Tem sido por aqui discutida a intervenção do professor António Nóvoa no 5 de Outubro, nas comemorações do Dia do professor organizadas pela Fenprof.

Infelizmente a discussão centrou-se mais na questão da avaliação, em especial no modelo inter-pares.

A discussão demonstrou, pela prática, uma outra evidência apontada por A. Nóvoa na sua intervenção, ou seja, o facto de os professores terem conseguido reconstituir uma forte coesão de grupo para o exterior mas manterem uma intrínseca fraqueza ao nível da sua estruturação interna.

Em termos mais simples isto significa que foi possível unir a generalidade da classe docente contra a investida do ME e recuperar uma capacidade de intervenção na sociedade que se julgava quase perdida em definitivo, mas que é difícil, em seguida, colocar as pessoas a discutir entre si e a construir posições minimamente consensuais.

Se é possível erguer a oposição, é mais difícil e problemático estruturar a construção. É mais fácil saber o que não se quer, mais complicado dizer com clareza o que se quer.

Esta característica, certeiramente identificada por A. Nóvoa, está longe de se perspectivar ultrapassável a breve prazo, sem uma mudança de atitude por parte de quase todos os intervenientes.

É difícil transformar um movimento de guerrilha num regime, em especial num regime aberto. Ou transformar uma equipa rotinada para jogar em contra-ataque num conjunto dominador e com a obrigação de construir jogo.

E fico por aqui com as metáforas fraquinhas.

O que interessa é sublinhar o que é evidente: é indispensável – e será por aqui que o contra-ataque do outro lado vai acontecer – saber o que se quer se for alcançada a suspensão desta ADD e o modelo de carreira que o ECD em vigor cristalizou na última revisão publicada há dias.

Já sei que há quem nunca concorda com nada, excepto consigo mesmo e as suas circunstâncias. Há quem, com alguma naturalidade mas algum isolamento mental, considere que, entrando na carreira e nas suas aulas, mais ninguém tem nada a ver com isso. Não querem avaliação, não querem qualquer tipo de monitorização do seu trabalho e estarão sempre contra algo que perturbe um quotidiano consolidado e a sua vida. É uma visão das coisas, mas está desajustada dos tempos que vivemos. E acredito que é residual, mesmo se muito vocal quando necessário. Um pouco como o gémeo antagónico, aquele que quer grelhas para registar tudo e mais alguma coisa e que acha que o que interessa é estar muito tempo na escola.

Só que é preciso ultrapassar estes bloqueios.

Há que construir alternativas e é aí que entra o papel da construção a partir de dentro, com credibilidade, por vezes optando por soluções híbridas, de compromisso.

Não adianta criticar a intolerância alheia, se formos intolerantes. Cada um tem as suas ideias e se as tem é porque as acha melhores que outras. É natural. Mas se todos agirmos assim a lado nenhum interessante chegaremos.

Por isso é importante entender-se que, revogado o ECD no que à divisão da carreira e quotas diz respeito, suspenso este modelo de avaliação, algo é preciso apresentar como alternativa, pois não é possível voltar a 2004, para o bem e para o mal.

E esta discussão deve ser feita, com confronto aberto de posições, discussão acesa, crítica afiada, mas também a noção de que há um tempo e um prazo para tudo: é tempo de sabermos o que queremos e não apenas o que recusamos.