Sou um simples licenciado em História, com umas qualificações académicas complementares apensas em matéria de História Contemporânea e aspirações em História da Educação e uma profissionalização que, sendo no 1º grupo do 2º ciclo, contemplou as áreas da Didáctica do Português e da História.
Não sou, pois, alguém com uma formação académica de base em Língua Portuguesa e o meu desempenho no Ensino Secundário na transição entre os anos 70 e o início dos anos 80 não foi especialmente brilhante. No 10º e 11º ano, sempre que a Gramática atacava eu mal passava do 13 e só quando chegava a parte da Literatura ou da produção escrita voava um pouco mais alto para os 15, 16 ou, em casos raros, o 17.
Por isso, como professor de Língua Portuguesa de jovens entre os 10 e os 13 anos (ou 14, ou 15, se o sucesso tiver sido curto), encaro o ensino da Gramática como uma necessidade, principalmente com uma utilidade prática, mas como algo que pode ser doloroso e chato se não for leccionado com conta, peso e medida. Sou razoavelmente aborrecido com quem usa mal a nossa língua materna, mas sou um pouco condescendente com quem não me sabe declamar sem pestanejar todas as variedades de conjunções e preposições. Considero mesmo, e parece que não sou o único, que um ensino da Língua Portuguesa que sobrevalorize as derivas taxonómicas, à moda dos excessos classificadores do positivismo oitocentista, pode acabar por matar no ovo o gosto pela própria leitura.
Daí que, após uma pausa em que não leccionei por estar equiparado a bolseiro, tenha regressado este ano e dado de cabeça logo com uma criação que responde pelo nome de Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário. A coisa deixou-me confuso e perplexo a vários níveis, sendo o principal deles a acrescida complexidade terminológica adoptada e a sua irrelevância para uma melhor aprendizagem prática da língua. Não vou dar exemplos dos desvarios da TLEBS (já outros o fizeram de forma elucitadiva), na quase completa inexistência de Gramáticas actualizadas ou de manuais para os alunos (os que estão em vigor foram concebidos e adoptados antes desta reinvenção da roda), nem mesmo da pobreza de materiais disponibilizados pelo Ministério para apoiar esta implementação, que são quase omissos em exemplos de aplicações práticas, pois não vale a pena bater mais nos ceguinhos.
Como em meu redor na Escola tenho algumas pessoas que parecem entusiasmadas (ou no mínimo seriamente empenhadas) com este tipo de novidade, procurei calar as minhas sérias dúvidas sobre a sua implementação a frio no 2º ciclo a alunos que vieram do 1º ciclo com a “velha” terminologia. Pensei que era o facto de eu ser originalmente de História e professor de Português “por empréstimo” que explicaria a minha sensação de desajustamento e desconforto. E algum rebuço em admitir que achava a coisa assim a modos que semi-disparatada.
E lá me fui tentando adaptar em razoável silêncio às novas “frases complexas copulativas assindécticas” ou algo parecido, bem como à morte dos bons, velhos e amigos “complementos circunstanciais”, pelos quais sempre senti alguma estima.
Só que nesta última semana, gente bem mais qualificada do que eu, apareceu a abrir a boca e a escrever quanto ao disparate da coisa. Na Visão de 5ª feira passada foi Maria Alzira Seixo, hoje no Diário de Notícias é Vasco Graça Moura. Pelo menos deixei de me sentir tão só e a companhia até nem é má nesta minha dúvida existencial sobre a lógica de aplicar esta nova Terminologia aos 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico e não a reservar para uma fase mais avançada e de aprofundamento linguístico do percurso escolar dos alunos.
É que de experiências pedagógicas destas já temos a nossa conta e, por via de regra, meia dúzia de anos depois de iniciadas chega-se à conclusão que só vieram atrapalhar em vez de ajudar.
Adenda: Para uma outra visão sobre este assunto, complementar mas nem por isso mais cor-de-rosa, clicar aqui.
Novembro 1, 2006 at 4:51 pm
A emergência (do Lat. emergentia, s. f., acto de emergir, não confundir com o sentido figurado sucesso casual; conjuntura, ocorrência, incidente; situação crítica;), a emergência da TLEBS era inevitável por várias razões.
1: a saída de inúmeros licenciados em linguística das faculdades de letras, com saídas profissionais limitadas e fechadas (ensino), levou a que se fossem acomodando em gabinetes e direcções gerais, onde foram urdindo em segredo a teia que lançam agora.
2: a sonolência pateta dos poetas e artistas das letras em geral, que nos mesmos gabinetes e direcções gerais aceitaram de bom grado o voluntarismo dos linguístas para fazerem as tarefas necessárias para ter a máquina em movimento para ler mais um romance, não dando sequer conta do trabalho de minagem em curso.
3: a obsessão da ministra em não deixar pedra sobre pedra do que encontrou, recrutando os trabalhadores mais formiguinhas implacáveis do mercado (os linguístas), dando-lhes carta branca para (des)fazer.
4: o sentimento vago de que havia a necessidade de harmonizar a terminologia linguística para os ensinos básico e secundário, de maneira a andarmos todos a chamar os mesmos bois pelos mesmos nomes.
(continua em http://educacaocor-de-rosa.blogspot.com/)
Novembro 1, 2006 at 6:01 pm
Esta nova terminologia liguística é de bradar aos céus. Quando saí da Fac de Letras aprendi aquela da gramática Generativa (ou “degenerativa”?). Lembro-me de ter ido dar aulas no 2º ciclo numa escola em Trás-os-Montes. E lembro-me de ter ensinado aos meus colegas esta nova nomenclatura cheia de ramos, raízes e ramificações. Tudo isso desapareceu. Entretanto, surgiram novas terminologias. Quando tentava ensinar o meu filho, metia os pés pelas mãos: nome ou substantivo? determinantes ou…..?
Como lecciono línguas estrangeiras, tenho dificuldade em saber o que chamar a quê. Especialmente quando tento um paralelismo entre a gramática materna e, por exemplo, a gramática Alemã. Coitados dos putos! Mas esta gente não tem mais nada para fazer? Alguns termos são aberrantes, intragáveis e imbecis. Estou a usar adjectivos? Whatever!
Novembro 1, 2006 at 6:23 pm
Gostaria no entanto de chamar a atenção para o facto de a experiência pedagógica que se encontra a decorrer sob os auspícios do Ministério da Educação resultou de uma decisão política de adopção desta terminologia tomada no curto e triste consulado da ministra Maria do Carmo Seabra através da Portaria 1487/2004 de 24 de Dezembro. E que tal decisão tem o acordo da Associação dos Professores de Português (http://www.app.pt/), que se tem envolvido de forma militante nesta causa.
É pois bom reflictamos neste caso porque tendemos a ver os professores e os alunos a pagar pela irresponsabilidade das “experiências pedagógicas” de umas mentes perturbadas que trabalham nas catacumbas da 5 de Outubro, normalmente associadas às ciências da educação, quando, neste caso específico, existe uma decisão política que cauciona uma determinada acção, acção esta que é defendida por uma organização de professores.
Novembro 1, 2006 at 7:00 pm
Como eu me lembro da Gramática Generativa.
O horror, meu Deus, o horror.
Quanto à legitimidade ou não da “experiência pedagógica” eu não a contesto.
Há o direito ao disparate.
A decisão realmente é do consulado triste de MCSeabra, que a memória não guarde nos arquivos ministeriais.
Ou melhor, talvez seja bom guardar para não repetir.
Quanto à adesão da APP à coisa, não me pronuncio para além de dizer que há quem se sinta importante em sentir-se importante. E a redundância não foi gralha.
Provavelmente, qualquer associação de professores de… caucionaria algo em que participasse. Mas não me vou adiantar mais por aí, antes que me saia disparate do grosso. Eu também conheço quem se entusiasme, ao nível das bases, com esta novidade. Agora vê-la estampada na cara de crianças de 10 anos até dói.
Quanto às mentes perturbadas eventualmente existentes na 5 de Outubro…
😉
É assim, eu passei umas boas semanas a trabalhar lá no Arquivo Histórico.
O sítio é agradável, a vista interessante quanto mais se sobe no edifício e se fica por sobre a copa do arvoredo e o som do trânsito se abafa.
Não vi mentes perturbadas, antes pelo contrário.
Encontrei mentes com necessidade de algo com que se ocupar, isso sim.
Para além disso, meu caro PJ, em nenhuma parte deste texto se chamam à liça as Ciências da Educação pois qualquer especialista mediano em áreas como Desenvolvimento Curricular, Psicologia Educacional, Didáctica do Português, etc, etc, percebe bem o que no post se escreve e que tipo de reservas eu – e não só – levanto.
Quanto á referência mais acima de todos chamarmos os bois pelos mesmos nomes, eu até estou de acordo, mas há-de convir que uma coisa é chamar-lhe “boi”, outra coisa é partir para a sua inserção no grupo dos grandes ruminantes e outra ainda distinguir todas as variedades desde o boi-almíscarado até ao boi-cavalo.
A cada idade conforme as suas possibilidades.
Certo?
Novembro 1, 2006 at 7:26 pm
Certo. O meu comentário não pretendia de forma alguma ser crítico relativamente à entrada. Penso que a opinião nela veiculada faz todo o sentido. A minha observação serviu apenas para chamar a atenção para a questão que levantei. Todos temos direito a criticar o que quer que seja, desde que de forma fundamentada. As ciências da educação, esse continente gelatinoso, não podem furtar-se à crítica. Era o que mais faltava! Mas devem recusar uma condenação sem que “crime” algum tenha sido cometido. E neste caso concreto, contrariamente ao que se ouve dizer por aí, não são os “eduqueses” que andam entusiasmados com TLEBS mas sim os linguistas. Daí a afirmar que estes últimos, como já ouvi a Vasco Graça Moura, odeiam a literatura vai um passo que não ouso dar.
Novembro 1, 2006 at 10:49 pm
Aprender gramática não é aprender taxonomia (ou não é só isso). É sobretudo apercebermo-nos da língua como uma máquina muito flexível e adaptável às nossas intenções e que, felizmente, se baseia num número finito de peças e mecanismos. Aprender gramática é assim um atalho em direcção a um maior domínio da língua, desde que aprender gramática seja conhecer, trabalhar com esta flexibilidade e estes mecanismos de uma forma organizada e sistemática (e não apenas aprender os nomes das coisas). Neste sentido, a TLEBS é meramente instrumental e não poderá ter outras pretensões. Embora ache que Maria Alzira Seixo exagere o impacto cultural negativo (?) que esta terminologia linguística possa ter, certo é que a dissecação da categoria “advérbio de modo” e os estudo das suas minudências e imprecisões não tem lugar no ensino básico e secundário mas no universitário. Provavelmente, e como a terminologia não é “lei”, os alunos não vão decorar designações barrocas nem elaborar tratados sobre o “advérbio de modo”. A terminologia não é um programa de ensino. O que não me parece descabido de todo é levar os alunos a perceber que a designação de uma forma verbal não corresponde literalmente ao seu uso: o “presente do indicativo” serve para muitas coisas menos para falar do presente, por exemplo. Em língua estrangeira aprendi que o “present simple” serve para designar factos e rotinas e isso não me fez mal nenhum. Aliás, este tipo de sistematização do conhecimento de uma língua, a manipulação e o treino das estruturas (e em que a terminologia tem uma importância residual) devia ter um maior protagonismo no ensino da língua materna. Da gramática da palavra/frase – dos advérbios de modo e quejandos 🙂 – à gramática do texto – da sua organização, do encadeamento de provas e argumentos, etc., etc. (o que nos leva à disciplina do pensamento crítico). Demasiado tecnicista esta perspectiva? Provavelmente. Mas isto não é um problema a preto e branco, de certo e errado, pontuado por mensageiros do apocalipse, do fim da cultura e da literatura. É um problemas de opções, de decisões. O que queremos para a nossa educação? Que objectivos? Estes estão definidos de forma clara, objectiva e verificável? Parece-me que não e, por isso mesmo, reconheço validade à observação de Seixo quando diz que deveria ter havido maior diversidade de contribuições e a sua abrangência e aplicabilidade mais trabalhada*. E o grande problema é esse: a TLEBS é um instrumento a mais num mar de indefinição e navegação à vista.
Deixo uma citação de José Cardoso Pires: “A primeira condição para escrever bem é saber gramática, a segunda é esquecê-la”.
* A TLEBS é um projecto que data, pelo menos, de 1999.
Novembro 1, 2006 at 11:02 pm
Eu espero que tenha razão Pedro, mas olhe que há quem muito ande preocupado(a) em aplicar várias das minudências em mentes muito tenras.
O conhecimento das regras gramaticais é algo como o aprender da tabuada e do cálculo mental.
Penoso para uns, mas sempre útil quando é conseguido com sucesso.
Outra coisa é enveredar pelo recitar de taxonomias linguísticas como acontecia, nos meus tempos de Faculdade, com os meus colegas do lado das Literaturas.
Ora como me parece que a implementação da TLEBS está a ser feita como a das aulas de 90 minutos (que eram para o Secundário e começaram pelo 2º ciclo) ou as famigeradas substituições, tipo work in progress, cruzemos os dedos, e depois logo se vê no que dá e todos vamos aprender com a experiência, tenho as minhas dúvidas sobre os efeitos nos primeiros lotes de cobaias.;)
Novembro 1, 2006 at 11:29 pm
Não sendo essa a minha área de formação, parece-me claro que a gramática deve ser útil como instrumento para o domínio da língua escrita e falada. Deve tornar-se como que intuitiva… Os especialistas, esses sim, teriam interess em aprofundar, dissecar, discriminar… mas dificilmente se é especialista antes de chegar À fac!uldade!… esse parece ser o erro crasso: a gramática deixou de ser um instrumento ao serviço da língua, e passou a constituir uma actividade autónoma impossíverl de usar intuitivamente e com a fluência necessária à clarificação do discurso… E de facto a culpa aí não é apenas da CINCO DE OUTUBRO, e ainda se desculpa MENOS a quem devia saber que aprender a falar e escrever uma língua materna não bate muito certo com essas designações extensas e exaustivas e contraditórias para os termos usados para discorrer.
Novembro 4, 2006 at 1:50 am
Vou dar um pequeno contributo meu. Sou professor. Antes de o ser, ou sonhar vir a ser, já eu me debruçava em escritas e prosápias. Perguntar-me-ão se conhecerei esses termos “loucos” que todo e qualquer” bom” professor deveria saber, e eu responderei não. Dou aqui outro exemplo que mais exacerba esta minha convicção que exporei no fim: nos meus tempos de liceu estive numa aula de inglês em que estávamos dois cursos diferentes: química e educação física. Uns tinham altas notas, outros sabiam falar e aplicar, sem muitas vezes saber os “nomes dos bois”. As notas, muito diferentes.
Aquilo que sinto é que, mais do que saber os “nomes dos bois”, há que sentir a lingua materna, aplicá-la mesmo que nãom se saiba o nome, porque de outra forma não saberíamos comunicar. Digam-me uma coisa, se souberem ou quiserem: preferem que se saiba “taxonomizar” a língua, ou construir um texto coerente, longo e rico, ou ainda produzir um discurso fluido e harmonioso na integração de tudo o que se disse do príncípio ao fim? O ideal, as duas coisas, mas quando isso não é possível, em particular com crianças de tão tenra idade, porquê massacrar quando falar e escrever podia ser tão agradável. pelo menos para mim foi, mas eu aprendi a ler e a escrever noutros tempos. Um bem haja.
Novembro 7, 2006 at 10:01 pm
Concordo com o que o Pedro diz. O problema não está na TLEBS, mas na sua implementação. O delírio taxonómico não decorre da TLEBS, mas do que muitos colegas fazem com o ensino da gramática, que não passa de um desfiar de definições ou de atribuição de nomes.
Já agora, a Maria Alzira Seixo classifica como advérbios de modo coisas que nunca o foram. Acho que é um bom exemplo do mal de “taxonomizar” sem se pensar no que se está a fazer.
Novembro 8, 2006 at 3:27 pm
Vocês -todos – parecem não saber da missa a meio. Nem vocês, nem a maior parte dos professores que, inconscientemente ou por medo de não cumprir os seus deveres – sobretudo os que, sem que ninguém, nem os sindicatos, os vejam, se preparam com o novo ECD. Que a TLEBS é mero negócio, não será novidade hoje em dia, mas parabéns pela argúcia. Mas do seu carácter eminentemente pernicioso para o ensino da língua materna, parece não haver consciência, senão seriam mais fortes e mais numerosas as vozes que se levantam contra a sua aplicação.
Pequenos segredos:
1. as Ciências da Educação estão a ser, pelo menos, cúmplices – onde estão as vozes da Didáctica do Português
2. A TLEBS é uma fraude científica que envergonha os académicos que lhe emprestam o nome – por isso a Associação Portuguesa de Línguística recusou uma comunicação que, no seu último Congresso, se propunha discutir o assunto no cova da fera.
Novembro 8, 2006 at 6:01 pm
Ah ah ah ah.
Este post da paula lago é simplesmente genial… Ao que chegou o delírio em torno da TLEBS. Melhor do que isto só o inefável director do Pasquim Metro que hoje dizia que, imagine-se!, essa raça estranha dos linguistas inventou uma coisa chamada “conjunção coordenativa copulativa”!
Ciências da educação?
Fraude científica?
Mais umas cuspidelas para o ar, sem haver fundamento nenhum.
Novembro 8, 2006 at 6:20 pm
Eu gostava era de saber mais – embora adivinhe, logo que surjam as novas gramáticas “legítimas” e respectivas autorias – sobre a vertente do “negócio”.
Novembro 9, 2006 at 1:58 pm
tentei responder, mas creio que anulei o já escrito.
voltarei mais tarde tentando repeti-lo e acrescentando informação adicional.
Novembro 9, 2006 at 3:46 pm
Não sei se o Paulo é linguista – se for, não tome como pessoal o que se segue: os linguista são como as pessoas em geral.
Para responder à última questão, haverá que recuar um pouco, dentro do que, salvo pormenores mais ou menos explícitos no monstro que é a 24 de Julho, foi já delineado pela Educação cor-de-rosa. O ponto de vista é o de profissional da Educação, professora de Português.
1. A TLEBS já está planeada há muitos anos, dentro de uma reformulação terminológica que se quer acreditar bem intencionada;
2. Aquando da publicação da Portaria 1487/2004 de 24 de Dezembro, não houve divulgação senão uma de umalistagem de terminologia – tradicional e nova – constante dessa Portaria.
3. Em Maio do mesmo ano surgiu o famoso CD-ROM, no site do ME, em forma de base de dados; nessa base, quiçá por ter sido apressadamente elaborada por assistentes ou incipientes investigadores sem o controlo dos Mestres, surge uma apressada, pouco reflectida, científicamente duvidosa e metodologicamente desconexa terminologia.
4. A principal causa de desnorte dos professores – e de quem pouco saiba do assunto – é o facto de ser necessário um conhecimento aprofundado de linguística para compreender que, afinal, cada pseudo-investigador trabalhou no seu estrito campo de investigação sem se preocupar minimamente com a coerência global do que é apresentado – e é assim que surge a multiplicidade taxonómica, inevitável porque não há indicações, apesar da reiterada explicação de que se trata apenas de “nortear e unificar as práricas pedagógicas dos professores”, do que seja exigível aos alunos em sede de avaliação.
5. Instalado o pânico, surge obviamente o negócio da formação: quem percebe, ou julga perceber, o que está implicado na TLEBS, multiplica-se em comentários, explicações, roteiros, didactizações e gramáticas que só aumentam a confusão – APP à frente.
6. A alma do negócio, e fechando o círculo: as teorias linguísticas expostas na TLEBS são de teor rigidamente estruturalista e analítico, com uma base sintáctica e adequadas apenas ao trabalho em linguística computacional – que lhes faça bom proveito. No que respeita ao ensino do Português são simplesmente arcaicas (de raiz chomskiana, família das árvores, para quem se lembra; para que se faça uma ideia, no domínio da pragmática – sim, porque se funciona por domínios e subdomínios rigidamente etiquetados – ainda vão em Austin e Searle.
A componente semântica e a vitalidade da língua que, como toda a gente deveria saber, tem como principal característica a capacidade de resistir à norma, são ignoradas.
Desabafo final: sim, vai ser um desastre para as cobaias, prepara-se pelo menos uma geração de iliteracia total – os nossos alunos não são computadores, não são capazes – e ainda bem – de receber um sistema lógico já construído e programar as suas verbalizações de acordo com esse sistema. Note-se, os alunos têm um tipo de inteligência que não é de todo semelhante à inteligência artificial – e o contrário só seria pertinente se, e apenas se, o produto que agora se vende fosse um sistema lógico coerente.
Mas, como o investimentozinho já está feito, haverá que escoar o produto no mercado – por isso há tanta resistência a que se encare e divulgue o que é já óbvio.
Novembro 9, 2006 at 3:58 pm
Outra vez eu. Ó Paulo, desculpe lá, “supostamente” não é um advérbio? Ensine-me…
Novembro 9, 2006 at 4:04 pm
O outro Paulo não sou eu, pelo que não sei se me devo intrometer…
Novembro 9, 2006 at 5:24 pm
Faça favor…
Novembro 9, 2006 at 9:48 pm
O suposto esclarecimento da Paula Lago merece resposta, porque não esclarece.
Retomando os seus pontos:
1. A TLEBS decorre da necessidade de rever e actualizar a nomenclatura gramatical, que era, como sabemos uma lista de termos publicada no Diário do Governo (era assim que se chamava).
Dessa lista de termos, nunca foi dada uma definição.
2. O ME publicou uma base de dados como instrumento auxiliar que propõe definições para os termos publicados em Diário da República. Se é apressada, metodologicamente isto e cientificamente aquilo, é preciso justificar. Caso contrário, posso dizer que é excelente, rápida, metodologicamente válida e etc., que as nossas argumentações estão ao mesmo nível.
3. Não tenho formação para além da inicial em linguística e, com a ajuda de formações específicas sobre o assunto (de 25h – não propriamente um doutoramento sobre o tema), consegui perceber a relação entre os subdomínios e que as contradições que aponta não o são. Por exemplo, um dos casos que tem sido mais falado é o do adjectivo, cuja definição no domínio da terminologia sempre me pareceu tautológico e cuja repetição no domínio das classes de palavras não me parecia justificado. Percebi, em formação, que o adjectivo aparece na morfologia por ser uma palavra a partir do qual se constroem derivados, ou seja, um termo relevante para análise morfológica. Na sua definição, remete-se para a classe de palavras.
4. As causas de desnorte dos professores não me parecem ser imputáveis à TLEBS. Assisti a coisas tão espantosas como colegas que não sabiam dividir orações e insistiam com os formadores que não o sabiam porque tudo tinha mudado. Vi colegas que não distinguiam advérbios de adjectivos e imputavam as suas dúvidas à TLEBS. Vejo, na minha própria escola, colegas que há anos que não ensinam gramática e agora, como acham que têm de ensinar, se vêem incapazes de recordar a gramática tradicional e dizem que o mal é da TLEBS.
Para dar um exemplo e respondendo ao repto da Paula Lago, sempre tratei, seguindo a nomenclatura gramatical portuguesa, advérbios como “supostamente”, em frases do tipo “supostamente, o problema não está na TLEBS” como advérbios de oração (ou de frase). Nunca vi nenhuma gramática credível classificar um advérbio deste tipo como advérbio de modo, porque os advérbios de modo transmitem modo ou maneira, o que não acontece com este. Também assisti em formações colegas a perguntar se afinal as palavras terminadas em “mente” não são todas advérbios de modo. Isto parece-me inconcebível para um professor de português. Pior é a reacção. Quando se explica que não, reagem como Maria Alzira Seixo, dizendo que não é porque agora a TLEBS inventou que não era.
5. Sobre a formação, pode dizer-se que é negócio, mas digo-lhe que nada mais me agrada do que finalmente poder fazer formação específica sobre gramática. Negócio são os centros de formação, com TLEBS ou sem ela. E, honestamente, mal por mal, prefiro ter e pagar formação sobre aquilo que ensino do que sobre fotografia, powerpoint ou afins mal dada por pseudo-formadores. Se não houvesse formação sobre a TLEBS, caía o Carmo e a Trindade, porque nos obrigam a dar isto sem termos formação. Se há, então é um negócio escuro… Sejamos sérios.
Novembro 9, 2006 at 9:54 pm
6. Do que me lembro de teoria linguística, não vejo aqui os instrumentos da gramática generativa. Lembro-me das minhas aulas que a essência da sintaxe era o movimento de constituintes e as categorias (?) funcionais. Não encontro nada disso na TLEBS. Pelo contrário, a semântica é um domínio novo quando comparamos a TLEBS e a nomenclatura gramatical, pelo que dizer que é ignorada é muito estranho.
7. Finalmente, só vai ser um desastre se o que fizermos nas escolas for consumar o delírio taxonómico. Pôr os meninos a decorar, pôr os meninos a repetir definições. Isso, para mim, não é ensinar gramática. Isso, para mim, é criar gerações de papagaios. E isso tem a ver com a forma como se ensina gramática seja a da nomenclatura gramatical ou a da TLEBS.
Bem haja.
Novembro 9, 2006 at 11:57 pm
Paulo, obrigada pela prontidão da resposta. O que lhe perguntava era apenas se era um advérbio, e não se era de modo. Quanto aos colegas, estamos conversados, são pessoas e há de tudo, o que levaria a outras questões. Neste particular que ora nos ocupa, duas questões muito rápidas, já que tem formação em linguística (bem me parecia):
1. Explique a esta leiga a diferença entre campo semântico e campo lexical, a partir das definições presentes no CDROM da TLEBS (subdomínio semântica lexical).
2. Não percebo, se é esse o caso, como é que, com uma licenciatura em linguística (a minha formação inicial é apenas em ensino da língua), é necessária formação para perceber a relação entre os subdomínios (e domínios, suponho) da TLEBS.
Um bem haja para si também.
Novembro 10, 2006 at 12:05 am
Desculpe, uma mais…
Na sua opinião, bem esclarecida pelo que vejo, e apenas relativamente ao advérbio, que deverá saber um aluno do secundário?
Novembro 20, 2006 at 9:31 pm
Primeiro, sou licenciado em História e professor de Língua Portuguesa, como o Paulo Guinote, por isso, compreendo muito bem as suas dúvidas, mas elas são o que são: uma confissão de ignorância. Que não fica mal a ninguém! Mas o que é que há a fazer? Estudar, informar-se.
Outros aqui falam da gramática generativa, como se ela tivesse morrido, pois é ainda uma das teorias linguística mais bem sucedidas. É uma pena que formados em Letras não a tenham compreendido.
Uma coisa é a gramática generativa, outra são as suas aplicações didácticas. Sei que a gramática generativa levou a uma série de equívocos pedagógicos, como, por exemplo, dizer que sintagma nominal substitui a noção de sujeito. Ora, uma coisa são grupos de palavras, outra são funções sintácticas. A noção de sujeito é muito importante na própria gramática generativa. O Chomsky farta-se de falar em sujeito, mesmo, nos seus primeiros escritos.
O erro foi pensar que a criança fazia gramática, compondo árvores de frases e que a gramática normativa era dispensável.
Ao contrário do que aqui se sugere, esse desvio pedagógico consistia em diminuir ao máximo a quantidade de taxionomias, relativamente ao que se tinha de decorar com a gramática dita tradicional.
Quem leu Linguística e ensino do português, um velho e inteligente livro da década de 70, percebe que ensinar gramática, implica estudar e aprofundá-la e que há muitas noções que estão pura e simplesmente erradas. Vale a pena continuar a ensinar coisas que sabemos que estão erradas?
Não li ainda o texto da Alzira Seixo, mas pelo que vejo realçado, pergunto, onde é que se diz na TLEBS que essa noção deve ser ensinada a crianças e de que crianças fala ela. É que as crianças do 1º ciclo vão apenas compreender, quanto muito, o que é um advérbio. Eu, no 2º ciclo, não vou ensinar o que são verbos disjuntos. Vou apenas falar, como sempre, em advérbios de modo, de tempo, de lugar, de negação e não estou a contradizer a TLEBS.
Já agora, como provocação aos leitores da Alzira Seixo, perguntava-lhe em que ano é que se ensina a noção de narrador heterodiegético (Meu Deus, que palavrão!) Eu, limito-me a perguntar aos meus alunos se o narrador é uma personagem da história ou não, se está lá, se participa na acção, ou se é uma espécie de voz sobre a qual nada sabemos, etc… Sobretudo, nunca lhes perguntarei o que é um narrador presente ou ausente, homo-, hetero-, extra- diegético, ou o que quer que seja.
O nosso saber gramatical, o nosso saber de ciências literárias tem que ser aplicado, com a nossa habilidade pedagógica. E não há como fugir a isto, diga a TLEBS o que quiser! É que há uma coisa que a TLEBS não é: um programa de gramática.
Comentei o artigo do VGM no meu blog: http://semrede.blogs.sapo.pt
Novembro 20, 2006 at 9:36 pm
O problema Luís Filipe é que há quem queira aplicar acriticamente a nova nomenclatura e algumas das suas circunvalações no 2º ciclo.
E que não percebam quando eu me enrugo todo e tento explicar que… sei lá… se calhar… há coisa que seria melhor deixar para mais tarde.
Novembro 20, 2006 at 9:37 pm
Acima, onde disse “verbos disjuntos” queria dizer “advérbios disjuntos”, como se percebe pelo contexto.
Novembro 20, 2006 at 9:48 pm
o.k., caro Paulo, o problema é que todos falam da TLEBS, mas, pelo que dizem, parece não a terem lido.
Falam como se fosse uma coisa que apareceu de repente. Repare que o programa de base de dados que está disponível na APP é um ficheiro criado em 1998!
Aquela caixa da Alzira Seixo é inadmissível! Ela foi minha professora e eu gostei muito dela, mas isso é um disparate. Conheço também várias das pessoas que criaram a TLEBS, linguistas da Universidade de Lisboa. Não acredito que queiram ensinar aquele termo a crianças (a que crianças? No velho Testamento um homem com menos de 30 anos é uma criança, pelo menos, antes de “conhecer mulher”).
Novembro 20, 2006 at 10:01 pm
Grande mérito para a intervenção do Pedro! Longa quanto necessário e esclarecedora. A Paula também esclarece muita coisa sobre a história da TLEBS. Simplesmente não entendo as críticas que faz, concretamente a quê.
Estou convencido que li a base de dados quase toda. Havia algumas coisas novas para mim, a nível terminológico, por exemplo, a distinção entre desinências e sufixos que ainda está na Gramática da Maria Helena Mira Mateus com a extensão da designação de sufixo até aos índices temáticos. Mas, concluí que tinham razão.
Agora não pensem que vou ensinar aos meus alunos – do 2º ciclo – a distinção entre sufixos flexionais e sufixos derivacionais! ou a distinção entre modificação e derivação!
Mas o que eu acho é que nós, professores de português, temos que saber aquilo e muito mais!
Quem tem dúvidas só tem de deixar de praguejar e estudar!
Só quem aprendeu as coisas na sua espuma superficial é que vai pespegar termos descabidos na cabeça das crianças, só porque estão na TLEBS.
Novembro 20, 2006 at 10:58 pm
Pois, concordo.
Então não sendo originalment de Literaturas ou de Linguística preciso de estudar a dobrar.
Mas a verdade é que o ME não criou qualquer tipo de roteiro para a implementação desta nova terminologia.
Tem uns materiais a dar umas orientações muito vagas e pouco mais.
Coloca online uns materiais risíveis e é como se estivesse tudo pronto.
Resta o nosso bom senso para distinguir o que é do que não é aplicável.
Novembro 22, 2006 at 10:34 pm
Paulo, estou consigo; também concordo com Luís Filipe Redes quando diz ( e não sei para que nível de ensino, mas estarei sempre de acordo), que quem leia e compreenda bem a Tlebs só pode encará-la como mais uma informação e, a partir dela, decidir o que fazer com os seus alunos. O grande mal é que se pretende impor uma terminologia que a nível teórico é muito curta (i.e. desactualizada, incompleta ou restrita), enquanto que a nível prático é demasiado extensa (i.e., baseada numa reflexão metalinguística própria para a investigação em linguística, mais especificamento no domínio da linguística computacional). Isto leva a que, efectivamente e sem qualquer dúvida, como se vê pelos resultados, a sua didactização seja, no mínimo, desatrosa. O mesmo se passa com as acções de formação e manuais que, querendo a todo o custo acompanhar essa reflexão, propõem uma terminologia que não se adapta à língua enquanto entidade viva, enquanto postulam uma reflexão metalinguística muito superior ao que seria desejável para qualquer dos graus de ensino visados – mesmo para o secundário, nível em que lecciono.
Acusar os professores de incompetência é fácil; mas não é de modo algum fácil para um professor que teve na sua formação inicial uma iniciação à linguística, ou algumas cadeiras de orientação teórica diferente da da TLEBS ( se é que esta a tem, já que, segundo os diversos domínios, há alterações sensíveis) que compreenda sem muito estudo (e há tempo para isso, no contexto actual?)e decida.
Quanto aos que produzem materiais didácticos como o mencionado como o visado por VGM no DN de hoje, não há perdão.
Paulo Guinote, acertou como sempre: o ministério não sabe (e ninguém lho diz, porque será?) o que fazer com esta prenda.
Novembro 22, 2006 at 10:56 pm
Ah! e quanto a heterodiegético e quejandos, isso é apenas no secundário, a partir do 11º; quanto à teoria literária, também tenho as minhas dúvidas face à sua pertinência: parece-me descabido fazer com que os alunos, ano após ano, só (ou quase só) façam essa operação teórica sobre os textos narrativos.
Novembro 25, 2006 at 9:29 pm
Para o Luis Filipe, que afirma:
“Só quem aprendeu as coisas na sua espuma superficial é que vai pespegar termos descabidos na cabeça das crianças, só porque estão na TLEBS.”
Mas então, diga-nos se sabe porque é que “termos descabidos estão na T.L.E.B.S.”?
E o que está na TLEBS não é para os alunos do Ensino BÁSICO e SECUNDÁRIO?
Agradecia uma resposta.
Novembro 28, 2006 at 5:25 pm
Bravo!!
Os franceses, ao fim de 20 anos, estão prestes a mandar a TLEBS deles para as urtigas. Nós cá avançamos alegremente para o abismo.
Ver notícia do Le Figaro de 25.11 : “Le linguiste Alain Bentolila remettra mercredi à Gilles de Robien le rapport que ce dernier lui avait demandé sur la grammaire. Le ministre de l’Éducation souhaiterait supprimer les termes trop jargonnants.”
e também:
“Aujourd’hui, comme pour la lecture qui doit partir de la syllabe ou (b-a, ba) la grammaire doit partir de l’élément simple pour arriver au complexe, estime le linguiste : « On doit commencer par étudier le sujet et le verbe, puis le complément d’objet direct ou d’attribution, etc. ”
A notícia termina assim: “Après la grammaire, Gilles de Robien (Ministro da Educação Francês) entend bien s’attaquer aux mathématiques. Il préconise un retour au calcul mental.”
Sobre isto ver também esta outra do Le Monde de 23.11.2006: “Pour le rapporteur (Alan Bentolila), les collègiens doivent “commencer” à travailler sur la cohérence grammaticale du texte (changements de temps, etc.). La terminologie doit être fixée dans une liste et “permettre aux parents ou aux grands-parents d’accompagner la progression des enfants”.
De certeza que não querem contratar estes dois senhores para virem cá fazer uma perninha ao fim-de-semana? Mesmo que pagos principescamente, poupam-se uns milhões valentes e sobretudo evita-se que, mais uma vez, descambasse tudo na Senhora da Asneira.
Abraços e boa sorte.
p.s.: está-se a ver onde foram os iluminados linguistas cá da praça beber inspiração…só é pena que o tenham feito com 20 anos de atraso.
Dezembro 2, 2006 at 7:50 pm
[…] Entretanto, na Visão de dia 30 de Novembro Maria Alzira Seixo retoma em novo texto o tema que, quando o anterior foi aqui reproduzido no Umbigo, deu origem ao post mais visitado dos últimos meses e a um dos mais comentados. […]
Dezembro 3, 2006 at 8:59 pm
Não consegui aceder ao texto da Maria Alzira Seixo; há alguém que possa enviar-mo?
Dezembro 5, 2006 at 3:56 pm
A gramática é, sem sombra de dúvida, o esqueleto sobre o qual repousa a língua. Sempre odiei Biologia, mas sempre tive uma particular inclinação para a gramática, porque a acho fundamental. Sou professora de Inglês, ensino muita gramática – como não podia deixar de ser, e, mesmo assim, valha-me Deus!
O meu filho de seis anos de idade entrou agora para o 1º ano do primeiro ciclo e eu só me pergunto: Mas como é que a desgraçada da criancinha vai perceber conceitos que eu própria não compreendo?
A Gramática Generativa – longe vão os seus tempos de glória! (pouca…) – serviu para, anos depois, se verificar que a gramática tradicional era, no fundo, simples e fácil de se compreender. Só é pena que sejamos, a todo o momento, cobaias de um sistema de ensino que se agora vai tão mal que julgamos nunca pior, ainda pior, muito pior vai estar! Vale sempre a pena consultar os relatóros da OCDE!!!
E será que é assim que os nossos filhos vão aprender a melhor falar, e escrever, Português? Não me parece! Quando muito irão memorizar – sim, porque agora parece que voltamos à fase da memorização,e felizmente, porque esta é importante – uns palavrões sem qualquer significado e sem qualquer utilidade!
Dezembro 8, 2006 at 6:38 pm
Já gora aqui https://educar.wordpress.com/2006/12/08/a-citacao-actual-2/ também fica o apontamento de um testemunho muito, mas mesmo muito interessante.
Dezembro 9, 2006 at 6:13 am
Bocage e a TLEBS
A professora chamou um aluno ao quadro para efeitos de avaliação contínua. Pediu-lhe para analisar um verso que aí havia escrito, explicando o significado de uma das palavras «à luz da TLEBS». Acrescentou que o verso era de Bocage, enquanto discretamente espreitava a resposta no manual de apoio ao docente. Calculava, é claro, que o aluno não saberia responder; mas queria aproveitar a ocasião para brilhar triunfante perante o resto da turma.
O aluno tentou safar-se, conforme lhe pareceu, dizendo:
— Mas setora… A setora não disse, vai para uma semana, que o Bocage já morreu há duzentos anos? É bué de tempo… Quase que aposto que não lhe pôs a TLEBS.
A professora não foi na conversa e cortou-lhe as vasas:
— O Bocage não sabia TLEBS mas isso já foi há muito tempo. Entretanto o conhecimento evoluiu e nós não podemos ser reaccionários. Temos de nos actualizar!
Acontece que o fantasma de Bocage andava a rondar, como sempre sucede quando sente invocado o seu nome, e não gostou nada que o tomassem por ignorante. Apareceu, deu-se a conhecer, e foi dizendo:
— Saibam Vossas Mercês que no meu tempo já havia TLEBS…
— Como assim? — perguntou a professora atónita.
O poeta baixou as calças, pôs-se a coçar os colh…, e foi-se explicando:
— Tão Lisas Estas Bolas São.
A professora deu um berro de espanto e o fantasma do poeta esfumou-se.
O aluno, enfim esclarecido, apresentou-lhe as suas, exclamando:
— Não me chumbe setora… Eu cá também tenho desta resposta!
Dezembro 13, 2006 at 4:58 pm
Caro JN: a sua selecção de excertos do excelente relatório sobre o ensino da gramática, de Alain Bentolila, para o ME francês só prova como é possível descontextualizar informação, ao ponto de dizer o contrário do que está no texto original. Tenho o relatório à minha frente e, afinal, o que ele defende é a necessidade de uma terminologia que acabe com anos de desordem terminológica que, pelos vistos, também acontece em França. Recomendo a leitura do texto integral e não de excertos assim tão intencionalmente seleccionados. As propostas não são assim tão diferentes da TLEBS… http://media.education.gouv.fr/file/68/3/3683.pdf
MJ
Dezembro 14, 2006 at 9:24 pm
Cara Maria Junca: a sua selecção interpretativa do texto de Bentolila (creio que excelente no geral, ainda que não tenha tido tempo senão para uma leitura rápida de particulares) só prova como cada um consegue ler o que quiser, se não lhe tiverem aprendido a ler correctamente – ou se, por algum motivo, não o quiser fazer.
Tenho o relatório à minha frente e afinal o que ele defende, com muita clareza, é que a gramática é necessária para o estudo da língua, mas que não deve ser separada deste; que a complexidade dos conceitos deve ser gradual; que a terminologia e os conceitos que a sustentam face ao aluno devem ser da maior clareza possível; que terminologia e conceitos devem ser o mais simples possível e adequados ao aluno, insistindo, neste último caso, no sacrifício do rigor científico pela clareza da progressão e da compreensão do essencial ao funcionamento da língua. O que Bentolila afirma é finalmente, ainda que o faça como preâmbulo. é que a gramática generativa e as suas sequelas provocaram estragos profundos no sistema de ensino. As propostas são MUITO DIFERENTES das da TLEBS; basta, alíás, espreitar a terminologia proposta e as considerações que sobre ela se fazem.
Se estou não de acordo com Bentolila, só lho poderei dizer depois de análise mais atenta. Que não estou de acordo com a TLEBS, posso dizer-lho já, porque já a conheço é porque os estragos são já mais que previsíveis – que quer dizer que o seu potencial destrutor do conhecimento e do gosto pelo estudo da língua se tornou já suficientemente visível.
Dezembro 14, 2006 at 9:28 pm
OPS! Leia-se, na linha 4, “se não tiver aprendido” – mas a confusão é natural, só se aprende ensinando.
Dezembro 15, 2006 at 1:06 pm
Já vi que, no meio dos senhores, letrados, a minha opinião pode ser considerada um disparate. Mas, a visão de alguém que não dipõe de tais conhecimentos, mas que é pai, é de susto!
Ando à procura de informação dessa tal TLEBS e, quanto mais leio, mais me assusto!
Que querem dos putos?
Afinal, aumenta-se a Escolaridade Obrigatória, obrigam-se quase adultos que já não estão minimamente motivados e vocacionados, para até idade adulta se deanbularem pelos corredores escolares, aterrorizando tudo e todos, para decorar terminologias autenticamente arcaicas que, em vez de sofrerem as necessárias adaptações e evoluções, padecem, num saudosismo estúpido, porque mais uma vez, meia-dúzia de camelos (sim camelos!) sentados nas secretárias, não têm mais nada que fazer do que experiências? EXPERIÊNCIAS???? O que é que é isto???
Que querem fazer dos nossos filhos?
Porque não adoptam o Latim? Já agora…
E depois admiram-se que a simplificação da escrita seja cada vez mais adoptada, e admiram-se sobretudo da penetração de outras línguas estrangeiras.
Para quê complicar? Se os míudos aprenderem de uma forma mais fácil não será mais fácil de “encaixar” e mais tarde utilizarem? O que é isso de “Advérbio disjunto restritivo da verdade da asserção”?
Se querem criar linguístas de pequeninos, verão que será mais um chamado “tiro pela culatra”. Santa ignorância…
Já li o suficiente e vou assinar a petição.
Dezembro 15, 2006 at 1:59 pm
Meu caro, a sua opinião, se reparar bem, é semelhante à de muitos letrados.
Dezembro 15, 2006 at 9:30 pm
Como professora sinto o mesmo que como mãe: os nossos filhos e os nossos alunos não são cobaias. Assine e passe a quem assine, se o que leu o convenceu.
Gostei particularmente de que os considerasse “uma meia-dúzia de camelos”
Dezembro 22, 2006 at 9:15 pm
Afinal, qual é para assinar?
http://tlebs.professores.googlepages.com/home
Janeiro 1, 2007 at 11:06 pm
Só por desfastio: gostaria de saber quantos professores, de Português, de qualquer dos níveis de ensino,têm “trabalhado directamente com a Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário,(TLEBS) utilizando-a como referência no trabalho directo em sala de aula, na construção de materiais de apoio sobre conteúdos relativos ao funcionamento da língua, na elaboração de respostas sobre conceitos gramaticais a professores, alunos e outros consulentes, na formação de professores do 1.º ciclo, de professores de Língua Portuguesa do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e de professores de Português do ensino secundário”.
Esses, sejam quantos forem, são decerto muitos poucos – e parecem, pela redação da petição, estar ligados ao negócio da TLEBS. Portanto, não é seguramente essa a petição a assinar – apesar do dinheiro que se gastou com ela, a TLEBS não serve para o ensino do Português língua materna,
Março 12, 2007 at 6:23 pm
http://www.ocriadordouniverso.com
obs: o instrumental pode ser baixado.