Tentar debater qualquer assunto sério sobre Educação com quem de Educação pouco percebe, teoricamente ou na prática, é um exercício inútil e uma tarefa destinada ao fracasso.

Por isso, discutir de forma informada e fundamentada a redução do número de alunos por turma com o secretário de Estado Trocado da Mata é tempo perdido.

Hoje no Público as opiniões são praticamente unânimes em torno desta questão.

O Ministério até pode discordar, alegando (erradamente, como alguns opinadores superficiais…) que a medida implicaria importantes gastos acrescidos. Mas colocar Trocado da Mata a debitar números como médias e rácios a este respeito é querer discutir pedagogia com base na análise do número e computadores por sala e aluno.

Vamos lá aclarar as coisas, declarando desde já que sou um dos subscritores da petição em causa por convicção e não por conveniência: o que se pretende é eliminar as turmas com um número excessivo de alunos, permitindo a esses grupos trabalharem melhor.

O que se pretende é baixar o plafond máximo de alunos por turma, sendo que por turma se entende turmas regulares. Só lateralmente isto se relaciona com rácios, médias nacionais, turmas PCA ou CEF.

O que se deseja é melhorar o trabalho com aqueles alunos que têm sido esquecidos nos últimos anos: os alunos regulares (não uso a palavra normais por imensas razões…) bons ou muito bons, que pretendem trabalhar e nem sempre dispõem das melhores condições.

Porque tudo tem sido direccionado para resolver os problemas dos alunos que faltam, não estudam ou – mais justificadamente – têm problemas de apre ndizagem e necessidades educativas especiais. Esses sim têm sido objecto de imensas medidas, incluindo passar do 8º ano para o 10º, dizem que excepcionalmente. Claro que as turmas PCA e CEF têm menos de 10 alunos, mesmo menos de 15, e por vezes apresentam níveis de sucesso abaixo da média. Mas isso acontece porque, na origem, essas turmas são constituídas por alunos com um historial de insucesso.

O normal será que estas turmas, mesmo que com 10 alunos, tenham um insucesso acima da média. Em circunstâncias normais, esses alunos, integrados em outras turmas, não transitariam todos ou quase todos. 50% de sucesso numa turma de PCA é um enorme sucesso. Vir comparar a média conseguida por estas turmas com as médias das turmas maiores mas regulares é ou desonesto, ou demagógico ou sinal de profunda ignorância.

Portanto, vamos ser sérios: comparar o insucesso das turmas PCA ou CEF com menos de 15 alunos com os resultados das turmas com 25 alunos mas que que foram limpas desses alunos é uma falácia enorme.

É intelectualmente desonesto.

Nenhum especialista pode dizer que os estudos provam seja o que for nessa base.

O que se pretende é algo diferente: é que as turmas regulares disponham de melhores condições de trabalho para elevar os seus resultados. Para melhorar o desempenho médio dessas turmas que será quase sempre melhor com  22 alunos do que com 28.

Se houvesse algo a comparar seria grupos-turma com um perfil similar de (in)sucesso e comparar os resultados de turmas com 28 alunos com as de 22 alunos.

Isso sim, permitiria estudar a sério a questão.

O ME não tem interesse nisso.

Agora comparar resultados de turmas pequenas por serem constituídas por alunos que antes estavam em risco educacional com as das turmas maiores de onde esses alunos foram retirados é pura desonestidade intelectual.

Ou ignorância.

É o mesmo que retirar de uma fruteira com 35 frutos – atenção que é um mera comparação, não me soltem já um danieloliveira politicamente correcto a chamar-me racista social – 10 maçãs em risco de se estragarem por diversas razões, conseguir que mais de metade delas não se estraguem e depois dizerem que esse resultado é pior do que o conseguido com os 25 frutos saudáveis, porque afinal só se estragaram 3.

Discutir nesta base, como faz o ME por via do secretário Trocado da Mata, é …