Há um governo e um MEC disponíveis para implementar a medida por motivos puramente ideológicos (tão ideológicos quanto os dos críticos radicais da iniciativa privada no sector) , com escassa e muito parcial fundamentação empírica e nulo debate público.
A promessa foi feita. Aos que se sentem órfãos de liberdade desde a Constituição de 76.
Mas então o que os agita?
A impaciência natural de quem tem um credo que quer espalhar ou o receio que o conhecimento da realidade dos resultados deste tipo de reformas em outros países chegue a tempo de despertar prudência na implementação da medida?
Porque as últimas notícias são preocupantes… da Suécia chegaram novas perturbadoras de inversão do sentido das reformas, da Holanda chegam relatórios a demonstrar os efeitos negativos das medidas e mesmo da Florida chega a informação de estar o governador Scott Walker a apostar na Educação de uma forma que altera bastante o que se passava até agora.
Estes eram alguns dos casos de maior sucesso apresentados normalmente pelos defensores à outrance da Liberdade de Escolha em Educação.
Entre nós, os defensores desta opção ideológica há várias gerações, sendo naturalmente a mais jovem a que apresenta maior impaciência. O Alexandre Homem Cristo, o Francisco Vieira e Sousa e o Nuno Lobo fazem parte da nova geração mais activista.
Como convidado do Henrique Raposo, o primeiro deles publicou um texto no Expresso que padece do problema da impaciência e da parcialidade da abordagem que faz lembrar os mais prosélitos estatistas. Porque abdica de radicar a análise em factos, opta pelas fórmulas demagógicas de que dificilmente se pode discordar em teoria e adjectiva com generosidade quem discorda da solução mágica.
Espero que o estudo que prepara para a FFMS seja mais concreto na análise, diversificado nas fontes empíricas e não se resuma à afirmação de que a Liberdade é Boa, ergo a Liberdade em Educação é Boa e deve ser implementada de acordo com uma agenda liberal e quem não concorda é estatista, reaccionário e está instalado no sistema, não tendo respeito pelo melhor para as crianças e jovens.
Sendo eu um céptico em relação à opção não tive problemas em apresentar (que num resumo no DN, quer em artigo mais alargado na XXI e em breve numa versão ainda mais alongada numa edição online) o que julgo ser uma forma de a abordar com prudência pelo que dificilmente poderei ser considerado um inimigo visceral da Liberdade de Escolha.
Eu sei que a raiz do Liberalismo é a Liberdade, mas também sei que a implementação histórica do Liberalismo foi feita com base no primado da Lei, baseada no princípio da igualdade de direitos entre os cidadãos, pelo que a Lei se erigiu como, em simultâneo, uma garantia e uma limitação da Liberdade individual. Se nos quisermos escusar à Revolução Francesa e aos seus desvios jacobinos em honra dos interlocutores, podemos ir em busca desses princípios na Revolução Americana e na consequente Constituição.
A Lei é isso mesmo: uma criação social para regular o exercício da Liberdade de forma a evitar que a Liberdade de alguns (mais fortes, fisica, economica ou politicamente) se sobreponha à Liberdade de outros (mais fracos).
Pelo que apenas apontar a Liberdade como valor supremo a que tudo se deve submeter tem o atractivo de parecer algo óbvio e que é reaccionário combater, mas ignora que a Liberdade em estado puro equivale ao ideal libertário no sentido anarquista (e aí teremos de ir buscar Ron Paul para a discussão ou remontar aos anarquistas de final de Oitocentos), o que me parece ligeiramente excessivo até para a nova geração liberal (ou neo ou pós-liberal).
A Liberdade de Escolha em Educação num país com uma forte e crescente desigualdade socioeconómica e um enorme défice de informação sobre o desempenho das escolas, corre o risco de se tornar uma ditadura dos mais fortes sobre os mais fracos. Torna-se o risco de tornar a Educação um regime de privilégios oligárquicos e aristocráticos, caso a Lei não proteja os direitos dos mais fracos. Isto não significa a defesa de uma Educação igual para todos mas do direito à igualdade de oportunidades de exercer essa Liberdade.
Temos exemplos recentes dos erros cometidos em nome da Liberdade de Escolha nos EUA e na Europa. Uma opção esclarecida pela medida não pode ser meramente ideológica. Precisa ter fundamentação empírica não amputada das partes desagradáveis para a teoria.
Isto não é ser reaccionário, nem sequer conservador. É apenas ser realista e pragmático. Liberdade de Escolha, sim, mas não para consolidar uma maior desigualdade e estratificação educacional.
Dezembro 10, 2011 at 2:38 pm
Diria que é dos mais sensatos e mais bem conseguidos textos do Paulo.
Subscrevo totalmente.
Falsas e enganosas propostas.
Pela efetiva igualdade de oportunidades.
Abaixo os demagogos exibicionistas.
Pelos mais fracos e sem voz.
Dezembro 10, 2011 at 2:47 pm
Aqui está a questão bem colocada.
Parabéns!
Dezembro 10, 2011 at 2:59 pm
Mas nós somos o os que vão encontrar o caminho..ver a luz…OS FANÁTICOS PENSAM SEMPRE ASSIM…
Dezembro 10, 2011 at 3:01 pm
“A Lei é isso mesmo: uma criação social para regular o exercício da Liberdade de forma a que a Liberdade de alguns (mais fortes, fisica, economica ou politicamente) se sobreponha à Liberdade de outros (mais fracos).”
Não falta por aqui algures a palavra “NÃO”?…
Dezembro 10, 2011 at 3:02 pm
Municipalização: o perigo!
Dezembro 10, 2011 at 3:07 pm
EIS COMO OS DEFENSORES DA ESCOLAS,AS PRIVADAS OLHA PARA O PÚBLICO..DIZ TUDO…COITADOS DOS AMERICANOS PENSAM QUE O FREE CHOICE É PRIVADO..POIS FALEM COM A MONSANTO…FUI…
Dezembro 10, 2011 at 3:13 pm
#4,
Certo… falta “evitar”.
Dezembro 10, 2011 at 3:17 pm
O Paulo continua disponível para discutir até à exaustão os aspectos ideológicos daquilo a que chamam “liberdade de escolha”, e acho muito bem que o faça.
Eu é que não me sinto muito motivado para tal, pois não me parece que seja por aí que o gato vai às filhoses…
Para mim, a pergunta do “billion dollars”, como dizem lá na América de Cima, continua a ser a mesma de sempre: o que é que estes gajos querem?
Querem o que sempre quiseram, desviar fundos públicos para financiar negócios privados. As classes alta e média-alta que tradicionalmente constituíam o público-alvo das escolas privadas continuam a alimentar bons negócios nesta área, mas são uma franja muito reduzida da sociedade, com tendência a encolher ainda mais, mercê da mesma política liberal que é invocada depois para justificar que o Estado pague o colégio dos meninos, porque os pais não têm dinheiro.
A ideologia é um mero pretexto. Aliás a ideologia é muito fraquinha e plena de contradições, como aliás seria de esperar quando assenta num valor tão vago e abstracto como é a liberdade absoluta e se faz dela o alfa e o ómega de toda a organização económica e política.
Dezembro 10, 2011 at 3:21 pm
Gostei deste poste.
Penso que a forma como colocas a questão é aceitável. Poderia ir até mais longe mas acho que te espalhaste aqui:
“Liberdade de Escolha em Educação num país com uma forte e crescente desigualdade socioeconómica e um enorme défice de informação sobre o desempenho das escolas, corre o risco de se tornar uma ditadura dos mais fortes sobre os mais fracos..”
É que, a existir o perigo que apontas, o mesmo só pode ser combatido com mais liberdadde de escolha e não com a manutenção dos sistema que vigora desde ABR/74. em bom rigor, foi a inexistência de liberdade de escolha (e de concorrência) que afundou as desigualdades socioeconómicas entre os portugueses e que enclausurou a informação sobre o sistema educativo. A informação existe o que acontece é que a nomenklatura eduquesa guarda-a a sete chaves pois sabe que se a tornasse pública (exigência de um verdadeiro Estado de Direito) todos veríamos a vergonha, o caos, o desperdício (apenas ultrapassado pela saúde), a incompetência e o amiguismo que grassa na Educação.
Passa bem.
Dezembro 10, 2011 at 3:21 pm
Excelente reflexão.
Gostei em particular do diálogo conceptual. Gostei de ver os conceitos despidos, tal como vieram ao mundo. Parabéns e obrigado por mais este texto.
Nuno Ferreira
(Fui bloqueado, Paulo?)
Dezembro 10, 2011 at 3:34 pm
O que os move é o lucro, absolutamente mais nada. A ideologia é um refrão, não é a letra nem a música.
Já agora, o Reitor que explique onde tinha “liberdade de escolha” antes do ano lectivo de 1974/75, tempo em que quem frequentava colégios até tinha de fazer exames nos liceus. A ideologia do revisionismo histórico vive de dogmas que não encaixam bem nos factos.
Dezembro 10, 2011 at 3:40 pm
#9,
Onde te espalhas a sério é no lamento que fazes sobre Abril de 1974, data em que não passou a vigorar nenhum novo modelo educativo.
Identificasses a mal-amada Constituição de 1976 e o trauma explicava-se, mas ao colocares ali em Abril de 1974 desvendas algo mais do que um trauma e, mais grave, baralhas-te todo quanto à Liberdade.
A partir daí é dispensável analisar a parte final do comentário, pois decorre do mal ideológico apontado no post: enunciação de princípios sem qualquer base empírica demonstrável.
Passarei bem, sim senhor, apesar da chuvinha e do frio…
Dezembro 10, 2011 at 3:41 pm
#10,
Não.
O WP de vez em quando dá-lhe uns amoques.
Há dias o próprio Fafe estava bloqueado…
Dezembro 10, 2011 at 3:43 pm
#8,
Estou sempre disponível para discutir tudo e mais alguma coisa, desde que valha a pena e exista capacidade de diálogo.
Se tivesses assistido á sessão sobre este assunto na Buchholz perceberias melhor a concretização da minha paciência em clima de crispação.
Tal como, duas sessões depois, estava disponível para discutir com o Miguel Tiago a questão das massas e das vanguardas nos processos de transformação social.
Dezembro 10, 2011 at 3:45 pm
Ó JJC, antes do ano letivo de 1974/75 não havia liberdade.
Trazer o “lucro” para aqui é tão pertinente como oferecer pentes a carecas.
E, associar a discussão sobre a liberdade de escolha (que tantos têm já na saúde, como o JJ) ao antes de Abril de 1974 é não perceber népia do que se está a discutir. Ou então,comunas a levantar espantalhos ideológicos. Um coisa ou outras, JJ.
Dezembro 10, 2011 at 3:45 pm
Gostaria ainda de chamar a atenção para o carácter unidimensional da “liberdade de escolha” que os liberaleiros da nossa praça gostam de evocar. E que, mais uma vez, mostra bem ao que andam.
Reduzem a liberdade de escolha à possibilidade de se poder matricular os filhos numa escola privada e ser o Estado a pagar essa escolha.
Mas quando se juntam várias escolas públicas que funcionavam autonomamente num mega-agrupamento, com um único projecto educativo, normalmente delineado em função da realidade da escola-sede e depois adaptado às restantes, está-se a aumentar ou a diminuir a liberdade de escolha?
Quando se fecham centenas de escolas do 1º ciclo, encaixotando os miúdos, às vezes de um concelho inteiro, num centro escolar com muitas gigajogas mas com falta de recreios para os miúdos brincarem, onde fica a liberdade de escolha?
Quando as exigências da rede escolar determinam, por critérios economicistas ou de favorecimento a terceiros, o encerramento ou a não-abertura de determinados cursos, no ensino profissional ou no secundário, que eram pretendidos pela população escolar, isto é respeitar a liberdade de escolha?
Agora não se esqueçam de me dizer que a culpa disto é dos eduqueses que dominam o ME, que mandam mais que os ministros e mais não sei quê…
Dezembro 10, 2011 at 3:46 pm
#15,
Mas quem falou em Abril de 74, foi… ??? 😆
Dezembro 10, 2011 at 3:47 pm
#16,
Deves ter um qualquer parente “eduquês”, porque o último parágrafo nada tema ver com o assunto.
Dezembro 10, 2011 at 3:49 pm
De saudar a elevação de certos espíritos quando lhes começam a destapar a careca ideológica.
Desde “comunas” a “pentes para carecas”, salta tudo cá para fora…
Dezembro 10, 2011 at 3:52 pm
#19,
Nem sempre o verniz é espesso.
Uma coisa é falar com o professor Adão da Fonseca, um verdadeiro gentleman, outra…
Dezembro 10, 2011 at 3:53 pm
#12
Eu sei que tu percebeste muito bem que ABR/74 está para o assunto que discutimos como o nascimento de cristo para o catolicismo.
A partir daí, vem ao de cima o mal ideológico que nenhum discurso nem nehuma tese, por mais equilibrada e aberta à mudança que seja, chega a esconder.
Oxalá apanhes uma molha
Dezembro 10, 2011 at 3:54 pm
#18
O último parágrafo dirige-se directamente aos “liberaleiros” que evoquei no início.
Não é o teu caso, obviamente, mas sabes perfeitamente que alguns comentadores, quando confrontados com as contradições entre o discurso e a acção na política educativa da direita, e na falta de argumentos, costumam sair-se com essa: ah, o eduquês contamina tudo, e estão metidos em todo o lado, e os ministros querem mas a “máquina” não deixa, e por aí fora…
Dezembro 10, 2011 at 3:54 pm
Curioso que o reitor nunca mais falou da Suécia..deve ter comido algum peixe seco estragado!!!!
QUE O PRIVATIZAR É ASSIM TÃO BOM COMO EXPLICAR A BOSTA QUE AS DITAS TV PRIVADAS PÕEM VÁ FORA?
LEMBRA-ME AINDA DAS NOITES E DE TEATRO DO CINEMA A HORAS NOBRES DAS BOAS SÉRIES DE PROGRAMAS CULTURAIS E AGORA? BAH…SÓ VÊ QUEM QUER MAS SE LHES FOR INCUTIDO O QUE ELE QUEREM VER ..ÓBVIO…
PODEM TAMBÉM DAR LIBERDADE DE ESCOLHA EM RELAÇÃO À ENA DE MORTE POR ENFORCAMENTO POR CADEIRA ELÉCTRICA POR GARROTE ETC…..TODAVIA O FIM SABE-SE QUAL VAI SER..INDEPENDENTEMENTE DA ESCOLHA FEITA…
Dezembro 10, 2011 at 3:57 pm
ORA AQUI ESTÁ ONDE PODEM CHEGAR A LIBERDADE E A PRIVATIZAÇÃO LEVADOS AO EXTREMO ….
Dezembro 10, 2011 at 4:02 pm
#20
Por acaso recordo-me vagamente de ter discutido com ele, algures na net, há alguns anos atrás, estes assuntos, e não fiquei nada com essa ideia. Pareceu-me convencido e arrogante.
Mas entretanto deve ter tido tempo de levar muitas demãos de verniz, e agora há uns produtos muito resistentes, que dificilmente estalam…
Dezembro 10, 2011 at 4:06 pm
#15 Quem invocou o “desde 1974″ não fui eu. É irrelevante para o assunto, quanto muito a criação dos Cursos Unificados limitou uma opção existente no 3º ciclo, mas dentro do mesmo sistema em que nas cidades já tínhamos antes matrículas por área de residência.
Confesso alguma ignorância sobre o que sucedeu a muitos colégios que passaram para a posse do estado, apenas conheço, e mal, um exemplo, e não se tratou de uma nacionalização mas de uma aquisição de que os anteriores proprietários não se queixaram. Mas claro que ideologicamente 1974 para ti é o apocalipse. Sucede que não me apetece discutir ideologias mas factos.
Já temos experiência neste assunto, meu caro, cada vez que invoco o lucro dizes que não tem nada a ver com o assunto, é outra coisa que eu nem sei o que é, etc. etc. Lá está, o raio da ideologiazinha. E passo logo a comuna, talvez na esperança de que te responda com o”olha o facho”, o que também não me apetece até porque no teu caso nem é verdade.
Por azar o raio do lucro existe, esta lá, cresceu na última década em particular no consulado da Rodrigues, a eterna máxima do capitalismo português, muito liberal na ideologia mas sempre fazendo negócios à pala do estado, precisamente a razão porque não discuto a coisa ideologica, espiritual mas o dinheirinho, o vil metal, o que faz mover os homens (e as mulheres, nada de discriminações).
Dezembro 10, 2011 at 4:19 pm
Além de ser contraditório falar-se em liberdade de escolha quando ao mesmo tempo se reduz a quantidade de escolas públicas (através do encerramento de muitas, até aqui as que tinham menos de 20 alunos, nos próximos anos muitas com mais do que 20 alunos) e a sua diversidade e qualidade (pela junção de várias numa única estrutura de gestão – os mega agrupamentos).
Dezembro 10, 2011 at 4:23 pm
#26
Porque é que as empresas não hã-de ter lucro? Porque é que o lucro dos empreendedores te preocupa tanto?
Quando vais a um hospital privado com acordo com a ADSE, que te interessa quem lucra e quanto lucra?
O que te interessa é que tens um serviço de tão boa ou melhor qualidade que no público (por isso o preferiste) e que tem um preço aceitável (penso que há estudos que mostram que até é mais barato).
O lucro é o elemento neutro desta equação: existe e deve existir em qualquer empreendimento humano. Espera, não dispares já. Na atividade privada, o lucro é ganho do empreendedor, no setor público, o lucro é ganho de toda a sociedade. A menos que, para o mesmo serviço, defendas que o privado dá lucro e o público não. Ou até dá prejuízo! Se assim defenderes, então é melhor para a carteira de todos nós que os serviços públicos passem para o setor privado, não?
Estou enganado?
Dezembro 10, 2011 at 4:28 pm
#21,
Já percebi. Este é o Reitor 2.0, o que veio depois do original. O Mr. Hyde.
#22,
OK.
Dezembro 10, 2011 at 4:29 pm
#16
Não tinha lido, muito bom o texto do António Duarte.
Dezembro 10, 2011 at 4:30 pm
Adoro a falta de rigor histórico e factual dos que defendem isto e aquilo, mas depois a realidade atrapalha.
Tão fraquinhos como os marxistas de 3ª ordem de que falava o meu saudoso e laranja professore Cordeiro Pereira nas aulas do 3º ano.
Dezembro 10, 2011 at 5:03 pm
#26
A ADSE (Assistência na Doença aos Servidores do Estado, que expressão mais datada) não passa de um seguro de saúde, vindo da longa noite fascista, tempo em que não havia SNS nem acesso universal à saúde. Tenho ADSE mas pago-a, e devo dizer que se o SNS não andasse pelas ruas da amargura acharia muito bem que esse vestígio do breu fosse à vida. Duvido que a possa utilizar num Hospital Privado, pela simples razão de que me marcariam uma consulta para o ano de 2059, onde não tenciono chegar. E porquê? porque aos privados a convenção com a ADSE já não dá o mesmo lucro que uma médis qualquer, ou o pagamento directo pelo cliente. Ainda funciona com alguns consultórios, poucos, e devolve-me a parte da despesa a que tenho direito muito, mas mesmo muito tempo depois de a pagar.
Devo-te dizer que eu, comunista um bocado libertário e tudo, não tenho nada contra o lucro. Um tipo monta um negócio para o obter e não propriamente para fazer um favor à sociedade. É o sistema, e não é tão mau quanto isso, desde que:
– não o faça à pala do estado.
– seja o estado a verificar as banhadas, tipo vender gato por lebre, e não o deus mercado.
– o estado preste os serviços que tem de prestar, das estradas ao ensino, por custos inferiores ao que faria um privado, precisamente porque o privado tem de meter no meio, legitimamente, estamos de acordo, o raio do lucro.
Ora no ensino está mais que provado o lucro ser sustentado pelo estado, porque o privado é mais caro, ou na melhor das hipóteses custa o mesmo mais o lucro, não presta melhor serviço, muito pelo contrário, e fá-lo de uma forma selectiva. Quando os colégios abrirem as portas aos meninos dos bairros a quem ninguém quer dar aulas volto a discutir a tal liberdade de escolha como um princípio ideológico razoável.
Até lá, faço contas de somar, a sumirem-se dos meus impostos. É que o estado não tem de dar lucro em moedas: tem de dar apenas e só o lucro, neste caso a aprendizagem, a que todas as crianças têm direito.
#29 Sou mais pela tese das disposições/indisposições variáveis.
De qualquer forma, a existirem, ambos têm coluna, e só com invertebrados em particular os que vendem eduquês em Santarém não há mesmo discussão possível. A diferença entre um fascista e um tipo de direita está mesmo aí, com as minhas desculpas às verdadeiras minhocas deste mundo que contribuem para a fertilidade dos solos.
Dezembro 10, 2011 at 5:04 pm
#32,
Belo último parágrafo.
Dezembro 10, 2011 at 6:16 pm
32 escreveu: “Quando os colégios abrirem as portas aos meninos dos bairros a quem ninguém quer dar aulas volto a discutir a tal liberdade de escolha como um princípio ideológico razoável.”
Eu também. Mas existe hoje um problema, sobre o qual poucos falam, exceto alguns autores que fazem investigações “isctenianas”, que provocam alguma urticária por estas bandas, que se prende com a seleção encapotada que muitas escolas públicas fazem dos alunos que pretendem frequentá-las, seleção esta que se realiza com a conivência de diretores de escolas e de professores. Este verdadeiro sistema de “apartheid educacional”, que se tem vindo a intensificar nos últimos anos, principalmente em zonas urbanas de maior densidade populacional e oferta de estabelecimentos de ensino, é algo que toda a gente conhece mas sobre o qual ninguém deseja verdadeiramente discutir e enfrentar.
Qual a razão? É simples: a origem desta monstruosa perversidade não radica no ME ou noutras instâncias exteriores à escola: radica nas direções das escolas, nos professores que organizam a formação de turmas, nas cunhas que muitos aceitam para meter o filho do colega A ou do amigo do colega B naquela turma que é muito boa ou que se pretende que venha a sê-lo. E assim se aumenta a segregação escolar apontando-se primeiro o dedo à estruturação social, sobre as qual a escola pública nada pode fazer, ou às políticas burocráticas do ME, ou…Tudo menos falar sobre a conivência de professores que se esqueceram das finalidades da escola pública numa sociedade democrática.
Charles Darwin escreveu no seu diário sobre a viagem que fez no Beagle: “Se a miséria dos nossos pobres não for causada pelas leis da natureza, mas pelas nossas instituições, grande é o nosso pecado.” Sobre esta matéria estas palavras não podiam ser mais certeiras.
Dezembro 10, 2011 at 6:34 pm
#34
A “monstruosa perversidade” de que fala radica mesmo no ME e noutras instâncias exteriores à escola: todos aqueles que pressionam para haver sucesso, todos os que insinuam que o financiamento da escola ou a continuidade dos lugares dos professores depende da “avaliação” que venha a ser feita ao funcionamento da escola. Se sabe que vai ser avaliado em função das aprendizagens dos seus alunos, e tem mais alunos a querer vir para a sua escola do que aqueles que ela comporta ou é autorizada a receber, é natural que escolha os alunos que lhe garantem o cumprimento dos seus objectivos.
Pela mesma razão que se quiser vender automóveis topo de gama ou vivendas com piscina não irá procurar os seus clientes nos bairros de habitação social.
Pela mesma razão que um cirurgião cardiotoráxico de sucesso recusa os casos mais complicados, para que não lhe morram eventualmente nas mãos e lhe estraguem a fama e as estatísticas de sucesso.
Gostam todos de encher a boca com ideologias e demagogias mas essas coisas têm custos e têm consequências…
Dezembro 10, 2011 at 8:16 pm
#35
Os monstros estão todos fora da escola e segundo parece são liberais de direita.
Os pobres dos professores limitam-se a seguir a lógica do sistema, mas mantêm-se inocentes, e nem sequer lhes passa pela cabeça as questões éticas.
Assim funciona o mundo cor-de-rosa-avermelhado do António Duarte
Dezembro 10, 2011 at 9:04 pm
#35 o primeiro parágrafo mostra que está muito longe da realidade. Conheço escolas que não aceitam os alunos problemáticos, enviando-os para outras às carradas, e a culpa não é da sede do ME nem da legislação para avaliação dos professores. Nessas escolas pura e simplesmente não os querem lá para não terem chatices. O motivo é tão prosaico como isso.
Dezembro 10, 2011 at 9:26 pm
OS MONSTROS ESTÃO TODOS MAS TODOS DENTRO DE NÓS..E QUEM SE QUISER POR DE LADO É PORQUE ESSE MONSTRO JÁ OCUPA TODO O SEU SER…
QUER SEJA AVERMELHADO QUER SEJA ROSA CHOQUE OU MESMO LARANJA MELÃO…
Dezembro 10, 2011 at 9:33 pm
#34,
Não é preciso nenhum estudo do ISCTE para revelar essa verdade.
Verdade essa que se tornará o cerne da “Liberdade de Escolha” se for implementada de modo totalmente desregulado e “universal”.
Dezembro 10, 2011 at 9:49 pm
#37
As escolas só podem recusar alunos quando aqueles que as procuram são mais do que os lugares disponíveis. E, como é evidente, se podem escolher, escolhem. O que se pode e deve exigir é que as escolas públicas divulguem os critérios de escolha, já que no caso das privadas pagas com o nosso dinheiro nem isso, pelos vistos, temos direito a exigir.
Dezembro 10, 2011 at 9:53 pm
#36
A questão ética passa por haver critérios de selecção quando a procura excede a oferta.
Já agora, no acesso ao ensino superior, onde a selecção é feita unicamente por uma média de classificações, também poderemos dizer, seguindo a mesma lógica, que os piores alunos são discriminados ou, para usar a sua expressão, há falta de ética…
Dezembro 10, 2011 at 9:53 pm
“Verdade essa que se tornará o cerne da “Liberdade de Escolha” se for implementada de modo totalmente desregulado e “universal”.”
Mas essa verdade inconveniente, para usar o título do livro/filme do Al Gore, nunca foi verdadeiramente denunciada pelos arautos que defendem as virtudes da escola pública. Por outro lado, é muito anterior à discussão mais recente da liberdade de escolha, embora o fenómeno da segregação escolar por via tenha vindo a ganhar maior expressão nos últimos anos.
A questão, volto a frisá-lo, é muito simples: são professores/diretores que fazem isto. São colaboradores do sistema de “apartheid”. É triste dizê-lo mas é verdade.
Dezembro 10, 2011 at 9:58 pm
Continuo a dizer: enunciam-se ideias, princípios, agora enche-se a boca com a liberdade de escolha, como noutras ocasiões com a competitividade, a qualificação, e outras palavras bonitas, mas não se reflecte indo ao fundo das questões e extraindo todas as consequências das coisas.
Soa bem, parece bem, metemo-nos nisso de cabeça e depois logo se vê.
Assim deram de mão beijada uma maioria absoluta ao cretino que agora abominam nas suas aparições parisienses.
Dezembro 10, 2011 at 10:02 pm
#42
Está a fazer jus ao nome e a inventar processos verdadeiramente kafkianos que provavelmente só existem na sua cabeça.
A maior parte das escolas públicas portuguesas tem falta de alunos, essa é a verdade. Recebem todos os que para lá querem ir, e não chegam. É o que se passa na minha escola, e em quase todas as que conheço.
Dezembro 10, 2011 at 10:02 pm
#42,
Que me lembre, sempre denunciei isso e, por acaso, se houve situações complicadas que passei neste blogue, algumas delas resultaram de denúncias de abusos de poder, desse tipo ou outro, por parte de órgãos de gestão e não só.
Aliás, quando caracterizei certos “tipos” de professores, fi-lo para atingir nichos maiores ou menores de péssimas práticas instaladas nas escolas.
E se não o faço mais é porque é difícil o equilíbrio entre a denúncia vaga e de “chuveirinho”, sem colocar o nome aos bovídeos e aquelas em que fazendo isso, sou acusado de ataques “ad honimem”.
Que não existam dúvidas: há péssimos profissionais em termos éticos no sistema de ensino público só que, infelizmente, pelo que observo, uma assinalável maioria está em posições de poder e de avaliar ou prejudicar profissionalmente quem se lhes opõe.
Dezembro 10, 2011 at 10:03 pm
Paulo parabéns pelos 22 milhões….
Pierre Leroux
“Viver não é apenas mudar, é continuar.”
Dezembro 10, 2011 at 10:29 pm
#41
Quando não existem argumentos válidos num certo plano de racionalidade, não vale a pena passar para outro território.
O sistema de educação existe baseado numa lógica de quê?
Penso que ainda subsista a ideia de que deve ser valorizado quem obtém melhores resultados, enquanto forma de premiar aquele que se esforça mais e é mais dotado (partindo de um princípio de igualdade de acesso e de condições de frequência adequadas para todos).
A não aceitação deste princípio é o igualitarismo revolucionário à la Rousseau, alcançado à força pela tortura, privação e aniquilação, que foi levado a um extremo de loucura por grandes figuras de referência como Estaline, Mao e Pol Pot (que até nem eram “más pessoas” segundo dizem…). Só assim se consegue anular as “diferenças” e tornar todos iguais e
Daí a dissonância em comparar o critério de selecção dos estudantes pelas notas e competências, inerente à própria progressão no sistema de educação, com a arbitrariedade da exclusão de alguém com base em algo que nada tem de académico ou pedagógico, mas que advém da arbitrariedade e do abuso da força em nome do “bem comum” e da “igualdade”.
Dezembro 10, 2011 at 10:59 pm
Concordo com isto:
“Querem o que sempre quiseram, desviar fundos públicos para financiar negócios privados. As classes alta e média-alta que tradicionalmente constituíam o público-alvo das escolas privadas continuam a alimentar bons negócios nesta área, mas são uma franja muito reduzida da sociedade, com tendência a encolher ainda mais, mercê da mesma política liberal que é invocada depois para justificar que o Estado pague o colégio dos meninos, porque os pais não têm dinheiro.
A ideologia é um mero pretexto. Aliás a ideologia é muito fraquinha e plena de contradições, como aliás seria de esperar quando assenta num valor tão vago e abstracto como é a liberdade absoluta e se faz dela o alfa e o ómega de toda a organização económica e política.”
Esta campanha para dar uma verdadeira expressão económica a este ramo de negócio começou há muito – a pugna pela publicação de rankings (demonstrar que o produto que se pretende oferecer é o melhor), a demonização da classe docente (precarizar, embaratecer e docilizar a mão de obra – reduzir custos para aumentar a margem de lucro), o financiamento público da liberdade de escolha (garantir uma clientela, mesmo que sem dinheiro para pagar esse produto diferenciado e diferenciador), a alteração do regime de propriedade dos edifícios escolares…
Já deve haver fantásticos planos de negócio com previsões para percentagens variáveis dos milhões do orçamento do MEC que os vários grupos em presença pretendem abocanhar.
Dezembro 10, 2011 at 11:01 pm
Ups! apaguei a fonte António Duarte #8
Dezembro 11, 2011 at 6:32 am
#43
Tal e qual.
Pegando no exemplo da cidade do Porto, em cerca de 15 escolas com 5.º ano, só em duas as vagas esgotam.
Nas cerca de 20 com 7.º ano, só 3 as esgotam…
No 10.º ano nenhuma esgota as vagas, tal é a debandada para colégios privados.
Em todo o país num universo de 4000 escolas (do 1.º ciclo ao secundário), chegará às 40 (1% do total) as que têm de recusar alunos? Duvido…