Está aqui, estive a lê-la e é globalmente fraquinha, limitando-se a sobrepor argumentos antigos aos resultados do PISA 2009 que revelam.

Sócrates é óptimo em política para consumo rápido, mas é muito fraco no resto, em especial na área da Educação. É um excelente jogador de poker na base do bluff, mas se o obrigam a ir a jogo até ao fim, deixa muito a desejar. A sua sorte é que, quase sempre, os seus antagonistas ficam paralisados pelo medo cénico e desistem, parecendo ele um grande vencedor, quando apenas é melhor do que os desistentes ou acordantes que se deixam ir nas suas coreografias.

Mas isso agora não interessa nada e contextualizemos a razão da alegria que parece tomá-lo neste momento e deve ter motivado emocionadas comunicações com a sua protegida na FLAD.

  • Portugal aproximou-se das médias da OCDE nos resultados dos exames PISA. Os ganhos absolutos foram ainda potenciados pela quebra das médias da OCDE na Leitura e Matemática.
  • Os ganhos foram na ordem dos 20 pontos absolutos, o que significa, cerca de 4% de progresso em termos relativos.
  • Estes resultados permitiram-nos ultrapassar alguns países na tabela estando agora (entre 33) nos 21º, 26º e 24º lugares, respectivamente em leitura, Matemática e Ciências.

Estes são os factos. Em minha opinião, são boas notícias. Não excepcionais. Moderadamente boas. Antes estávamos quase no fim da tabela, agora estamos ainda no terço inferior, mas em tendência ascendente.


Depois há as leituras que se fazem destes dados, em especial as que se relacionam com nexos causais, ou seja, subimos porquê? Que factores podemos apresentar como responsáveis pela melhoria?

A explicação de José Sócrates é simples e simplista: os resultados dos alunos nos exames realizados na primeira metade de 2009 foram consequência directa das políticas desenvolvidas pelo seu governo e mais especificamente pelo ministério de Maria de Lurdes Rodrigues. Distorcendo factos, Sócrates afirma que essas políticas foram feitas contra tudo e todos, sem apoios, em especial das elites. Isto não é verdade, em termos objectivos, pois a opinião publicada esteve longamente do lado do Governo até quase ao fim de 2008.

Mas isso é apenas o spin colocado na coisa. Preocupemo-nos mais com as questões propriamente educativas.

De que políticas fala José Sócrates como responsáveis pelo sucesso. nesta entrevista refere-se apenas a duas:

  • As aulas de substituição.
  • A avaliação do desempenho dos professores.

Quanto à primeira, a própria entrevistadora lhe faz imediatamente o reparo que não atingiu os alnos que fizeram estes exames e ele é obrigado a reconhecê-lo. É, portanto, um argumento que não conta.

Quanto à segunda, para levarmos isto a sério, teria de ser possível estabelecer um nexo de causa-efeito entre a avaliação do desempenho dos professores e os resultados dos alunos nos testes PISA e, já agora, que os melhores resultados foram possíveis com alunos dos professores que aderiram à ADD e obtiveram classificações ditas de mérito. Ora… a menos que a cronologia tenha dado uma reviravolta sobre si mesma, os testes PISA foram feitos quando em muitas escolas a avaliação do desempenho nem sequer estava verdadeiramente em funcionamento. Para além disso, não sabemos se os alunos com melhores resultados são de escolas onde a ADD foi implementada a todo o vapor ou de turmas cujos docentes foram avaliados como os melhores entre os seus pares. Mais relevante ainda: é não perceber nada de Educação afirmar que os ganhos obtidos num grupo de alunos, teoricamente seleccionados de forma aleatória, se devem a mudanças feitas em seis meses de trabalho e não, no mínimo, num ciclo de escolaridade. Aos 15 anos, quem não tiver sido preparado devidamente nos anos anteriores em Matemática, por exemplo, não melhora dramaticamente o seu desempenho, só porque o seu professor vai ser avaliado. Mas isso, Sócrates desconhece ou faz por esquecer.

Estou eu a dizer que nada no mandato de MLR tem relação com esta subida nos resultados? Não propriamente. Há certamente algo que tem uma relação. Em minha opinião – e poderão achar que este é um argumento muito soft, mas eu não o excluiria, mesmo que seja dificilmente demonstrável para quem não está no meio – a visibilidade das questões educativas, mesmo a situação conflitual longamente vivida, conscencializou mais todos os envolvidos da importância do seu desempenho e dos resultados (n)destes testes. E acredito que houve um maior esforço. Se houve outras coisas mais, certamente se acabará por saber… ou não… tudo depende…