Nada como um preconceituoso ideológico, favorável a obras públicas a qualquer preço e para quem derrapagens de quase 100% não parecem defeito, para detectar preconceitos ideológicos nos outros.

É verdade que Nuno Crato hiperbolizou a derrapagem das obras da Parque Escolar de forma desnecessária e absolutamente reprovável em alguém que defende o rigor dos números, não contextualizando as condições em que isso aconteceu.

É mais do que óbvio que aquela afirmação sobre um desvio superior a 400% é política no seu pior estado de aproveitamento de números sem a necessária explicação.

Mas Daniel Oliveira vai pouco melhor quando escreve:

Para além dos efeitos económicos e descentralizados deste tipo de obra (mais de 9.000 postos de trabalho, mais de 2.700 empresas envolvidas), a boa qualidade das instalações trava a degradação do ambiente nas escolas, melhora o desempenho de docentes e alunos, devolve a autoestima a toda a comunidade escolar e, mais importante, segura a classe média no ensino público, condição fundamental para garantir a qualidade de ensino e impedir a criação guetos sociais nas escolas.

A parte destacada parece um relatório encomendado pelo governo de Sócrates sobre as Novas Oportunidades. Terá sido feito estudo científico ou é apenas a expressão de um preconceito ideológico?

Não sei de que classe média ele fala (a que Elísio Estanque afirma estar em desaparecimento? ou uma entidade mítica de algum escrito neo-marxista do século passado?), nem me parece que o maior problema das escolas públicas para atrair alunos sejam as instalações… mas a indisciplina é algo que DO considera uma ficção ou então um fenómeno causado pela incompetência dos docentes, como se sabe desde as suas interveções sobre o episódio Carolina Michaelis.

Afinal, os erros e preconceitos alheios não justificam os nossos.

E Daniel Oliveira tem, desde o primeiro dia, um problema enorme em relação a Nuno Crato. Por puro preconceito ideológico. Se Nuno Crato dissesse que Daniel Oliveira é a quinta essência da coerência política, ele negaria.

(quanto a mim, confesso, se Daniel Oliveira me elogiasse ficaria apenas preocupado e acharia que ele se teria enganado no distinatário…)