Função pública vai trabalhar mais horas

Os funcionários públicos vão poder trabalhar até mais 15 horas por semana ou três horas por dia, mediante acordo colectivo. Esta é uma das medidas que integram a proposta de lei do Governo sobre o novo Regime de Contrato de Trabalho em Funções Públicas (RCTFP) a que o “Diário Económico” teve acesso e que prevê a adaptabilidade dos horários para os trabalhadores do Estado.

Claro que o modelo é algo terceiro-mundista, mas tudo bate certo: temos funcionários a mais, mas curiosamente os que existem precisam de trabalhar mais horas.

Trabalhando mais 3 horas por dia é óbvio que é necessário que as famílias tenham onde deixar as crianças guardadas. Apesar de se criticar o currículo escolar por sobrecarregar as crianças com aulas é necessário mantê-las por lá, pelo que é indispensável encontrar soluções baratas para ocupação do tempo, pelo que se arranjam AEC pagas ao preço do melão estragado por muitas autarquias.

E como o Estado foi (e ainda é) o padrão para a concessão de direitos sociais e laborais, a iniciativa privada irá certamente adoptar este mesmo modelo de organização dos horários de trabalho.

Pelo que a Escola Pública – aquela que presta um serviço universal de acolhimento a todos os que dela necessitam – precisa de se «reconfigurar» ou de adoptar um «novo paradigma» para que a generalidade das famílias, sujeitas a condições cada vez mais exigentes e precárias no mercado de trabalho, tenham menos uma razão de protesto e até encarem as iniciativas do ME como algo positivo, quando não passa de triste panaceia para um mal bem maior.

Mas tudo está bem quando os seus representantes aplaudem esta medida como um «progresso» e não como um mero sinal de estagnação de um verdadeiro desenvolvimento social que mais não faz do que caucionar a falência do nosso modelo (?) de desenvolvimento económico baseado na proliferação de superfícies comerciais, na realização de eventos, torneios de golfe, turismo e a Autoeuropa.

Lamento muito, mas se isto é o «modelo escandinavo» eu vou ali até Badajoz comprar caramelos e encher o depósito de gasolina e já volto.