públicos escolares, a interculturalidade, a heterogeneidade, os diferentes comportamentos, linguagens, classes e nacionalidades que habitam a escola portuguesa. A resposta democrática rejeita as formas de hierarquia e discriminação dentro da escola.
(…)
A escola não pode ser um lugar de desigualdade e sofrimento. A democracia precisa de restituir a professores e alunos as condições mínimas para a sua felicidade. Essa felicidade é um enorme desafio. Trata-se de superar a forma escolar, de reinventar a escola e o trabalho que lá é feito.
(…)
As expectativas de mobilidade social associadas à escola – determinantes na sua valorização pelas pessoas – estão hoje a ser frustradas pelo acréscimo das desigualdades e da exclusão. O aumento do desemprego, a precarização generalizada da juventude e o empobrecimento do país dá-se hoje em simultâneo com um acréscimo das qualificações escolares.
O problema é portanto das escolhas políticas do centrão e do rotativismo que amarram o país à pobreza e ao défice social. De nada valem as declarações vazias das almas sensíveis que tanto se preocupam com a «exclusão», porque os mesmos responsáveis políticos que se cordoem com a exclusão têm sido insensíveis à acentuação das desigualdades.
A crise da escola não pode ser equacionada senão remetendo-a para a crise do compromisso entre capitalismo e democracia, compromisso que tinha sido assegurado, até certo ponto, pelo Estado Social. A desregulação dos direitos do trabalho, o desmantelamento dos serviços públicos que é o dogma do liberalismo dominante, a restrição democrática que significa a destruição de direitos sociais trazidos pela Revolução são os factores que estão, primordialmente, na origem dos fenómenos de exclusão.
Para que a extensão da escolarização possa ser, como sempre advogaram os seus mais generosos defensores, factor de progresso e de emancipação das classes exploradas é indispensável impor mudanças profundas no próprio trabalho.
A inadequação do sistema educativo e formativo em relação ao mercado de trabalho é uma profecia liberal invertida. Não temos qualificações a mais. Temos, isso sim, falta de empregos qualificados, exploração dos jovens, um modelo produtivo atrasado baseado na mão-de-obra barata, que precisa de taxas de desemprego estrutural para manter taxas de lucro e uma pressão permanente sobre os trabalhadores.
A estrutura de relações de produção existente em Portugal bloqueia as forças potencialmente produtivas produzidas no sistema de ensino.
Este problema é, a par da educação, um dos maiores défices democráticos que hoje vivemos. A minha geração, a geração dos 500 euros, vive na corda bamba, congelada pela precariedade. É uma geração em relação à qual os Governos têm virado as costas. A precariedade foi-nos imposta como modo de vida: nenhuns direitos, nenhuma capacidade de projectar um futuro, nenhuma garantia de respeito, nenhuma certeza de emancipação.
Muitos dos direitos que fizeram parte do código genético da democracia de Abril não existem para grande parte dos jovens. Empresas de Trabalho Temporário que falsificam relações de trabalho. Falsos recibos verdes, a começar pelos que existem no Estado. Contratos a prazo que se sucedem. Estágios não-remunerados uns atrás dos outros. Arbitrariedade laboral completa. Esta é a condição de toda uma geração que já nasceu em democracia.
A democracia tem estado a ser confiscada pelos patrões, pelas ETT’s e pelo Estado que dá o pior exemplo com milhares de trabalhadores precários. De nada adiantam medidas cosméticas que legitimam estas práticas quando vêm atreladas ao despedimento na hora, que significa a precarização geral da sociedade.
A democracia não pode ser confiscada por ninguém. Não é apenas um sistema político e o voto livre, que é essencial. Uma democracia de alta intensidade é aquela que se estende a todas as esferas da vida, a todas as relações sociais. A democracia é a resposta mais forte contra todas as formas de dominação – no espaço da empresa, na escola, na família, na sexualidade. É isso o socialismo do nosso tempo, um projecto imenso que se encontra por cumprir.
(…)
Na política, como na vida, nós somos o que fazemos. Mas somos sobretudo o que fazemos para mudar o que somos. E se há uma coisa que o 25 de Abril nos ensina é que é sempre possível mudar tudo.”
Intervenção de José Soeiro na sessão solena do 25 de Abril 2008
http://beparlamento.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=815&Itemid=37
Abril 26, 2008 at 5:48 pm
E mais nem é preciso dizer… Afinal, conclui-se também que o sr. PR também não sabe exactamente o que o Paulo tão bem explana , porque se soubesse…
Abril 26, 2008 at 6:29 pm
Um excelente discurso.
O PR, está a leste de tudo pela simples razão que está altamente comprometido com a situação. Sócrates e Cavaco são iguais nas políticas destrutivas de uma sociedade democrática construida após o 25 de abril.
Abril 26, 2008 at 6:38 pm
Foi preciso o discurso de Cavaco para as pessoas se darem conta que, desde a reforma curricular da Ana Benavente – reforma que, da inteira responsabilidade do Partido “Socialista” (Guterres), nunca foi avaliada nem revista pelo actual governo – a disciplina de História foi relegada para um plano secundário.
Se compararmos as cargas horárias das disciplinas de História e Educação Física no 3º Ciclo do Ensino Básico teremos um claro ” 3 – 2″ para a Ed. Física! Não quero dizer que 135m de educação física sejam demais, o que quero dizer é que 90m de história são manifestamente insuficientes.
Esta desproporção é sensivelmente mais notória se pensarmos em termos de programação televisiva. Compare-se o tempo de antena dedicado ao futebol e ao desporto com o tempo dedicado a programas formativos.
Já agora só falta virem dizer, mais uma vez, aos portugueses, que a culpa é dos professores!!
Abril 26, 2008 at 11:49 pm
perguntassem aos jovens encapuçados e eles se lhes apetecesse responder, mostrariam saber mais do que muitos dos profs que para aí andam.
para haver liberdade e democracia não é preciso haver partidos.
Abril 26, 2008 at 11:50 pm
infelizmente, é culpa do estado esta ignorância generalizada que começa pelo ‘topo’ deles, não o meu, que são os tipos que nos exploram e dizem baboseiras e destroem e deixam morrer a torto e direito.
Abril 27, 2008 at 2:35 pm
Não, não Sr. Presidente.
Por mais que o senhor diga, por mais números que represente eu não esqueço que as sementes da sociedade que temos, egoísta, individualísta, oportunista …foram lançadas no tempo do cavaquismo. Também não esqueço os maravilhosos ministros da Educação Manuela Ferreira Leite e Couto dos Santos.
Aliás não sei como se tem coragem de vir criticar coisas pelas quais se tem tão grande responsabilidade…