Moção apresentada em Assembleia-Geral de Pais da EB2/3 Carlos Paredes, sede do Agrupamento de Escolas da Póvoa de Sto. Adrião – dia 12 de Dezembro de 2008 – e aprovada por unanimidade.
MOÇÃO
Considerando que:
- a nossa escola está implantada num território muito difícil, com uma população maioritariamente de condição socioeconómica muito baixa.
- as nossas salas de aula são “cinzentas”, onde até os quadros deixaram de ser negros há muito…
- a nossa escola não tem adultos (auxiliares) em número suficiente, capaz de dissuadir comportamentos transgressores;
- a nossa escola não tem ginásio;
- a nossa escola tem um refeitório, subdimensionado para o nº de alunos que serve, em que algumas crianças – frequentemente – não têm tempo para comer;
- faltam os apoios educativos adequados e em número suficiente, numa perspectiva de “escola para todos” – nomeadamente psico-pedagógico e psico-social – para as crianças com necessidades educativas especiais;
- os nossos filhos estão em turmas de 28 alunos. 28, com a heterogeneidade “do costume” mais os “iguais”, fruto do prodigioso dec. lei 3/2008. Aliás, todos iguais, todos iguais, parece ser a nova “alma” dada por este governo à escola inclusiva;
- a teia burocrática em que as escolas estão enredadas e a “fúria” legislativa a que estão sujeitas (afinal que autonomia se pretende?), retiram aos professores o espaço, o tempo e a energia para algo, absolutamente, fundamental – conhecer, compreender e interagir com os seus alunos!
- E finalmente, porque o Ministério da Educação parece apostado em resumir/reduzir os problemas das escolas deste país ao problema da avaliação dos professores ou à falta dela;
Nós os Pais/EE dos alunos desta escola, dizemos BASTA! e também nós exigimos uma avaliação, imediata e consequente, às condições com que os nossos professores, auxiliares e, principalmente, os nossos filhos são obrigados a lidar diariamente!
Quantas vezes e de quantas maneiras temos nós, pais/cidadãos deste país, de pagar crise?
Dezembro 14, 2008 at 3:24 pm
Apesar de publicado em Setembro, é bom relembrar e/ou dar a conhecer o que Maria Filomena Mónica escreveu sobre o senhor secretário de estado da educação!
Leiam todo o texto e ENVIEM-NO PELO PAÍS!
“Não, sr. secretário de Estado”
por: Maria Filomena Mónica* , in jornal “Público”, 2007-09-30
Valter Lemos nunca participou em debates parlamentares, nunca demonstrou possuir uma ideia sobre Educação. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tem aparecido na televisão e até no Parlamento, o mesmo não sucedendo ao seu secretário de Estado, Valter Lemos. É pena, porque este senhor detém competências que lhe conferem um enorme poder sobre o ensino básico e secundário.
Intrigada com a personagem, decidi proceder a uma investigação.
Eis os resultados a que cheguei: Natural de Penamacor, Valter Lemos tem 51 anos, é casado e possui uma licenciatura em Biologia: até aqui nada a apontar. Os problemas surgem com o curriculum vitae subsequente. Suponho que ao abrigo do acordo que levou vários portugueses a especializarem-se em Ciências da Educação nos EUA, obteve o grau de mestre em Educação pela Boston University. A instituição não tem o prestígio da vizinha Harvard, mas adiante.
O facto é ter Valter Lemos regressado com um diploma na ‘ciência’ que, por esse mundo fora, tem liquidado as escolas.
Foi professor do ensino secundário até se aperceber não ser a sala de aula o seu habitat natural, pelo que passou a formador de formadores, consultor de ‘projectos e missões do Ministério da Educação’ e, entre 1985 e 1990, a professor adjunto da Escola Superior do Instituto Politécnico de Castelo Branco.
Em meados da década de 1990, a sua carreira disparou: hoje, ostenta o pomposo título de professor-coordenador, o que, não sendo doutorado, faz pensar que a elevação académica foi política ou administrativamente motivada; depois de eleito presidente do conselho científico da escola onde leccionava, em 1996 seria nomeado seu presidente, cargo que exerceu até 2005, data em que entrou para o Governo.
Estava eu sossegadamente a ler o Despacho ministerial nº 11 529/2005, no Diário da República, quando notei uma curiosidade. Ao delegar poderes em Valter Lemos, o texto legal trata-o por “doutor”, título que só pode ser atribuído a quem concluiu um doutoramento, coisa que não aparece mencionada no seu curriculum. Estranhei, como estranhei que a presidência de um politécnico pudesse ser ocupada por um não doutorado, mas não reputo estes factos importantes. Aquando da polémica sobre o título de engenheiro atribuído a José Sócrates, defendi que os títulos académicos nada diziam sobre a competência política: o que importa é saber se mentiram ou não. Deixemos isto de lado, a fim de analisar a carreira política do sr. secretário de Estado.
Em 2002 e 2005, foi eleito deputado à Assembleia da República, como independente, nas listas do Partido Socialista. Nunca lá pôs os pés, uma vez que a função de direcção de um politécnico é incompatível com a de representante da nação. A sua vida política limita-se, por conseguinte, à presidência de uma assembleia municipal (a de Castelo Branco) e à passagem, ao que parece tumultuosa, pela Câmara de Penamacor, onde terá sofrido o vexame de quase ter perdido o mandato de vereador por excesso de faltas injustificadas, o que só não aconteceu por o assunto ter sido resolvido pela promulgação de uma nova lei. Em resumo, Valter Lemos nunca participou em debates parlamentares, nunca demonstrou possuir uma ideia sobre Educação, nunca fez um discurso digno de nota. Chegada aqui, deparei-me com um problema: como saber o que pensa do mundo este senhor?
Depois de buscas por caves e esconsos, descobri um livro seu, “O Critério do Sucesso: Técnicas de Avaliação da Aprendizagem”, Publicado em 1986, teve seis edições, o que pressupõe ter sido o mesmo aconselhado como leitura em vários cursos de Ciências da Educação. Logo na primeira página, notei que S. Excia era um lírico. Eis a epígrafe escolhida: “Quem mais conhece melhor ama”. Afirmava seguidamente que, após a sua experiência como formador de professores, descobrira que estes não davam a devida importância ao rigor na “medição” da aprendizagem. Daí que tivesse decidido determinar a forma correcta como o docente deveria julgar os estudantes. Qualquer regra de bom senso é abandonada, a fim de dar lugar a normas pseudocientíficas, expressas num quadrado encimado por termos como “skill cognitivos”.
Navegando na maré pedagógica que tem avassalado as escolas, apresenta depois várias “grelhas de análise”. Entre outras coisas, o docente teria de analisar se o aluno “interrompe o professor”, se “não cumpre as tarefas em grupo” e se “ajuda os colegas”. Apenas para dar um gostinho da sua linguagem, eis o que diz no subcapítulo “Diferencialidade”: “Após a aplicação do teste e da sua correcção deverá, sempre que possível, ser realizado um trabalho que designamos por análise de itens e que consiste em determinar o índice de discriminação, [sic para a vírgula] e o grau de dificuldade, bem como a análise dos erros e omissões dos alunos. Trata-se portanto, [sic de novo] de determinar as características de diferencialidade do teste.”
Na página seguinte, dá-nos a fórmula para o cálculo do tal “índice de dificuldade e o de
discriminação de cada item”. É ela a seguinte: Df= (M+ P)/N em que Df significa grau de dificuldade, N o número total de alunos de ambos os grupos, M o número de alunos do grupo melhor que responderam erradamente e P o número de alunos do grupo pior que responderam erradamente. O mais interessante vem no final, quando o actualsecretário de Estado lamenta a existência de professores que criticam os programas como sendo grandes demais ou desadequados ao nível etário dos alunos. Na sua opinião, “tais afirmações escondem muitas vezes, [sic mais uma vez] verdades aparentemente óbvias e outras vezes ‘desculpas de mau pagador’, sendo difícil apoiá-las ou contradizê-las por não existir avaliação de programas em Portugal”. Para ele, a experiência dos milhares de professores que, por esse país fora, têm de aplicar, com esforço sobre-humano, os programas que o ministério inventa não tem importância.
Não contente com a desvalorização do trabalho dos docentes, S. Excia decide bater-lhes: “Em certas escolas, após o fim das actividades lectivas, ouvem-se, por vezes, os professores dizer que lhes foi marcado serviço de estatística. Isto é dito com ar de quem tem, contra a sua vontade, de ir desempenhar mais uma tarefa burocrática que nada lhe diz. Ora, tal trabalho, [sic de novo] não deve ser de modo nenhum somente um trabalho de estatística, mas sim um verdadeiro trabalho de investigação, usando a avaliação institucional e programática do ano findo.” O sábio pedagógico-burocrático dixit.
O que sobressai deste arrazoado é a convicção de que os professores deveriam ser meros autómatos destinados a aplicar regras. Com responsáveis destes à frente do Ministério da Educação, não admira que, em Portugal, a taxa de insucesso escolar seja a mais elevada da Europa. Valter Lemos reúne o pior de três mundos: o universo dos pedagogos que, provindo das chamadas “ciências exactas”, não têm uma ideia do que sejam as humanidades, o mundo totalitário criado pelas Ciências da Educação e a nomenklatura tecnocrática que rodeia o primeiro-ministro.
*Historiadora
E mais esta:
Um mistério oriental : Valter Lemos esteve em Macau em 1984 e 1985. Era governador o Almirante Almeida e Costa, sendo o Secretário-Adjunto da Educação o Dr.Jorge Rangel. Valter Lemos era do CDS , sim, CDS! Fazia parte de uma equipa de assessores que fizeram um trabalho muito mau na Escola do Magistério Primário de Macau. Em resultado disso foi despedido por incompetência!!! E esta, hein !?
Dezembro 14, 2008 at 3:25 pm
Para poupar trabalho aos TS, aos V, aos CM e outros que tais:
Estes pais ou são professores ou são da FENPROF (e Comunistas…) Se é que não são as dois/três coisas ao mesmo tempo!
Dezembro 14, 2008 at 3:51 pm
#2
Para “arredar” a poeira com que o Sr./sra, tal como os políticos deste país, tanto gostam de lançar para evitar comentar os factos objectivos… Vamos aligeirar…
Vamos supor, por absurdo já se vê, que tem razão e que todos os pais desta escola são: professores, da Fenprof (de alguma forma teriam também de ser professores…) e comunistas (compreensível… quem não está a favor é… comunista! começo a achar que os comunistas, por todas as acusações que lhes são feitas, deveriam ganhar as eleições)
A Escola está identificada, existe! pode sempre deslocar-se e conferir a razão das queixas!
Então podemos continuar o exercício: os pais são todos professores, da fenprof e comunistas, mas as queixas que fazem – em relação às condições em que a comunidade escolar é obrigada a trabalhar – são igualmente verdadeiras.
Pergunto: É ou não legítima a reinvidicação destes pais, em nome do interesse dos seus filhos, quer sejam ou não tudo aquilo que afirma ?
Dezembro 14, 2008 at 5:40 pm
É de pais destes que a escola precisa. Vamos dar-lhes uma ajuda, já e pela calada, antes que desistam. Se não o fizermos, perdem a confiança em nós, definitivamente, e com toda a razão. Colocam os filhos no privado e cada vez teremos menos armas contra o nivelamento por baixo, nas escolas e no país.
Dezembro 14, 2008 at 7:55 pm
Excelente ideia: as associações de pais fazerem um levantamento das condições em cada escola e tornarem-nas públicas… Aliás, coisa que o pai da nação já deveria ter feito há muito tempo, em nome do interesse daqueles que diz repesentar…em vez de se preocupar só com a avaliação dos professores, assunto em que deveria ser muito mais discreto…
Dezembro 14, 2008 at 8:34 pm
No dia em que os pais acordarem para os problemas da Educação, os governos passarão a ter políticas educativas, o que não aconteceu até aqui. É fundamental dar verdadeiras condições de trabalho aos alunos e aos professores. Não chegam as condições materiais, claro, há que recriar uma escola exigente e rigorosa, o que não é possível com o facilitismo imposto por via dos currículos, do estatuto do aluno ou dos variados meios de oferta de diplomas que dão uma aparência de formação.
Dezembro 15, 2008 at 2:56 pm
A Apeagesatao, está solidária com estes Pais.
Recorram à Confederação de Pais alternativa que é a CNIPE para tentarem obter ajuda.
Recorram também à Comissão de Educação e Ciência na Assembleia da República.
Caso pretendam estes contactos, solicitem para apeagesatao@gmail.com