Que permanece. Feita de preconceitos e desconfianças, em doses diversas. entre professores e a estrutura político-burocrática do Ministério da Educação.

No mini-debate de hoje na Antena 1 com Luís Capucha, mas em especial numa conversa mais longa mantida fora dos estúdios (sobre cujos detalhes específicos, obviamente não escreverei), foi possível perceber que a ferida aberta na primeira metade do mandato do governo anterior e que culminou no confronto aberto durante a segunda metade não tem cura fácil e muito menos rápida.

  • Dá para tentar entender o que queriam fazer. Mas não para aceitar o que fizeram. Nota-se por parte de um certo grupo que não sei se designe por ideológico, se por académico, um conjunto de preconceitos sobre os professores, quantas vezes nascido de situações particulares anedóticas. Que passam por considerar os professores como incapazes de produzir o sucesso desejado, por serem retrógrados, selectivos, não-inclusivos (paredes-meias com um certo discurso sindico-eduquês, símbolo de afinidades ideológicas na origem do pensamento). Que passaram por tentar domesticar uma classe profissional por métodos perfeitamente agressivos, por muito que se diga o contrário. Que permanecem, por muito que se lhes diga que não se podem generalizar episódios. Que não se resolvem, olhando para números, esquecendo as pessoas.
  • Do lado de , existe uma desconfiança radical quanto à forma de usar a informação disponível, de trabalhar números e comunicar estatísticas, por parte de quem deveria não usar os dados como armas políticas. Um preconceito fortíssimo quanto aos estudos encomendados sempre aos mesmos grupos, aos amigos, aos amigos de amigos, aos recomendados por amigos. Aos do costume e, na falta desses, aos amigos da confiança deles. Uma desconfiança radical com a forma de controlar a informação e de substituir a realidade humana por uma representação estatística dos factos. Uma desconfiança nascida de anos a sofrer acusações públicas injustas.Uma desconfiança nascida de ver os responsáveis por políticas erradas lançarem sempre as culpas sobre outros. Sobre nós, os zecos. Que nada sabem fazer, portanto, são professores…

Por muito que as pessoas até consigam encontrar terrenos comuns de discussão, existe uma quebra insanável de confiança entre os actores em presença.

Sendo que é impossível reformar verdadeiramente um sistema educativo, quando os executores não confiam nos decisores e estes legislam de forma autoritária, por considerarem incapazes os executores sem que lhes sejam impostos os comportamentos.

De uma coisa estou certo: esta fractura – agravada pela clivagem entre uma abordagem livresca e de gabinete, de um lado, e o confronto quotidiano com uma realidade que não cabe apenas em números e gráficos, do outro – vai permanecer enquanto se continuar a ir apenas em busca das teses confortáveis para as crenças preconceituosas e quando se recusar ver que o outro pode ter parte da razão.

Não vale mesmo a pena dizer que não nenhum lado se pode arrogar de ter toda a verdade e razão do seu lado, se é isso que publicamente se faz.

Se querem que respeitem as suas opiniões, aprendam a descer das torres de cristal. Os zecos não fedem tanto quanto pensam. E, estando vacinados contra quase tudo, não espalham doenças intelectualmente infecciosas.

Não querendo admitir as suas falhas e dar lugar a outros rostos e formas de comportamento (o que numa equipa de futebol seria mudar de equipa técnica), os decisores preferem transformar à força os executores, castigá-los ou mesmo substituí-los (o que equivaleria a multar metade dos jogadores da equipa e a vender a outra metade ao desbarato).