Vão-se acumulando os apelos ao Presidente da República para que não promulgue a suspensão da ADD. Em praticamente todos os casos (hoje é a vez de Correia de Campos, ontem fora Isabel Stilwell e Vasco Pulido Valente) surgem da parte de quem analisa a dimensão política do problema – acusando-a a iniciativa de demagógica e eleitoralista, esquecendo que ela já esteve para acontecer diversas vezes nos últimos 2-3 anos – e esquecendo as suas inegáveis vantagens para a vida das escolas num período muito conturbado.

Depois de ter feito declarações em que remetia para o Parlamento a solução da crise política, seria esquisito que o PR se imiscuísse nesta questão, por razões de crenças e afinidades pessoais, embora isso não o tenha travado no passado, perante outros assuntos.

Que a coisa se está a preparar, é inegável, com meia dúzia de opinadores a dispararem todos os dias na mesma direcção, conseguindo – através do seu acesso privilegiado aos meios de comunicação – iludir que as escolas funcionarão muito melhor com esta suspensão. Mais grave, nota-se em algumas direcções escolares (e mesmo em enviados sindicais) um receio imenso perante esta indefinição.

Os factos são simples: a suspensão desta ADD, caso não seja promulgada, vai azedar imenso o ambiente na classe docente e criar uma desconfiança insanável para com diversos agentes políticos. Manter esta ADD, com argumentos objectivamente parvos como o de se estar a meio do ano lectivo (afinal não foi em Abril-Maio de 2008 que um entendimento deu origem a uma das versões simplificadas da ADD? não foi também em Abril que, na sequência do acordo de Janeiro de 2010 se legislou igualmente sobre esta e outras matérias?), não será um mal muito maior?

É medida eleitoralista algo que foi partilhado por TODOS os partidos menos o PS? Que, de qualquer forma, já colheria uma simpatia muito residual na classe docente? Quem está com medo do quê?

O que receiam estas pessoas, algumas das quais conseguem argumentar que a ADD era má, mas que não devia ser suspensa, como Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, na TVI?

Mas esta gente tem limites para a falta de coerência, de decoro, de invertebralidade, de cataventismo?

Já o disse e repito: pessoalmente este modelo de ADD não me perturba minimamente, como não me perturbam imensas coisas estúpidas com que nos confrontamos no quotidiano. Perturbam-me mais os condutores mal-educados, os opinadores intelectualmente desonestos e os dejectos caninos no passeio defronte do meu domicílio.

Mas isso não me impede de ver até que ponto esta ADD minou o funcionamento das escolas, perturbando imensa gente, sem ganhos objectivos para ninguém. Relacionar o0s resultados do PISA com a ADD é uma falácia, que não percebo se resulta de ignorância pura se de desonestidade intelectual (exames feitos no início de 2009, beneficiaram de uma avaliação dos docentes terminada no final desse ano?).

Se Belém vetar a suspensão da ADD ou se a esvaziar, na prática, ao protelá-la com um pedido de fiscalização para o TC, vai ser criado um problema muito maior do que a desafeição de um punhado de opinadores ressabiados, que usam o papão sindical para ocultar que o que está em causa são 140.000 docentes martirizados publicamente de há 6 anos a esta parte.

Se Belém não promulgar a suspensão da ADD, isso significa que ele cedeu a grupúsculos de pressão de nichos ideológicos muito específicos e que abdicou de ser aquilo que tanto prometeu ser: um sinal de união entre os portugueses, pois alienará qualquer confiança de parte esmagadora de uma classe profissional essencial para o desenvolvimento do país.

Se ele não consegue vislumbrar isso, ou se quem tem a missão de o aconselhar não o percebe, então tudo está profundamente errado, a todos os níveis, neste simulacro de país. Mas, de certa forma, coadunar-se-ia com a mentalidade que prefere esconder os erros do que assumi-los.