Currículo


em que momentos da sua carreira, foi Hélder de Sousa avaliado com uma qualquer prova que permitisse conhecer as suas capacidades e competências?

(…) a classe docente quer considerar-se à parte destas exigências, que são comuns às profissões mais qualificadas? É que se quer, de certa forma pode ser até uma forma de desqualificação.

Porque isto é tudo muito interessante, mas quem certificou o senhor Iavé como avaliador-mor do reino? Ou como sabemos nós que quem elabora e classifica estas provas têm competência para tal?

Porque a mim quer parecer que quem mais clama pelo rigor, pela cultura da perfeição é exactamente quem fez carreiras sem que seja perceptível a que avaliação foi sujeito. Porque uma coisa é ter cargos, outra ter sido avaliado por mais do que a fidelidade aos senhores que passam.

Vamos lá a tentar saber… que provas fez Hélder de Sousa, quem o avaliou, quem foram os júris das suas provas?

Porque isto de mandar fazer, quase todos sabem mandar. Fazer é que é o caraças…

O senhor até pode ser o mais competente entre os competentes no reino de Iavé, mas a verdade é que o seu trajecto académico e profissional é… aquilo que é e não mais do que isso.

E percebemos o quanto a coisa é curta quando lemos tiradas como estas, cheias de ausências de detalhes específicos ou conhecimentos concretos.

As provas são semelhantes, não há aqui nenhuma invenção. Agora os modelos são todos diferentes. As provas normalmente têm uma componente comum e outra específica, mas desconheço em pormenor se são classificadas separadamente. Sei, por exemplo, que as linhas de corte entre o ser aprovado e não aprovado são variadas. Nuns casos são mais exigentes, noutros menos.

Provas “semelhantes”, modelos “diferentes”… linhas de corte “variadas”… nuns casos “mais exigentes, noutros menos”.

Phosga-se, pá… isso até eu seria capaz de dizer e não percebo nada do assunto.

 

Currículos locais
Com a transferência de competências previstas nestes contratos de autonomia, as autarquias vão gerir 25% do currículo de todos os níveis de ensino, podendo alterar até o calendário escolar, desenhando-o em semestres, e vão poder criar disciplinas que se adequem ao contexto regional. Esta gestão pedagógica será transferida em Setembro de 2015, por forma a vigorar no próximo ano lectivo
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crazy lady

Eu nunca gostei muito daquelas áreas curriculares meio coisas, em que parece que se quer ensinar algo que deveria ser função principal da socialização familiar ou em que se predominam as “transversalidades” típicas do tal discurso eduquês que muitos foram criticando, antes ou depois, mas nem sempre com grande coerência.

Com a Área-Escola, a falhada disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social, foi uma das pioneiras experiências em matéria de ACND.

Há quem na altura tenha teorizado tanto em seu redor e sua defesa, quando algum tempo depois pela sua extinção.

Só não muda quem não é burro e/ou flexível ao espírito dos tempos.

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“Formação pessoal e social na estrutura curricular” in Diário de Notícias – Domingo, 4 de Fevereiro de 1990

 

… criar disciplinas “novas”, amputando outras, muitas das vezes aquelas que são essenciais para que se possa partir para uma verdadeira inovação curricular.

A menos que eu “crie” qualquer coisa “nova” como Conhecimento dos Mundos Passados e retirar horas a História e Geografia de Portugal, dando fundamentalmente o mesmo, mas fingindo que estou a inovar com grande autonomia, passando a chamar húmido ao molhado.

Isto é uma mistificação, uma desonestidade política e intelectual, que o secretário de Estado debita com a menos atenção co que escolhe os punhos de camisa para a semana.

Uma verdadeira autonomia e inovação curricular não se decreta ou pratica dentro de uma  caixa fechada.

Novas disciplinas podem “nunca sair do papel”

(…)

O novo nível de autonomia permite às escolas usar 25% da carga horária anual para oferecer uma nova disciplina ou reforçar outras que já existem, mas ainda não convenceu as escolas. Para já, esta é uma possibilidade que apenas está ao alcance das que têm contrato de autonomia, cerca de um quarto. E para o presidente do Conselho das Escolas, as direções “numa primeira fase vão ser tentadas a reforçar a carga horária de algumas disciplinas, eventualmente aquelas que têm exames”. José Eduardo Lemos, também diretor da Secundária Eça de Queiroz, na Póvoa de Varzim, confessa que a sua própria escola ainda não decidiu o que vai fazer com esta flexibilidade de currículo.

O secretário de Estado do Ensino e Administração Escolar sublinha ao DN que o objetivo do Governo é que as escolas tomem a opção com que se sintam mais confortáveis. “O que se pretende é que exista faseamento e que as escolas possam de uma forma confortável, olhando para os seus recursos humanos e potenciando-os, reforçar disciplinas ou criar novas disciplinas, tudo dentro dos 25% da carga horária”, justifica João Casanova de Almeida. Estes 25% podem ser retirados a todas as matérias menos Português e Matemática, que apenas podem ser reforçados.

Enquanto espera pela versão em papel, que estimula mais o cérebro…

 

Nos últimos dias houve um avanço significativo no alargamento da estratégia do empobrecimento nacional à Educação, na sua vertente mais sensível que é o da oferta educativa disponível para os alunos do Ensino Básico.

Com o pretexto oficial do aprofundamento da autonomia das escolas em matéria de gestão curricular e apenas com a colaboração e bênção de alguns operadores privados no sector, foi publicada legislação que permite a “especialização” das escolas básicas, através da transferência da carga lectiva de umas disciplinas para outras, podendo parte delas ficar apenas com 45 minutos semanais, enquanto outras poderão ver aumentada essa carga (na ordem dos 25%) ou serem mesmo criadas novas disciplinas fora das matrizes em vigor.

A apoiar a ideia, surgiu o director executivo da AEEP que decidiu invocar, para legitimar este tipo de política curricular, o “interesse das crianças” contra os dos adultos (leia-se “professores”) pois ele considera, e assim foi citado em notícia do Público, que “no limite” se pode começar a formar um médico no 5º ano, adequando o currículo a esse objectivo.

Há que, quando se atinge este nível de desvario demagógico, recentrar a discussão e esclarecer alguns pontos fundamentais, que deveriam ser pacíficos para além de qualquer delírio ideológico ou interesse económico ou corporativo.

  • No 5º ano, aos 10 anos, ou mesmo no 7º aos 12, serão poucas as crianças que terão condições para fazer uma escolha de tipo profissional, sobre a qual se construam matrizes curriculares especializadas, em especial se amputarem, logo no início, o contacto com diversas áreas do conhecimento e das expressões. O que poderão existir é interesses familiares – dos adultos – relacionados com o futuro desejado para os seus filhos, mas que dificilmente se podem disfarçar com outros argumentos, de carácter pedagógico ou mesmo moral, como é muito habitual nestas situações. Não me parece ser matéria de especial controvérsia que não é reduzindo de modo muito precoce o currículo que se presta a um bom serviço às crianças e muito menos se servem vocações. Quanto muito, condicionam-se as opções e tais vocações.
  • A possibilidade de diversificar o currículo padrão é algo muito positivo, em especial a partir do Ensino Secundário e quando a escolaridade está nos 12 anos. E pode ser positivo mesmo no Ensino Básico se a lógica for a do alargamento das opções disponíveis e não do seu prematuro afunilamento por decisão dos adultos. O que faz sentido existir é, para além do tal currículo padrão que até já pode actualmente ser retocado mesmo se de forma muito pontual, alargar o contacto das crianças e jovens com outro tipo de matérias, seja no campo das ciências, das humanidades ou das expressões, devendo ser essa oferta complementar frequentada em regime de escolha voluntária e não de “especialização” única da escola. Porque o que interessa é permitir aos alunos conhecer antes de escolher, contactar antes de optar. O que o MEC e a AEEP pretendem é algo diferente. É limitar muito cedo uma verdadeira liberdade de escolha. Uma coisa é reduzir ligeiramente a carga lectiva semanal obrigatória e facultar um leque de opções suplementares, com um número mínimo de alunos e nunca com a dimensão actual na maioria das escolas, para que os interesses dos alunos em causa sejam realmente servidos.

Isto significa que uma boa ideia pode ser bem ou mal implementada, conforme se pretenda verdadeiramente servir os interesses das crianças do ponto de vista pedagógico e de enriquecimento curricular ou usar essas crianças como pretexto para inclinar o currículo num sentido que é fácil adivinhar, pois tanto o ministro como o director executivo da AEEP são conhecidos defensores da aposta nas STEM, ou seja, nas Ciências e Tecnologias em detrimento das Artes e Humanidades, numa lógica em tudo confluente com a de um qualquer ministro da Economia de visão limitada.

Não vou sequer demorar-me em questões mais práticas como a contradição entre esta especialização curricular a partir do 2º ciclo e a homogeneização dos projectos educativos que foi forçada pelos mega-agrupamentos. Ou o desfasamento entre a definição de metas curriculares enciclopédicas em algumas disciplinas e a possibilidade de elas virem a ter 45 minutos semanais.

O que pretendo mesmo é denunciar que esta lógica de suposta especialização significa um empobrecimento curricular e que o tão abusado “interesse das crianças” não é mais do que uma máscara para opções em que elas não têm qualquer participação.

O Rodrigo Queiroz e Mello quando diz boa parte do que pensa é um espectáculo, embora sirva para percebermos como funcionam certos ambientes mentais.

O documento permite roubar até 25% da carga curricular de algumas disciplinas para reforçar outras, que sejam consideradas mais relevantes. “No limite, permite começar a preparar uma criança para entrar em Medicina desde o 5.º ano”, exemplificou nesta quinta-feira o director executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP), Queirós e Melo.

Claro que há famílias em que, desde o óvulo, a criança já está destinada a ser médica ou outra coisa assim ao nível das expectativas m/paternas, sendo que muito pouco pode fazer contra tal predestinação.

Mas o que é mais ridículo – e no seu entusiasmo destrambelhado RQM nem sequer se apercebe da contradição, mas eu aprendi que nem toda a gente consegue imaginar o outro lado da lua – é que se considera que isso é colocar a criança no centro das preocupações e afrontar os interesses dos adultos, quando o que se passa é, exactamente, pré-determinar destinos das crianças desde um momento na vida em que elas não têm ainda capacidade para ter certezas sobre profissões futuras, quanto mais construir matrizes curriculares em cima disso.

O que se estará a fazer é a ceder aos interesses exactamente de alguns adultos e a quebrar o princípio da universalidade da formação ainda em idade muito tenra.

O texto da portaria, apresentado nesta quarta-feira pelo ministro da Educação, apanhou de surpresa os representantes dos directores das escolas públicas. Mas não surpreendeu os dirigentes da AEEP, frisou Queirós e Melo ao PÚBLICO, congratulando-se por a decisão do MEC “estar na linha do que a associação propõe há anos” e elogiando “a coragem do Governo” por “afrontar os interesses dos adultos e colocar no centro os das crianças”.

Quanto ao resto, aquele entusiasmo desmedido com os “momentos transformadores” (faltou recorrer ao chavão da “mudança de paradigma”) só esquece que em muitos sítios é impossível fazer tal especialização, por falta de uma verdadeira rede de estabelecimentos escolares, pois a sua concentração triturou a diversidade dos projectos educativos.

Que a ideia é potencialmente interessante?

Sim, é… e até poderia conduzir a experiências como as das magnet schools americanas.

Mas os moldes nunca poderiam ser estes de reduzir algumas disciplinas a uma presença residual. Os 25% de acréscimo a uma dada área deveriam ser atribuídos de forma autónoma e não totalmente à custa da formação em outras áreas.

Assim como tal especialização nunca deveria acontecer tão cedo… pois – tal como no vocacional – o estreitamento das opções da miudagem é algo que só os prejudica, mesmo se os papás e as mamãs podem ficar entusiasmad@s com o potencial doutorzinho, como antigamente se sonhava com o engenheiro.

Porque o que assim criamos é seres potencialmente mais pobres em termos intelectuais, unidimensionais e especializados desde uma idade tão precoce quanto um qualquer atleta de alta competição que só sabe nadar ou bater bolas para o lado de lá da rede.

Claro que esta é uma cedência óbvia à AEEP – e não estranho que o Conselho de Escolas pareça nem ter sido ouvido – que pretende criar escolas completamente direccionadas para as expectativas de um lote específico de “famílias” que agora só esperam que ainda lhes caia um cheque no regaço para pagar boa parte dos seus “projectos”, nos quais a criança é um mero veículo e raramente o centro.

Desde o início deste mandato que este lobby específico tem os dois pés metidos no MEC, nem que seja pelas poderosas ligações estabelecidas por lá na última década.

Ainda me interrogo se era para isto que o jovem RQM foi direccionado desde o 5º ano…

Agradecendo a referência ao Luís T. Ferreira:

Curricular Studies and their Relation with the Political Agenda for Education

A entrevista de Nuno Crato na SICN teve momentos impagáveis, só possíveis com um Mário Crespo de férias. Quando o MEC desenvolvia a sua teoria de que ele só se preocupava com o conteúdo da Educação – as coisas “administrativas” devem ser só para os secretários, que devem ser os maus dos cortes – e que tinha reforçado as horas das disciplinas “essenciais”, Mário Crespo distraiu-se e perguntou-lhe quais (nunca perguntar coisas específicas deveria ser uma regra d’ouro nas entrevistas amigas a Nuno Crato). O MEC arrancou… e foi enumerando todas as que se lembrou (acho que disse Inglês duas vezes) e só deixou de fora as Educações (Musical, Visual, Física, Tecnológica…).

Para além de não verdade que reforçou as horas a todas (afinal, o crédito horário para grupos de duas ou três disciplinas, aumentado em menos do que o que foi cortado Às ACND não significa que todas tenham aumentado), percebeu-se o receio de se esquecer de alguma e depois levar na cabeça.

Ao fim de dois anos, mesmo desinteressado das coisas administrativas, Nuno rato já devia ter obrigação de estar mais dentro dos assuntos e não os abordar tão pela rama fresca.

O desprezo pelas humanidades e pela Filosofia

Ministério da Educação surpreende com novos programas no Secundário

Direcções das associações de professores lamentam não terem sido ouvidas sobre programas de Português, Matemática A e Física e Química, colocadas nesta segunda-feira em consulta pública.

14 Wacky “Facts” Kids Will Learn in Louisiana’s Voucher Schools

Sugestão do Luís Braga:

Teaching Biology, Not Bible-ology

Decreto-Lei n.º 91/2013. D.R. n.º 131, Série I de 2013-07-10

Ministério da Educação e Ciência

Procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho, que estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão dos currículos dos ensinos básico e secundário, da avaliação dos conhecimentos a adquirir e das capacidades a desenvolver pelos alunos e do processo de desenvolvimento do currículo dos ensinos básico e secundário.

 

Confesso não perceber exactamente o timing disto tudo e como se enquadra numa organização do ano lectivo de 2013/14 despachada há um mês, mas aguardando novo despacho.

As alterações previstas para a matriz do 1º ciclo deixam-me algo baralhado, não percebendo exactamente o seu alcance… menos aulas para os alunos para a mesma permanência na escola? Menos aulas (e componente lectiva) para os docentes do 1º ciclo e maior componente não lectiva com outro tipo de actividades?

O que pretende isto alcançar?

Vou reler a coisa, mais o parecer do CNE, mas estes acertos parecem-me daqueles que… coiso e tal, mais valia estarem quietos.

Não eram exactamente estas micro-alterações anuais da treta que o actual MEC tanto criticava?

Proposta: Projeto1ªalteraçãoDL 139de2012de5Julho.

Parecer do CNE: ParecerFinalAlteracaoDL139de2012.

Estava o pr e mais de cinquenta outros gajos e gajas e algumas crianças com culpa futura e a sua produtividade toda somada conseguiu plantar mais de uma árvore. E menos de três!

E um da matemática que se enganou. Também achei piada à pá da força aérea em dia de vento moderado.

5 pontos sobre a alergia de um deputado à Constituição

“Os alunos não devem ter nenhum contacto com esta Constituição”, já  que faz mais sentido terem contacto com o conhecimento de “conteúdos de direito constitucional” que não estejam vinculados a ideais “de direita, nem de esquerda”.

Fernando Negrão, deputado do povo português (citado pelo Jornal I) http://www.ionline.pt/artigos/portugal/os-alunos-nao-devem-ter-nenhum-contacto-esta-constituicao-diz-fernando-negrao

1.Toda gente percebe de currículo das escolas. Toda a gente acha que pode discutir o que se ensina e como se ensina. E se eu me pusesse a opinar sobre a qualidade das compressas ou do instrumental que se deve usar ou a ordem ideal pela qual se devem aplicar cortes nos tecidos, durante uma cirurgia? Ou, se mais voltado para a especialidade de Fernando Negrão, me pusesse a dizer como se devem conceber e aplicar as normas de processo civil em casos complexos? Provavelmente receberia resposta, mais ou menos polida, sobre a minha incapacidade técnica sobre a matéria.

Professorzeco de História do 2º ciclo, posso perceber muito pouco de outras coisas mas, como acho que percebo da minha profissão, acho que a douta opinião do Senhor Deputado sobre a ferramenta essencial dela (o currículo), só me pode merecer a cordata perspectiva de que é profundamente ignorante, deslocada e, já agora, politicamente orientada e “vinculada” (e até intolerante e censória). E não é qualquer um que pode querer censurar a publicidade da Constituição (que acabou com a Censura). “Esta” ou outra qualquer que a soberania popular elabore.

Espero que não seja sinal de que os políticos, arrogando-se um conhecimento da escola e da “ensinagem” que não têm, comecem a querer “vincular ideologicamente” os programas das disciplinas. Na Matemática, a fragilidade curricular dos políticos já está a dar grossa asneira. Será que ainda vamos ver debates à americana sobre a desvinculação do ensino da Evolução Biológica face ao Livro do Génesis?

2. A Constituição já se ensina (e esse é um dos erros da proposta dos Verdes sobre o seu ensino, que parece bem intencionada, mas que esquece esse detalhe, o que a torna razoavelmente inútil e até despropositada). A História das Constituições portuguesas, e até a sua comparação ao longo do século XIX e XX, faz parte do programa da Disciplina de História (até do 2º ciclo, que ensino). Entre outras coisas, ensina-se o conteúdo dos direitos fundamentais e a organização do poder político (separação de poderes, processo eleitoral, etc). Além disso, ao estudar-se o período do Estado Novo e o 25 de Abril tem de se falar aos alunos da Constituição e do processo da sua elaboração. Muitas escolas, mantiveram, na sua estreita autonomia, limitada por razões “ideológicas” do Governo, disciplinas de educação cívica ou para a cidadania, mesmo após a extinção da área curricular nacional. Devem falar de minhocas com certeza…. E se a Constituição enforma o essencial da vida social e as outras leis (embora o Governo se esqueça bastas vezes) muitos outros assuntos do currículo básico e secundário vão ter ao seu estudo e conhecimento.

3. O que se ensina comprovadamente não chega (daí a boa intenção da proposta dos Verdes). São proverbiais aqueles inquéritos de porta de faculdade em que o repórter pergunta pela Assembleia da República e sai Assembleia Nacional ou em que estudantes adultos não sabem explicar o que é a autonomia regional ou o veto presidencial. Nem a todos sairá o presidencial “cidadões”, mas nem todos darão consistência a ideias seguras sobre cidadania (e, no debate parlamentar, muitos deputados, professores, salientaram essa ignorância, até ao nível do ensino superior).

4. Longe de mim querer dar lições de Direito Constitucional a um deputado que, de origem, é magistrado judicial mas, um percurso pelo índice da Constituição desmonta a ideia de que a Constituição seja toda ela (ou sequer, no essencial ou maioria) politicamente vinculada e de esquerda.

Os 296 artigos da Constituição são todos eles políticos (uma Constituição, “esta” ou outra qualquer, é um documento político) mas uma análise descritiva permite concluir que, prescindir de os ensinar, significa os alunos não terem contacto, por exemplo, com Princípios Fundamentais (que as outras constituições democráticas todas referem e não são de esquerda ou de direita – 11 artigos), Direitos e Deveres Fundamentais (que transcrevem, às vezes, ipis verbis o que diz a Declaração Universal dos Direitos Humanos ou compromissos internacionais do Estado Português – dezenas de artigos) ou com a forma de organização do Estado (que, se perceberem na sua descrição, lhes permitirão escolherem melhor ser de esquerda ou de direita, já agora).

E o Habeas Corpus é de esquerda ou de direita? E os símbolos nacionais? Os artigos sobre Organização económica talvez desagradem, em parte, a ouvidos de direita mas a concepção de propriedade privada e da actividade empresarial, que também lá está, desagrada a alguns mais canhotos.

5. Concedo que o Preâmbulo tem em 2 expressões uma potencial carga de Esquerda ao usar as palavras fascista e socialismo (apesar da nítida ressonância, na maioria esmagadora das restantes palavras, de textos Constitucionais Americanos) mas, mesmo aí, a História ajuda a entender. Ensinar História é ensinar isso (as “cargas”, as subtilezas e as subjectividades) e ensinar que a CRP foi um compromisso histórico (como todas as Constituições) que permitiu resolver uma crise politica, que teve aspectos complexos e que o compromisso foi bom, pelo que trouxe, mesmo se nem todos concordaram com o conteúdo todo (e essa discordância é a matéria da História).
Ou, acha o Senhor Deputado que devemos deixar de ensinar, em nome da pureza e da procura do ensino politicamente inerte, o facto histórico de que até houve partidos que votaram contra a Constituição (não sendo ele o seu)?

A pureza inerte do currículo e da escola não existe e se, em vez de se entreterem com estas discussões, a meu ver ociosas, os senhores deputados vissem a qualidade das leis sobre escola que fazem talvez fosse mais útil.

Por exemplo, cidadão que participou (inutilmente) mas como é seu direito e dever constitucional na discussão pública do Estatuto do aluno e Ética escolar (bárbara titulação), questiono-me se, além da pouca gramática de que padece em certos artigos, é de esquerda ou de direita?

É certo que, em vários artigos, se apela explicitamente à Constituição como fundamento mas, se se concluir, pelo filtro “lateral” do Senhor Deputado, de que tem artigos de direita podem ser, por isso, menos cumpridos? Ou, será que como o Estatuto apela à Constituição, e se diz baseado nela, “os alunos não devem ter nenhum contacto” com ele?

Luís Sottomaior Braga (professor de História do 2º ciclo)

É extraordinário como um deputado, ex-governante, manifesta tamanha ignorância:

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Será que já consultou o programa de HGP e História? Seja o programa com mais de 2o anos, seja as mais recentes metas?

Desde a Constituição de 1822 que os alunos entram em contacto com documentos fundamentais da nossa História Constitucional, algo que a maioria dos deputados deve desconhecer, ter-se esquecido, whatever. É absolutamente vergonhosa a ignorância de quem fala sobre isto, desde quem propõe sem necessidade a quem recusa por puro e simples preconceito (nesse aspecto as posições do PS e CDS são especialmente hipócritas).

Programa de HGP em vigor:

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Metas curriculares:

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… para a adequar às Metas de Aprendizagem que anda a divulgar. História no 3º ciclo vai passar, no mínimo, a quatro tempos lectivos ou 200 minutos semanais, certo?

O Ministério da Educação e Ciência (MEC) vai voltar a mexer nos currículos dos ensinos Básico e Secundário, alterando a carga horária de algumas disciplinas já no próximo ano letivo. A informação foi transmitida às delegações dos sindicatos de professores nas reuniões realizadas a semana passada e confirmada, ontem, ao Correio da Manhã pelo MEC.

Consequências da eventual extinção da disciplina de Ciências Naturais do 9.º ano

Nas Metas Curriculares que se encontram em fase de discussão pública até 25 deste mês de março não se encontram as de Ciências Naturais do 9.º ano. Também não se encontra qualquer referência a essa falta, ao contrário do que acontece com outras disciplinas. Estes dados levam a crer que o Ministério da Educação e Ciência quer proceder à extinção da disciplina de Ciências Naturais do 9.º ano.

Eis sete consequências que advirão da extinção da disciplina de Ciências Naturais do 9.º ano, se ela se vier a concretizar.

1. Com esta extinção, faltarão pré-requisitos aos alunos do Ensino Secundário, para a disciplina de Biologia e Geologia e para a de Biologia do ensino regular ou de cursos profissionais.

2. Com esta extinção, a existência de um ano de escolaridade (9.º ano) sem esta disciplina, e só esta, entre o final do 3.º ciclo do ensino básico e o início do ensino secundário, confere a esta disciplina um estatuto de menoridade, relativamente às outras. Voltaríamos a uma situação que existiu há anos atrás, mas que entretanto foi corrigida. Voltou agora, apenas para a disciplina de Ciências Naturais, pois nenhumas das metas agora publicadas, preveem a extinção de mais disciplinas em qualquer ano de escolaridade.

3. Com esta extinção, os alunos não poderão aprender conteúdos e capacidades fundamentais para a sua educação integral.

4. Com esta extinção, depois de todo o investimento feito pela comunidade educativa portuguesa, incluindo o próprio Ministério da Educação e Ciência, em educação para a ciência, nomeadamente das ciências naturais, em educação para a saúde e em educação para uma sexualidade saudável e responsável, corre-se sério risco de regressão. Após todo esse esforço de escolas, associações, institutos de investigação científica e instituições de ensino superior, Centros Ciência Viva, organizações não governamentais, empresas ligadas à educação, como as editoras, e muitas outras entidades e pessoas, o Ministério da Educação e Ciência dá o sinal a todos de que esse investimento não interessa.

5. Com esta extinção, não sabemos se haverá um aumento de professores no desemprego, em mobilidade especial ou com rescisões por mútuo acordo, mas sabemos que os professores de Ciências Naturais terão maiores probabilidades de virem a ser atingidos por esses flagelos sociais.

6. Com esta extinção, não sabemos se haverá alguma redução significativa do orçamento do Ministério da Educação e Ciência e/ou se haverá concretização de algumas opções ideológicas ainda não explicitadas. Mas temos a certeza que acarretará muitos gastos com problemas de saúde pública e individual e com outros problemas socioeconómicos das várias gerações que forem privadas do ensino e aprendizagem de conhecimentos e capacidades essenciais de educação científica, de educação para a saúde e de educação sexual, da disciplina de Ciências Naturais do 9.º ano, essenciais à prevenção (primária) daqueles problemas.

7. Com esta extinção, não sabemos se as novas metas curriculares serão viáveis, mas sabemos que trarão um aumento do insucesso educativo.

Adérito Cunha

Matriz Curricular 2º Ciclo – Pedido de Ajuda

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