Nem de propósito, para fazer ver a Maria do Céu Roldão, que ainda há quem pense sobre estas questões na classe docente, só é pena que ela não dê por isso. O texto resulta de posts inicialmente publicados no Dúvida Metódica (ler ainda este post).
Como deveriam os professores ser avaliados?
Qualquer avaliação inclui sempre vários parâmetros e não seria possível analisar todos eles num texto desta natureza. Por isso, vamos referir superficialmente três ou quatro desses parâmetros e explicar apenas aquele que, na nossa opinião, deveria ser o parâmetro principal.
Se quiséssemos, por exemplo, avaliar um fabricante de tesouras o parâmetro principal dessa avaliação consistiria certamente em verificar se as tesouras cortavam ou não cortavam bem o papel, os tecidos, etc.
Contrariamente às tesouras, um professor não tem apenas uma função (actualmente pode-se até dizer que tem demasiadas funções), mas sem dúvida que a principal é ensinar e fazer aprender. Por isso, não faz nenhum sentido avaliar os professores e não ter em conta as aprendizagens dos alunos. Mas como fazê-lo?
O modelo de avaliação que o governo tentou impor pretendia fazer isso através do estabelecimento de taxas de sucesso que o professor teria de alcançar.
Esse método é absurdo, pois o sucesso dos alunos não depende apenas da qualidade do ensino ministrado pelo professor: depende também de factores que o professor (por muito que se esforce) não controla – a vontade do aluno, as dificuldades que acumulou em anos anteriores, etc.
Dizer aos professores que só terão Excelente, Muito Bom ou Bom se os seus alunos tiverem uma certa percentagem de sucesso é quase equivalente a convidá-los a inflacionar a notas. Ou seja: trata-se de um truque para fabricar um sucesso educativo artificial e meramente estatístico (à semelhança da fraude que são as Novas Oportunidades e do facilitismo nalguns exames do passado ano lectivo).
Contudo, há uma maneira rigorosa e objectiva de relacionar as aprendizagens efectuadas pelos alunos com a qualidade do ensino ministrado pelo professor. Consiste em comparar as classificações atribuídas pelo professor no final do ano lectivo com as classificações obtidas pelos alunos em exames nacionais elaborados com rigor e exigência.
Nessa comparação, o que seria significativo para a avaliação do professor não seriam os resultados mais ou menos elevados obtidos nos exames nacionais (pois isso não depende inteiramente do mérito ou demérito do professor), mas a coerência entre esses resultados e as classificações por si atribuídas. Dito por outras palavras: a coerência entre a avaliação externa e a avaliação interna dos alunos.
Para que a avaliação dos professores tivesse essa comparação como parâmetro principal seria necessário que existissem mais exames nacionais do que actualmente sucede.
Na nossa opinião, deveriam existir exames nacionais em todas as disciplinas “de estudo” (ou seja: em todas, excepto em disciplinas como Educação Física e Educação Visual). Tais exames deveriam ser efectuados no final de cada ciclo: no 4º ano, no 6º ano, no 9º ano e no 11º ano ou no 12º ano (consoante as disciplinas durassem 2 ou 3 anos). O peso da classificação do exame na classificação final do aluno deveria ser significativo (30% como actualmente ou mais) e, mais importante do que isso, deveria haver uma nota mínima para haver aprovação: independentemente da classificação interna, o aluno só deveria ser aprovado se obtivesse pelo menos 9,5 numa escala de 0 a 20.
Na avaliação do desempenho dos professores, além desse parâmetro, deveriam ser considerados diversos outros parâmetros. Estes por exemplo:
– A qualidade científica e pedagógica dos instrumentos didácticos elaborados pelo professor avaliado (planificações, textos de apoio, esquemas, fichas de trabalho, testes, etc.).
– A qualidade científica e pedagógica das próprias aulas (rigor e clareza das explicações, atenção e apoio prestado aos alunos, capacidade de criar um ambiente tranquilo e propício à aprendizagem, etc.).
Não é preciso ser especialmente céptico em relação à natureza humana para considerar que a avaliação de aspectos desse género pode revelar-se muito subjectiva e dependente das meras impressões pessoais do avaliador.
Por um lado, o avaliador pode deixar-se levar pela eventual simpatia ou antipatia que sinta pelo avaliado e (podendo até não ter consciência disso) favorecê-lo ou desfavorecê-lo indevidamente.
Por outro lado, existem concepções pedagógicas muito diferenciadas e pode suceder que o avaliador (com ou sem consciência disso) não consiga ver para além da sua própria perspectiva e não reconheça qualidade ao trabalho de um colega apenas porque este não perfilha as suas concepções pedagógicas e tem outro entendimento acerca do ensino e da aprendizagem. Do mesmo modo, pode suceder que o avaliador relativize a falta de qualidade do trabalho do avaliado, caso este perfilhe as suas concepções pedagógicas.
Todavia, se os alunos do professor avaliado realizarem um exame nacional e for possível comparar os resultados nele obtidos com as classificações atribuídas pelo professor no final do ano lectivo, isso terá um efeito dissuasor e será menos provável que as deturpações subjectivas da avaliação ocorram. Levará os avaliadores mal intencionados a pensar duas vezes antes de voluntariamente deturparem a avaliação. E levará os avaliadores desleixados a empenharem-se com receio que o seu desleixo seja descoberto.
Um parâmetro que também deve existir numa avaliação do desempenho dos professores é a autoavaliação. Se for possível efectuar a comparação referida haverá menos condições para os avaliados “puxarem a brasa à sua sardinha” e se autoavaliarem de modo excessivamente generoso.
Em suma: ter em conta, na avaliação de um professor, as classificações obtidas pelos seus alunos num exame nacional, além dos seus méritos intrínsecos, promove a objectividade e o rigor na avaliação dos outros parâmetros.
Exames nacionais exigentes e bem elaborados permitiriam a existência de um parâmetro de avaliação independente da vontade e dos interesses particulares dos professores avaliados e dos professores avaliadores, mas não do mérito do trabalho dos professores avaliados. Isso levaria todos os envolvidos a esforçarem-se por serem rigorosos e imparciais.
De resto, a existência de mais exames nacionais deve ser defendida independentemente da avaliação dos professores, pois iria promover a melhoria do ensino e da aprendizagem. A existência de mais exames nacionais faria os professores e os alunos trabalharem mais e melhor. E faria também com que os autores dos programas e dos manuais escolares fossem mais cuidadosos e ponderados na sua concepção.
Carlos Pires
Sara Raposo
Faro, 30 de Novembro de 2008
Dezembro 1, 2008 at 7:10 pm
Embora uma análise reflectida, tem falhas que um professor logo detecta:
. SE, EM VEZ DE LECCIONAR NA ESCOLA X, O MESMO PROF. LECCIONASSE NA ESCOLA Y, OS RESULTADOS SERIAM MUITO DIFERENTES
.A ELABORAÇÃO DOS EXAMES FICA ISENTA DE REGULAÇÃO? QUEM FAZ OS EXAMES? OBEDECE A QUE CRITÉRIOS?
todos sabems que há exames bem feitos e outros que parece pouco terem a ver com o programa que damos ao longo do ano
Dezembro 1, 2008 at 7:35 pm
eSTOU DE ACORDO QUE ESTE É O PRINCIPAL PARÂMETRO PARA UMA AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES: A COMPARAÇÃO DAS CLASSIFICAÇÕES ATRIBUÍDAS POR ELES, COM OS RESULTADOS DOS EXAMES A NÍVEL NACIONAL. (DESCULPEM AS MAIÚSCULAS)
Claro que a função de um professor não se esgota na preparação dos seus alunos para um exame nacional, e quiçá o mais importante passe desapercebido e inquantificável. Mas essas classificações são dos poucos parâmetros objectivos e quantificáveis (assim como a assiduidade, e pouco mais)
Dezembro 1, 2008 at 7:35 pm
Reb:
Os resultados seriam diferentes – claro. Até na mesma escola com turmas diferentes os resultados seriam diferentes. Por isso, é que o factor a ter em conta seria a coerência entre as classificações dadas pelo professor e as classificações obtidas pelos alunos nos exames e não apenas estas. A coerência.
As questões sobre quem faz e como são feitos os exames são fundamentais – como se viu no passado ano com o facilitismo nos exames de matemático. Os exames só podem ter o papel que defendemos se forem elaborados de modo independente, por pessoas sem interesses directos no caso.
Dezembro 1, 2008 at 7:39 pm
Carlos Pires, estou de acordo consigo.
Dezembro 1, 2008 at 7:42 pm
Suomi anda muito desaparecido…Só aparece depois do Ts se ir embora.
Dezembro 1, 2008 at 7:43 pm
Vou colocar uma objecção contra a minha própria proposta – que, gostaria de sublinhar, não é uma proposta completa e global. Procurámos focar-nos num aspecto decisivo, mas há outros.
Eis a objecção:
Como avaliar então os professores das disciplinas mais práticas (Educação Física, Educação Musical)? Não parece possível fazer exames nacionais nesse género de disciplinas…
O que há de importante nos exames nacionais é serem (ou poderem ser, se não houver manipulação como sucedeu no ano passado) uma forma de avaliação externa e independente dos interesses dos envolvidos.
Gostaria de perguntar, em jeito de desafio, aos leitores do Umbigo (principalmente se forem professores dessas disciplinas): o que poderia constituir nessas disciplinas uma avaliação uma forma de avaliação externa e independente dos interesses dos envolvidos?
Dezembro 1, 2008 at 8:19 pm
Esta avaliação só poderia ser utilizada se houvesse exames a todas as disciplinas. O que não é o caso.
Basta este facto para se colocar de lado essa opção.
Dezembro 1, 2008 at 8:26 pm
Não. Se se reconhecer que essa é uma boa maneira de avaliar os professores, passamos a ter mais 1 argumento numa lista grande de argumentos para haver mais exames nacionais.
Há muitas razões para defender a existência de mais exames nacionais.
Dezembro 1, 2008 at 8:50 pm
Concordo. Afinal, qual é o produto mensurável que resulta do nosso trabalho?
Devemos lutar contra um ensino de pouca ou nenhuma qualidade, por um futuro melhor.
Dezembro 1, 2008 at 8:54 pm
A maluqueira é tanta que nem nos damos ao trabalho de ver como na Europa o assunto é tido em conta.
Poxa somos sempre mais papista que o papa, parece o santo ofício.
Dezembro 1, 2008 at 8:58 pm
O meu avaliador odeia-me! Estou tramada!
Dezembro 1, 2008 at 9:00 pm
Eu que sou avaliador também me odeio a mim próprio.
Dezembro 1, 2008 at 9:05 pm
E vou ter de avaliar pelo complex um colega que decidiu não se solidariezar-se com os colegas e possivelmente entregou os O.I., e ainda por cima está no conselho executivo.
raios ao tecladpo, não bastam os adesivos tenho agora o teclado….
Dezembro 1, 2008 at 9:06 pm
Raiva (5) WTF?
Dezembro 1, 2008 at 9:14 pm
Raiva(5), F!
Dezembro 1, 2008 at 9:16 pm
isso tem a ver com uma boca lançada pelo TS….
Dezembro 1, 2008 at 9:23 pm
Alguns pontos a discutir: (ordem arbitrária)
1) Há professores que passam anos numa escola, não lhes é atribuída continuidade pedagógica e, portanto, não leccionam anos com exame nacional.
2) Se um professor receber uma turma num 11º ano, não tendo sido professor dessa turma no 10º, vai ser avaliado relativamente aos resultados obtidos num exame 10/11º? Mesmo que perceba que os seus alunos não estão bem preparados no que diz respeito ao 10º, haverá tempo para num ano dar dois?
3) E os professores contratados ou que, por vários motivos, mudam de escolas: como são avaliados neste sistema? Um professor contratado pode estar 2, 3, 4 ou mais anos a leccionar sempre os mesmos anos não terminais e portanto sem exame. Como seria avaliado neste sistema?
4) Educação tecnológica, educação visual, EVT, Educação musical, educação física, formação cívica, área de projecto, estudo acompanhado… Não há ninguém que tenha apenas estas 3 últimas (espero eu), mas há professores que podem ter apenas estas disciplinas aqui referidas. Outros terão uma turma de outra área: francês, por exemplo, e o resto em AP + EA + FC. Será avaliado apenas por parte do seu trabalho?
5) E os professores que só dão aulas aos EFAs?
6) Esta proposta agrada-me em inúmeros aspectos, mas ao não ser possível de implementar universalmente, não é, nestes moldes, exequível. Obrigaria a sistemas de avaliação diferentes consoante os professores em causa.
Concordo que são necessários mais exames, muitos mais. Rigorosos, que influenciem a progressão (motivam os bons a tornar-se ainda melhores e os menos bons a terem de se esforçar) com um grau de dificuldade comparável de ano para ano e elaborados sem influências políticas (os do ano passado seriam um “case study” em qualquer país normal) por “entidades” de reconhecido valor. Por mim, que venham os exames a CFQ.
Dezembro 1, 2008 at 9:39 pm
Em resposta ao post “Vamos Dar Uma Ajudinha À Plataforma Sindical?” do Paulo Guinote, apresentei um esboço de proposta que tem muito em comum com esta do Carlos Pires e da Sara Raposo e inclui ainda outros mecanismos de aferição, semelhantes aos propostos pelo Jorge do Fliscorno no seu comentário a esta proposta (a original, no Dúvida Metódica).
Na altura não obtive qualquer feedback (a malta discutiu tudo menos propostas alternativas). É por isso com imenso agrado que constato não estar sozinho nesta ideia. Gostava de a trabalhar melhor com outros colegas que também assim pensem, por isso reproduzo adiante a minha sugestão, ainda muito em bruto. A avaliação externa dos alunos vem no ponto dois.
1. Penso que a avaliação podia ser baseada numa espécie de OIP como sugere o Paulo, obviamente sem previsões quantificadas de sucesso, abandono e outras tretas que tais.
Que sentido faz definir tarefas e meios sem propósitos claros?
1.1. Portefólios (impossíveis de validar) para quê? Não há já práticas instituídas em cada grupo/departamento/escola passíveis de ser avaliadas? ex: dossiês onde se devem colocar todos os materiais utilizados, testes, critérios, planificações, actas, sumários, projectos…
1.2. A questão dos avaliadores é a mais complicada, devido ao embróglio do concurso para titulares. Mas em cada escola há um júri já instituído: o grupo! Isso sim seria avaliação interpares, devendo intervir também o coordenador do departamento e o PCE, nos parametros que lhes dizem respeito.
1.3. Por mim, todos os elementos de cada grupo, coordenador e PCE podem e devem assistir a algumas aulas de todos, e até colaborar sempre que isso for desejado e viável. Isso sim seria formativo! Claro que teria que haver um mínimo formalmente definido, em momentos chave de avaliação.
1.4. Nada de valorizar especialmente apenas algumas actividades que não sejam aplicáveis em diferentes turmas/escolas/disciplinas. Valorizar sim, mas tudo o que se aplique e seja reconhecidamente enriquecedor em cada contexto específico.
1.5. Um balanço final, em jeito de reflexão crítica, não me parece descabido, embora talvez sujeito a uma estrutura geral uniforme (mas não demasiado limitante).
2. Para efeito de regulação e diferenciação – se for bem validado cientificamente em função de cada realidade – acho que a avaliação de desempenho deve sempre ter em conta a RELAÇÃO entre as classificações finais atribuídas por cada professor e as classificações obtidas pelos alunos em provas externas de âmbito nacional.
2.1. Estas provas nacionais teriam de ser implementadas em todos os anos e em todas as disciplinas, claro, mas não tendo necessariamente de ser exames teóricos. Já há precedentes testados e relativamente bem sucedidos: ex: provas intermédias, provas globais, exames, provas práticas, …, ou outras soluções (a desenvolver) adequadas a cada nível/disciplina/curso.
2.2. Esta comparação é matematicamente muito simples de executar e pode até, com ajuda de uma aplicação informática, servir de base para correlações válidas entre diferentes disciplinas (na mesma turma), entre turmas (na mesma disciplina) e até entre escolas, desde que se comparem indicadores relativos e não absolutos como erradamente se faz nos rankings.
2.3. Apenas assim seria possível detectar os casos mais salientes de sucesso e aqueles em que algo vai mal, e dar-lhes o reconhecimento ou o remédio adequados.
E muito mais não seria necessário, em termos de avaliação, quer formativa quer para efeitos de progressão da carreira.
Que efeitos? Isso dependeria da estrutura da carreira, claro. É outra reflexão que urge fazer.
Dezembro 1, 2008 at 9:41 pm
Eu não me parece mal que haja mais exames, porque dão informação muito relevante e têm vários efeitos positivos na escola e na relação destas com a comunidade. Mas vejo-os mais como UM elemento na avaliação das aprendizagens e na aferição geral do ensino, do que como O elemento definidor dessas aprendizagens. Esta noção de que um exame avalia de facto, de forma completa e rigorosa, as aprendizagens dos estudantes parece-me muito limitada e ligada à velha noção de que existe algo, o conhecimento, estável, quantificável e mensurável, que se passa de um lado para o outro – do professor, do manual, para o aluno – podendo depois ver-se em que quantidade (em que medida) o aluno o reteve.
Ora, se é verdade que há uma parte do nosso conhecimento que se adquire desta forma, e que um exame avalia muito bem, existem outros tipos de conhecimento e competências, também muito importantes, que passam por outras lógicas de apreensão e desenvolvimento e, também, por outras formas de demonstração e avaliação. Exemplificando, que não queria alongar-me demasiado, o ser capaz de planear, organizar e concretizar um projecto, sozinho ou em equipa; a capacidade de, face a uma situação problemática, ser capaz de desenvolver as acções necessárias à sua resolução; em suma, o ser capaz de aplicar os conhecimentos e as competências que é suposto ter desenvolvido e aprendido não ainda numa situação “artificial”, “escolar”, mas numa situação próxima da vida real. Disto, os exames não avaliam nada; e isto também é muito importante avaliar. Portfólios, projectos e outras formas de reunir, ao longo do tempo, informação sobre o que determinado estudante sabe mas, também, sobre o que é capaz de fazer com isso que sabe, combinado com testes e, depois, exames, dão um quadro mais fiável e correcto dos conhecimentos e capacidades de um estudante do que, apenas, uma prova de 2 horas. O desenvolvimento destas competências complexas que são exigidas aos cidadãos deste 3º milénio é uma parte fundamental do trabalho do professor. Ver os exames como essa medida justa, objectiva e rigorosa (que não é) do trabalho que se desenvolve na escola deixa muita coisa relevante de fora, com a agravante de rapidamente se tornarem o objectivo e razão únicos que organizam todo o processo de ensino e de aprendizagem.
(Desculpem a extensão da prosa).
Dezembro 1, 2008 at 9:52 pm
Rui:
não conseguirei responder agora ponto por ponto, pois tenho que acabar de fazer 1 teste que vou dar amanhã.
Se existisse algo parecido a esse sistema, critérios pedagógicos como a continuidade pedagógica teriam de se sobrepor a outros critérios menos… digamos.
relativamente a disciplinas mais práticas vê o que escrevi no comentário 6. – Os exames nacionais só são importantes porque são uma forma fácil de fazer avaliação externa dos alunos. No caso dessas disciplinas teríamos que arranjar outras formas de avaliação externa – o que seria bom por muitos outros motivos, para além da avaliação dos professores. Mas quais? Não sei bem…
Seja como for, que outra forma há de evitar a subjectividade dos avaliadores?
Toda a gente fala de relatórios críticos: ou esses relatórios são aprovados de cruz como os antigos (e não me venham dizer que aquilo era avaliação) ou são avaliados a sério e nesse caso vai ser uma balbúrdia onde toda a gente achará que tem razão, devido à falta de critérios objectivos.
Tenho de ir…Obrigado
Dezembro 1, 2008 at 10:08 pm
Alguém sabe responder-me a esta grande dúvida?
quem elabora os exames nacionais e as provas de aferição?
estive, no fds passado, numa formação na ESE e fiquei a pensar que eles estavam envolvidos na realização dessas provas. Será?
é que são todos defensores acérrimos do eduquês…
Dezembro 1, 2008 at 10:18 pm
Sou prof de Ed. Musical. Não é totalmente impossível realizar exames nacionais… mas é impraticavel,dadas as caracerísticas específicas da disciplina. explicando melhor: a parte teórica e auditiva pode ser aferida através de um teste realizado em simultâneo. A parte prática implicaria a execução vocal e instrumental.. individual.. ou estariam de parte as principais competências musicais.Pois.. não é fácil..
Dezembro 1, 2008 at 10:45 pm
Caro Carlos Pires.
Caro Carlos Pires
Bom esforço! Contudo, admitirá que dificilmente avaliará do mesmo modo dois professores cujos alunos conseguiram em exame externo a classificação que lhes foi atribuida internamente. Poderá perfeitamente acontecer que no primeiro caso a tal “coerência” se situe numa classificação baixíssima (em conformidade com a falta de valia e de trabalho do professor) e no segundo caso a mesma “coerência” confirme em alta o carácter excelente do trabalho do segundo.
Na busca do rigor e da justiça, não vamos tão facilmente por esse caminho…
Dezembro 1, 2008 at 10:54 pm
Não concordo mesmo nada.
Passávamos a preparar os alunos exclusivamente para exame, só para termos uma boa avaliação e não acho que essa seja a nossa função.
Preparar para exame é ensinar exercícios-tipo, ou seja, comer e vomitar num espaço de tempo pré definido.
Ensinar e aprender não é só isso. E seria nisso que se iria tornar a nossa função.
Atenção que nisso sou eu boa. Os “meus preparados” costumam, quando se empenham, ter notas super altas nos exames. Sei do que falo.
Dezembro 1, 2008 at 10:56 pm
“Poderá perfeitamente acontecer que no primeiro caso a tal “coerência” se situe numa classificação baixíssima (em conformidade com a falta de valia e de trabalho do professor)”- mas 1 aluno para ir a exame tem que ter pelo menos 10. Se depois consegue uma nota semelhante num exame nacional bem feito é porque afinal o prof lhe tinha ensinado alguma coisa.
De qualquer modo, esse nunca seria o único critério – como é óbvio e como está dito no texto.
Porque é que existem tantos preconceitos contra os exames nacionais e contra a avaliação externa?
Dezembro 1, 2008 at 10:57 pm
Em vez de exames (fora do 3º período) propus há uns dias o seguinte:
«São muito poucos os «maus» professores. Mesmo muito poucos. São os que não «ensinam» porque não sabem e os que não o fazem porque não lhes «apetece». E porque é que podem continuar a sê-lo? Porque não «prestam contas» a ninguém.
Há uma forma de simultaneamente se avaliar as escolas (e os seus professores) e de obrigar estes últimos a «ensinar». Sem criar exames a todas as disciplinas, todos os anos, com a carga burocrática e logística que implicam, há uma forma de aferir as aprendizagens – com testes dos conteúdos anuais programáticos para todas as disciplinas «teóricas», espécies de provas globais, (elaboradas pela tutela ou, melhor ainda, por um organismo independente especializado) durante o terceiro período, realizadas como se realizam os «exames intermédios» – à mesma hora para todas as turmas. A correcção destas provas, cujo peso seria exactamente o mesmo que o de um qualquer teste, ficaria a cargo do grupo de professores do nível/disciplina e não do professor. Esses resultados seriam posteriormente entregues a esse organismo que «reuniria» e divulgaria os dados (exactamente como se faz com os exames).
Quais as vantagens deste sistema?
1.permitiria aferir dos conhecimentos apreendidos pelos alunos nesse ano lectivo;
2.permitiria aos professores perceber dos desvios dos seus alunos relativamente à norma induzindo-lhes a «responsabilidade» de cumprir o programa e preparar os alunos;
3.permitiria às escolas analisar, detectar e, essencialmente, corrigir os problemas encontrados. Esta «correcção» seria não só dos professores que não ensinaram, mas também dos alunos que não «aprenderam». Permitiria com um razoável grau de fiabilidade detectar os alunos/professores que precisam de ser apoiados no ano lectivo seguinte.
Este tipo de «avaliação» não implica qualquer esforço acrescido, uma vez que este pseudo-exame apenas substitui um dos testes do professor. Obriga, por outro lado, todos os professores de um grupo à análise dos resultados obtidos pelos alunos. »
Dezembro 1, 2008 at 11:00 pm
Não há nenhuma incompatibilidade entre preparar os alunos para um exame bem elaborado e exigente e ensiná-los como deve ser (levando-os a compreender e não a decorar e promovendo o espírito crítico e autonomia).É possível fazer exames (e testes e fichas de trabalho nas aulas) que requeiram essas capacidades.
A ideia de que é incompatível é 1 preconceito veiculado pelos falantes e praticantes do “eduquês”
Dezembro 1, 2008 at 11:06 pm
#23
Lúcio Peixe,
Tem razão. Podia ainda acontecer que, defensivamente, alguns menos esforçados atribuíssem classificações internas injustamente baixas. Por isso eu proponho (#18) ainda uma correlação dos resultados externos obtidos pelos mesmos alunos em diferentes disciplinas e por alunos diferentes na mesma disciplina. É estatisticamente possível e válido determinar assim qual o contributo de cada professor para a origem das variações observadas, em função dos restantes resultados da turma (nas várias disciplinas)e de outras turmas (na mesma disciplina).
Caso os resultados sejam expressos de forma relativa, em % relativamente a uma média por disciplina/escola, por exemplo, é até possível comparar escolas diferentes com diferentes realidades sócio-económicas.
Isto permititria assinalar, pelo menos, os casos mais evidentes de sucesso e insucesso e agir em conformidade. Creio ser assim que se validam e comparam as classificações de diferentes instituições europeias de ensino superior no processo de bolonha, mas sobre isso não estou muito por dentro.
Dezembro 1, 2008 at 11:09 pm
Lúcio Peixe, por isso existe uma coisa chamada análise estatística. Hoje de manhã tinha escrito umas coisas sobre este assunto, da qual deixo um sumário:
Uma comparação caso a caso não funcionará mas desvios padrões elevados poderão identificar casos a ter em conta. Além disso, podem-se fazer várias comparações, com leituras diferentes:
1. a nota do aluno em exame vs. aquela que ele teve na escola;
2. essa mesma nota de exame vs. as notas de exame dos outros alunos dessa escola;
3. finalmente as notas dos alunos em exame dessa escola vs. as correspondentes notas a nível nacional.
Destas três comparações resultarão desvios padrões. A comparação 1) posiciona o desempenho do aluno na sua escola, face ao quadro nacional; a comparação 2) posiciona a nota do aluno no contexto da sua escola, permitindo relativizar essa nota em função do contexto sócio-económico da escola; a comparação 3) permite identificar escolas que precisam de reforço para superar eventuais problemas.
Definindo desvios padrão que se possam considerar aceitáveis, é possível identificar grupos de professores onde algo de anormal se passa para, depois, se avançar com análise caso a caso.
Dezembro 1, 2008 at 11:17 pm
#26
Qualquer forma de avaliação externa serviria para este modelo, incluindo provas orais ou práticas nas disciplinas em que isso fosse preferível. Como eu referi na minha proposta (#18) há até já vários exemplos implementados com sucesso.
Seria ainda, como refere, uma boa forma de fomentar a regulação das práticas sem as formatar demasiado, como pode acontecer com o actual modelo.
Dezembro 1, 2008 at 11:30 pm
#29
Jorge, referi esse seu post lá mais acima (#18) porque é muito idêntico ao que defendo há vários anos. É a primeira vez que o vejo defendido por outro colega. Sempre achei isso tão óbvio que começava a sentir-me meio ET. Mas deve haver outros que entendem a lógica da coisa, claro 🙂
Há até indicadores estatísticos válidos que permitem ir mais além que o desvio padrão. Isso seria fácil de implementar através de um programa informático disponibilizado a todas as escolas e interligado com o ENES (o dos exames) que fizesse automaticamente o tratamento de todos os resultados introduzidos.
Dezembro 1, 2008 at 11:31 pm
Caro Carlos Pires:
Não há no meu reparo (23) qualquer minimização da relevância dos exames; apenas pretendi alertar para a falibilidade do critério que tanto destaca na sua proposta: a “coerência” que tanto sublinha pode dizer muito pouco do esforço e desempenho do professor.
Dezembro 1, 2008 at 11:41 pm
Quem é melhor professor?
A. O que levou 20 alunos a exame e tiverem média de 14, a interna era de 15.5
B. O que levou 20 alunos e tiveram média de 11 no exame quando tinham interna de 11.5
Atenção aos desvios, os testes, regra geral, não pesam mais de 80% nas notas internas.
Estes dados devem ser uma das variáveis da avaliação.
Dezembro 1, 2008 at 11:42 pm
@Carlos Pires # 25
“Porque é que existem tantos preconceitos contra os exames nacionais e contra a avaliação externa?”
Falando por mim, não tenho qualquer preconceito. Penso que é bom que existam, mas que se deve ter consciência das suas potencialidades e limitações, não sobrevalorizando a sua importância.
@ Carlos Dias # 27
Também acho que não é incompatível os alunos estarem preparados para os exames e trabalhar com eles outro tipo de competências. Contudo, e volto a frisar, isso só é possível se os exames não se transformarem no ÚNICO elemento relevante a partir do qual se avalia o trabalho dos professores e da escola.
Quanto a isto: “A ideia de que é incompatível é 1 preconceito veiculado pelos falantes e praticantes do “eduquês”, acho que se tem abusado em demasia deste cliché. Há muita coisa má e a recusar em certas abordagens das “Ciências da Educação”, mas há muitas coisas boas na Pedagogia, enquanto síntese de investigação bastante credível em várias áreas afins: psicologia da educação, filosofia da educação, sociologia da educação, didáctica específica, etc. Ela é, na verdade, o que faz com que a nossa actividade seja uma profissão com conteúdo científico e técnico próprio. Se fosse só saber das matérias e preparar alunos para responder a exames, haveria muita gente que o poderia fazer (e que poderia ter opiniões fundamentadas sobre como deveríamos dar as aulas e fazer o nosso trabalho) sem nenhuma preparação específica a não ser a de carácter científico. Mas nós, além disso, temos que saber e fazer muitas outras coisas, não é verdade? É por isso que somos professores.
Dezembro 1, 2008 at 11:42 pm
Nesta análise dos resultados obtidos, ponderar-se-iam outras variáveis, como sejam as características diferenciadoras dos alunos até tendo em conta o nível socio-cultural dos pais…
Veja-se esta análise:
Click to access heranca.pdf
Este tipo de avaliação, que é simultaneamente externa e interna, permite «regular» com muita fiabilidade o desempenho da escola e do professor.
Dezembro 1, 2008 at 11:47 pm
(cont. de 35)
Enquanto que uma que se foque unicamente no professor (quer seja através do portefólio, auto-avaliação, relatório crítico, ou este disparatado 2/2008) perde a visão mais ampla – dos grupos disciplinares (que poderiam assim auto-regular-se) e, em última estância, a própria escola no seu todo.
Dezembro 2, 2008 at 12:16 am
Carlos Olim @31, só vi depois de escrever. Obrigado pela inclusão na classe docente mas a minha profissão é outra (IT).
Dezembro 2, 2008 at 3:20 am
A questão dos exames nacionais não é linear… nem um indicador fidedigno. Esqueçamos (se é possível esquecer!) o total disparate que norteou, no passado ano lectivo, a elaboração de certos exames. Leccionei turmas de 12º ano de Português. Foram meus alunos do 10º ao 12º. Conhecia-os bem. Muito bem. Foram 3 anos que me marcaram positivamente… não apenas como professora, mas pela ‘gente bonita’ com quem os partilhei. Exame… 1ª fase… estranho, pela insistência n’«Os Lusíadas». Não sendo o que esperavamos (Fernando pessoa… Saramago… Luís de Sttau Monteiro…)… em frente, minha gente! E foi o que eles fizeram! Resultados? Alguns excelentes… 18, 19. Outros nem tanto. O peso de 25% da oralidade na classificação final… gera diferenças grandes, uma vez que o exame é apenas escrito. Mas há ainda os outros… os que não aceitaram a estranheza da diferença entre a média com que foram a exame e a nota do exame. ‘Prof… é estranho. Acho que merecia mais’. E li provas e provas à porta da escola… e percebi… A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR CORRECTOR NA CLASSIFICAÇÃO. Digo-o aqui, sem o menor problema, que ajudei via msn… imensos alunos a elaborarem o seu recurso. Eu lia as respostas… via a cotação que lhes tinha sido atribuída… e nem acreditava.
Ainda guardo as fotos das pautas, tiradas com o telemóvel, que me enviaram pela madrugada… felicíssimos… a agradecerem.
Alguns subiram 3 valores: de 15 para 18. A nota com que tinham ido a exame.
E eu pergunto… comparar a avaliação interna com a externa diz o quê… SOBRE QUEM? Professor? Aluno? Corrector?
…
É, de facto, uma questão muito complexa…
Conceição Castro