O Plano A Para Concretizar As Vagas Negativas
Posted by Paulo Guinote under
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[24] Comments
Há alguma discussão – infelizmente pouca nas salas de professores – acerca da forma como o MEC pretende concretizar, provavelmente nos próximos 3-4 anos, a redução dos quadros de professores para cerca de 90.000 docentes ou pouco mais, concretizando as vagas negativas agora anunciadas.
Para além das aposentações ou eventuais rescisões, haverá muitos horários-zero resultantes directamente da implementação do ensino dual ou vocacional nas escolas.
Se alguém já leu a portaria n.º 292-A/2012 certamente terá percebido que mais de 50% da carga horária da matriz curricular definida para os 2º e 3º ciclos do ensino básico se destina à componente vocacional, a qual deve ser desenvolvida preferencialmente fora das escolas, nas empresas envolvidas. Basta ler:
c) Vocacional, integrada pelos conhecimentos correspondentes a atividades vocacionais e por uma prática simulada preferencialmente em empresas que desenvolvam as atividades vocacionais ministradas.
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Isto significa que o mais certo é que essa componente não seja ministrada por professores das escolas mas sim por formadores das tais empresas, pagos através de programas como o QREN. o POPH ou outro que se lhe suceda, através do Ministério da Economia. Reduzindo os encargos com pessoal do Ministério da Educação, entre outras vantagens na perspectiva dos ramirílios.
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O que significará que, se por mera hipótese forem redireccionados 10-20% ou mais (eles querem muito mais) dos alunos do Ensino Básico para o dito ensino dual – que nada prova que funcionará no nosso contexto empresarial – metade da sua carga lectiva deixará de ser dada nas escolas e por professores da rede pública. E o mesmo virá a passar-se no secundário.
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Façam as contas aos horários que se tornarão excedentários e aos professores que serão empurrados para se tornarem formadores (lembram-se do concurso que abriu há uns meses?) ou pura e simplesmente para fora da profissão.
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Se isto é de interesse para os contribuintes, essa entidade mítica?
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Se os contribuintes forem daqueles que não se incomodam com o destino dos outros… para quem os laços de solidariedade social são um luxo e as funções sociais do Estado uma inconveniência, percebe-se.
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Só que antes d’os contribuintes estão os cidadãos e esses devem ser a primeira preocupação daqueles que têm como missão zelar pelo bem público, não pelo interesse de alguns.
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Abril 23, 2013 at 7:08 pm
Aqui na zona há tantas empresas que a dificuldade será escolher.
Daqui a pouco tempo já não haverá empresas em lado nenhum com esta política de terra queimada.
Abril 23, 2013 at 7:12 pm
ha!!! reparem que os da moral e religião (nomeados pelos srs bispos) têm 49 vagas negativas em todo o país. Compare-se com os outros grupos.
Abril 23, 2013 at 7:19 pm
há evidentemente aqui uma engenharia social herdada da engenheira social MLR. Os sindicatos é que parecem estar ao lado do esquema e ser necessário o Paulo, que dá aulas a tempo inteiro, fazer estas “descobertas”.
Abril 23, 2013 at 7:21 pm
espero que os sindicatos estejam muito atarefados a preparar um processo contra Portugal no TEDH, para além das providências cautelares individuais cada vez que um prof seja posto em “mobilidade especial”…
Abril 23, 2013 at 7:45 pm
Concordo em pleno. Com tudo. Isso vai para as empresas! E os professores deixam e ser precisos. Os encargos passam a não ser da responsabilidade do M. Educação.
O “bem público”? pois sim…Esperemos sentados.
Abril 23, 2013 at 7:46 pm
“Deixam de ser precisos”
– o meu teclado tem falha de teclas….
Abril 23, 2013 at 7:56 pm
O golpe que o MEC se prepara para assestar no ensino público com esta opção “vocacional”, não é só um rude golpe para muitos professores (mais desemprego e insatisfação pessoal e profissional), como significaria sobretudo a captura do ensino pelo mercantilismo, num processo de engenharia social de que agora nos apercebemos (os que se apercebem…) apenas os contornos.
Eu escrevi “significaria” porque a nossa “sorte” (se me é consentida tal expressão) é a debilidade do nosso tecido empresarial, que a breve trecho, mostrará a inanidade do projecto, mas que servirá, no curto prazo, para aliviar o orçamento do MEC e disfarçar as estatísticas do abandono e do insucesso escolar e também do desmprego jovem.
Infelizmente, o nosso espaço público está cada vez mais rarefeito e o debate cívico mais pobre.
Pelo que esta opção política para um “ensino vocacional”, a sua verdadeira natureza e implicações passarão ao lado dos cidadãos comuns. Se não forem os professores e alguns EE mais atentos a denunciá-la, nada mais poderemos esperar.
Convém insistirmos neste princípio absolutamente básico: um ensino de qualidade, que forme e ao mesmo tempo qualifique cidadãos, não pode ser feito sem professores. Assim, o combate a essa política não interessará apenas corporativamente aos professores, mas ao país, que caminhará a passos largos para a indigência (social e cultural), se o nosso sistema de ensino for transformado numa plataforma para a formação (sobretudo técnica) de mão de obra, reduzindo cada vez mais as exigências pedagógicas a um conjunto de aptidões para responder à demanda volátil do mercado de trabalho.
Abril 23, 2013 at 8:04 pm
Aqui está uma opinião certeira e que põe o dedo na ferida, do Paulo do Farpas! O que é e o que se pretende da Educação e do respetivo sistema educativo, em Portugal. Infelizmente, como diz, já disto pouco ou nada se discute nas salas de professores. E muitos, como eu, confesso, estou cansada. Pelo desgaste das aulas que dou e pelo imenso desgaste da burocracia e de trabalho sem sentido emanado da tutela, quer seja do ministério, quer da direção mega-agrupada…
Abril 23, 2013 at 8:12 pm
CRATO na rtp
Abril 23, 2013 at 8:26 pm
#9
Atira-lhe com peúgas!
Abril 23, 2013 at 9:14 pm
Na minha “parveira” não há empresas para absorver nada disto do dual, deste modo, ou não há, simplesmente, ou então perdemos os alunos por completo, pois têm que ir fazer o dual para outro lado!
Abril 23, 2013 at 9:27 pm
#=
Muito bem!
Gostei (delirei até!) principalmente com os três últimos parágrafos, sobre essa “entidade mítica” que é o tipo de contribuinte “defendido ” pelos liberalinhos! 😀 😀
Abril 23, 2013 at 9:28 pm
#12
Era para #0, o post, claro!
E TREZE!
Abril 23, 2013 at 9:32 pm
#11
pois não!
Ou quanto muito, dará para as empresas desonestas irem sacar dinheiro ao Estado /dinheiros do QREN para suposta formação de aprendizes (fantasma ou mais tarde dispensados). Como aquando dos Fundos sociais uropeus de outras décadas. Lembram-se?
São sempre os mesmos esquemas políticos de meter nojo! 👿
Passados una anos, esses casos chegam a tribunal, depois são alegremente arquivados… e “siga a rusga”!
Abril 23, 2013 at 9:39 pm
E a formação? E a Educação? E o desenvolvimento do país tão propagandeado?… ZERO! 😦
Abril 23, 2013 at 9:50 pm
Entretanto mudou o governo volta tudo ao mesmo…
Abril 23, 2013 at 11:20 pm
Recomenda-se vivamente a leitura dos dois últimos parágrafos aos emílios, a fim de perceberem que a soberania reside nos cidadãos e não nos contribuintes; que se governa em nome dos, e para os, primeiros e não para (alguns dos) segundos.
“Antes dos contribuintes, estão os cidadãos”. Obrigada, Paulo, por relembrar a precedência.
Abril 24, 2013 at 2:05 am
O que vale é que este país é, tem sido, e parece que continuará a sê-lo (por absoluta inépcia das entidades superiores desta nação) dirigido por gente de aparências com mania de génio…
Os “estúpidos” dos alemães levaram anos a desenvolver e implementar o ensino dual… Os “estúpidos” dos alemães têm a mania de planificar… os “estúpidos” dos alemães mantiveram uma estrutura produtiva com forte componente industrial… os “estúpidos dos alemães criam legislação hoje – já pensada anteriormente – com prazos de implementação e avaliação faseados no tempo… Os “estúpidos” dos alemães precisam de estabilidade das normas e regras seja em que área for… Os “estúpidos” dos alemães precisaram de tempo para adquirir um “know how”… os “estúpidos” dos alemães têm a mania de trabalhar para a eficiência em vez de o fazerem para a imagem… os “estúpidos” dos alemães têm a mania de tentar apanhar oportunistas/mentirosos/corruptos… os “estúpidos” dos alemães não toleram a falta de assiduidade desde que entram na escola… os “estúpidos” dos alemães fomentam a transparência e a simplicidade de processos e procedimentos… os “estúpidos” dos alemães exigem competência e responsabilização…
Os “estúpidos” dos alemães jamais aceitariam ser (des)tratados e (des)governados por chico-espertos armados em geniozinhos de enfiar ao bolso…
(Coisa diferente são os custos e benefícios de tal sistema de aprendizagem)
Se, antecipadamente, não se soubesse no que isto vai dar daria, pelo menos, para soltar umas belas gargalhadas – assim será, simplesmente, dramático: em termos educacionais, em termos económicos, em termos sociais e em termos de desenvolvimento… e… como já foi referido em intervenções anteriores… vem a caminho um novo regabofe com clientelas particulares (pseudo-privadas), explorações e precarizações do trabalho, dinheiros comunitários que todos teremos que pagar (e, mais uma vez), … um dia mais tarde sem que o país e a sociedade tivessem beneficiado e enriquecido com isso.
Abril 24, 2013 at 3:23 am
“Há alguma discussão – infelizmente pouca nas salas de professores – acerca da forma como o MEC pretende concretizar, provavelmente nos próximos 3-4 anos, a redução dos quadros de professores para cerca de 90.000 docentes ou pouco mais, concretizando as vagas negativas agora anunciadas.”
A maioria das vagas negativas resultam de brincadeira (para não ser muito cáustico) de algumas dezenas de directores, portanto, não vale a pena perder tempo a discuti-las.
Destas (mais de) 11 mil vagas negativas, duas ou três mil fecham nos próximos anos com a aposentação de alguns colegas as outras permanecerão como brincadeira de mau gosto, como os horários zero de Junho passado (é ver que os brincalhões são os mesmos). A título de exemplo, na região de Lisboa: Agup. Anselmo de Andrade (Almada) – 9 vagas negativas a Inglês (mais que a totalidade dos professores do quadro) – 5 vagas negativas a Filosofia (a totalidade do quadro; Agup. Romeu Correia (Feijó) – 10 vagas negativas a Mat/CN (a totalidade do quadro) – 15 vagas negativas a EVT (mais que a totalidade do quadro); Agup. Marquesa de Alorna (Lx) – total de 69 vagas negativas (quase metade dos professores do quadro); Agup. Baixa-Chiado (Lx) – total de 53 vagas negativas (mais de um terço dos prof. do quadro); Agup. 4 de Outubro (Loures) – total de 73 vagas negativas (cerca de metade dos professores do quadro, nalguns grupos todo o quadro); Agup. São Julião (Oeiras) – total de 66 vagas negativas (mais de um terço dos quadro, nalguns grupos a totalidade do quadro)…
Abril 24, 2013 at 10:41 am
#19
Efectivamente, Apache, há coisas muito estranhas que convinha aclarar. Os exemplos que dá são bem esclarecedores dessa estranheza.
Abril 24, 2013 at 11:22 am
Nâo percebo uma coisa!
Mas não era este o ministro que todos, ou quase todos, os professores queriam para a pasta da educação?!
Mistérios… da classe profissional mais bem preparada em Portugal!
Abril 24, 2013 at 11:38 am
#21,
Vai-te tratar.
Abril 24, 2013 at 12:24 pm
Pois era 21…
Mas ele disse uma coisa e faz outra?
Não ele sempre disse quem era, o que pensava e o que desejava…
Mas como somos “semi muita coisa” agora dizem que ele enganou.
Nas salas de professores estão todos calados..
Serão licenciados?
Abril 24, 2013 at 4:12 pm
“Isto significa que o mais certo é que essa componente não seja ministrada por professores das escolas mas sim por formadores das tais empresas, pagos através de programas como o QREN. o POPH ou outro que se lhe suceda, através do Ministério da Economia.”
Por mim , nada contra. Os professores do quadro ficam a lecionar apenas o prosseguimento de estudos e quem não tiver vínculo, concorre como formador. Está tudo resolvido!