… pois corresponde a tudo o que eu esperava e ainda vai mais longe na forma de manipular as coisas por forma a tornar uma obra sobre os 40 anos da Educação em Democracia um mero instrumento para legitimar as políticas desenvolvidas entre 2005 e 2009 e rasurar por completo as críticas ou visões alternativas da realidade reescrita.
Aliás, difícil seria esperar diferente de uma obra feita por uma facção político-académica, com um par de convidados especiais para dar a ilusão de pluralismo, que convida os seus alunos e colegas para abordar algo em que se foi parte interessada e bem interessada.
Não tenho tempo, por agora, para fazer uma recensão completa às 600 páginas, mas gostava de deixar, desde já, algumas notas básicas:
- Uma obra que pretende analisar 40 anos de Educação em Democracia não deveria (poder, pode, como se vê) ser feita como arma de auto-legitimação de uma equipa política que ocupou o poder nesta área da governação e que faz de um “estudo” uma espécie de apologia, com pretensões de fundamentação histórica, das suas próprias opções, eliminando qualquer tipo de eventual dissonância. Temos a obra de uma professora universitária e coordenadora de um programa de doutoramento, ex-ministra, que chamou de volta os seus mais dilectos colaboradores e os seus mais fiéis alunos para erguer algo que, em primeira e última instância, se trata de um escrito que serve para justificar as suas próprias opções políticas num dado mandato.
- Uma obra deste tipo, com as pretensões do seu título, não deve ser feita, em especial quando se abordam áreas muito específicas, por quem é mero “interessado” na matéria. Ou seja, eu nunca ousaria fazer um capítulo sobre Educação Especial, por muito que o assunto me interesse, se apenas sei alinhavar a evolução do seu enquadramento jurídico. Mas Luís Capucha não hesitou e fez um capítulo que faz lembrar aqueles apontamentos esquemáticos que fazíamos na Faculdade, como resumo de obras complexas, deixando apenas o esquelético e factual, mas eliminando qualquer pretensão de análise conceptual do tema da Educação Especial. Consultar aquele capítulo ou um qualquer digest da legislação sobre a Educação especial, vai dar ao mesmo.
- A finalizar este volume, anuncia-se uma parte sobre “O Debate Público”. Neste volume só se encontra um capítulo, entregue a Pedro Abrantes sobre “Opinião Pública e Políticas Educativas. E a entrar refere-se que o ensaio vai tratar o assunto para o período de 1960 a 2010. E quase esperei que fosse isso mesmo. Mas não é, porque não poderia ser. Era impossível que fosse algo assim, feito a sério, com este contexto editorial. A verdade é que o artigo se divide, no essencial, em três partes… uma de suave enquadramento teórico sobre a percepção pública das políticas educativas, com recurso a uns dados do European Social Survey, outra em que se recolhem testemunhos de ministros da Educação até 1999 que se encontram numa obra de António Teodoro e uma outra que praticamente se limita a alinhavar uns títulos de jornais (parece que se confunde “opinião pública” com “jornais”) sobre a questão dos exames de 2005 para cá, mais coisa menos coisa. Por incrível que pareça, este “ensaio” consegue escamotear totalmente o que foi motivo de maior polémica e discussão no espaço público e mediático na última década em matéria de Educação, dando a entender que tudo se centro nos exames. Zero sobre as polémicas sobre a carreira docente, a organização curricular, a gestão das escolas, a organização da rede escolar, etc, etc, etc, etc, etc. O mandato de Maria de Lurdes Rodrigues é, neste ensaio, uma pasmaceira em termos de polémicas, parecendo que tudo foi consensual e impermeável a contestação na opinião pública e publicada. Não percebo se é essa a convicção do autor, se acha que dos 50 anos de análise que prometeu, achou que os últimos 5 não mereciam nada mais.
Só isto já me fez considerar bem gastos os 19,20 aérios (tinha 70 cêntimos no meu cartão da Almedina para descontar) que dei pelo cartapácio, pois eu adoro ter para leitura, exploração e utilização futura todo aquele tipo de obras muito datadas e comprometidas com determinada Situação, ao ponto de se tornarem caricatas ao fim de um par de décadas, mesmo quando surgem com chancela académica.
Quantas obras tidas como “essenciais” nos anos 60 ou 70 (e já mesmo 80) conseguem resistir hoje a uma leitura sem um sorriso algo condescendente sobre o seu “alcance” e as motivações que se vão tornando cada vez menos fáceis de ocultar?
Junho 28, 2014 at 6:01 pm
MLR no seu labirinto.
Todo este arrazoado, num conveniente embrulho “académico”, no fundo, pretende fundamentalmente uma coisa: escamotear o facto de ter sido MLR, não uma defensora da Escola Pública, mas a ministra que deu o grande passo para a sua demolição, destruindo, como ninguém antes dela se atrevera a fazer, a sua identidade e os seus valores axiais.
Fica como testemunho de uma época, em que as políticas ultraliberais engoliram e ludibriaram o ideário social democrata (não é outro o “socialismo democrático”) e deram lugar a figuras como MLR que, sob o véu do “voluntarismo reformista” (autoritário em mimese com o modo “ultra), projectaram uma Escola amputada do seu desígnio essencial, conforme a Constituição – reconhecendo e abrigando uma conquista civilizacional determinante – preconiza: a formação integral de Pessoas e não de meros cidadãos para o mercado.
* A CRP, justamente, diz no seu artigo 1º: “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana…”.
Junho 28, 2014 at 6:10 pm
O IS”C”TE é um perigo para a saúde pública e devia ser encerrado.
Junho 28, 2014 at 6:11 pm
Mas entre ler isso e ver o Brasil-Chile, não há que hesitar!
Junho 28, 2014 at 6:15 pm
… com um par de convidados especiais para dar a ilusão de pluralismo…
É porque aceitaram dar a cara por esta… obra?
Junho 28, 2014 at 6:47 pm
De facto, a única coisa que fez foi “organizar” os “lambe-botas”… Paulo, és um homem de coragem… e a seguir: colírio!
Junho 28, 2014 at 7:03 pm
Lateralmente (mas profes são funcionários públicos), sobre os intoleráveis privilégios: http://lishbuna.blogspot.pt/2014/06/blog-post_9901.html
Junho 28, 2014 at 8:20 pm
Já disse a que classe de gestores considero que MLR pertence.
Aguardo com interesse a recensão que está na forja.
Junho 28, 2014 at 10:03 pm
Hugo Almeida: “Jamais renunciarei à selecção”.
– Oh diabo!, isto será uma ameaça ou uma promessa?…
Este é como a MLR: não deslarga!
Junho 28, 2014 at 11:17 pm
Off topic:
Chegada da selecção a Lisboa, hoje
Junho 28, 2014 at 11:22 pm
Esta também apoia o Costa. Todos os socratinos estão com Costa. Sócrates voltou a usar a estratégia do abraço do urso.
Junho 28, 2014 at 11:28 pm
Pelo meu lado : Incapaz !
20 aérios ?
Isso em tortas de Azeitão …
Volume 1 ?
Nota : nunca colocar na banquinha de cabeceira…
Junho 28, 2014 at 11:36 pm
A obra é política. Não é académica. Ninguém quis dar a entender o contrário, ou quis?
Junho 29, 2014 at 12:22 am
Quem escreve, quem lê, quem opina…. todos somos interessados na matéria, temos é diferentes interesses.
Junho 29, 2014 at 3:30 am
É por ter de ver e de assistir a coisas como esta senhora tem a lata de escrever e sequer de reaparecer que me mete verdadeiro nojo esta democracia e toda esta corja de gente que lhe gravita!
Junho 29, 2014 at 10:26 am
Chiça!
Era o que faltava dar 20 euros para ler um livro da criatura que mais destratou os professores!!!
Junho 29, 2014 at 2:38 pm
#12,
A obra é apresentada como académica e escrita, em boa parte, por doutorand@s em Políticas Públicas, num curso coordenado por MLR nio ISCTE.
Podemos contestar a promiscuidade, mas a obra é apresentada como académica.
É como se José Hermano Saraiva, em 1974, enquanto professor universitário, tivesse escrito uma obra sobre “40 Anos de Políticas de Educação em Portugal Vol 1 – A Construção do Sistema de Ensino do Estado Novo”.
Junho 29, 2014 at 9:32 pm
Valia 100000 vezes mais ,um dedo mindinho do pé do J. H .Saraiva,do que toda a Marilú.
Muito diferente.
Junho 30, 2014 at 1:52 am
Se dividirmos os 20 euros pelas trezentas folhas chegamos a 0,06(6) por folha. É caríssimo. Há, no mercado, papel higiénico muito mais barato.
Junho 30, 2014 at 11:45 pm
O Paulo Sucena que ainda era dirigente da fenprof quando ela já era ministra e que lhe chamou “medusa”, consta do Programa apologético (anunciado nos jornais com publicidade paga!) e da coreografia que irá ter lugar no grande auditório do ISCTE.
Faz sentido, pois segundo noticiou à época o Expresso, o licenciado Vieira da Silva, do PS, Professor da casa, terá intercedido junto do, então, presidente da inter,(seu ex-aluno no ISCTE?) e, por consequência, foi possível ver o grande líder a assinar o Memorando de Entendimento com a MLR.
Será que ainda veremos o grande líder, daqui a uns anos a fazer a mesma figura que o seu antecessor, já que a coleção ainda vai apenas no seu 1º volume?