Rigor


Mas por acaso fazem-se novas turmas por causa de mais uns repetentes? Com turmas a 30 cabe de lá tudo um pouco, nem sequer as lâmpadas consomem mais.

A unidade de custo, como nos contratos com os privados, é a turma e essa tem o mesmo valor com 27 ou 29 alunos. Aquilo de multiplicar os 4.000 euros é aritmética preguiçosa para espantar os tios patinhas.

Engana-se quem quer ser enganado.

João Grancho terá copiado com assinalável rigor passagens de outros autores num colóquio em Múrcia (ao qual, caraças, estive quase para ir por sugestão do professor Rogério Fernandes, que na altura tinha sido meu orientador de tese).

A defesa que agora faz do acto é um bocadinho patética, porque afirmar que num documento de trabalho não se citam as fontes ou se incluem referências é tão ou mais grave do que o plágio. E um “seminário académico” é um seminário académico, não uma conversa de boteco em que se cita a crónica d’A Bola ou uma mexeriquice da CarasNovaGenteVipLux como sendo sua.

Num dos casos, o autor copiado decidiu “não se alongar”. Não me admira, pois foi autor que a ANP contratou (e terá pago) para fazer uma obra sobre a deontologia na docência (declaração de interesses: tenho o livro em causa, enviado pelo actual SE, que desconheço em pessoa). O outro reage de forma menos simpática.

Eu colocaria as coisas assim, que escrevinho que me farto e procuro atribuir sempre o seu ao seu dono ou dona, embora nem sempre seja recompensado do mesmo modo, encontrando nacos de prosa, ideias e outras coisas em prosas públicas alheias com um alegre despudor: o plágio ou cópia sem referenciação é a manifestação maior de um complexo de inferioridade e incapacidade, típico de quem não consegue escrever por si ou revelar onde colheu a transpiração, mesmo quando a pose é pavoneante. Pelo que acaba por ser uma homenagem ao que foi feito por terceiros.

Em tempos assisti a uma comunicação de uma docente universitária de nomeada mediana e trajectória em parte horizontal na fase de arranque, que plagiava descaradamente a conclusão da minha tese de mestrado (era daquelas coisas que dificilmente se poderia atribuir à coincidência, pois tenho a certeza de não sermos almas gémeas e até frequentámos o mesmo mestrado, embora em anos diferentes). Ao que percebi era daquelas comunicações automáticas, apresentadas sempre da mesma forma, seja o colóquio sobre o feminismo no início do século XX ou acerca das guelras dos carapaus manteiga fritos com arrozinho de tomate.

A pessoa em causa não estava mesmo à espera que eu ali estivesse, pelo que, no final, quando eu lhe dirigi o mais cínico dos sorrisos, baixou a cabeça e seguiu para bingo.

Acabei por usar, salvo casos excepcionais de falta de vergonha no corpinho todo, esta estratégia de “deixa-andar que hádes ir na mesma com os pés para a frente”, até porque, se insistisse em apontar o dedo, quinzena sim, quinzena não, lá teria de me meter em trabalhos e ser profusamente adjectivado como tendo uma noção de posse animalesca em relação ao que escrevo.

Mas lá que é feio andar-se a pilhar a escrita alheia, acreditando-se que se escapa, seja por desconhecimento, seja por intimidação, é feio.

 

 

Caro Paulo Guinote

Depois de medições rigorosas posso adiantar alguma informação sobre o tamanho da famosa Salsicha Educativa. Segundo o meu estudo, a Salsicha Educativa medirá entre 70 cm a 80 cm. Infelizmente sobre o diâmetro, curvatura, cor e textura a informação é demasiado vaga. Apresento-lhe também aquilo que me parece ser uma simulação bastante exacta.

salsicha educativa

Acho que agora já estamos em situação de comparar nossa Salsicha Educativa com a dos outros países.

Sempre ao seu dispor

Calimero Sousa

 

… que o desgoverno actual procure justificar medidas com dados aldrabados. Sim, eu sei o que escrevi… aldrabados. Não é uma questão de incompetência, é mesmo de desonestidade política e não só.

Já quando se tratou da Educação, naquela coisa do Palácio Foz, usaram uma apresentação que já lhes tinha sido dito e demonstrado estar errada e insistiram. E, embora prometessem corrigi-la, nunca o fizeram publicamente, limitando-se a esquecer o assunto durante uns tempos para voltar algum tempo mais tarde a atacar com dados semelhantes.

Este desgoverno manipula conscientemente os dados para enganar a opinião pública e alimentar alguns opinadores mediáticos ainda fiéis. O problema, neste caso, é que na área da Ciência entre em choque frontal com gente muito conhecida e não apenas com zecos que foi muito mais fácil apresentar como corporativos.

Governo legitima mudança na política científica com dados descontextualizados

O que Carlos Fiolhais afirma para a Ciência era já válido para a Educação, mas não foi nada simples conseguir uma tão ampla demonstração…

Se olharmos para todos os profissionais que completaram o ensino superior nas áreas de ciência e tecnologia, e que estão a trabalhar nestas actividades, Portugal está na cauda da Europa: apenas 13,7% da população activa estava, em 2012, integrada em actividades de ciência e tecnologia, enquanto a média europeia era de 18,9%.

“O número médio de novos doutores na União Europeia em 2011 por 100.000 habitantes foi de 22,9”, diz-nos por sua vez Carlos Fiolhais. “Portanto, se queremos continuar o caminho de aproximação à média europeia, a convergência tem de continuar, o que só se consegue continuando a investir ao mesmo ritmo e não quebrando o investimento que se estava a fazer.”

… dão títulos alarmistas como este:

Alunos portugueses mal informados sobre saídas profissionais no fim do secundário, revela relatório

Não é que isto seja propriamente mentira mas, tirando o caso dos alemães, a situação dos alunos portugueses é perfeitamente compatível ou mesmo melhor do que a dos alunos dos outros países analisados:

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A verdade é que quem ler a notícia e ouvir a peça fica ainda pior informado sobre o assunto do que os alunos portugueses.

O MEC forneceu à imprensa os dados sobre o contexto sócio-económico e académico das famílias dos alunos. Porque não o fizeram as escolas privadas, para que se pudessem estabelecer comparações?

Os dados não seriam nominais, não existiria qualquer problema de privacidade…

Ou será que… isso revelaria que, provavelmente, até deveriam ter melhores resultados do que já têm e que andar a catar o cheque-ensino ao Estado é de uma enorme falta de… valores… (fiquemo-nos assim).

Que moralidade têm os defensores da liberdade de escolha ao exigirem transparência e informação ao Estado quando são eles os primeiros a não fazer o que exigem a terceiros?

Se o sector público deve prestar contas quanto ao uso do dinheiro dos contribuintes, o que dizer daqueles que o querem usar sem sequer se dignarem fazer o mesmo?

Querem subsídios, directos ou encapotados? Apresentem os vossos dados para comparar… mas os reais, nada de ficções fiscais.

… visto que as escolas os facultam ao longo de todo o ano para aquela coisa que dá pelo nome de MISI@.

  • Quantos foram verdadeiramente os professores contratados nos últimos anos, fazendo-se a distinção entre número de contratos e número de professores, pois há contratados com 2, 3 e 4 contratos por ano.
  • Qual a distribuição, por intervalos de horas lectivas e duração do contrato, da duração dos contratos desses professores, porque é diferente um contrato para 6 horas para 2 meses e um contrato anual com horário completo.
  • Quais os grupos disciplinares em que foi necessário recorrer a mais contratos/contratados (e respectivo peso relativo) e quais as razões para isso (doença dos professores do quadro, destacamentos em outros serviços, gravidez, alteração do número de turmas inicialmente previstas) e em que escolas/agrupamentos.
  • Qual é o número actual de professores nos quadros, qual a sua evolução nos últimos 5-10 anos, e qual a sua distribuição pelos escalões da carreira e qual a incidência das reduções ao abrigo do artigo 79º.
  • Qual é o número verdadeiro de pedidos de aposentação durante o ano de 2012 ou mesmo até Julho de 2013.

Estes números, por estranho que pareça, não são conhecidos publicamente e os que surgem, com algum atraso temporal, raramente batem certo de acordo com as diversas publicações, mesmo se a fonte oficial é a mesma. Não é fenómeno de agora, mas tentem usar os dados de diferentes publicações do MEC, do INE e da actual DGAEP e perceberão do que falo. Nada bate certo seja com o que for e nem é preciso entrarmos pelo território pantanoso das coisas tipo-FMI.

Mas estes números são essenciais para, cruzando-se com os dos alunos, fazer uma rigorosa prospectiva das verdadeiras necessidades – num quadro de estabilidade curricular e de organização dos horários dos professores – em termos de pessoal docente.

Enquanto o que existe são sarrafadas para o ar, conforme as conveniências, toda a gente se sente no direito de opinar sobre estes assuntos, usando os dados que lhe dão mais jeito, de governantes a assessores encapotados, passando por editoriais da imprensa do dia.

 

Quatro dos sete juízes indicados pelo PS

Um quinto juiz, cooptado, tinha posição desfavorável à mudança de regras laborais no Estado.

Quatro dos sete juízes do Tribunal Constitucional (TC) que analisaram as normas do diploma do sistema de requalificação foram indicados pelo Partido Socialista. Apenas dois foram propostos pelo PSD com o terceiro a ser juiz cooptado.

Mas então assume-se que os juízes votam com base em princípios de conveniência partidária ou, afinal, constata-se que até não o fazem?

Na primeira hipótese, tudo o que for analisado no segundo turno de férias será favorável ao desgoverno?

Conforme prometido, volto à peça de hoje do Público, agora já com os dados completos nela usados, que apresentarei de forma extensa e depois de forma mais restrita ao Ensino Não Superior.

Pub20Ago13Os dados específicos que estão na origem do título de primeira página são os seguintes:

Pub20Ago13b

Acerca do Ensino Básico (1º a 3º ciclo), temos uma redução de 1.101.923 alunos para 1.089.094, ou seja uma quebra de 1,2% num ano.O nº de alunos é o total, mas como o peso do ensino público aumentou no total, isso não fará grande diferença no final.

No caso dos professores em exercício nesses ciclos temos uma diminuição de 130.940 para 121.687, ou seja, uma quebra de 7,1%, o que significa uma redução relativa seis vezes maior à verificada com os alunos.

A “explicação” oficial é que está em decurso um “ajustamento” dos quadros às necessidades efectivas das escolas.

O que é mentira.

O que aconteceu é que em virtude de uma engenharia curricular abstrusa, se diminuíram fortemente as horas lectivas para atribuir horários aos professores.

Para 2012-13, em virtude de mais engenharia curricular e outras medidas de rarefacção da rede escolar, penso que o número de professores do Ensino Básico (contratados e dos quadros) terá chegado perto dos 10% e para o próximo ano, os números continuarão em acentuada quebra, tudo dependendo do grau de distorção final da rede escolar pública autorizada pela MEC.

Isto significa que em 3 anos lectivos, os professores em exercício poderão diminuir 25% no Ensino Básico, enquanto os alunos terão diminuído menos de 5%, mesmo que o MEC (ou os seus derivados) surjam a dizer outra coisa).

A redução do número de professores não resulta directamente da “quebra demográfica”, como os números acima bem demonstram, mas de medidas de outro tipo, como a tal engenharia curricular e a contracção artificial da rede escolar, não apenas ao nível de escolas, mas de turmas em funcionamento, numa medida centralista como há muito não se via entre nós.

A “tese demográfica” é o argumento dos preguiçosos e intelectualmente desonestos apoiantes deste desgoverno que opinam sobre Educação em modo de papagaio.

Os números não a provam de forma alguma.

Como já várias vezes referi, quando se optar pelo regresso à tele-escola no Ensino Básico, a redução poderá ser ainda muito maior.

Na lista para Setembro da CGA há menos 130 professor@s e educadoras.

Por este andar só falta esta legislatura acabar e mais outra para que sejam atingidos os números lançados para o ar em tempos pelo MEC como sendo dos professores a aposentar até ao arranque do ano lectivo de 2013-14.

Já sei, já sei, afinal deveriam incluir também professores do superior e politécnicos, assistentes operacionais, assistentes técnicos, bichos do caruncho e outros seres em geral.

Um dos problemas no meio disto tudo é que os “políticos” parecem beneficiar sempre de uma zona de suspensão da verdade nas suas declarações (que foram ecoadas por outros inteligentes opinadores das estirpes marquesmendes e coutodosantos) que faz com que nunca sejam responsabilizados pelos sucessivos disparates.

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(detalhe adicional, com 65 anos, um colega meu de escola leva pouco mais de 1200 euros líquidos de reforma para casa, enquanto há lutadores por aí que se safaram em 2007, muito mais novos, com quase o dobro, que é o que faz estar por dentro e saber quando zarpar.)

… não com base nos alunos que abandonaram, mas a partir das inscrições no IEFP. Pelo menos foi o que uma especialista nacional da maior nomeada uma vez me disse, criticando-me com forte acrimónia para não dizer pior, quando declarei numa reunião que as estatísticas oficiais do abandono escolar no Ensino Básico são uma piedosa ficção.

Pub22Jul13

Público, 22 de Julho de 2013

Todos anos a mesma romaria.

Uma coisa é a necessidade de aprimorar este ou aquele critério, outra a emenda tardia de disparates como alguns critérios do exame de Português do 6º ano, quando os classificadores já tinham as grelhas praticamente todas preenchidas. Recebi ainda outro mail, de quem conhece bem o processo que está a decorrer:

Para Física-Química A chegou ontem uma dezena de folhas com orientações de correção, em maior número do que os próprios critérios.
No caso de  Português do 9º, consoante a sala em que o classificador participou na reunião de supervisão, foi dada uma orientação diferente e algumas em sentido completamente oposto. Isto no mesmo Agrupamento de Exames.

Após a reunião uns classificadores receberam esclarecimentos e adendas aos critérios e outros continuam sem receber nada.

Assim se trata da garantia de igualdade e justiça do processo.
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Apesar de, na Norma 2 dos Exames e Provas Finais de Ciclo, estar explícito que

“Qualquer telemóvel ou outro meio de comunicação móvel que seja detetado na posse de um aluno, quer esteja ligado ou desligado, determina a anulação da prova pelo diretor da escola.”

e que

“Durante o 3.º período o diretor da escola deve comunicar por escrito aos encarregados de educação ou aos alunos, quando maiores, a necessidade de estes não serem portadores de telemóveis (ou outro equipamento proibido) no dia de realização das provas e exames, tendo em conta a possibilidade de inadvertidamente se esquecerem destes equipamentos na sua posse durante a realização das provas e exames, o que, obrigatoriamente, leva à sua anulação e, no caso do ensino básico, à retenção do aluno no ano de escolaridade em que se encontra.”

Ora, o que sucedeu 2ª feira, pelas 19h07m foi que as escolas receberam o email que se segue:

Data: 1 de Julho de 2013 às 19:07
Assunto: Urgente – Agrupamento de Exames do xxxxxx

Boa tarde,

Serve este email para divulgar informação recentemente recebida do JNE:

Os alunos, do 2º e 3º ciclos, cujas provas tenham sido anuladas por motivos relacionados com telemóveis poderão realizar as respectivas provas na 2ª chamada.

Com os melhores cumprimentos,

xxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxx
Agrupamento de Exames do xxxxxxx

Importa referir que às 19h07m da véspera de realização de uma prova final do ensino básico (Português) é impossível convocar um secretariado de exames e vigilantes. Já para não falar na informação aos alunos aos quais tenha sido anulada a prova desta disciplina (1ª fase). Porém, se um aluno nestas circunstâncias tivesse visto a sua prova (Matemática – 1ª fase) anulada por posse de telemóvel, já poderá ser avisado atempadamente pois a prova da 2ª fase apenas se realiza na 5ª feira.

Assim sendo:
– para quê a exigência aos alunos de assinatura de declaração de não possuírem telemóvel durante a realização das provas?
– para que serve a Norma 2 sobre provas finais?
– onde está a igualdade de tratamento dos alunos?
– qual o fundamento para se revogar uma decisão de anulação de prova, baseada no estrito cumprimento de uma norma do júri nacional de exames?

(remetente que solicitou anonimato)

O trauma é muito grande. As comparações são do mais disparatado que se pode arranjar.

Não contesto que as greves, por natureza, causem incómodos a outrem—ou não fariam sentido. Mas há limites para tudo. Limites de brio profissional: um cirurgião não resolve entrar em grave quando recebe um doente já anestesiado pronto para a operação; um controlador aéreo não entra em greve quando tem um avião a fazer-se à pista; um bombeiro não entra em greve quando há um incêndio para apagar. Eu sei que isto que agora escrevo vai circular nos blogues dos professores, vai ser adulterado, deturpado, montado conforme dê mais jeito: já o fizeram no passado, inventando coisas que eu nunca disse, e só custa da primeira vez. Paciência, é isto que eu penso: esta greve dos professores aos exames, por muitas razões que possam ter, é inadmissível. (Expresso, 15 de Junho de 2013, p. 07)

Não foi uma ou duas vezes que MST adulterou factos sobre a situação profissional dos professores. nesta mesma crónica faz isso, imputando baixas psicológicas a professores a quem não apetece dar aulas. Em tempos adulterou a remuneração pela correcção de exames mas não achou por bem desculpar-se, apenas lançando uns remoques.

MST não gosta de professores, em especial os que sejam como ele gosta de se apresentar, aguerridos e independentes.  Dos professores ele gosta se forem de tipo missionário, cordatos, amochadinhos… no fundo, entre ele o Passos Coelho as diferenças são nulas, como entre ele e os capatazes (e candidatos a) dos interesses privados neste sector.

Uma última coisa: neste blogue não precisa de se adulterar qualquer prosa de MST porque ela se avilta a si mesma sempre que desrespeita os professores, generalizando palhaçadas.

 

… pois para Julho foram 50 os professores aposentados no Ensino Básico e Secundário.

Como ontem o ex-ministro Couto dos Santos atirou o número para o ar e invocou a autoridade democrátca e infalibilidade das declarações ministeriais em defesa do número mágico de 6000, seria bom que alguém o informasse do facto.

… convém destacar que Paulo Portas disse que ele era politicamente incompatível com aquela taxa sobre as aposentações, não que o CDS era incompatível.

O ministério que não sabe dar o número certo de docentes dos quadros ou contratados em exercício consegue, porém, contabilizar à unidade o número de horas de redução da componente lectiva desses mesmos professores.

Foi a pedido do Expresso e o número está numa peça da edição de hoje.

O número interessa-me pois é um daqueles números em que o ministério da educação (assim, minúsculo) se especializou em produzir para consumo público na última década. Em tempos de Maria de Lurdes Rodrigues costumavam ser as horas de faltas que, depois de contextualizadas, se percebia não serem nada do que uma leitura apressada e desatenta poderia fazer crer. Como os gráficos de um qualquer marquesmendes (também assim minúsculo, sem ironia física).

Calcula o mec que semanalmente há 191.775 horas de redução da componente lectiva dos professores.

O que, se tomarmos com bom o número de pouco mais de 100.000 professores nos quadros (os únicos com direito a redução), significa algo perto das 2 horas/aulas semanais de redução média (ou seja, cerca de 9% se contabilizarmos as 22 horas anteriormente consideradas como horário completo).

Vá lá, fiquemos mesmo com o valor de 2 horas/aulas por semana de redução, sejamos generosos, pois é a minha própria redução e eu não me incomodo de ser médio. E porque no caso do 1º ciclo este tipo de redução não se aplica.

Só que…

Só que nos arranjinhos que ao longo dos anos foram sendo feitos em torno dessa componente lectiva se podem destacar algumas medias que alteraram o seu conteúdo funcional, seja através da não inclusão na sua contabilidade de funções e apoios dados a alunos, seja através da necessidade de acrescentar dois tempos/horas/aulas de 45 minutos ao horário dos professores quando surgiu a novidade dos tempos de 45 minutos e blocos de 90 em substituição das aulas/tempos anteriores de 50.

O que significa que a maioria dos professores passou a ter no seu horário a marcação de 24 tempos/aulas/horas em vez de 22. O que significa que quem tinha 2 horas/tempos/aulas de redução voltou a ter 22 tempos/aulas/horas marcadas no seu horário em vez de 20.

Isto parece confuso?

Sim, é, para quem não conhece os requintes do MEC na contabilização do trabalho dos docentes obrigando-os a poupar mais tempos por causa de uma alteração que o próprio MEC fez na organização desses tempos.

Recentemente ficou estabelecido que o horário completo dos professores passava a ser contado ao minuto, sendo 1100 o seu total. Mas, em simultâneo, a fronteira entre componente lectiva e não lectiva esboroou-se ainda mais e o nevoeiro assentou arraiais na fronteira. E os professores passaram a dar mais tempos de aulas ou de trabalho com os alunos para compensar a redução dos tempos de aulas ou de trabalhos com os alunos.

A verdade é que eu, que não ocupo qualquer cargo que não seja dar aulas, tenho actualmente 26 tempos/aulas/horas de 45 minutos de trabalho directo com alunos em vez de 22 de 50 como tinha há 10 anos, antes de ter a tal redução.

Ou seja… tenho 1170 minutos de trabalho com os alunos em vez de 1100, apesar de ter direito a uma redução teórica de 100 minutos dos antigos.

E não é porque na minha escola/agrupamento exista gente maldosa.

Muito pelo contrário. Limitam-se a aplicar as regras em vigor.

O MEC é que alterou sucessivamente as regras da componente lectiva por forma a que, fazendo saber que os professores têm imensos e privilegiados horários reduzidos, toda a gente esteja a trabalhar mais.

No meu caso, a redução de 9% passou a ser um acréscimo de 6,4%.

Porque tudo isto é uma enorme mistificação, de uma desonestidade intelectual enorme mantida de governo para governo, de ministra para ministro, de secretário de estado para secretário de estado.

Se o MEC decidir que, por exemplo, a direcção de turma (o cargo que acho mais importante que um professor pode ocupar numa escola) deixa de ter um crédito horário específico e passa a não entrar no horário que o professor deve permanecer na escola, lá se vão mais 2 tempos/horas que serão ocupados com mais trabalho em cima do anterior.

Só que é fácil atirar um número com muitos dígitos, sem contextualização, para a imprensa e dar a sensação que é muita coisa.

Quando, no fundo, estas 191.755 “horas semanais” de redução dos professores significam, na verdade, mais trabalho dos professores nas escolas em relação há meia dúzia de anos atrás.

Uma outra coisa é o que cada um faz com essas horas e se há gente que anda a roçagar o traseiro pelos bivalves nas escolas, exibindo um vazio directamente proporcional à desnecessária peneirice.

Mas esses… esses… enfim… esses são os que estarão sempre encostados ao lado certo, mesmo quando aparecem de punho no ar. E não há modelo de avaliação do desempenho baratucho e simplório que permita penalizar a sacanice presumida.

Só que, por cada um desses, há muita gente séria que aparece misturada nestes habilidosos números que o MEC divulga em calendário apropriado.

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Disclaimer: os raciocínios e cálculos aqui expostos podem ser usados livremente, sem qualquer referência à origem, incluindo em artigos de opinião, pois eu não perco dinheiro e sempre posso ajudar alguns a complementar os seus rendimentos.

 

o buli é um anjo, aleluia

 

Não é que os dados não possam ser apresentados desta ou daquela forma, escolhendo a dedo o início e fim das séries. Não é que os gráficos não se possam apresentar com esta ou aquela escala para parecerem simétricos, numa proporcionalidade inversa.

Não é que alguém que consegue ter dados antes de serem divulgados oficialmente pelo governo esteja impedido de apresentar uma série que termina em 2010 quando existem outros mais recentes.

A verdade é que Marques Mendes optou por fazer isto, comparando o incomparável:

Marquesmendes

Isto é desonesto a vários níveis pois compara o número de alunos de um único ciclo de escolaridade com o número de professores de todos os ciclos de escolaridade e vai buscar para início da série um ano em que o sistema estava completamente em ruptura, quer pelo lado da procura (o aumento da natalidade de meados dos anos 70 levou a um grande número de alunos no 1º ciclo no início da década de 80), quer da oferta (as escolas estavam com um enorme défice de professores, algo que eu comprovei enquanto aluno nessa mesma altura).

Marques Mendes optou por não comparar os números de alunos e docentes do 1º ciclo e optou por outra coisa. E escolheu para início da série o ano de 1980.

Porquê?

Não vale a pena responder já e façamos antes algo metodologicamente mais correcto, com base nas estatísticas oficiais online (existem ainda mais actualizadas) e tomemos os números do Perfil do Aluno 2010-11:

Alunos99a11

É fácil perceber que desde finais dos anos 90 se deu uma quebra total de 40.000 alunos jovens (não estou sequer a usar o quadro com os adultos das NO), o que significa uma redução de 2,4% dos alunos, assim como uma redução perto dos 52.000 alunos no 1º ciclo (cerca de 10.6%).

Nesse mesmo período, os ganhos na escolarização foram os seguintes:

Alunos99a11bSe fizermos uma regressão a 1980 os ganhos são ainda maiores. Este nível de progresso é incomensuravelmente superior ao desempenho da economia e nem é bom falar na inanidade da política, governos em que Marques Mendes foi qualquer coisa incluídos.

escolaPort

Quanto ao número de professores (novamente com os dados mais recentes online, mas que já diminuíram muito desde então), neste período temos os seguintes dados:

profes00a11

Se tomarmos como base todos os professores temos uma descida de 166.372 para 162.742 (descida de um pouco mais de 2%), mas se tomarmos os da rede pública temos uma descida de 146.040 para 142.144 (redução de 4%).

Se formos ao 1º ciclo, temos uma redução global de 6600 professores (quebra a rondar os 18%) e na rede pública de cerca de 7000 (redução de 20,6%).

Se fizermos os quadros com barras, o resultado é muito, muito diferente do que apresentou Marques Mendes, ontem, na SIC, sem direito a qualquer contraditório.

Vejamos com ficariam os quadros, com valores absolutos e escalas não adaptadas para alunos e professores apenas do 1º ciclo da rede pública:

Alunos00a11profes00a11b

Mas mais correcto seria analisar a evolução, na base da construção de um índice em que o primeiro ano da série tem o valor 100:

Alunosprofes00a11b

Isto demonstra que desde o final dos anos 90 o número dos professores do 1º ciclo diminui muito mais do que o número de alunos.

Mas se quisermos recuar a série dos professores do 1º ciclo a 1980 podemos encontrar os seguintes números:

Profes1CEB

Ou seja, não existe um aumento de professores no ciclo de escolaridade que o comentador escolheu para apresentar o número de alunos, mas sim uma redução bem superior a 20%. Não quer dizer que o número de alunos não tenha diminuído ainda mais, mas… a verdade é que o número dos professores destinados a leccionar aquela ciclo de escolaridade também se reduziu e não aumentou, como Marques Mendes deu a entender de forma visualmente sugestiva.

Percebeu, caro ex-ministro, ex-líder do PSD, ex-deputado, actual comentador e recadeiro Marques Mendes? Como se devem comparar números, mesmo se queremos reforçar uma ideia?

Isto só demora cerca de uma hora a fazer quando se é desarrumado como eu a guardar os ficheiros.

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Adenda (em resposta a vários comentários) com os quadros reais da evolução dos professores e alunos no 1º ciclo, rede pública, entre 1980 e 2010 a partir dos dados da Pordata. Repito que os dados para o número de professores é, em 2013, bastante mais baixo e proporcionalmente com uma redução superior à dos alunos desde 2010:

Alunos1CEBProfes1CEBb

Eis, de novo, o que Marques Mendes mostrou:

Marquesmendes

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Bibliografia estatística básica na DGEEC e Pordata.

Esta peça do Económico tem números que não correspondem à realidade, misturando professores dos quadros com contratados.

Não é verdade que:

Um resultado líquido de 23.695 docentes que emagreceu o corpo docente para 137.249 professores dos quadros e que representa uma quebra de quase 15% face ao universo de mais de 160 mil que existia em 2006.

Basta consultar os dados oficiais para 2010-11 (cf. p. 75) para se perceber que, já então, existiam menos de 104.000 professores nos quadros. Agora há menos uns 3000, assim a olho.

Existirão 102.000 no máximo e não 137.000… a redução é, portanto, muito maior em termos relativos.

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