O curto texto, em especial com o recurso às citações em causa, que David Justino produziu sexta-feira passada no 4-República termina inopinadamente com um «Chega por hoje».

Por acaso não deveria chegar.

Acho eu. Porque esta forma vaga de deixar no ar que «algo» virá a ser dito, em especial na actual conjuntura, pode ser um factor de imensa especulação.

Como não posso lá comentar com a minha identidade do WordPress (ainda não activaram por lá as Open ID), deixo aqui prosa de Ramalho Ortigão a propósito de uma enésima discussão sobre reformas educativas na Câmara dos Deputados, prévia à de Oliveira Martins em coisa de uma mão cheia de anos, onde se prova à saciedade que a Escola a Tempo Inteiro é novidade com coisa de 125 anos, assim como a ideia de uma reforma relâmpago eficaz, ou não fosse Ramalho um homem de ideias e farpas certeiras.

Para que o Liceu operasse ao cabo de um ano de exercício a reforma completa ou a aniquilação absoluta de todos os colégios de Lisboa, bastaria simplesmente, quaisquer que fossem os programas de ensino, que no liceu se estabelecesse a seguinte ordem interna. Isto é: Que se prefixasse a hora da entrada às 8 horas da manhã e a saída ás 5 da tarde. Que uma parte do pessoal docente fosse revezadamente obrigado a permanecer no edifício durante esse espaço de tempo. Que desde o momento da primeira chamada, até ao momento da saída, nunca mais o aluno fosse abandonado pela vigilância dos seus pedagogos. Que ao meio-dia uma sopa quente e uma sanduíche de carne fosse ministrada aos alunos pelo preço do custo e que, em todo o tempo restante, o trabalho fosse devidamente distribuído pelo estudo dirigido pelos mestres nas salas de estudo, pelas lições nas diferentes aulas, pelos exercícios ginásticos, ou mais vantajosamente, pela ginástica aplicada a um ofício mecânico obrigatório para todos os alunos matriculados na escola, pelo exercício militar, pelo solfejo, pelo canto coral. (Ramalho Ortigão, Farpas Escolhidas, p. 311)

Como se vê a tríade MLR/VL/AA nada inventou de novo.

Acima já se encontram bem descritos e desenvolvidos os conceitos de:

  • Escola a tempo inteiro.
  • Ocupação plena dos tempos escolares.
  • Actividades de enriquecimento curricular.
  • Ensino profissional.

E julgo mesmo que nas entrelinhas estará implícito o sistema das substituições e, se seguirem mais na leitura original, perceberão que a divisão entre professores efectivos e agregados pode assimilar-se à existente entre professores-titulares e professores-só. Assim como se nota um cuidado em fornecer uma refeição quente aos jovens, numa sugestão precursora das actuais medidas de apoio aos alunos mais carenciados.

Portanto, se em matéria de queixas e diagnósticos catastróficos temos um século e tal de prática, em matéria de soluções ideais não nos ficamos atrás.

Afinal, a a roda (neste caso educativa) já foi inventada há muito.

smile.gif