Há alguma discussão – infelizmente pouca nas salas de professores – acerca da forma como o MEC pretende concretizar, provavelmente nos próximos 3-4 anos, a redução dos quadros de professores para cerca de 90.000 docentes ou pouco mais, concretizando as vagas negativas agora anunciadas.

Para além das aposentações ou eventuais rescisões, haverá muitos horários-zero resultantes directamente da implementação do ensino dual ou vocacional nas escolas.

Se alguém já leu a portaria n.º 292-A/2012 certamente terá percebido que mais de 50% da carga horária da matriz curricular definida para os 2º e 3º ciclos do ensino básico se destina à componente vocacional, a qual deve ser desenvolvida preferencialmente fora das escolas, nas empresas envolvidas. Basta ler:

c) Vocacional, integrada pelos conhecimentos correspondentes a atividades vocacionais e por uma prática simulada preferencialmente em empresas que desenvolvam as atividades vocacionais ministradas.
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Isto significa que o mais certo é que essa componente não seja ministrada por professores das escolas mas sim por formadores das tais empresas, pagos através de programas como o QREN. o POPH ou outro que se lhe suceda, através do Ministério da Economia. Reduzindo os encargos com pessoal do Ministério da Educação, entre outras vantagens na perspectiva dos ramirílios.
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O que significará que, se por mera hipótese forem redireccionados 10-20% ou mais (eles querem muito mais) dos alunos do Ensino Básico para o dito ensino dual – que nada prova que funcionará no nosso contexto empresarial – metade da sua carga lectiva deixará de ser dada nas escolas e por professores da rede pública. E o mesmo virá a passar-se no secundário.
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Façam as contas aos horários que se tornarão excedentários e aos professores que serão empurrados para se tornarem formadores (lembram-se do concurso que abriu há uns meses?) ou pura e simplesmente para fora da profissão.
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Se isto é de interesse para os contribuintes, essa entidade mítica?
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Se os contribuintes forem daqueles que não se incomodam com o destino dos outros… para quem os laços de solidariedade social são um luxo e as funções sociais do Estado uma inconveniência, percebe-se.
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Só que antes d’os contribuintes estão os cidadãos e esses devem ser a primeira preocupação daqueles que têm como missão zelar pelo bem público, não pelo interesse de alguns.
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