O entusiasmado, liberal e defensor de um Estado Magro, ministro Miguel Relvas contratou um motorista por ajuste directo, por 73.4446 euros por 30 meses de trabalho.

Isto dá qualquer coisa como 2448 euros por mês.

Para ter a carta de condução basta ter o 9º ano.

Em contrapartida, tem enaltecido as virtudes da emigração para profissionais qualificados nas áreas da Educação, Saúde, Tecnologias da Informação e etc.

Considera o senhor Presidente que, no âmbito das suas funções de aconselhamento que designa e auto-elogia como discretas, do seu magistério de influência como primeira  figura da República, até em coerência com o que foi afirmando sobre a necessidade de distribuir os sacrifícios e a austeridade de forma justa, não será tempo de ter uma palavrinha com alguém no sentido do ministro Relvas (o Universalista Tropicalista) ser um pouco mais contido na forma como utiliza os dinheiros do Estado?

Eu sei que sou corporativo mas, no caso dos professores, até ao actual 7º escalão ninguém (mesmo se tiver doutoramento e todas as demais especializações possíveis) ganha mais do que este senhor motorista. Apesar de todo o respeito que me deve a função de motorista de um nóvel e entusiasmado senhor ministro, os professores têm a seu cargo dezenas de crianças e jovens todos os dias, mesmo centenas ao longo de uma semana.

Entretanto, este senhor motorista (pelo qual já nutro um certo ciúme socioprofissional e financeiro) ganha em bruto mais 300 euros do que eu, que dou aulas desde os tempos em que o primeiro-ministro não sabia sequer se iria conseguir fazer um curso superior.

Eu sei que sou corporativo, senhor Presidente, mas a verdade é que partilho da sua angústia quanto ao facto de não saber quando as minhas receitas (estando no activo e sem horizonte de aposentação) deixarão de dar para as despesas.

E, nesse sentido, fico com certo ciúme de não me ter tornado motorista de ligeiros, com gosto por aturar, com um sorriso cúmplice, platitudes de engomadinhos de fresco. Eu sei que não é uma qualidade cristã esta da inveja mas, mesmo que isso o choque, sou obrigado a confessar que não acredito na existência de um Ser Supremo, nem sequer a Razão, o que também sempre me impediu de, em consciência aderir à Maçonaria, outra via rápida para conseguir colocação bem remunerada no Estado ou contrato por ajuste directo, no caso de ter escritório.

Por tudo isto, senhor Presidente, desculpe-me lá se lhe peço por esta via para relembrar ao ministro Relvas que, em campanha eleitoral e mesmo quando sonha no leito consigo mesmo enquanto grande estadista, ele é um homem Liberal, defensor da Ética na Política e do Estado Magro, sem Gorduras ao volante.

Muit’agradecido pela atenção (não) dispensada.