Já que não se percebe como a tutela pensa envolver todos os interessados na discussão do novo modelo de gestão escolar, para além do espaço reservado no site do ME para quem quiser deixar o seu contributo, parece sentir-se a necessidade em muitos de nós de conhecer melhor o novo modelo proposto para a gestão das escolas públicas, assim como de debater a solução apresentada.
Se com os contributos que foram deixados para o Debate Nacional sobre a Educação foi o que se viu (tudo na gaveta), com todo o aparato formal que teve, já sabemos que neste caso a “consulta pública” não passará de uma formalidade com um sentido: o ME apresenta a sua proposta, os parceiros e o vulgo lêem-na e está tudo resolvido. Acertam-se umas vírgulas, emendam-se as incongruências mais disparatadas e o projecto faz-se lei com todas as suas insuficiências, equívocos e contradições com outros diplomas legais em vigor.
Pelo menos com o RAAG houve algum cuidado em, gostássemos ou não do projecto, tentar explicá-lo às pessoas, com sessões abertas ao público interessado e mesmo com debates sobre o tema. Podiam não ser as melhores iniciativas – assisti a uma perfeitamente caricata com um técnico superior do ME, apoiado num powerpoint, que não aceitava interrupções na sua exposição e escrutinava as questões a que não respondia – mas era alguma coisa.
Agora adivinha-se pouco mais do que nada: um destes dias alguém do ME reúne-se com os “parceiros” e dessa reunião sairão sindicatos zangados, Confap feliz e a ANMP a pedir mais dinheiro. Consta que o Conselho de Escolas emitirá um parecer, mas desconhecem-se os trâmites para a sua elaboração.
Por isso mesmo é necessário que algo mais se faça, em tão curto espaço de tempo. E nesse sentido a Isabel Guerreiro enviou-me no passado domingo o mail que passo a transcrever na íntegra (e a que já aludira em post anterior):
Olá Paulo
Não me conheces mas como tu sou professora e descobri há pouco tempo o teu blogue, onde me revejo (como muitos outros colegas aliás) nas tuas tomadas de posição perante o descalabro que tem sido a actuação deste governo no campo da educação.
Ao mesmo tempo constato, com desânimo, que muitas das vozes de protesto que se ouviam/liam se remeteram ao silêncio (de mim falo) ou andam por aí espalhadas pelos vários umbigos da blogosfera.
Esta notícia do Público (ver anexo) não é uma surpresa e faz antever a machadada final que se preconiza para a escola pública, republicana e laica.
Penso que, se não fizermos alguma coisa agora, será muito difícil reavê-la mais tarde.
Sabemos como é a nossa “classe” e os nossos “sindicatos” mas ninguém me convence de que esperarmos de braços cruzados é a única alternativa.
Por que não esquecermos as divergências pontuais de alguns professores e pedagogos mais lúcidos e activos da nossa (pobre) praça (estou a pensar em Santana Castilho, Mithá Ribeiro, Amélia Pais e outros tantos que certamente conhecemos) e nos reunimos para tomar uma posição firme e clara perante tudo isto?
O projecto de lei vai estar em debate público durante o mês de Janeiro, não há tempo a perder.
Um dos pontos de partida poderia ser um abaixo-assinado on line que permitisse também agregar o maior número de pessoas em torno desta questão central para a democracia, de modo que, mesmo o governo leve avante o seu projecto, se possa constituir um grupo mais ou menos organizado de resistentes.
A escola pública tem de ser uma questão transversal de cidadania acima de lógicas “politiqueiras” mesquinhas!
Uma vez que muitos colegas nossos frequentam o teu blogue, deixo-te este desafio: não queres tomar a iniciativa de promover um debate público aberto sobre esta questão (não faltarão espaços onde um evento desses possa ter lugar)?
Isabel Guerreiro
(professora de educação musical)
Como a ideia é boa, reencaminhei este mail para uma dúzia de colegas, autores de blogues e não só, no sentido de auscultar ideias e se procurarem propostas de acção concreta para as próximas semanas. O Fernando Martins divulgou a ideia no Geopedrados, o Miguel Pinto fez o mesmo, acrescentando a sua opinião no outrÒÓlhar, o José Matias Alves já vem abordando o assunto há alguns dias no Terrear, assim como já terão aparecido entretanto outras prosas em outros blogues, à medida que fui recebendo resposta aos mails e comentários aqui no Umbigo por parte de pessoas de que não tenho o contacto directo.
Neste momento, e para facilitar, eu sintetizaria algumas das opções em aberto, para serem concretizadas em rede ou isoladamente, a partir da ideia original. Nos próximos dias (até final da semana) irei tentar sistematizar prós e contras e avaliar da exequibilidade de cada uma.
- Realização de um encontro de âmbito nacional sobre o tema, organizado a partir da blogosfera, mas com ancoragem em grupos locais/regionais de professores.
- Realização de uma rede de encontros locais/regionais deste tipo, com um calendário adequado às possibilidades de cada grupo dinamizador, reunindo-se no final os diversos contributos.
- Sensibilização dos órgãos de gestão das Escolas/Agrupamentos e Centros de Formação para a realização – em prazo útil – de iniciativas destinadas ao debate do tema.
- Organização de um abaixo-assinado/petição online para que o debate em torno desta legislação seja mais alargado.
- Produção de materiais sobre o tema para um suplemento especial do Correio da Educação a publicar na segunda/terceira semana de Janeiro, sob coordenação do J. Matias Alves.
- Abordagem sistemática do diploma apresentado pelo ME, assim como do modelo de gestão da Escola Pública nos blogues.
Penso que, no essencial, são estas as ideias que até ao momento recolhem maior consenso, sendo evidente que quase todos os que se pronunciaram parecem concordar que, mesmo articulando esta iniciativa com organizações existentes, deveria ser algo que emanasse directamente dos professores e da sua vontade de participar na discussão do seu futuro, sem filtragens hierárquicas/organizativas, que possam desvirtuar a sua espontaneidade ou tornar mais fácil a sua catalogação por parte de quem gosta de ver o mundo apenas a preto/branco ou vermelho/verde.
Como iniciativa de Ano Novo a coisa é obviamente ambiciosa.
Pelo que me toca, e na medida das minhas possibilidades, a partir de amanhã penso começar uma série de textos sobre a proposta governamental de gestão escolar, da qual discordo em vários aspectos da sua fundamentação teórica, da sua dimensão prática e ainda da sua incongruência com diversa legislação existente,a começar pela LBSE. Esses textos serão sintetizados para uma crónica a inserir no Correio da Educação. Se estiver mesmo bem disposto colocarei os materiais produzidos aqui no blogue, incluindo este post, no espaço de propostas aberto pelo ME.
Na minha escola, onde tem sede um Centro de Formação, irei procurar saber o que se poderá realizar a nível local e, a partir daí, procurar perceber o que será possível alargar.
Claro que quem tiver essa possibilidade e principalmente os contactos certos, também deveria sensibilizar quem de direito nos órgãos de comunicação social de “referência”, escritos mas não só. Porque não conheço a agenda do Prós & Contras não sei se esta será uma temática a abordar proximamente.
Agora, é esperar de forma activa pelos próximos episódios.
Janeiro 1, 2008 at 12:36 pm
Que boa sugestão. Que haja mais “isabéis guerreiro” no nosso quotidiano educativo . Só não consigo entender como se poderá levar à prática o projecto no que diz respeito a “espaço” e “tempo”, já que os nossos horários de trabalho serão, certamente, pouco conciliáveis.
Janeiro 1, 2008 at 12:48 pm
Rectificação: “Já que a nossa mancha horária é diversa o que se traduz em dificuldades de tempo comum para debate”. (começo o novo ano completamente “disléxica”.
Janeiro 1, 2008 at 4:20 pm
Por mim pode ser um encontro ao fim-de-semana num local que convenha à maioria.
Janeiro 1, 2008 at 4:31 pm
Vejo com bons olhos este tipo de iniciativas. No entanto fico triste com a forma como se querem demarcar ou mesmo afastar das iniciativas sindicais. Continuo a pensar que os professores devem preservar e melhorar por dentro as dinâmicas sindicais existentes. Por alguma razão tanto aqui a nossa ministra como muitos políticos por esse mundo fora quiseram e tudo fizeram e fazem para derrubar os sindicatos. Porque será? Não contribuam para o mesmo objectivo mesmo que involuntariamente.
Estou convencido que poderiam convidar os sindicatos para estas iniciativas e até aproveitar as suas instalações em certos casos.
Janeiro 1, 2008 at 4:36 pm
Henrique, essas não são hipóteses descartáveis.
Obviamente.
A organização é que deve ser exterior às estruturas sindicais, mesmo se em articulação com elas.
Note-se bem no que escrevi, que foi feito com todo o cuidado. Quando se escreve “à margem das organizações existentes” isso é geral. Ler “sindicatos” é redutor.
Só que há que ser realista, Henrique: neste momento, e apesar das qualidades do Mário Nogueira ou do Dias da Silva, tudo o que eles disserem são old news.
A maioria já reage em piloto automático com o habitual “lá estão eles”.
São necessários outros caminhos para mudar as atitudes.
E se é para existir um abanão, esse abanão deve vir sem constrangimentos.
Note-se que o ME vai afastar os sindicatos da negociação em áreas sensíveis da vida dos docentes ou então finge que negoceia.
Arranjou um Conselho de Escolas para passar por representante das ditas e, por tabela, dos docentes.
Se não há uma reacção a partir das bases contra tudo isso, a capacidade de acção da classe é aniquilada.
porque é necessário fazermos aqui um pequeno exercício de cinismo: se o Governo afirma que os sindicatos não representam os docentes, depois não podem negar a estes que actuem à margem dos sindicatos. Se o fizer, isso é a admissão de que afinal os sindicatos ainda contam.
Tortuoso?
Nem tanto!
Janeiro 1, 2008 at 6:28 pm
Colega Henrique Santos
Ninguém se pretende demarcar ou deixar de demarcar dos sindicatos. O debate que urge promover tem que ultrapassar lógicas corporativas e sindicais, envolvendo o mais possível os diferentes sectores da sociedade. Os sindicatos serão todavia benvindos. designadamente, facultando, de imediato e sem custos, espaços onde tais debates se possam realizar.
Podes interceder nesse sentido junto de algum sindicato?
Janeiro 1, 2008 at 6:46 pm
Os meus Blogues (o Geopedrados, GeoLeiria, AstroLeiria, XadrezLeiria e Ciências Correia Mateus) divulgaram também este post. Esperemos que se consiga um debate, com tudo e todos e apesar da tentativa de impor o silêncio por parte do ME, incluindo naturalmente os sindicatos neste debate, apesar de, nestes dias, eles terem sua cotação pelas ruas da amargura por causa de alguns spin-doctors e erros do passado….
Vamos a isso!
Janeiro 1, 2008 at 8:58 pm
Paulo, como sabe, apoio esta iniciativa. Mas confesso que não deixei de ter algumas das preocupações do Henrique Santos. A hipótese de, pelo menos para os encontros regionais/locais que refere, pedir aos sindicatos a cedência de instalações parece-me boa ideia.
Janeiro 1, 2008 at 9:45 pm
A Escola é que está em causa, é na escola que têm de ser feitas as reuniões.
Só vejo como interessante uma série de reuniões feitas nas escolas, por comissões auto-organizadas a nível local.
Isso é fácil de se fazer, basta as pessoas que aqui se afirmam favoráveis a esse debate
requererem na sua escola a cedência de espaço para debate público (em horário pós-laboral).
Seria de todo o interesse que a sociedade toda – e não apenas «os profs» – estivesse envolvida pela iniciativa. Enquanto as questões da educação forem vistas como assunto «de profs», estamos mal.
Janeiro 1, 2008 at 9:59 pm
Essa mobilização local é importante, convidando as AP’s e representantes das autarquias, para sabermos ao que andamos.
E estabelecer uma rede de contactos mais alargada para troca das experiências e conclusões.
Janeiro 1, 2008 at 11:32 pm
O envolvimento e a implicação dos actores locais (Autarquias e Associações de Pais)parecem-me de grande importância estratégica.
Janeiro 2, 2008 at 12:01 am
Esta é uma iniciativa mais do que bem-vinda. Não me preocupa minimamente que ela seja feita à margem dos sindicatos. Se estou longe de aplaudir a forma como os sindicatos têm actuado ao longo de todo este processo, entendo, no entanto, que os movimentos ou iniciativas que lhes são exteriores não os devem hostilizar, até por razões pragmáticas (os sindicatos dispõem de meios e de canais de comunicação ou de influência que não são de menosprezar). Os movimentos autónomos dos professores são também formas de pressão sobre os sindicatos, e a verdade é que elas têm escasseado e tardado entre nós – e por isso, as insuficiências da acção sindical acabam por ser o espelho da nossa própria inércia. Há, contudo, duas ou três observações que a proposta do Paulo me merece. Concordo, em princípio, que o modelo de gestão das escolas seja o tema aglutinador das reuniões sugeridas. Afinal, trata-se de uma das poucas iniciativas legislativas do Ministério que não se converteu ainda em lei e que, portanto, ainda podemos travar (ou tentar travar). Mas creio que, se este movimento tiver sucesso e começar a agregar um número significativo de professores, poderemos passar a um patamar qualitativamente superior: o de procurarmos inverter o rumo traçado pelo Estatuto da Carreira Docente, partindo da noção de que nenhuma lei é irreversível. E por isso entendo – e este é o ponto em que discordo da metodologia proposta pelo Paulo – que as reuniões sugeridas não deveriam ser alargadas a outros supostos parceiros, nomeadamente associações de pais. Pelo menos nesta fase. Note-se que não me oponho, por princípio, a uma aproximação a outros actores no terreno. Simplesmente acho que, no estádio em que nos encontramos, conviria que a discussão se focalizasse no nosso papel e no nosso futuro, como classe profissional, em relação à escola pública. E, para isso, a mistura com outros grupos só virá criar ruído e confusão num momento em que já é tão difícil entendermo-nos sobre a mera necessidade de nos juntarmos.
Janeiro 2, 2008 at 12:30 am
Compreendo as preocupações de alguns colegas, expressas nos post anteriores; contudo, acho que é muito imoortante promovermos encontros de professores sem ser contextualizados nas instituições existentes (não querendo com isto dizer que devamos ignorá-las ou ostracizá-las); mas acho que seria um trabalho muito importante conseguirmos construir plataformas de entendimento entre nós.
A gestão escolar pode ser perfeitamente um tema aglutinador.
Por mim, estou pronto para dar a colaboração que acharem conveniente.
Janeiro 2, 2008 at 12:37 am
Penso que não será importante dispersarmo-nos com o formato ou o modelo, mas sim tentar encontrar a(s)forma(s) – e quantas mais, ou de mais sítios provierem, melhor – para que existam. Encontros, blogues, fóruns, participação de todos os envolvidos, de forma menos ou mais alargada. Com ou sem a participação dos sindicatos – concordando com o henrique, tb tenho a noção que posso pensar e falar, para além deste…
Enfim, acho que tudo será possível, desde que chegue a existir. E comigo, contem, por favor! 😀
Janeiro 2, 2008 at 9:59 am
Também sou da opinião que o debate, tal como afirmado no comentário de Mário Artur, deverá obedecer a um modelo organizativo- veja-se a grande produção legislativa e a ausência de iniciativas para, em conjunto, podermos trocar ideias e propor sugestões.
Tal modo de actuação não deverá ser interpretado como uma intenção de afastamento dos restantes parceiros sociais- a prestação dos pais no processo educativo é fundamental. No entanto, faz sentido, em minha opinião, um 1º estádio no qual reflectiriamos conjuntamente entre pares e um 2º estádio em que já poderíamos, após reflexão e sugestões amadurecidas, participar num debate mais ponderado e organizado com os restantes parceiros (pais ou outros).
Janeiro 2, 2008 at 10:11 am
Pelas diferentes sensibilidades expostas até aqui, parece-me evidente que o problema e os objectivos a alcançar, ainda não estarão muito claros: no fundo trata-se de discutir a ESCOLA ou OS PROFESSORES ?
Porque muito simplesmente uma coisa não se confunde com a outra e quer-me parecer que neste momento ainda persiste alguma tendência em encarar a ESCOLA como um reduto de CLASSE, talvez como uma fortaleza sitiada pelos hereges ou ainda como uma “conquista de Abril”.
Neste momento o Estado-Empresa, na sua formatação de Conselho de Administração do país presidido pelo PS, constitui o maior perigo para a sobrevivência da Escola enquanto instituição livre e geradora de liberdade, fundada no saber, na ciência, na tradição e na cultura.
A lógica de mercantilização planificada de todo o tecido social e relacional, a submissão de todas as actividades humanas à razão instrumental que está a ser prosseguida pela Nomenklatura do PS, combina a estratégia político-financeira do Capital mais agressivo com as práticas mafiosas de propaganda, intimidação e terrorismo.
Os sindicatos, tal como os actuais partidos existentes em Portugal, são reféns de um modo de fazer política que se identifica, no essencial, com a estratégia do actual PS. Com o CDS e o PSD a reclamarem menos Estado-Empresa e o BE e PCP a protestarem por mais Estado-Empresa.
Nenhuma destas organizações se preocupa com os interesses das pessoas reais, nem com o futuro das próximas gerações de portugueses, mas tão só com a imposição de modelos ideais, decalcados dos estiradores de engenheiros sociais, uns rendidos aos encantos da Disneylândia, outros ao charme da Gulaglândia.
Não espanta, por isso, que uns queiram o sistema educativo gerido ao estilo MacEscola, enquanto outros insistam em ver a escola como uma fábrica de almas talhadas pelo Estado.
Discutir a gestão das escolas implica pensar que tipo de ser humano queremos nós que exista como nosso interlocutor, como colega dos nossos filhos, como futuro cidadão e trabalhador deste país.
É uma questão essencialmente POLÍTICA, porque mexe com toda a organização e funcionamento da sociedade que representamos e queremos ver continuada pelos que nos sucedem.
Tomar as questões profissionais/corporativas como sendo as essenciais para a problemática da escola e ainda por cima misturar os sindicatos, não ajudará em nada a ver melhor o que está em jogo.
Janeiro 2, 2008 at 10:29 am
[…] Educação – O Novo Modelo de Gestão das Escolas: O Debate Necessário […]
Janeiro 2, 2008 at 11:50 am
Há uma iniciativa na blogosfera contendo o máximo de controvérsia, que me parece adequada a uma reflexão no programa Prós & Contras, se os convidados forem escolhidos à altura do debate. Refiro-me ao período de debate público da nova lei em preparação sobre a Gestão Escolar, que decorre até fim do corrente mês de Janeiro. Qualquer dúvida sobre a intensidade do conflito social que tal projecto de lei irá desencadear pode ser esclarecida visitando o site “A Educação do meu Umbigo”, do Dr Paulo Guinote, em https://educar.wordpress.com.
Mensagem ao programa “Prós & Contras da RTP. Quem quiser reforçar, tem um canal de comunicação aberto a realização através do endereço FALE CONNOSCO, Dúvidas, Sugestões, Opiniões – Tudo o que esperamos de Si! da RTP1.
Janeiro 2, 2008 at 1:21 pm
Eu já enviei – heresia – uma mensagem para o ME acerca disto.
Ai, ai, ai…
Quanto à questão levantada pelo H5N1, eu gostaria de salientar que a divisão entre “Escolas” e “Professores” é algo que não existe no seu estado puro, assim como “Escolas” não são sinónimo de “Professores”, sendo estes uma parte daquelas – a que podemos chamar grupo, com interesses próprios, que não me deslustra nada.
Neste caso o que está em causa é que os “Professores” enquanto tal – com ou sem a colaboração de outros “grupos” – discutirem o modelo de Escola Pública de que fazem parte, porque isso faz parte da sua actividade profissional.
Se em parte podemos considerar que essa será uma posição “corporativista”, so be it, que eu já estou imunizado contra esses chavões qualificativos que se usam para amedrontar alguém sempre se insurge contra medidas que o prejudicam.
Neste caso serão os “Professores” a tentar – sem pré-condições teóricas – discutir o modelo de “Escola” que lhes querem impor.
Meu amigo se por aí pode aparecer algo vagamente semelhante a recuperar um conceito funcional de “classe” (profissional) então é porque esse conceito ainda pode ter alguma operacionalidade.
Nesse aspecto concordo – o que é raro – com o João César das Neves que 2ª feirqa escrevia que quem endeusa a economia e a necessidade de fazer tudo obedecer aos interesses da economia, mais não faz do que validar – mesmo numaq perspectiva liberqal – o materialismo marxista.
Janeiro 2, 2008 at 1:47 pm
Lamento, mas há uma dissonância fundamental que passa pelo seio da «classe» docente.
É que eu não me identifico com aquilo que o H5N1 muito bem definiu como os favoráveis à MacDonaldização ou à Gulaguização da escola.
Eu identifico-me como cidadão, que também é professor. Não estou a querer discutir a gestão PEDAGÓGICA da escola, o que teria de ser mais ou menos reservado a uma discussão entre PARES. Estou a querer discutir a gestão escolar em geral, numa perspectiva cidadã…
Porque o debate é político, não pode ficar de fora ninguém. Os profs que queiram participar, que o façam, mas que não se ponham em bicos dos pés a fazerem-se valer da sua condição, dos seus pergaminhos, etc.
Afinal, porque é que tudo o que se passa em Portugal é essa «apagada e vil tristeza» que se vê: por um motivo, entre outros… é que os que podem não querem e os que querem não podem.
Janeiro 2, 2008 at 2:30 pm
Caro Manuel B.,
É por aqui que se vê sempre a dificuldade que há em fazer com que algo nasça em termos de discussão de questões educativas e professores.
Há os que receiam a participação dos sindicatos e os que lamentam se os afastamos.
O mesmo para as organizações de pais, etc, etc.
Neste momento, confesso que no meu caso o que mais me incomoda é o afastamento – imposto mas de certa forma quase aceite tacitamente – dos professores destas discussões que ficam reservadas a políticos, “especialistas” e “representantes”.
E neste momento há a necessidade de voltarmos ao terreno.
Sem hostilizar ninguém.
Sem bicos de pés.
Apenas discutir.
Se por questões operacionais é mais fácil faz~e-lo entre pares, isso não significa que não se faça igualmente com os “ímpares”.
Eu, pessoalmente, não tenho reservas a esse respeito.
A minha posição crítica em relação a sindicatos e Confap é conhecida aqui no blogue, o que não me impede de achar que também devem ter o seu espaço.
Só que a esses o ME já abre (ou ainda abre) as portas.
A nós, professores ou cidadãos interessados, é que não.
Janeiro 2, 2008 at 3:15 pm
Eu acho que está claro para todos que a discussão a realizar terá de ser a da gestão no seu âmbito global e não meramente a de aspecto pedagógico. LOgo, terá necessáriamente de ser uma discussão política em que se terá de deixar bem claro que tipo de cidadãos queremos formar, que tipo de sociedade é eta em que nos inserimos para então podermos também pensar qual o modelo de escola que se pretende criar.
Precisamnente porque é uma discussão de ordem política, passível de suportar várias opiniões (saudavelmente pois é na diversidade que vive a democracia), é que eu defendo que, inicialmente se deveria promover uma discussão entre pares afi de se tentar consensual o mais possível. Num momento posterior deveria ser aberta a todos os actores que queiram participar da discussão (e digo todos que queiram pois, indirecta ou directamente, toda a gente tem a ver com o sistema educativo); pais, encarreagdos de educação autarquias, etc.
Contudo, levando em linha de conta que se dispõe apenas do mês de Janeiro para se proceder a tal discussão, estaria disposto a “sacrificar” a primeira etapa, restringindo-a um pouco no tempo, a favor de uma participação mais alargada.
Janeiro 2, 2008 at 3:20 pm
Compreendo a posição do comentador nº 18 e, dado que sou persistente, certamente irei organizar uma lista de sugestões a enviar a FALE CONNOSCO, Dúvidas, Sugestões (…) da RTP1.
Quando afirmo ser persistente, apelo para a vossa memória: aquando da primeira intervenção de representantes do ME no “Prós e Contras”, tenho conhecimento de um significativo número de docentes que enviaram mensagens para esse espaço e a jornalista, no final, mostrou perante as câmaras uma pilha considerável de folhas A4, afirmando não ter havido oportunidade de as analisar.
Relativamente ao comentário número 16, limitar-me-ia a afirmar com toda a simplicidade (sou admiradora de Agostinho da Silva) que não consigo- nem será minha pretensão – ter uma visão dicotómica da conjuntura.
Janeiro 2, 2008 at 3:50 pm
O melhor espaço para a discussão não é num blog pois este artigo e outros rapidamente irão para o limbo dos arquivos e as opiniões expressas nos comentários, idem, ide, aspas, aspas.
O melhor é criar ou um Wiki algures (complexo se não se perceber nada de manutenção de Wikis) para a gestão e organização das acções OU criar um eGrupo (que tem várias potencialidades acessórias como acesso instantâneo a arquivos de mensagens, discussão via email e forum, fotos, agendas, sondagens e links) e que pode ser criado em http://br.groups.yahoo.com/
Bom ano e boa sorte (sim, que neste país é preciso acima de tudo SORTE).
Janeiro 2, 2008 at 4:01 pm
Ponto de ordem à mesa.
Como liberal-anarquista, entendo que qualquer cidadão pode e deve participar num debate sobre a coisa pública, desde que não venha armado de avental, freio nos dentes ou com procuração de qualquer organização político-mafiosa.
É inevitável que os docentes, enquantos sujeitos activos e conscientes, sejam os primeiros a interessarem-se pela sorte da escola, de que são os principais actores e, ao fim e ao cabo, pelo menos em relação aos melhores e mais virtuosos, a sua razão de ser.
Por outro lado, não podemos ser ingénuos ao ponto de deixar de admitir que as questões básicas, como a segurança, a carreira e a remuneração, são precisamente aquelas que mobilizam 95% dos professores e que são o centro da actividade política e sindical.
No entanto, a fim de manter uma discussão pública saudável e refrescante, seria mais apropriado separar as águas, de forma a não misturar estatística com filosofia, rodriguinhos homologados pela ASAE com galinha de cabidela.
O simples facto de se estar a pensar como discutir a problemática da escola, nos termos epidérmicos e anémicos em que se está a realizar, revela duas coisas:
1. O nível incipiente da participação cívica em Portugal, demonstrando o papel nocivo e anestesiante que as organizações políticas e profissionais têm exercido sobre a população (com Salazar ou sem Salazar), colocando os cidadãos na total dependência do Estado e subjugados aos respectivos satélites económicos, políticos e ideológicos.
2. A necessidade de se proceder a uma descolagem da menoridade intelectual e da anomia cíviva a que as diferentes entidades político-mafiosas têm confinado o seus rebanhos e clientelas, sob pena de nos transformarmos em mera carne para a estatística da Nomenklatura.
Janeiro 2, 2008 at 5:31 pm
É isso que se pretende contrariar H5N1, mesmo se tivermos que começar pela incipiência.
Fosse algum de nós presidente da CIP e as coisas poderiam ser diferentes. Os estudos podiam aparecer, os artigos nos jornais, as manchetes, etc.
Sendo assim, começamos pelo princípio.
😉
Janeiro 2, 2008 at 10:02 pm
Concordo com o H5N1 que muito bem definiu a “coisa” como os favoráveis à MacDonaldização ou à Gulaguização da escola. Há um livro chamado wodka-cola de Charles que
Janeiro 2, 2008 at 10:09 pm
Desculpem mas mandei o comentário incompleto:
Charles Levinson, livro este que fala da cumplicidade temática das duas potências nos anos 70.
Janeiro 2, 2008 at 10:45 pm
Acabou o meu voto de silêncio, imposto pela interrupção lectiva da época festiva que terminou e cede lugar ao trabalho lectivo e não só, já a partir de amanhã.
1-Recorrer aos placards existentes nas escolas para divulgar/promover uma discussão entre docentes e funcionários (os eufemísticos auxiliares de acção educativa) sobre O Novo Modelo de Gestão das Escolas.
2-Independentemente do número de participantes nesse debate, mesmo que só esteja o(a) promotor(a) do mesmo, elaborar por escrito um “relatório” sucinto das exposições, ideias, críticas, opiniões manifestadas;
3- Esse relatório deverá ser divulgado nos órgãos de comunicação locais se os houver, (jornais, rádios, revistas…) e:
3a) Quem quer fazer o trabalho de síntese?
De momento é o que me ocorre. Sugiro que nos deixemos de dissertações teóricas (sem dúvida benvindas e necessárias) e passemos à prática de coisas mais simples e talvez mais difíceis que essas dissertações como é o reunir pessoas e pô-las a falar, a discutir e a pensar em voz alta o assunto.
Calendário para a execução desta tarefa? Até 15 de Janeiro? Até 22?
Opiniões precisam-se.
Por favor, sejamos práticos e avancemos.
Janeiro 3, 2008 at 2:43 am
Eu tomei as liberdade de, junto de todos os meus contactos, divulgar este blog e a vontade de se proceder a uma discussão profícua.
Tentei sensibilizar para que, junto dos colegas das respectivas escolas animassem debates, colocação d ematerial nos palacards da sala dos professores, etc
Na minha escola,amanhã vou começar a fazer a minha agit prop, comoo se dizia in illo tempore….
Janeiro 3, 2008 at 1:15 pm
Um ponto fundamental é obrigar o Governo a recuar nos prazos e obrigá-lo a um debate alargado e à altura do que é legislado.
É fundamental que este tipo de legislação tenha uma discussão MAIS ampla que aquela que o governo desenvolve.
Na verdade, existe uma forma objectiva de caracterizar o grau em que um governo é autocrático. É quando as decisões que interessam às vidas das pessoas são obra legislativa do executivo apenas, ficando completamente de fora do âmbito do parlamento. Embora a discussão no parlamento possa ser uma coisa bem diminuta neste caso, podemos imaginar que obrigando o governo a transformar isto em projecto de LEI e não de DECRETO-LEI, seria já um passo importante para se ter uma discussão pública séria.
O que pensam disto, há probabilidades de isso ocorrer, e como poderá?
Janeiro 5, 2008 at 12:16 pm
O Ministério da Educação na sua santa incompetência teima em ignorar que a razão principal dos problemas do nosso ensino escolar, causadora de todos os outros problemas, é um paradigma viciado, que foi imposto a este sistema pelo mesmo Ministério, quando há 30 anos prescindiu-se de desenvolver as capacidades de memorização dos alunos. Este paradigma ridículo está a ser reforçado nos seus efeitos nefastos pelo método global de ensino de leitura, que deixa mais de metade dos alunos sem capacidade efectiva de ler.
Estes assuntos estão discutidos em mais pormenor no nosso blog, onde igualmente propusemos as medidas que permitam reconstruir o ensino escolar.
Comparados com este disparate pedagógico monumental, todos os outros factores, incluindo os modelos de gestão escolar, são manifestamente secundários.
Janeiro 5, 2008 at 12:25 pm
Eu gosto em especial da parte das chupetas num dos posts.