Função pública vai trabalhar mais horas
Os funcionários públicos vão poder trabalhar até mais 15 horas por semana ou três horas por dia, mediante acordo colectivo. Esta é uma das medidas que integram a proposta de lei do Governo sobre o novo Regime de Contrato de Trabalho em Funções Públicas (RCTFP) a que o “Diário Económico” teve acesso e que prevê a adaptabilidade dos horários para os trabalhadores do Estado.
Claro que o modelo é algo terceiro-mundista, mas tudo bate certo: temos funcionários a mais, mas curiosamente os que existem precisam de trabalhar mais horas.
Trabalhando mais 3 horas por dia é óbvio que é necessário que as famílias tenham onde deixar as crianças guardadas. Apesar de se criticar o currículo escolar por sobrecarregar as crianças com aulas é necessário mantê-las por lá, pelo que é indispensável encontrar soluções baratas para ocupação do tempo, pelo que se arranjam AEC pagas ao preço do melão estragado por muitas autarquias.
E como o Estado foi (e ainda é) o padrão para a concessão de direitos sociais e laborais, a iniciativa privada irá certamente adoptar este mesmo modelo de organização dos horários de trabalho.
Pelo que a Escola Pública – aquela que presta um serviço universal de acolhimento a todos os que dela necessitam – precisa de se «reconfigurar» ou de adoptar um «novo paradigma» para que a generalidade das famílias, sujeitas a condições cada vez mais exigentes e precárias no mercado de trabalho, tenham menos uma razão de protesto e até encarem as iniciativas do ME como algo positivo, quando não passa de triste panaceia para um mal bem maior.
Mas tudo está bem quando os seus representantes aplaudem esta medida como um «progresso» e não como um mero sinal de estagnação de um verdadeiro desenvolvimento social que mais não faz do que caucionar a falência do nosso modelo (?) de desenvolvimento económico baseado na proliferação de superfícies comerciais, na realização de eventos, torneios de golfe, turismo e a Autoeuropa.
Lamento muito, mas se isto é o «modelo escandinavo» eu vou ali até Badajoz comprar caramelos e encher o depósito de gasolina e já volto.
Abril 7, 2008 at 11:54 am
oS PAIS ESTÃO OCUPADOS NA SUA VIDA ALTERNATIVA..~
Abril 7, 2008 at 11:55 am
Abril 7, 2008 at 12:07 pm
Ponto um: temos classes políticas mais preocupadas com o seu umbigo, do que propriamente com o progresso do país. Entre escolher uma medida popular sem valor algum, ou uma medida impopular que leve ao desenvolvimento, a maioria dos nossos políticos profissionais opta pela primeira. O nosso modelo parlamentar apenas fomenta a solidariedade partidária, em vez que favorecer a pluralidade e a independência. Não existe um rumo a longo prazo e alargado a todas as áreas chave de uma sociedade. As decisões são feitas ao sabor dos interesses, quer sejam partidários, pessoais ou económicos. Quando temos políticos que estando na oposição dizem isto, e quando estão no governo, já dizem aquilo, e vice-versa, está tudo dito…
Ponto dois: este é apenas um exemplo como o modelo capitalista começa a falir… Com o capitalismo, veio muito dinheiro e progresso, vieram os direitos sociais, ganhos a muito custo, etc. Contudo, o capitalismo ultrapassou um certo limite: neste momento, leis são feitas com motivações puramente economicistas, os trabalhadores perdem direitos e voltamos a uma época em que eram quase escravos (isto da mobilidade ou de horários flexíveis são formas subtis, ou não, de escravatura), grupos económicos estão por detrás de muitas “reformas”, etc. O capitalismo está a transformar-se num monstro controlador.
Vejamos:
– os trabalhadores cada vez têm horários mais flexíveis;
– protestam, mas tudo se mantém;
– mais horas de trabalho, menos tempo em casa;
– menos tempo em casa, sem tempo para os filhos;
– sem tempo para os filhos, alguém terá que ficar com eles;
– se alguém tem que ficar com eles, que melhor sítio que a escola, onde ainda por cima não pagam;
– se o melhor sítio é a escola, os professores que fiquem com eles, que é o seu “trabalho”;
– e se os professores têm de ficar com eles, que se lixem os seus direitos, já que os outros trabalhadores também perderam os seus…
E o governo, nestas guerrilhas sociais, faz o que quer, poupando cada vez mais dinheiro à custa dos trabalhadores (mas não de quem realmente ganha dinheiro), e os portugueses caminham alegremente para a fogueira, sempre pensando que se eu me lixo, os outros também têm de se lixar, não percebendo que apenas se consegue mudar realmente algo, quando todos estão unidos…
Abril 7, 2008 at 12:09 pm
às vezes quase que tenho saudades das fp!…
Abril 7, 2008 at 12:13 pm
Calma bigbrother.
Antes de mais, o método é errado (não estou a ser pc – politicamente correcto), acho mesm,o que não é por aí.
Em seguida, mesmo que não fosse, o fanatismo de quem entra por aí raramente permite alumiar correctamente a origem dos males, pois está tudo enviesado ideologicamente.
Abril 7, 2008 at 12:26 pm
Há anos na revista Time vinha uma lista, por países europeus, dos dias do ano que os trabalhadores da indústria gastavam em faltas, feriados e até atestados médicos. E qual eara o país onde havia mais faltas destas? (rufem os tambores…)
A Alemanha! Isso mesmo, o motor económico da Europa!
Isso é um sinal claro que a ênfase para o desenvolvimento deve estar na organização e não no trabalho escravo ao serviço de empresários e políticos pategos. Os trabalhdores potugueses, quando emigram, são muito elogiados.
Que foi feito dos milhões que vieram da CEE?
Lembram-se daquele megaprojecto de estufas, na costa alentejana, que deu para muitas notícias e propaganda na comunicação, e que ia criar muitos postos de trabalho? Que foi feito dele, e dos milhões gastos?
Este e outros casos dariam para bons artigos de jornalismo de investigação. De qualquer forma, mais tarde ou mais cedo a história encarregar-se-á de avaliar a classe política que nos tem calhado em sorte (azar).
Abril 7, 2008 at 12:28 pm
Isto está a assumir contornos de um filme de terror. Será que o retrocesso das oito horas de trabalho diário foi outra das promessas eleitorais de Sócrates, ou um ponto do programa do Governo que não tenha reparado por distracção?
Abril 7, 2008 at 12:28 pm
Tribunal Constitucional declara inconstitucional artigo do novo ECD
“Declarar a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral, da norma contida no artigo, 15.º n.º 5, alínea c) do referido Decreto-Lei n.º 15/2007, por violação do nº 2 do artigo 47.º da Constituição.”
Alguém sabe alguma coisa sobre esta notícia?
Abril 7, 2008 at 12:33 pm
Só 50 horas semanais? Eu até acho pouco. O governo devia era promulgar a lei das 75 horas de trabalho, permitindo generosamente que se recebesse apenas as horas contabilizadas formalmente. Ficaria muito feliz se o senhor ministro da Solidariedade Social se dignasse aceder a este meu pedido, já que tenho alguma dificuldade em sair do meu local de trabalho.
Feito no Alto de S. João, Lisboa, onde espero receber em breve, de forma muito cordial e amável, os dignos membros e representantes deste ilustre governo.
Abril 7, 2008 at 12:47 pm
Muito bem dito (e escrito, obviamente) Paulo. Pode ser que assim, alguns pais percebam que os objectivos do governo não têm em conta o melhor para as crianças mas sim legitimar com falsos pretextos a exploração das pessoas para desse modo manter o excelente nível de vida deles e dos amigos.
Bj e boa semana!
Abril 7, 2008 at 1:08 pm
então porque será que isto acontece?
“A revista Fortune elegeu este ano o Google como empresa que oferece melhores condições de trabalho aos seus funcionários. Os funcionários do Google dispõem de diversos benefícios como refeições gratuitas, serviço de lavanderia, massagens, piscina, lavagem de carros, entre outros. Os funcionários ainda tem o direito de ocupar 20% do seu tempo com projetos independentes.O Google recebe mil currículos por dia, emprega hoje 9500 empregados em todo o mundo e, em 2006, obteve lucros na ordem dos 10 milhões de dólares.”
quando for grande quero trabalhar na google
Abril 7, 2008 at 1:28 pm
O que é que a Joana psicóloga dirá à Amaral mãe sobre a Dias professora ??
Qualquer coisa sobre a necessidade de a mâe se realizar através da satisfação dos seus desejos mais íntimos, sem qualquer sentimento de culpa por deixar o filho na escola o tempo necessário para o encontro com o seu verdadeiro self imanente, que nada tem a ver com o amor burguês que o capitalismo selvagem, através de personagens anacrónicas e reaccionárias, tentam ainda impôr como limites ao pleno desabrochar do império das emoções libertadoras.
A professora deve, por seu lado, colaborar nesta revolução de costumes e colocar-se num plano de igualdade com os seus alunos, para poder romper de vez com a escola do passado e mergulhar na emancipação das relações livres de culpa e de constrangimentos morais que a sociedade burguesa representa.
Abril 7, 2008 at 1:35 pm
ahahahahahahahah…!
Abril 7, 2008 at 2:26 pm
Em Inglaterra e no País de Gales, professores em greve por questões salariais.
Curioso (ou não) é o argumento utilizado pelo governo britânico sobre os eventuais efeitos da greve. Soa vagamente familiar… :-))
Abril 7, 2008 at 2:26 pm
Ups, esqueci-me. O link para a notícia: http://uk.news.yahoo.com/pressass/20080404/tuk-strike-could-shut-half-of-schools-6323e80.html
Abril 7, 2008 at 2:45 pm
“E como o Estado foi (e ainda é) o padrão para a concessão de direitos sociais e laborais.”
Direitos sociais e laborais que não são mais do que a instituição da escravatura social e laboral.
Abril 7, 2008 at 3:32 pm
Pró jaime: Mas alguém duvida que os tipos que nos (se) governam são uma cambada de incompetentes que só olham para as suas conveniências e que à semelhança dos tipos do ancien règime se acham imbuídos de uma missão divina que é governar essa cambada de iganros que são as massas populares, os coitadinhos os tadinhos,…que somos nós (no seu entender…) os governados! Protestamos , protestamos e depois no dia do Juízo lá vai tudo deitar o papelinho ou nos Regeneradores ou nos Progressistas, e lá anda tudo na mesma à roda, à roda, : sai daí que agora sou eu!!Como eu gostava que por uma vez os portugueses ou fizessem como o Saramago escreve, ou votar tudo noBE ou no PCP ou até (já estou por tudo…) no CDS. POrque convenhamos : NÃO É A MAIORIA QUE É SILENCIOSA! O QUE SE PASSA É QUE O GOVERNO É SURDO!!!!
Abril 7, 2008 at 5:07 pm
Um destes dias estive a falar com um prof alemão do ensino secundário. Se soubessem o tempo livre que ele (eles) têm, ficavam espantados/as. Lá, na Alemanha, partem do pressuposto que os professores têm de ter tempo para ir a museus, a concertos, para lerem e estarem actualizados. Para isso têm de ter tempo livre e capacidade financeira. Claro que tem que ver com a cultura e com a “tradição”… Mas é evidente, e sabido, que a qualidade global de um “sistema” complexo é mais importante para o sucesso dos beneficiários desse “sistema” (neste caso os alunos) – e para o sucesso e sobrevivência do próprio “sistema” – que a quantidade de horas que os trabalhadores/professores individualmente possam ser obrigados a oferecer às escolas. Quando um sistema parte de elevados padrões a qualidade e a exigência impôem-se “per si”. Se se tentar impô-las artificialmente será obviamente uma tentativa falhada. Nada disto tem que ver com a existência ou inexistência de processos de avaliação porque se trata de dado “cultural” que subjaz (ou não) ao próprio sistema. Ao fim de décadas de embrutecimento, de bovinização, não é possível – com um ou mil processos de avaliação – mudar radicalmente um sistema de ensino que sempre desvalorizou a qualidade em favor das estatísticas e de uma artificial democratização.
Abril 7, 2008 at 6:07 pm
Enquanto outros países europeus promovem políticas de protecção à família incentivando um dos cônjuges a trabalhar em “part-time” com benefícios sociais, o nosso governo caminha em sentido oposto, mais horas de trabalho e mais flexibilização de permanência no emprego. A família neste país passou para 2º plano. Depois não digam daqui a 10 anos que somos um páis de velhos.
Realmente temos um PM de vistas curtas com formação de enciclopédia barata!
Abril 7, 2008 at 6:46 pm
Vamos lá ao que interessa:
O acórdão n.º 184/2008 do TC declara «a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral», da norma do artigo 15.º, n.º 5, alínea c) do Decreto-Lei n.º 15/2007 por considerar que viola o direito constitucional à protecção da saúde ao estabelecer que na altura do concurso só poderiam concorrer docentes em prestação efectiva de funções, desconsiderando, por exemplo, professores que se encontrassem na altura doentes.
O Decreto-Lei n.º 15/2007 estabelece o estatuto da carreira dos educadores de infância e dos professores dos ensinos básico e secundário, bem como o regime jurídico da formação contínua de professores.
«Como se se tratou de um concurso extraordinário e irrepetível, realizado em Junho de 2007, significa que o concurso a professor titular decorreu ferido de inconstitucionalidade e há professores que estando em condições de ser professor titular, atingindo o topo da carreira, hoje não o são» , revelou o dirigente da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, em conferência de imprensa.
Mário Nogueira disse, também, que em 30 de Abril de 2006 se encontravam em situação de dispensa de componente lectiva 3.185 professores, «a maioria dos quais de topo de carreira e em condições de candidatura a professor titular, mas que foram inconstitucionalmente impedidos de o fazerem».
«O Ministério da Educação (ME) levou por diante um concurso que tem uma norma que o fere de inconstitucionalidade e neste caso já não é passível de recurso. A teimosia do Ministério terá excluído cerca de 3.200 professores simplesmente porque estavam doentes» , afirmou o sindicalista.
Para Mário Nogueira, esta decisão do TC «além de ser uma derrota política terrível mostra que a teimosia do Ministério é infinita».
«Ou o Ministério da Educação anula o concurso de professor titular e faz um novo concurso, ou tem de abrir um concurso para estes milhares de titulares e aí tem de simular as condições de candidatura no momento em que não puderam concorrer» , disse, considerando que «estes professores que tinham vaga têm de entrar sem que os que não deveriam então ter entrado percam o lugar».
Por seu lado, fonte do Ministério da Educação disse que o «ME cumprirá a decisão do Tribunal».
Abril 7, 2008 at 7:16 pm
pERGUNTO-ME SE OS FILHOS SERÃO MESMO DO SÓCRATES OU SE LE FEZ COMO ESTE
Abril 7, 2008 at 7:21 pm
Elucidem-me lá : não houve pessoas que lutaram pelas oito horas de trabalho??? Isso foi quando??? è que estou tão baralhada que me sinto a fazer uma viagem ao passado… algo longínquo…Também deve haver estudos que descobriram que, quantas mais horas no local de trabalho, mais alegres e produtivos são os trabalhadores… EStamos a falar de alguns sorôs sem família???
Abril 7, 2008 at 7:35 pm
Isso foi no século passado agora lutamos para não morrer a trabalhar…
Abril 7, 2008 at 7:42 pm
rendadebilros
Confirmar aqui.
Abril 7, 2008 at 8:06 pm
rendadebilros
Nome do filme- salvo erro: Regresso ao Passado.
Estamos de regresso ao século XIX, sem direitos nenhuns. É o Neo Liberalismo Socialista deste Ps, com uma metralhas Esquerdozoides sem ideologia nenhuma
Abril 7, 2008 at 8:11 pm
Segundo o sistema de Indigenato em África, o slogan “o trabalho civiliza”, em Auchwitz, “o trabalho dignifica”… O mundo gira e eis que emergem os novos “escravos”. Segundo o comentário 23, do bigbrother, efectivamente, vamos entrar na fase do “lutamos para não morrer a trabalhar”… Não foi o Sampaio que disse que na Finlândia os professores trabalham 50 horas semanais? Essa, deve vir a seguir…
Abril 7, 2008 at 8:16 pm
Excelente dica, António Ferrão!
Abraço,
M.
Abril 7, 2008 at 8:23 pm
E estes textos também são importantes [bem sei que o Paulo já os referiu mas … para avivar memórias ;)]…
A agenda oculta da educação (parte I)
A agenda oculta da educação (parte II)
A agenda oculta da educação (parte III)
A agenda oculta da educação (parte IV) – O destino final
em http://reinodamacacada.blogspot.com/
Abril 7, 2008 at 8:40 pm
um dia a civilização ocidntal extingue-se, tal como o Imério romano:
-causas internas: “suícidio das gerações jovens” optam crecentemente por não ter filhos; semtempo, sem energia anímica; sem amor pelo outro e pior por si próprio.
-causas externas: invasões e miscigenação de culturas civilizacionais muito distintas e em conflito de valores.
QUAL A MAIS GRAVE?
-as causas internas, que este governo adopta convencido que não alastra aos seus filhos, cego em quem teima em não ver!!
Um dia dentro de cem ou duzentos anos a população da Terra será metade de hoje e não o oposto!
Ter filhos hoje é um acto de heroísmo, e os meus filhos não nasceram para ser escravos,
é por eles a nossa luta;
não passarão!
Abril 7, 2008 at 8:40 pm
Os Convencidos da Vida- TRABALHADORES DA SILVA, CONTRA MARÉ, PROF 2000 ETC..
Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.
Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força.
Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista.
Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?
Abril 7, 2008 at 8:46 pm
Não, não vou por aí
“Vem por aqui” – dizem-me alguns com os olhos doces,
estendendo-me os braços, e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
quando me dizem: “vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
(há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
e cruzo os braços,
e nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
-Que eu vivo com o mesmo sem vontade
com que rasguei o ventre a minha mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
por que me repetis: “vem por aqui”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
redomoinhar aos ventos,
como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
a ir por aí…
Se vim ao mundo,
foi só para desflorar florestas virgens,
e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
e vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! tendes estradas,
tendes jardins, tendes canteiros,
tendes pátrias, tendes tectos.
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca princípio nem acabo,
nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um atomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
-Sei que não vou por aí!
Cântico Negro, José Régio
Abril 7, 2008 at 9:40 pm
“Não me puxem pela manga. Vão para o inferno sozinhos” F Pessoa
Abril 10, 2008 at 3:23 pm
Não percebo porque tanta gente continua a questionar a validade da escola a tempo inteiro.
A mim, dá-me um jeitão terrivel.
Passo a explicar:
sou eu quem giro o meu próprio tempo. Quando me apetece deixo o trabalhinho para o dia seguinte para poder ir beber um copito com os/as amigos/as, um jantarzinho a dois bem romântico, um cinema ou simplesmente ir para casa “pôr outras coisinhs bem gostosas em dia” sem a presença irrequieta e irritantes dos miúdos.
É preferível tê-los na escola até às tantas, àgurada de profissionais que percebem do ofício em vez de irem para os “shoppings” ou sabe-se lá para onde.
Se estiverem na escola eu estou mmais descansado, mais à vontade para curtir a vidinha longe dos fedelhos e sem stress.
Escola a tempo inteiro?
Apoio! E de preferência 24h por dia. Assim os profs tb não têm tempo para irem gastar fortunas em férias no estrangeiro cm tantos dias sem fazer um caracol que por cá têm!
E se esses “malandros” não concordarem, então o PM que ponha a Maria de Lurdes e a sua governanta, a drª 50000, a tempo inteiro, a tomar contas destes “despudorados”
Disse!