Ora cá temos as grelhas de avaliação dos docentes propostas pela tutela, que isto da autonomia das escolas e da diferenciação das estratégias de avaliação conforme os contextos são coisas muito divertidas para se proclamarem, mas não para colocar em prática. Portanto, vamos lá em defesa da diferenciação, uniformizar isto tudo e em nome da autonomia, explicar por onde é que ela passa (mais exactamente por 1 parâmetro em cada categoria).
Outra coisa interessante é que, afinal, o modelo dos relatórios críticos de desempenho que não permitiam uma verdadeira avaliação do mérito dos docentes é retomado na generalidade dos parâmetros.
Mas o que mais me deixa curioso é saber como, vamos imaginar num Departamento Currcicular com 15 ou 20 docentes e 1 ou 2 professores titulares, será possível fazer estas avaliações (ver aqui ficha para os 2º e 3º CEB e ES, e aqui para o 1º CEB, graças à indicação da Maria Lisboa), muito em especial quanto a alguns itens do grupo B e a quase todos do C.
Eu nem vou discutir a relevância ou oportunidade de alguns dos critérios, neste momento só me “divirto” ao pensar no aparato burocrático que isto vai significar para o funcionamento das escolas e principalmente para os responsáveis pela avaliação dos restantes docentes – algo que neste momento até me conforta pelo facto da DRELVT me ter bloqueado o acesso a titular – que ficarão submersos num trabalho quase inconsequente para a qualidade de ensino nas escolas.
E já agora, especialmente para esse(a)s colegas, atentem no grupo E dos parâmetros e vejam lá se não se assustam com o que está implícito em termos de consequências práticas, do tipo teoria dos efeitos perversos.
Setembro 22, 2007 at 5:49 pm
Entretanto, quem quiser,pode ir a: http://www.oecd.org/edu/eag2007 e downlodar o Education at a Glance 2007.
Vamos a ver se amanha comeco a digerir o documento.
Setembro 22, 2007 at 9:31 pm
Estas grelhas servem para quê ???
A) e B): técnicas e metodologias
C): onde se lê “Relação pedagógica com os alunos” deveria ler-se “Regras de trabalho em equipa” . Vejam-se os itens: atendimento. bem-estar, ambiente, cooperação, trabalho em conjunto e integração no grupo.
D): medidas para o igualitarismo e o facilitismo.
Mas o que é isto ???? Que raio de farsa burocrática vai ser esta ?????
Onde estão os CONHECIMENTOS DOS ALUNOS ????
Onde está a QUALIDADE DA INTERVENÇÃO DOCENTE (domínio dos conteúdos, clareza, capacidade de ouvir e esclarecer, respeito, etc.) ????
Onde está o domínio da ÉTICA profissional ?????
Afinal parece que a educação se resume a uma relação social assente em componentes técnicas. Eis o produto do labor árduo entre o brilhantismo do poder social dos sindicatos e o virtuosismo do poder tecnico-burocratico do ME.
Setembro 22, 2007 at 9:53 pm
H5N1, isto é mais a transposição simples dos parâmetros dos relatórios críticos de desempenho para grelhas com cruzinhas que agora outros preenchem por nós, conforme os humores.
Setembro 23, 2007 at 12:56 am
Não tive tempo de analisar aquela “treta” toda, mas do que vi/li em diagonal, concordo, na generalidade, com o h5n1.
Nessa olhadela rápida houve um ponto que me chamou a atenção!
No final da ficha (desculpa Paulo, mas é que para mim isto não é nenhuma grelha!!!…)do inspector que se refere à “Avaliação dos professores titulares que exercem as funções de COORDENAÇÃO DE DEPARTAMENTO E DE CONSELHO DE DOCENTES” vem um último ponto onde é especificado o seguinte:
“PARA OS COORDENADORES QUE LECCIONAM, a avaliação INCLUIRÁ TAMBÉM as secções relativas à leccionação…”
Ora expliquem-me lá muito bem, como se eu fosse completamente burra ;):
– existem coordenadores de departamento, ou de conselho de docentes que não leccionam?!
– será que só na minha escola é que não perceberam “o papel” da distribuição de serviço? 😉
– ou será que estes srs que legislam sem saber sobre o que estão a legislar? – devem ter ouvido aquela dos privilégios dos titulares, que corre por aí, de não terem trabalho distribuído porque agora são apenas avaliadores para lixar os colegas, para além de terem sido promovidos e estarem a ganhar balúrdios ( e já li isto em foruns, escrito por colegas mais novos…)!!!!
É que na minha escola (como em todas as outras, calculo eu) os coordenadores têm um horário igual ao de toda a gente – 24 tempos marcadinhos no horário, sendo no meu caso, 14 de componente lectiva, e o restante horas para coordenação, aulas de substituição e outras “mariquices” semelhantes. Acrescem as reuniões e o tempo para trabalho individual onde eles ainda pretendem que nos “formemos”. Não conheço coordenadores de departamento sem actividade lectiva!!! Nem conheço coordenadores com carga horária que lhes permita fazer o que vem nesta “proposta” de avaliação (nem eles, nem os que não o são…).
O meu departamento até é relativamente pequeno, mas existem departamentos com 20 ou mais professores!!!!
Outra pergunta que coloco é onde é que eles vão desencantar inspectores em todas as àreas de ensino?
Os que eu conhecia da minha área reformaram-se recentemente… não sei se sobrou algum! Irão recrutar inspectores à pressa, para irem para as escolas avaliar? ou começarão a designá-los de entre os possuidores de “cartanito”?
Para h5n1:
Os sindicatos apresentaram as suas críticas a este processo e disseram de sua justiça onde devia incidir a avaliação http://www.fenprof.pt/Download/FENPROF/SM_Doc/Mid_115/Doc_2621/Anexos/Avaliação%20do%20Desempenho%20FENPROF%2013-09-07.pdf.
Como de costume não foram ouvidos.
Sobre as grelhas ainda não há posição porque apenas as receberam ontem.
Setembro 23, 2007 at 12:59 am
Click to access Avaliação%20do%20Desempenho%20FENPROF%2013-09-07.pdf
Peço desculpa, mas o link não entrou todo!
Setembro 23, 2007 at 1:00 am
Parece que não entra mesmo!!! 😦
Desculpem! (especialmente o h5n1 a quem era dirigido)
Setembro 23, 2007 at 1:24 am
Perfis para diferentes níveis de carreira bem mais completos aqui:
http://www.tda.gov.uk/teachers/professionalstandards/downloads.aspx
bem sei que os contextos são diferentes e a tradição também.
Setembro 23, 2007 at 2:05 am
Continuando a olhar, para as grelhas, apenas no geral, sem analisar o conteúdo dos diferentes itens, e fazendo o cruzamento entre elas verifica-se que:
– a “grelha” de avaliação do coordenador tem um ponto A com 18 itens em que este é pontuado pela instituição de mecanismos: de cooperação; de interacção; de inter ajuda; de interdisciplinaridade; de planeamento conjunto intra departamento, inter departamentos, inter professores da mesma disciplina/ano/turma; de formação científica e pedagógica; de reflexão; etc; etc; etc.
– nenhuma outra “grelha” reflecte os resultados dessa “instituição de mecanismos de:”, nem a da avaliação feita pelo coordenador, aos docentes do departamento, para avaliar o grau de empenho/participação em…, nem a “grelha” de auto avaliação, seja ela a do próprio coordenador, seja a dos docentes avaliados por este, até porque é igual para todos.
Há qualquer coisita de errado… ou estou a ver mal?
Outro ponto! O Paulo chamou a atenção para o item, parâmetro ou lá o que é, E da “grelha” que o coordenador terá que usar para avaliar os docentes do departamento. Pelo que li quem avalia é o coordenador! Pelo que percebi esta “grelha” é para o coordenador fazer a avaliação dos que não são coordenadores! Então que raio faz este ponto E nesta “grelha”?!
Há, outra vez qualquer coisita de errado… ou estarei a ver mal?!
Setembro 23, 2007 at 8:57 am
Pelo que consultei da FENPROF, esta limitou-se a rejeitar a proposta de avaliação do ME, exigindo a participação dos sindicatos no Conselho Científico para a Avaliação.
A FENPROF invoca “princípios” e a problemática continua a ser a quebra da “igualdade” na classe por causa da cotas.
Nâo se adianta, publicamente, qualquer forma de avaliação concreta, para além da auto-avaliação e do modelo “formativo”, que como se sabe mantém todos o vícios instalados, protegendo os incapazes e promovendo a inércia da máquina.
Parece-me que no essencial, ao fim e ao cabo, para além de mais papelada e de nuita encenação, vai ficar tudo na mesma, uma vez que não está prevista nenhuma estratégia de promoção séria e rigorosa dos docentes mais capazes e destituição dos medíocres, condição indispensável para melhorar o ensino, mas tão só uma macacada de raiz eduquesa destinada a afundar o que resta, tudo embrulhado no discreto charme da cultura empresarial socrática.
Setembro 23, 2007 at 1:12 pm
ISso nunca foi o objectivo desta charada toda. O objectivo foi apenas garrotar a progressão salarial.
Mais nada.
Setembro 23, 2007 at 9:48 pm
Isto é demais!!! Mas será que ainda ninguém viu, perdão, pelos vistos só o PG é que viu, que o grande objectivo é: TRABALHA MAIS POR MENOS DINHEIRO. NÃO TRABALHAS? GANHAS MUITO? RUA…
Setembro 23, 2007 at 9:49 pm
Ah! Mas o que é esse trabalho? Contribuires para as estatísticas do sucesso. Isso do saberem ou não, depois se verá…
Setembro 23, 2007 at 10:08 pm
A avaliação do desempenho é, na minha opinião, uma discussão que merecia mais atenção, no interesse dos próprios professores. Se até há pouco tempo se baseou apenas na auto-avaliação, é certo que houve uma falha na regulamentação da lei (cuja responsabilidade é, em última instância, dos vários ministros que por lá passaram). Mas não se pense que a auto-avaliação tem que ser excluida. Ela deve manter-se, mas outros mecanismos devem ser acrescentados.
Na minha experiência (fora do âmbito do ensino), havia discussão com o responsável imediatamente superior para fixação dos objectivos do ano: o documento era assinado por ambas as partes. Não estou a querer extrapolar, apenas me parece que vale a pena adiantar mais uns passos para que tudo fique mais claro entre os professores, em primeiro lugar, depois nas demais instâncias.
Não é difícil concluir sobre o poder da auto-avaliação. Imaginemos alguém, sem qualquer experiência no domínio da construção aereo-espacial, a candidatar-se a uma posição na NASA. Eram-lhe concedidos com cinco minutos, uma caneta e uma folha de papel em branco. No fim entregava o que tivesse escrito ao avaliador para apreciação. TÓIM.
Setembro 23, 2007 at 11:03 pm
A actividade humana mais parecida com a auto-avaliação é a astrologia.
Encontra-se sempre o que se procura, às vezes até com recurso a “explicações” fantáticas e verdadeiras, tipo “o ascendente em Marte”, que é o equivalente para “a minha mãe não me dá carinho, por isso tornei-me violento, mas com a ajuda da escola, vou deixar de assaltar velhinhas e vou passar a assaltar os super do Belmiro e os bancos que é onde está o dinheiro dos exploradores”.
Setembro 23, 2007 at 11:18 pm
TÓIM
Setembro 24, 2007 at 7:28 am
Caro AF, agora um bocadinho mais a sério:
“Por que oramos?” é apenas o primeiro degrau da “escada” da prece. Num nível mais alto, a oração tem a ver com assuntos mais elevados do que as necessidades materiais de todos os dias.
A palavra hebraica tefilá deriva do verbo palel (julgar). Usamos o verbo reflexivo lehitpalel (orar) que significa também se auto-julgar. Assim, a hora da prece também é a hora do auto-julgamento e da AUTO-AVALIAÇÃO.
Se a pessoa se dirige a D’us e pede Suas bênçãos, tem inevitavelmente, de perscrutar seu coração e se examinar para verificar em que altura está dos padrões de conduta que D’us prescreveu para o homem.
“O Conceito Judaico sobre a Oração”
Setembro 24, 2007 at 10:27 am
A sério
O expediente dos cinco minutos, uma caneta e uma folha de papel em branco funciona na perfeição.
Fui várias vezes sujeito a ele e outras vezes assisti. Se for seguida imediatamante de entrevista falada (não escrita), é tiro e queda para despistar medíocres, usando a própria expressão de H5N1.
Repare que não propugnei que fosse o único método nem sequer o principal. Tem um alcance limitado, alguns riscos que devem ser conhecidos.
Volto a insistir: o problema da avaliação de desempenho, principalmente da actividade docente, não é de simples resolução, e merece ser encarado com bastante cuidado. Estou, no entanto, convencido que é do interesse dos próprios professores desenvolver o debate e tentar progredir para um patamar que vá além daquilo que, ao que parece, tem sido prática instalada durante muito tempo (a simples auto-avaliação).
Setembro 24, 2007 at 11:30 am
Exactamente AF. E a reflexão a fazer sobre as grelhas que estão em discussão é simples: Não correspondem minimamente a uma avaliação séria nem a uma auto-avaliação como tem sido feita até agora. Então que fazer e dizer sobre o que andam a propor estes senhores que nos governam com estas propostas de pseudo-avaliações? Avaliá-los na sua acção com as suas propostas. Seria uma saída experimental, não?! Que objectivos há a negociar na educação? O sucesso dos alunos ou das políticas educativas aplicadas pelos professores aos alunos, ou tudo junto?! Estamos falados…
Vou emigrar…
Setembro 24, 2007 at 11:31 am
Desculpem uma pergunta burra: quem faz esta avaliação, quem “aplica” a tal grelha? Queme escreve lá se ensino -1,1, 2, 3 ou 4?
E quem avalia essa pessoa?
Setembro 24, 2007 at 11:48 am
Flori, não está sozinho no desejo de emigrar.
O desvirtuamento da função de avaliação por grelhas sem sentido e a imposição de quotas não é prerrogativa dos professores, nem sequer o esquema foi montado no actual minstério de MLR. Nasceu, como outras realidades burocráticas que agora se pretendem instalar na FP, nas empresas multinacionais.
Deve haver alternativas. Reconheço que não são simples. Reconheço que não deveriam ser os assoberbados professores a ter a sobrecarga de os criar.
Setembro 24, 2007 at 12:14 pm
Esta situação é tanto mais difícil de entender, porquanto oscilamos entre uma auto-avaliação formal inútil e uma avaliação burocrática política e economicamente orientada para o corte orçamental.
Não há qualquer vontade de avaliar o que quer que seja, nem da parte dos sindicatos, nem da parte do ME. Há apenas o desejo de controlar e de pastorear, num afã de encaixar a Educação nos respectivos Planos de Engenaria Social.
Setembro 24, 2007 at 1:45 pm
Caro Istmo, é suposto que essa grelha seja preenchida pelo profesor titular que esteja responsável pela avaliação no respectivo Departamento Curricular.
😉
Setembro 24, 2007 at 5:47 pm
E quem avalia os inspectores? Uma parte significativa deles pouco gosto terá pela actividade docente…
Setembro 24, 2007 at 6:25 pm
Obrigado, PG. Isto quem não sabe é como quem não vê… 🙂
Setembro 24, 2007 at 8:28 pm
Assim de repente, ao olhar para a grelha do 1.º Ciclo acorre-me um pensamento:
e quem está com funções de apoio educativo, que não escolheu e que não planeia aulas, tapa os buracos e dá o apoio?
(as funções destes docentes são tão importantes como a dos outros, mas não encaixam em bastantes aspectos da grelha)