Já dormi sobre o assunto, depois do convite de ontem para ir hoje ao programa Prós & Contras da RTP1. Tinha pedido umas horas – e uma soneca – para decidir o que fazer, pensei agradecer a simpatia e declinar.

São mais os contras na balança do que os prós, sendo que estes para mais seriam de valor relativo menor: um mistozinho de vaidade que sempre nos invade e a vaga esperança de conseguir dizer um ou dois soundbytes incómodos. São demasiadas horas de antecipação para acto tão rápido, mesmo que praticado a preceito.

O modelo do programa não me agrada muito. Na sua abrangência e alongamento, acaba por cansar e não facilita um debate articulado entre as posições em confronto, em especial quando os intervenientes preferem apresentar as fórmulas públicas dos grupos que representam. A parte de ser em directo é a que me agrada mais, pois permite apanhar os intervenientes de surpresa, ver-lhes as reacções, os incómodos, os embaraços.

Se é boa a diversidade de perspectivas, entrecruzá-las todas, em pequenas fatias, provoca demasiado ruído. Metade do tempo com metade das presenças (um terço?) seria uma boa opção para se perceber bem o que cada um acha e existir possibilidade de um contraditório imediato. Faltam quase sempre as follow-up questions.

  • Por exemplo, que os representantes do ME explicassem o que este Estatuto contém de específico que previna e melhore o combate à indisciplina e absentismo.
  • Que os representantes dos pais explicassem quantas acções de sensibilização parental desenvolveram este ano lectivo sobre a matéria.
  • Que o coordenador do Observatório para a Segurança Escolar explicitasse a fundamentação da exclusão de certas ocorrências nos registos oficiais.
  • Que alguém justificasse porque uma agressão feita a meio metro do portão de uma escola não conta para as estatísticas do ME, mas para as do MAI, se for reportada, e mesmo assim nem sempre.

Estas são questões que eu gostaria de ver respondidas, sem que os visados pudessem escapar com fórmulas vagas. Ora esse não é o meu papel, mas sim o da moderadora. O papel do pessoal da plateia é falar quando isso lhes é concedido, sendo anátema entrar em diálogo ou usurpar funções. Muita parra para pouca uva.

Para além de que não sou especialista instantâneo em tudo (não é que isso tenha impedido dezenas de opinadores de falarem e escreverem sobre o tema nestas duas semanas) e no caso da indisciplina e violência há que ter o devido equilíbrio entre a análise global e a descrição de casos concretos ilustrativos. Isso demora um pouco de tempo. Nem sempre é possível. E o tema não faz parte das minhas prioridades mais imediatas em termos de discussão em matéria de Educação. É apenas o assunto do momento. Mais nada.

E depois nem sempre sou cortês. As minhas posições públicas são bastante próximas das privadas. Não anuo com facilidade para evitar «desconfortos». Por isso, aconselharia a prudência que me abstivesse.

O problema é que me acabaram de garantir alguma liberdade de movimentos.

E agora?

Aceito?